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No período entre 1917 e 1926, Freud inicia um novo trabalho de elaborações conceituais da psicanálise que poderiam ser consideradas reelaborações.

Introduz a pulsão de morte e uma nova dualidade pulsional. Amplia a formulação do aparelho psíquico na segunda tópica: o ego e o Id.

O novo ordenamento do aparelho psíquico e da dualidade pulsional lhe permite fazer novas considerações à angústia.

Mas, principalmente, a descoberta da função da angústia como sinal de alarme diante do perigo pulsional, feita no período anterior, representa uma abertura de possibilidade de pesquisa e da ampliação de seu conceito.

Nesse terceiro desenvolvimento, será apresentada uma análise e uma elaboração de apenas um dos textos desse período por ser considerado o principal.

A organização do percurso é uma elaboração da autora desse trabalho, embora ela respeite a seqüência do trabalho de Freud. Os títulos que se referem às problemáticas de Freud e o modo como responde a elas, são do mesmo modo extraídos do texto freudiano pela autora.

1 Apresentação e Análise do Texto

1.1 Inibições, sintomas e ansiedade (1926 [1925])

Inibições, sintomas e ansiedade é o título muito sugestivo do trabalho de Freud que organiza, articula e amplia suas elaborações teórico-clínicas sobre a angústia , formando o que é conhecida como sua segunda teoria. O título sugere e o texto confirma que Freud irá abordar as três formas de manifestações patológicas encontradas na clínica psicanalítica. Entretanto, o que o título não esclarece, mas o texto sim, é que essas três manifestações patológicas, embora possam ser encontradas em um mesmo sujeito, são efeitos ou soluções diferentes diante do conflito subjetivo determinado pelo jogo das forças pulsionais e de rejeição

a elas, o que caberia o ou alternativo entre as três manifestações: Inibições ou sintomas ou angústia.

Pode-se ler a idéia de onde se extraiu essa afirmação, inicialmente, nos seguintes trechos:

Na descrição das manifestações patológicas, o uso lingüistico permite-nos distinguir sintomas de inibições, sem, contudo, atribuir-se grande importância à distinção. Na realidade, dificilmente poderíamos pensar que valeria a pena diferenciar exatamente entre os dois, não fosse o fato de encontrarmos moléstias nas quais observamos a presença de inibições mas não de sintomas, e ficamos curiosos para saber a razão disso.

Os dois conceitos não se encontram no mesmo plano. A inibição tem uma relação especial com a função, não tendo necessariamente uma implicação patológica.

[...] Visto que o conceito de inibição se acha tão intimamente associado com a função, talvez fosse valioso examinar as várias funções do ego com vistas a descobrir as formas que qualquer perturbação dessas funções assume em cada uma da diferentes afecções neuróticas (FREUD, 1976b, p.107, grifo nosso).

Esse texto é feito para esclarecer conceitual e clinicamente cada uma das manifestações patológicas e estabelecer suas relações; esclarecimento esse que permite novas interrogações e elaborações acerca da causa das neuroses.

E nesse sentido, sobressai em primeiro plano, a definição da participação da angústia nas neuroses, questão que Freud persegue, conforme vimos, desde suas primeiras investigações sobre esse fenômeno. Das duas opiniões que aponta a esse respeito, uma em que a angústia é sintoma de neurose e a outra em que a angústia é um sinal que conduz à formação de sintomas neuróticos; Freud se inclina para segunda, visto que suas descobertas o conduzem para ela.

Com efeito, é o segundo ponto de vista que Freud afirma e esclarece nesse texto, baseado em suas descobertas a respeito da geração de angústia - a geração de angústia ocorre frente a uma situação de perigo ao ego.

Desse modo, a geração de angústia é um requisito prévio da geração de sintomas e coloca esta última em movimento: o ego quer se afastar da situação de perigo assinalada pela angústia, iniciando um processo defensivo, a partir do qual se formam sintomas.

Sendo assim, a angústia, diz Freud, seria o fenômeno fundamental das neuroses e seu principal problema.

Esse problema está na ligação direta da angústia com o perigo que a sexualidade representa ao sujeito e a neurose como forma de combater esse perigo.

Nas palavras de Freud:

O que nos resta agora é considerar a relação entre a formação de sintomas e a geração de ansiedade.

Parece haver duas opiniões amplamente sustentadas sobre esse assunto. Uma é que a ansiedade é um sintoma de neurose. A outra é que existe uma relação muito mais ampla entre as duas. De acordo com a segunda opinião, os sintomas só se formam a fim de evitar a ansiedade: reúnem a energia psíquica que de outra forma seria descarregada como ansiedade. Assim, este seria o fenômeno fundamental e o principal problema da neurose.

[...]Visto que remetemos a geração da ansiedade a uma situação de perigo, preferiremos dizer que os sintomas são criados a fim de remover o ego de uma situação de perigo.[...] Assim, em nossa opinião, a relação entre a ansiedade e o sintoma é menos estreita do que se supunha, pois inserimos o fator da situação de perigo entre eles (FREUD, 1976b p. 168).

Isso posto, entende-se que a descoberta da função da angústia - de que é um sinal frente a um perigo foi uma descoberta fundamental de Freud que se iniciou no período anterior, se desenvolveu nesse, e lhe permitiu :

- distinguir definitivamente angústia de sintoma;

- esclarecer qual é o perigo que a sexualidade representa ao sujeito.

Além disso, essas descobertas tornaram possível extrair algumas considerações sobre a angústia na clínica psicanalítica .

Assim, a partir das conclusões, procurar-se-á estabelecer qual a importância da descoberta da angústia como sinal de alarme nas neuroses e sua conseqüência na clínica psicanalítica.

Desde o período anterior, em 1917, Freud descobre que a geração de angústia ocorre diante de uma situação de perigo para o ego e distingue esse perigo como as exigências de satisfação da libido. Ali, ao investigar a origem da angústia, isto é, seu surgimento na história do sujeito, localiza duas situações em

que essas exigências constituem um perigo para o ego – a situação do nascimento e a separação da mãe - e desenvolve sua lógica.

No texto que nos ocupa, Freud realiza novas considerações à respeito da origem da angústia e das situações de perigo para o ego – o nascimento, a perda do objeto, a perda do amor do objeto, a castração, a perda do amor do superego – considerações essas realizadas (inicialmente) pelo reexame da formação de sintomas a partir do sinal de angústia, nas histerias, nas obsessões e principalmente nas fobias, o que veremos adiante durante a exposição de suas elaborações.

As descobertas acerca da função da angústia – angústia sinal de uma situação de perigo - iniciadas por Freud no período anterior, serão, pois, agora desenvolvidas. Faremos um percurso por esse texto, a fim de expor uma leitura que demonstra os elementos sobre os quais trabalha Freud para estabelecer suas conclusões.

Antes, porém, colocaremos a distinção entre sintoma e inibição que ali faz Freud, e nos limitaremos a ela no que diz respeito ao esclarecimento dessas manifestações patológicas.

O sintoma é uma formação substitutiva de uma satisfação pulsional, formação essa que representa uma conciliação entre as forças repressoras do ego e a representação psíquica (inconsciente) do impulso. O processo substitutivo no sintoma, produz uma satisfação degradada, não reconhecível como tal e é impedida de ser transformada em ação através da qual exerceria efeito sobre a realidade.

Se os sintomas são criados a fim de remover o ego de uma situação de perigo assinalado pela angústia, do mesmo modo, a inibição é uma medida de precaução contra a angústia e o perigo que ela assinala; diferenciando-se do sintoma em razão de ser um processo que ocorre no ego – é uma restrição de uma função do ego, como a função sexual, locomotora, de nutrição. São distúrbios como falta de ereção, suspensão do ato sexual, abandono da prática, falta de prazer, paralisia do aparelho motor, distração ou perda de tempo com repetições.

Inibições e sintomas são, pois, diferentes, porque a inibição ocorre a nível do ego e o sintoma é um processo que ocorre entre o ego (defesa) e o nível do inconsciente e da satisfação. O sintoma representa o inconsciente e nele se inclui o processo pulsional.

A angústia, conforme já colocado, é um sinal afetivo (do ego) frente a uma situação de perigo que coloca o processo defensivo em ação.

Inibições, sintomas e ansiedade é um trabalho de elaboração conceitual da angústia que pode ser dividido em três partes:

I - Do exame da formação de sintomas em que Freud situa :

- a angústia com relação às quantidades de excitação, pontuando seu caráter de reprodução de uma experiência anterior assinalada no ego: o perigo do nascimento. - o sinal de angústia frente ao sintoma

- o sinal de angústia frente ao perigo da castração.

II - Da recuperação do que já sabe sobre a angústia – conceito, estrutura, origem e função para ampliar o conceito de angústia, distinguindo seu surgimento na história do sujeito.

II - Das conclusões acerca da causa da neurose.