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CAPÍTULO 2 – A IMPLEMENTAÇÃO DE UMA MOBILIDADE ACADÊMICA

2.3 A ANDIFES

A criação de uma associação que reunisse os dirigentes das IFES já estava sendo gestada em meados da década de 80, no seio do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (Crub). Esse movimento vinha na esteira do início do processo de escolha dos reitores das IFES por meio de consulta à comunidade

universitária. Isso começou a ocorrer com a abertura democrática, após o fim dos governos militares.

A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior foi criada no dia 23 de maio de 1989, como sendo pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos. A Andifes congrega atualmente 63 instituições, sendo: 59 universidades federais, dois institutos federais de educação, ciência e tecnologia e dois centros federais de educação tecnológica (Anexo A). A Associação foi constituída com o objetivo de integrar as Instituições Federais de Ensino Superior na perspectiva de valorizá-las e de apresentar posicionamentos coletivos sobre as temáticas relativas ao ensino superior brasileiro. A Andifes, com sede na cidade de Brasília, apresenta-se hoje como interlocutora oficial das universidades federais na relação com o governo, com as associações de professores, de técnico- administrativos e de estudantes e com a sociedade em geral.

A Associação atua junto ao Congresso Nacional, ao Governo Federal, aos movimentos sociais e às próprias IFES. Possui considerável capilaridade territorial, por ter representação, através dos reitores das instituições associadas, em lugares de referência espalhados por todo o país.

Para desenvolver estudos, estratégias e instrumentos de apoio ao planejamento, administração e avaliação das instituições de ensino superior, a Andifes criou o Instituto de Estudos Estratégicos da Educação Superior, denominado Instituto Andifes. O Instituto foi concebido como um órgão próprio para manutenção atualizada dos dados estatísticos relativos, sobretudo, ao desempenho acadêmico das IFES, bem como para coleta e consolidação de informações corretas e atualizadas sobre a realidade financeira das associadas, e também com a finalidade de realizar estudos sobre as tendências do sistema universitário brasileiro e mundial, no sentido de subsidiar as decisões da direção da Associação.

No período inicial da Associação, seus primeiros presidentes enfrentaram o trabalho de construção da nova entidade em um contexto de inflação econômica e reduzidas políticas públicas destinadas ao ensino superior público. Os orçamentos para investimentos nas universidades e as vagas para contratação de servidores públicos para as IFES também eram restritos.

Durante toda a década de 90, a Andifes buscou construir-se e manter a unidade das próprias IFES. Até 1998, a Associação estava instalada numa sala do prédio do Crub, ao qual ela estava integrada. Com o crescimento do setor privado,

alavancado pelas políticas governamentais do período, os interesses dos dirigentes das instituições públicas de ensino superior tornaram-se antagônicos aos dos dirigentes das instituições privadas, e, nesse ano, a Andifes desvinculou-se do Crub e adotou sede própria. Na cerimônia de inauguração da sede, a Associação apresentou uma proposta ao então ministro da educação, Paulo Renato de Souza, de um programa de expansão para as IFES, intitulado Protocolo para Expansão do Sistema Público Federal de Ensino Superior. Entretanto, os objetivos desse Protocolo só foram efetivados anos depois, já no governo do presidente Lula.

Em 2003, a Andifes tinha, como propostas, duas frentes de ação: uma internacional, voltada para a defesa da universidade como um bem público estatal global, e uma outra frente ancorada na necessidade de conceber a universidade pública brasileira enquanto um sistema de instituições e como elemento de fortalecimento do desenvolvimento local a partir da interiorização das instituições públicas federais de ensino superior. No mesmo ano, a Associação entregou ao governo Lula um documento intitulado Proposta de Expansão e Modernização do Sistema Público Federal de Ensino Superior, documento que foi um dos suportes para programas como o Reuni.

Em 2005, a Associação desenvolvia ações conjuntamente com o MEC e a Capes, visando à inserção internacional das IFES em condições de competitividade, às políticas de atração de pesquisadores e aos consórcios internacionais estratégicos de expressão portuguesa no âmbito da América Latina e na África. A Andifes ainda realizava ações que pretendiam estabelecer uma política de desenvolvimento científico e tecnológico equilibrado entre as instituições de ensino espalhadas pelo território nacional. Houve ainda iniciativas de adesão das IFES brasileiras às redes de universidades, tais como: Grupo Montevidéu, Grupo Coimbra, Grupo Tordesilhas, entre outros. Ainda nesse ano, a Andifes sugeriu ao governo que as missões diplomáticas do Brasil no exterior e o acolhimento das missões estrangeiras que visitassem o país passassem a incluir as universidades. O objetivo da Associação era o de possibilitar maior cooperação entre as instituições universitárias e integrar a capacidade de gerar conhecimento à agenda governamental de política externa. Nessa época, foi criada, no âmbito da Andifes, uma comissão temática de relações internacionais, a qual estabeleceu contatos com as entidades representativas das universidades de outros países para a institucionalização da internacionalização da educação superior no Brasil.

Em 2007, o Reuni foi aprovado. Essa era uma das ações integrantes do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) discutidas no Brasil à época. No ano seguinte, em 2008, o MEC buscou interlocução com a Andifes para discutir uma proposta de reestruturação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Objetivava-se que esse se tornasse um instrumento para a seleção dos candidatos para seu ingresso nas instituições de ensino superior, sendo criado um sistema único de seleção para o ingresso dos alunos nas universidades, o Sisu.

Através de sua Comissão de Relação Internacional, em 2010, a Andifes aprovou o documento Internacionalização das Atividades Acadêmicas da IFES, com um diagnóstico da situação da internacionalização no âmbito das instituições federais. O Brasil vinha adquirindo espaço de destaque internacional pelo seu desenvolvimento econômico, e, para projetar suas universidades no contexto de inserção global, dentre outros objetivos, o governo institui, em 2011, o programa Ciências Sem Fronteiras, que é também uma política de mobilidade internacional.

No seminário sobre graduação e expansão das universidades federais, organizado pela Andifes, em 2011, uma das conclusões às quais se chegou para o fortalecimento das ações da Associação foi a garantia da mobilidade acadêmica.

O PAMA foi criado em 2003, mas, desde então, os esforços e a movimentação da Andifes fizeram mais em relação à internacionalização do que em relação à mobilidade acadêmica nacional. Um exemplo dessa orientação é encontrado no livro Andifes e os Rumos das Universidades Federais, publicado em 2013. No livro, o Programa foi citado apenas duas vezes. Aos olhos dos dirigentes que escreveram seus depoimentos de gestão no livro, a mobilidade acadêmica nacional parece ser considerada uma política secundária, pois as discussões e os encaminhamentos sobre a internacionalização da educação foram mais destacados. Em entrevista, alguns dos associados da Andifes relataram que, antes da existência dessa Associação, cada dirigente levava seus problemas diretamente para o MEC e que não havia propostas construídas coletivamente, entre as IFES. O estabelecimento de parcerias e a construção de acordos de cooperação estão no centro da constituição da Associação. A missão da Andifes, apresentada em seu regimento, é a de registrar a história, compartilhar as experiências e valorizar a pluralidade de opiniões entre as IFES, sendo a autonomia universitária uma de suas pautas principais.

O reconhecimento da Andifes como organização coletiva foi fundamental para que ela conseguisse unificar sua intervenção no debate nacional sobre o ensino superior e nas ações políticas de representação das IFES junto ao Governo Federal. A organização da coletividade também trouxe resultados importantes para a troca de conhecimentos sobre as diversas realidades vividas pela educação superior no país. A constituição da Andifes possibilitou o conhecimento e o reconhecimento das diferenças e das igualdades na pluralidade das forças acadêmicas nela consorciadas.

2.4 O PROGRAMA ANDIFES DE MOBILIDADE ACADÊMICA (PAMA):