Brincar propicia o trabalho com diferentes tipos de linguagens, o que facilita a transposição e a repre- sentação de conceitos elaborados pelo adulto para os educandos. Educar, nessa perspectiva, é ir além da transmissão de informações ou de colocar à disposição do educando apenas um
caminho, limitando a escolha ao seu próprio conhecimento. Segundo Costa (2005, p. 21), “Educar é aju- dar a pessoa a tomar consciência de si mesma, dos outros e da sociedade, oferecendo ferramentas para que o outro possa escolher, entre muitos caminhos, aquele que for compatível com seus valores, com sua visão de mundo e com as circunstâncias adversas que cada um irá encontrar”.
Por que ensinar brincando?
Pare
e
pense
Pensar na ludicidade como recurso pedagógico envolve ques- tões sobre as quais os temas trabalhados nas disciplinas acadêmicas e
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uma atitude pedagógic
a
Ilustração: Andre Figueiredo Muller
pedagógicas possibilitam a articulação entre a teoria e a prática. Nesse sentido, Mialaret (1991) aponta para a ligação existente entre o ensino, a formação acadêmica e a formação pedagógica do educador. Segundo o autor (1991, p. 12), “a prática na aula pode ser esclarecida pelos prin- cípios teóricos e melhorada pelos resultados da investigação. A teoria pedagógica só pode erguer-se a partir de uma prática conhecida e refle- tida”. Desse ponto de vista, cabe ao educador conhecer a possibilidade da utilização de diferentes recursos pedagógicos em consonância com a orientação metodológica do seu trabalho.
Como a vivência da ludicidade auxilia o professor na sua prática pedagógica?
Pare
e
pense
O lugar da práxis pedagógica na escola de educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental reflete a relevância do conhecimen- to teórico e prático do professor que atua em sala de aula como forma de sistematizar o conhecimento no processo
de ensino- aprendizagem do educando. Nessa perspectiva, é fundamental que o professor estabeleça uma ponte en- tre a sua própria concepção de ludicidade, com base em suas vivências, e o conheci- mento construído a partir de um sólido re- ferencial teórico. O exemplo a seguir tem como objetivo explicitar com maior clare- za a necessidade de estudo sobre a ludicidade como recurso pedagógico em sala de aula.
Antunes (2003) constrói uma analogia para explicar seu entendimento de que o pro- fessor, ao utilizar o lúdico, deve ter domínio
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A ludicidade na educ
ação:
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sobre o assunto. O autor conta a história de um professor que, em descanso em sua chácara no final de semana, vivencia uma crise de gota e é estimulado a procurar o curan- deiro local, que utiliza ervas para o tratamento e age diferentemente do médico, que se vale do conhecimen- to produzido pela ciência através da medicina, fundamentado em uma base científica sistematizada.
O professor que inventa jo- gos estaria para a educação como o benzedor está para a medicina, ou seja, o professor, nesse caso, utiliza- ria métodos de prática e não métodos sistematizados.
A reflexão sobre a prática lúdica refletida e sistematizada requer a atitude do professor em relação à pesquisa. A educação e a escola, atualmente, vêm refletindo as mudanças sociais.
É fácil perceber como os educandos, desde cedo, no berçário, até os anos iniciais, demonstram em suas atitudes, pensamentos e intera- ções modos que refletem como a juventude está colocada na sociedade. Essas crianças e adolescentes são frutos das diversas condições sociais e econômicas e que nem sempre foram agradáveis de se conviver. Nesse sentido, por terem de lidar com conflitos afetivos, diferenças de valores sociais, entre outros aspectos, percebe-se que apresentam dificuldades nas relações com o outro. Observa-se nessa realidade que esses alunos, desde a mais tenra infância, precocemente são inseridas em situações que requerem responsabilidade, como ajudar a cuidar de irmãos mais novos, enfrentar as ruas, regras e vivências familiares. O mais preocu- pante é que essas crianças ainda não têm experiência suficiente para entender, refletir e resolver conflitos.
Você, como educador,
deve buscar o
conhecimento sobre
o que faz e sobre por
que motivo o faz,
visando ao domínio
dos instrumentos
pedagógicos para
melhor adaptá-los às
exigências das novas
situações educativas.
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41 Mar ia Cr istina T rois Dor neles R au • A ludicidade na educ ação:
uma atitude pedagógic
a
Crianças agressivas,
limitadas no que diz
respeito à relação
consigo e com o outro,
privadas culturalmente,
afetivamente e
economicamente,
expressam-se com rigidez,
medo e ansiedade no
ambiente escolar.
Nesse contexto, a escola também não consegue realizar a sua função de ensinar porque, muitas vezes, fragmentada em seus saberes, ainda com uma vi- são de educação compensató- ria – agora também em relação às privações que sofrem seus edu- candos – não dá conta de signi- ficar suas experiências, proble- matizar e estimular seus alunos à pesquisa, à autonomia e à solução de problemas. A sistematização
dos conteúdos feita pelos professores em sala de aula não reflete o co- nhecimento de mundo (em constante transformação) trazido pelos educandos, continuando assim com metodologias focadas no resultado final, na nota, que leva à aprovação ou à reprovação. A questão que mais envolve a problemática do processo de ensino-aprendizagem hoje na visão dos professores passa por como ensinar essa geração que se encontra tão envolta em necessidades afetivas, sociais, motoras e lin- guísticas e ao mesmo tempo tão vazia em habilidades que promovam a reflexão e a construção do conhecimento.
Como ensinar por meio da brincadeira?
Pare
e
pense
Nesse contexto, em relação ao conhecimento sobre a ludicidade, o educador que optar por utilizar os jogos e as brincadeiras como recur- so pedagógico pode partir da reflexão sobre como o lúdico está presente no cotidiano infantil.
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A ludicidade na educ
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Assim, é preciso que delimitemos esforços para garantir à crian- ça um espaço que possibilite a ação lúdica, ou seja, um ambiente no qual ela tenha a oportunidade de escolher os jogos, os materiais e o modo de explorar e criar suas brincadeiras.
Nessa perspectiva, Santos (1997, p. 12) lembra que “a ludicidade é uma necessidade do ser humano em qualquer idade e não pode ser vista apenas como diversão”. Tais discussões estão presentes na percep- ção de muitos educadores preocupados em organizar o trabalho peda- gógico na sala de aula, de modo atraente e problematizador.
Nesse sentido, quando refletem sobre as possibilidades de inter- venção e de ensino com a utilização do lúdico, os educadores sempre relatam experiências em que estão presentes sentimentos e posiciona- mentos que evidenciam a relação entre educador e educando, adulto e criança. Nessa perspectiva, se o educador souber observar as perguntas que seus alunos fazem, a maneira como exploram objetos e brinquedos, ele irá perceber que existem inúmeras possibilidades de intervenção du- rante as atividades pedagógicas desenvolvidas na sala de aula. A ludici- dade como prática pedagógica requer estudo, conhecimento e pesquisa por parte do educador.
O que considerar ao pensar nas necessidades e interesses dos educandos nas brincadeiras?
Pare
e
pense
Figura 1.2 – Interação da criança com o lúdico
Estímulo neuro-sensório motor Descobertas – Socialização
Integração com a natureza Criança Brincadeiras
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Segundo Moyles (2002), esses aspectos são relevantes nas brincadeiras das crianças em situações de aprendizagem. Para a au- tora, as crianças de educação infantil e anos iniciais do ensino funda- mental necessitam de companheiros de brincadeiras, espaços, mate- riais e objetos para brincar, valorização das pessoas que fazem parte do processo, oportunidade para brincar em pares, grupos ou sozinhas, tempo suficiente para exploração dos materiais, para expor o que fi- zerem (utilizando a linguagem oral, escrita ou corporal), tempo para continuar o que fizeram, experiências para aprofundar o que sabem e o que podem vir a saber, estímulo para fazer e aprender mais e opor- tunidades lúdicas planejadas e espontâneas.
Como já apontamos anteriormente, brincar é importan- te para a aprendizagem, é coisa séria! Assim, você pode construir seus próprios saberes sobre a atitude pedagógica com a ludicidade tomando por base as leituras, reflexões abordadas e sugestões de referências contempladas neste livro, mas também de suas próprias anotações quando em momentos de prática com jogos. Você pode utilizar as dificuldades encontradas na prática para ser o ponto de partida de sua construção, pois o educador também está em cons- tante aprendizagem e, nesse sentido, é na leitura que ele encontrará respostas aos problemas enfrentados no cotidiano escolar.