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CAPÍTULO 1 A MUNDIALIZAÇÃO DO CAPITAL: SITUANDO AS

1.6 A avaliação institucional da educação superior como centralidade na

No embate das orientações políticas para a educação superior, a partir dos anos 1990, a avaliação vem ganhando espaços, se destacando como eixo central das reformas desencadeadas nos diversos países, como o Brasil.

Na agenda das Reformas neoliberais do Estado capitalista a avaliação tem assumido um papel central e decisivo. Como parte essencial da Reforma do Estado a avaliação é concebida a partir das funções de regulação e controle da

eficácia e eficiência das políticas, das instituições e dos serviços públicos (MAUÉS; PAVÃO; CHAVES, 2004, p.94).

Pelo exposto, entendemos que as reformas respaldaram uma avaliação com a função de auxiliar o Estado gestor no controle dos setores públicos. Para o Estado, a avaliação deveria ser capaz de medir, com objetividade, as instituições e detectar as competências e habilidades profissionais que os cursos estão oferecendo aos alunos, se estão ou não de acordo com as necessidades de produtividade que o mercado, os organismos internacionais e o próprio governo apresentam.

As avaliações foram pensadas como instrumentos para auxiliarem os Estados a se modernizar e a se lançar no desafio de alcançar maior competitividade internacional, empreendendo políticas de transformação da educação, entendida como fator de desenvolvimento de um dado país por preparar profissionais para o mercado de trabalho e desenvolver conhecimentos para o setor produtivo. É com essas finalidades que a avaliação ultrapassa os limites educativos e adentra os planos políticos e econômicos.

Nesse universo de relações políticas, econômicas e educacionais brasileiras, a avaliação veste oficialmente a “roupagem” de controle da eficiência e da produtividade, que vem sendo utilizada em outros países que adotaram a política neoliberal, como a Inglaterra e os Estados Unidos. Dessa forma, no Brasil, é fortemente influenciada pelas orientações e imposições externas desses países imperialistas.

Com a finalidade maior de servir ao Estado, na sua busca de fortalecer o capital internacional, por meio das reformas educacionais, a avaliação institucional apresenta-se como uma política de interesse do neoliberalismo. A partir de 1995, com o Exame Nacional

de Cursos, o popular “provão”, ela assume a função de reguladora e controladora da educação superior, fornecendo subsídios ao “Estado gestor” e descaracterizando o Programa de Avaliação das Universidades Brasileiras (PAIUB), que começou a ser implantado nas universidades, desde 1993; e atualmente, tal função vem se desenvolvendo com o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES).

De acordo com Dias Sobrinho (2003), desses fatos decorre a denominação “década da avaliação” para os anos de 1990, uma vez que é a partir do seu início que a avaliação recebe maior centralidade, nas políticas públicas, como estratégia de monitoramento das reformas implementadas pelos governos neoliberais. Disso deriva sua regulamentação, por meio de aparatos legais como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996) e demais documentos, como a Lei nº 9.131/1995, que instituiu o “provão”.

Os ordenamentos do Estado gestor visavam adequar as universidades públicas à lógica produtivista e funcionalista, gerando como conseqüências, também, fragilidades no ensino, na pesquisa e na extensão, impedindo as missões institucionais daquelas, de contribuir para o desenvolvimento social de acordo com as peculiaridades regionais.

Como argumenta Dias Sobrinho (2006), a busca de novos conhecimentos por meio da pesquisa perde a importância, em muitas instituições, sendo um privilégio somente daquelas poucas que conseguiam atingir o nível de “excelência”. Portanto, cresceu o número de faculdades e institutos superiores de educação para ministrar somente o ensino.

O ensino é assumido como prioridade e se reduz à formação de profissionais, de acordo com as intenções do mercado, seguindo a concepção de formação eficiente e aligeirada, ou seja, atendimento de uma demanda mais ampla, em menos tempo e com menores custos. O princípio da indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão sofreu flexibilização e desqualificação.

Também, devido à falta de recursos para as universidades públicas, essas instituições tiveram a necessidade de buscar meios alternativos de sobrevivência, seja pelo aumento das matrículas, instalação de classes mais numerosas, utilização de professores substitutos e em caráter provisório e com contratos flexíveis, seja pela venda de serviços, aluguel de espaços, medidas oficiais ou não de complementação salarial, procura de convênios rentáveis, entre outros.

Essa nova face da educação superior, caracterizada pelas dicotomias entre o público e o privado, pela diferenciação entre universidades, faculdades e institutos superiores, e pela expansão das instituições por meio de cursos seqüenciais e à distância, atribui à avaliação um papel protagonista no controle das IES.

No bojo das políticas públicas educacionais, advindas da reforma do Estado, de acordo com Dias Sobrinho (2003), a avaliação vem exercendo sua função, permeada por duas intenções distintas. Por um lado, a avaliação é utilizada como proativa, com característica formativa e objetiva o aperfeiçoamento qualitativo da instituição, ao mesmo tempo em que é retroativa, por ser somativa e utilizada como mecanismo de prestação de contas e regulação do Estado.

A avaliação institucional, ao inserir-se na educação superior com a função de verificar a qualidade, é assumida como mecanismo de controle, fiscalização e intervenção. Nesses moldes, o Estado gestor alia os resultados quantitativos e objetivistas aos processos de credenciamento e descredenciamento de cursos e instituições, como explicita Dias Sobrinho.

[...] se reduz a hierarquização institucional com base em resultados de testes de rendimentos e quantificação de produtos, (re)credenciamento de cursos e acreditation (sic). Em geral, são avaliações externas, somativas, orientadas para o exame dos resultados e seguem prioritariamente os paradigmas objetivistas e quantitativistas (DIAS SOBRINHO, 2003, p.60).

De acordo com o autor, o sentido de qualidade impregnada na educação superior associa-se à fórmula empresarial sob concepções racionalistas da eficiência. Para o Estado, cabe à universidade pública priorizar ações que a direcionem a aumentos significativos de rendimento; para tanto, deve ser produtiva. Para produzir cada vez mais, deve buscar espaços nos projetos econômicos do governo e nas empresas privadas, ao mesmo tempo em que viabiliza a contenção dos gastos, investindo menos na sustentabilidade qualitativa da instituição.

Em nosso entendimento, uma outra problemática que essa visão de avaliação suscitou diz respeito à autonomia das universidades, que se relativizou mediante a implementação do controle dos resultados. Pois, ao ser imposta a avaliação, retira-se da instituição a oportunidade de criar seus mecanismos de auto-avaliação e conduzir sua política interna de acordo com a sua cultura peculiar.

Além do que, ao ser associada à política de financiamento, a avaliação é reduzida à prestação de contas, para demonstrar se o emprego dos recursos públicos estão ou não sendo aplicados de forma eficiente. “Como questão de Estado, a avaliação vem sendo utilizada com vistas à restrição da autonomia e ao controle de resultados. A finalidade é a medição da eficácia e eficiência, demonstrando a produtividade na utilização dos recursos recebidos” (MAUÉS; PAVÃO; CHAVES, 2004, p. 94).

Verifica-se que isso ocorre num momento em que as universidades públicas buscavam defender seus direitos como serviço público, gratuito e qualidade e, em particular, seu conceito de autonomia, pois muitas instituições se negaram a assumir as mudanças que as novas políticas indicavam. Barriga (2003) confirma nosso entendimento, afirmando que a avaliação foi associada estrategicamente ao financiamento para ser utilizada como um instrumento eficaz de indução das mudanças requeridas pelo Estado.

Entendemos que a avaliação da educação superior, promovida pelos Estados neoliberais reformistas, atrela-se, também, à concepção de accountability, que significa, para Dias Sobrinho (2003), prestação de contas e responsabilização, pois a avaliação é uma atividade de fiscalização e controle sob a ótica utilitarista, estando a serviço dos grupos hegemônicos no poder e dos “clientes” e não da melhor formação e da produção do conhecimento.

Assim, as políticas avaliativas vêm funcionando como instrumentos da modelação legal do sistema, visando o credenciando e descredenciando cursos; alterando a imagem social das instituições, mediante os ranqueamentos, intervindo na distribuição de recursos financeiros e, de modo, geral na cultura da instituição.

As intenções mencionadas contribuem para o fortalecimento da concepção de universidade funcional e instrumentalista, que se pauta pelo desenvolvimento da formação técnica e racional, distanciada do compromisso com o desenvolvimento social e político.

Nessa perspectiva, cabe à educação superior atender a demanda de vagas, mesmo se, para tanto, for necessário criar instituições privadas, pois há limitações das universidades públicas para abarcar tal demanda. Ao atender a lógica de mercadorização da educação, coloca-se em dúvida a qualidade da formação que, além de ser balizada por competências e habilidades, dá-se em curto espaço de tempo.

Reforçando esse mercado educacional, a lógica reguladora da avaliação institucional impede o desenvolvimento autônomo das instituições, incentivando ao ranqueamento, num momento de crise, principalmente, devido aos cortes de verbas para as universidades públicas. Sobre as políticas avaliativas vivenciadas a partir dos anos de 1990 até os dias atuais, discorreremos no capítulo seguinte, pois os encaminhamentos políticos advindos da reforma do Estado, nos anos de 1990, são reflexos do processo de reestruturação do capital internacional. Portanto, a avaliação institucional não somente permanece na pauta política dos países desenvolvidos, como a Inglaterra, mas expande-se para os países em desenvolvimento, uma vez que colabora para adequação das políticas educacionais aos ditames do capital internacional.