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2 ÁCIDOS GRAXOS POLIINSATURADOS ESSENCIAIS (AGPEs) SÉRIES ù-3 e ù-

No documento Odontologia: temas relevantes (páginas 60-63)

Ácidos graxos poliinsaturados essenciais Christiano Oliveira

2 ÁCIDOS GRAXOS POLIINSATURADOS ESSENCIAIS (AGPEs) SÉRIES ù-3 e ù-

Existem três famílias de ácidos graxos poliinsaturados comumente consumidos na dieta: ômega-9 (ù-9), ômega-6 (ù-6) e ômega-3 (ù-3), os dois últimos considerados essenciais.7 As séries ù-6 e ù-3 são assim deno-

minadas em virtude de a primeira das suas ligações duplas começar, res- pectivamente, no sexto e no terceiro átomo de carbono a partir do radical metil.8 Os lipídeos de 18 átomos de carbono que pertencem a essas famí-

lias são denominados ácido á-linolênico (18:3 ù-3) e ácido linoléico (18:2 ù-6) (FIGURA 1). Estes ácidos graxos sofrem ação das mesmas enzimas dessaturases (Ä5, Ä6 dessaturases) e também utilizam a mesma enzima elongase para sintetizar seus derivados com 20 átomos de carbono: o áci- do eicosapentaenóico (EPA) (20:5 ù-3) e o ácido araquidônico (AA) (20:4 ù-6). Em ordem de preferência, os substratos para essas enzimas são ù-3 > ù-6.7 As séries não são interconvertidas no organismo humano e cada

uma delas origina produtos de oxidação potencialmente distintos.8

Figura 1 - Composição dos ácidos graxos das séries ù-6 e ù-3 Fonte: Elaboração própria

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Tem-se investigado o efeito da composição e quantidade de ácidos graxos consumidos na dieta, especialmente dos poliinsaturados ù-3 e ù-6. A relação ù-6:ù-3 parece ser fundamental, já que os ácidos graxos ù-3 (ácido a-linolênico) são inibidores competitivos dos efeitos dos ácidos graxos ù-6.5

Atualmente, constata-se um desequilíbrio entre os ácidos graxos ù- 3 e ù-6 em função do consumo de alimentos industrializados e de altera- ções no padrão dietético de alguns países, de que resultou um decréscimo da ingestão de ácidos graxos ù-3 e um aumento do consumo de ù-6.9

2.1 FONTES DE AGPEs

As principais fontes de AGPEs ù-3 são os peixes de água fria, óleos de peixe e alguns óleos vegetais. O ácido a-linolênico é encontrado princi- palmente no óleo de canola, de soja, em sementes de linhaça e, em peque- na quantidade, em gemas de ovo. Já o ácido eicosapentaenóico (EPA) e o ácido docosahexaenóico (DHA) são encontrados nos peixes e crustáceos de água fria, como salmão, sardinha, atum e camarão, bem como caviar e ostra.10

Óleos vegetais como os de girassol, gergelim, cártamo e milho são importantes fontes dietéticas de ácidos graxos ù-6. Cereais integrais, grãos, tubérculos e verduras apresentam quantidades ínfimas de gorduras, mas podem contribuir com aproximadamente 10% da obtenção de AGPEs ù-6.6 Indivíduos vegetarianos, especialmente adeptos da filosofia vegana,

que não consomem alimentos de origem animal, apresentam dieta pobre em AGPEs ù-3 quando comparada à ingestão de AGPEs ù-6.11

Graças à maior disponibilidade e ao menor custo, observa-se um consumo excessivo de AGPEs ù-6 nos países em desenvolvimento. O consumo também é elevado nos países industrializados, devido ao alto consumo dos chamados junk food, uma vez que tais produtos apresentam grandes quantidades de AGPEs ù-6.6

Diversos microrganismos têm a capacidade de produzir e acumular grande conteúdo lipídico na sua biomassa. O desenvolvimento de pro- cessos industriais para a produção de AGPEs a partir de tais fungos e bactérias tem sido objeto de estudos12,13,14,15,16 de grande interesse para a

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indústria de alimentos e medicamentos. Atualmente, fórmulas para lactentes contêm ácidos graxos poliinsaturados de origem microbiana, como o DHA, oriundo da alga Crypthecodinium cohnii, e o AA, oriundo do fungo Mortierella alpina. A microalga Schizochytrium sp. é capaz de produzir, com baixo custo, óleo com grande concentração de DHA, lar- gamente utilizado como suplemento dietético pelas indústrias alimentí- cias em produtos como queijos, iogurtes, molhos para salada e cereais matinais.16

Tem-se utilizado a manipulação dietética de animais e seus subprodutos para o consumo humano, e vem sendo estudada a eficácia da concentração de AGPEs no produto final. Em pesquisa com búfalas alimentadas com plantas de alto teor de ácido a-linolênico (ù-3), obser- vou-se melhor proporção de AGPEs (ù-3:ù-6 = 1:1) no leite destes ani- mais, sem afetar os parâmetros gustativos do produto ou de seus deriva- dos.17 Ficou demonstrado ser possível o aumento da concentração de áci-

dos graxos ù-3 em filés de bagre americano (Ictalarus punctatus) através da implementação de produtos com alta concentração destes nutrientes na dieta dos peixes em cativeiro, registrando-se, adicionalmente, melhora no sabor deste alimento.18 Também é possível alterar-se a composição

lipídica de alimentos através da inserção de microrganismos produtores de AGPEs na dieta de mariculturas, como camarões e ostras, ocorrendo nestes últimos o consumo humano direto da microalga não-patogênica

Schizochytrium sp.16

Os AGPEs são sensíveis à oxidação lipídica e geralmente não são compatíveis com a incorporação direta na maioria dos líquidos e alimen- tos sólidos, sendo fundamental a aplicação de métodos para melhorar sua estabilidade e ampliar a utilização destes compostos na dieta em produtos mais diversificados. Técnicas que envolvem a microencapsulação dos ó- leos contendo AGPEs têm sido aplicadas em produtos industrializados.16

Em estudos com trutas arco-íris (Oncorhynchus mykiss) alimentadas com óleo de semente de linho, observou-se que a adição de vitamina E na dieta desses peixes é de fundamental importância para a manutenção dos AGPEs nos filés de peixe durante a estocagem.19

A composição do leite materno está inter-relacionada com a dieta da nutriz. Avaliando-se a influência do consumo de sardinha no conteúdo de AGPEs ù-3 do leite materno, observou-se que o consumo médio de

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aproximadamente 100 g de sardinha por dia, duas a três vezes por sema- na, é capaz de elevar os níveis de AGPEs ù-3. Tal hábito alimentar, com potenciais benefícios para a formação da criança, é considerado de baixo custo e fácil aceitação, sendo eficaz até mesmo quando o peixe é consumi- do frito.20

Para algumas condições inflamatórias agudas, pode-se indicar o su- primento rápido de AGPEs ù-3, em razão de sua habilidade para dimi- nuir as atividades inflamatórias e a sensibilidade celular a diversos estímu- los e melhorar a disfunção endotelial. Ácidos graxos exógenos, através da utilização intravenosa de emulsão lipídica, representam uma eficiente fonte de energia para tecidos como o ósseo, o cardíaco e o hepático, diminuin- do riscos de hiperglicemia ao reduzir a utilização da glicose, além de su- prir o organismo de diferentes ácidos graxos essenciais e vitaminas lipossolúveis não sintetizadas pelo organismo.21

Um estudo avaliou os efeitos da administração endovenosa de emulsões lipídicas enriquecidas com ù-3 sobre a parede intestinal de ratos após a indução de colite experimental aguda. Emulsões lipídicas conten- do baixa razão ù-3:ù-6 não modificaram as manifestações inflamatórias da colite, enquanto a alta razão entre ù-3:ù-6 determinou grande impacto benéfico, atenuando as conseqüências morfológicas e inflamatórias e di- minuindo as concentrações teciduais de eicosanóides pró-inflamató-rios.22

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