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2. APLICAÇÕES DE ROCHAS XISTOSAS: REFERÊNCIAS PARA A PESQUISA

2.1 Exemplos de aplicações

2.1.4 A Chácara do Barão do Serro, Serro-MG

A cidade de Serro foi importante centro cultural no passado e tem papel especial por ser exemplo e testemunho da política de preservação nacional, visto ter sido a primeira cidade do Brasil a ser tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 1938. A Chácara do Barão de Serro (Figura 2.20) foi originalmente residência de José Joaquim Ferreira Rabello – o Barão de Serro, comerciante de diamantes e coronel da Guarda Nacional. Construída na segunda metade do século XIX, nos tempos áureos do baronato, a chácara seguiu os moldes das chamadas ―casas de arrabalde‖, encontradas nos registros da arquitetura nas zonas litorâneas brasileiras (Werneck, 2008). É uma chácara localizada nos limites urbanos de Serro, defronte à cidade, que hoje está integrada, mas ainda guarda suas características semirrurais. De propriedade do governo do estado e gerenciada pelo IEPHA, ela fica no perímetro urbano, na margem esquerda do Córrego dos Quatro Vinténs.

A Chácara do Barão do Serro foi selecionada pela presença de um talco-carbonato xisto em diversos espaços e formas de utilização, que conferem a essa residência do século XIX uma marcante singularidade. Segundo critérios propostos no âmbito do programa Monumenta (MEC-Monumenta, 2005), acumula características de rara ocorrência, constituindo-se exemplar único ou excepcionalmente representativo em termos históricos, morfológicos e estilísticos, se comparado com outras edificações do mesmo período em Minas Gerais.

Foi empregada na Chácara rocha metamórfica de composição ultramáfica, denominada carbonato-talco xisto. É uma rocha que apresenta coloração cinza clara quando seca e cinza quando úmida e, como aspecto macroscópico característico, uma foliação marcada por bandas carbonáticas mais claras e por filmes de óxidos (ver Item 3.1- Caracterização petrográfica). A composição mineralógica, composta predominantemente por minerais macios (talco, carbonato e clorita), confere à rocha utilizada baixa resistência ao desgaste por abrasão, fato confirmado no mapeamento nas alterações.

Ministério da Cultura e o Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID.

Figura 2.20 - Chácara do Barão do Serro, em Serro-MG - vista panorâmica. Fotografia capturada em maio de 2008, durante processo de restauro, realizado pelo projeto Monumenta.

As escadas de acesso à residência e o guarda-corpo da varanda são adornados por balaústres confeccionados em carbonato-talco-xisto, sujeitos a deteriorações por ações do tempo e por intervenções antrópicas (Figura 2.21.a-b). O estado de deterioração dos balaústres junto às paredes é bem menos intenso que aqueles dispostos no guarda-corpo da varanda, que apresentam decaimento severo. Todos os balaústres apresentam perda de material por fraturamento das quinas e formação de cavidades por dissolução de minerais carbonáticos (Figura 2.22.a). Os balaústres localizados junto às paredes da residência estão mais bem preservados, mas também apresentam essas alterações, com menor intensidade. Em alguns balaústres os fragmentos perdidos foram recompostos com argamassa.

(a)

(b)

Figura 2.21 - Chácara do Barão do Serro, Serro-MG: (a) vista lateral da fachada, com escada de acesso oeste à varanda e guarda-corpo adornado por balaústres em carbonato-talco xisto; (b) escada de acesso leste. Fotografias capturadas em maio-2008.

(a) (b)

Figura 2.22 - Chácara do Barão do Serro, Serro-MG: balaústres esculpidos em carbonato-talco xisto, localizados no acesso à varanda: (a) balaústre externo com grau de decaimento severo e (b) balaústre interno com decaimento ligeiro. Fotografias capturadas em maio de 2008.

De modo geral, os balaústres externos apresentam colonização biológica, na forma de pátinas alaranjadas, típicas de colonização por algas, e filmes negros. Segundo Aires-Barros (2001), superfícies relativamente abrigadas da escorrência de águas pluviais, mas

ocasionalmente lavadas, tendem a formar pátinas laranja predominantemente logo abaixo dos elementos protetores. Em alguns balaústres observam-se crostas brancas, com aspecto de líquen, que segundo ICOMOS-ISCS (2008), desenvolvem-se preferencialmente nas áreas externas das edificações

No conjunto de poltronas que compõem a varanda o talco-carbonato xisto ora é bandado, com foliação bem marcada, ora tem o aspecto maciço, mas a foliação pode ser detectada com a observação de orientação de parte dos minerais presentes. Em algumas partes também pode ser observado discreto bandamento em tons de cinza (Figura 2.23). Nesses objetos predominam alterações mecânicas, com perdas de fragmentos. As soleiras e as placas que revestem o piso da varanda também foram elaboradas em carbonato-talco xisto. Em algumas partes do piso, as lajes mostram um afundamento por desgaste por abrasão dos pés e esfoliação discreta, por processo de delaminação segundo a xistosidade da rocha (Figura 2.23.a).

Figura 2.23 - Chácara do Barão do Serro -Serro-MG: (a) conjunto de poltronas esculpidas em carbonato-talco-xisto, localizado na varanda principal da antiga residência; (b) poltrona onde se observa a presença de bandas claras e braço quebrado colado com argamassa. Fotografias capturadas em maio-2008.

Na cozinha principal da residência, o fogão à lenha e a pia foram construídos em talco- carbonato xisto e, em ambas as peças, observam-se os aspectos característicos dessa rocha, com coloração cinza clara e foliação marcada pelas bandas esbranquiçadas. Em peças que compõem a frente do fogão à lenha há fraturas com deslocamento (Figura 2.24).

Figura 2.24 - Chácara do Barão do Serro, Serro-MG: fogão à lenha construído em carbonato-talco xisto. Fotografia capturada em maio de 2008, durante processo de restauro conduzido pelo projeto Monumenta.

Os pisos, feitos com carbonato-talco xisto, apresentam-se invariavelmente deteriorados. O mesmo material foi utilizado nos passeios públicos da cidade do Serro, MG. O efeito da abrasão pelos pés, repetido por séculos, levou à formação da depressão observada neste pavimento, localizado na Praça João Pinheiro, logradouro central da cidade de Serro e uma das áreas de circulação na antiga Vila do Príncipe desde o século XVIII (Figura 2.25).

Figura 2.25 - Abaulamento do piso devido a desgaste por abrasão dos pés, em passeio público feito em carbonato-talco xisto. Praça João Pinheiro, Serro-MG. Fotografia capturada em maio de 2008.

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