• Nenhum resultado encontrado

A comprovada incapacidade do agente para ser influenciado pelas

II. O Código Penal de 1982 e a eliminação da imputabilidade diminuída –

7. A comprovada incapacidade do agente para ser influenciado pelas

A introdução do n.º 3 do artigo 20.º do CP de 1982 visou a contemplação de

uma componente de cariz axiológico na determinação da inimputabilidade

575

.

Manifestação da influência de von Liszt na doutrina de Eduardo Correia

576

,

esta norma abre espaço para a possibilidade de classificar como inimputáveis

agentes tidos como incorrigíveis

577

, contemplando um tratamento destes que não

se compadece com um Direito Penal meramente defensor da sociedade contra o

agente, assentando já numa lógica protectora do próprio delinquente, imposta pela

«acentuação do princípio do respeito da pessoa humana e do valor educativo do

tratamento penal, com o objectivo de recuperação dos sentenciados»

578

.

Esta disposição apresenta, na perspectiva de Eduardo Correia, a vantagem de

«permitir ao juiz que pondere nas suas decisões o regime mais apropriado a um

delinquente: o das penas ou o das medidas de segurança», facilitando «a realização

575 Assim, a Introdução constante do Decreto-Lei n.º 400/82, de 23 de Dezembro e Rect. n.º

73-A/95(DR IS-A, N.º 136, SUPL., de 14 de Junho: «5. (…) adopção de um critério que rigorosamente seriasse as várias hipóteses pela aferição das quais o agente da infracção pudesse ser considerar imputável ou inimputável. Neste horizonte, o diploma faz apelo a um critério biopsicológico integrado por componentes de nítido cariz axiológico, é dizer, “a comprovada incapacidade do agente para ser influenciado pelas penas” (art. 20.º). É, pois, necessário, para o agente ser considerado imputável, que consiga determinar-se pelas penas. Facto demonstrativo não só da criteriosa integração do elemento de valoração ética, mas também de carregado afloramento da tradição correccionalista portuguesa, manifestando-se assim, neste ponto, como noutros, a inconsequência daqueles que julgam que o Código se não funda em raízes culturais portuguesas. Para além disso, ao admitir-se um vasto domínio para a inimputabilidade devido à definição de critérios que se afastam do mais rígido pensamento da culpa, permitir-se-á aos mais reticentes na aceitação deste princípio a construção de um modelo baseado numa ideia que desliza para a responsabilidade social mitigada».

576 Influência admitida pelo próprio: «tal ponto de vista – reafirmado veemente por Eberhard

Schmidt – veio a encontrar eco ou paralelismo em vários autores [Jescheck; Bettiol] como não deixou de se reflectir no nosso Projecto (…). No respectivo Relatório, ponderámos, na verdade, que quando um delinquente mostre ter tendências que, embora não excluindo completamente a capacidade para avaliar a ilicitude do facto e para se determinar de harmonia com essa avaliação, todavia a diminuem sensivelmente, e se pretende que ele as não pode dominar ou corrigir, haverá que pôr o problema da sua inimputabilidade. Daí o art. 18.º do Projecto de 1963» (Correia, Eduardo, 1971, “A influência de Fran v. Liszt sobre a reforma penal portuguesa”, Separata do vol. XLVI do

Boletim da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Coimbra, pp. 32-33).

577 Assim: «Disposição – acrescente-se – que abrange quer o caso da chamada imputabilidade

diminuída criminalmente perigosa, quer a hipótese, de alguma forma paralela, dos delinquentes habituais que se considerem incorrigíveis. (…) a ideia da incorrigibilidade no sentido de não ser influenciável pela censura e pela pena, será seguramente um dos possíveis elementos que a podem indiciar» (Correia, E., 1971, pp. 33-34).

578 Cf. Costa, Mário Júlio de Almeida, 1972, “Reforma do Direito Penal”, Separata do Boletim

148

de um pensamento de alternatividade, ou seja, de uma aplicação de sanções em

função da inim- ou imputabilidade, em que não deixará de intervir a ideia do efeito

que elas podem ter sobre o agente de um facto criminoso»

579

.

Figueiredo Dias interpreta a referida norma no sentido de conferir ao

julgador a possibilidade de ponderar se «para a socialização do agente será

preferível que este cumpra uma pena ou antes, eventualmente, uma medida de

segurança», isto é, de decidir sobre a (in)imputabilidade do agente atendendo,

também, às consequências práticas desta mesma opção. A insensibilidade do

agente do agente às penas

580

– assume-se, assim, como mais um factor de

ponderação na escolha entre as soluções contempladas no n.º 2 do art. 20.º – não

um critério ou figura de inimputabilidade autónoma

581

– especialmente concebido

para as hipóteses em que o agente apresenta elevada reincidência, indício de que a

aplicação de uma pena pode não surtir efeito útil para que o agente detenha a sua

«energia criminal»

582

.

Diferentemente, Carlota Pizarro de Almeida aponta para a estruturante

diferença entre a inimputabilidade consagrada nos n.ºs 1 e 2 do art. 20.º – assente

numa incapacidade de culpa aliada à inexigência de aplicação de uma pena «em

sede de prevenção geral, pois a comunidade não se revê neles nem sente o direito

579 Cf. Correia, E., 1971, pp. 33-34.

580 Sendo, aqui, de distinguir, entre os «factores relevantes para a medida da pena», o da

«sensibilidade à pena – isto é, a medida em que o agente é atingido pela pena que lhe for aplicada:

Strafempfindlichkeit» (Dias. J. F., 1993, p. 249), ou seja, a «sensibilidade ao sofrimento advindo do

mal da pena» (Antunes, M. J., 1993, p. 41) – e o da «susceptibilidade de ser influenciado pela pena – isto é, a reacção previsível do agente à aplicação de uma certa pena: Strafempfänglichkeit» (Dias. J. F., 1993, p. 249), é dizer, a «influência da pena» (Antunes, M. J., 1993, p. 41). Estas serão manifestações de «uma certa ideia de capacidade de pena no momento da execução desta», concretização de um «o conjunto de qualidades pessoais do delinquente tidas como indispensáveis para que ele sinta a pena e possa vir a ser por ela influenciado, é dizer, o conjunto de qualidades pessoais que permitam a concretização do sentido da pena – o delinquente há-de sentir a pena nessa qualidade, como um mal que lhe é infligido em consequência do crime – e, consequentemente, a concretização das finalidades desta» (Antunes, M. J., 1993, p. 41).

581 Assim defende Figueiredo Dias: «Não se trata nele de trazer para o CP um novo conceito

de inimputabilidade; um novo conceito que, perante as dificuldades insuperáveis postas à sua compreensão pelo dogma da culpa da vontade e do poder de agir de outra maneira, faria coincidir a imputabilidade com a capacidade do agente para ser influenciado (no sentido da sua socialização, naturalmente) pelo cumprimento da pena. Trata-se, sim, de entrar em conta com este factor (de resto importantíssimo, sobretudo quando ligado à capacidade do agente de “compreensão da pena”) na decisão de considerar o agente imputável e aplicar-lhe uma pena; ou antes inimputável e aplicar-lhe eventualmente uma medida de segurança» (Dias, J. F., 2012, pp. 585-586).

582 Neste sentido, Faria Costa: «Trata-se de um critério não autónomo – vista a sua natureza

meramente indiciária – que pode ser facilmente aplicado aos casos de reincidência múltipla, onde o agente teima em não deter a sua energia criminal mesmo depois de receber da ordem jurídica vários “sinais vermelhos”» (Costa, J. F., 2017, p. 396).

149

ofendido pelos seus actos»

583

e avaliada com alusão ao momento da prática do

facto – e a solução do n.º 3, dirigida a situações em que ainda são elevadas as

exigências de prevenção (uma vez que «a comunidade ressente, e fortemente, o

abalo causado pelos seus crimes, reagindo de molde a requerer medidas de

integração»)

584

e se afere a inimputabilidade com referência «ao momento da

execução da pena»

585

. A Autora concebe, assim, a inimputabilidade declarada com

auxílio ao n.º 3 do art. 20.º como uma verdadeira figura autónoma de

inimputabilidade, distinta – quer no que respeita ao fundamento, quer no

momento/facto orientador da decisão – daquelas consagradas nos n.ºs 1 e 2. Além

disso, e uma vez que se configuram aqui situações em que o agente ainda tem

«capacidade de entender e querer», a Autora qualifica a disposição em análise

como um «corpo estranho, inspirado em princípio diversos dos que preponderam

no conceito-base de inimputabilidade adoptado e nas disposições do Código sobre

os fins das penas, arriscando-se, por fim, a colidir, nos fundamentos últimos, com

as orientações constitucionais que norteiam o nosso direito penal»

586

. Carlota

Pizarro de Almeida argumenta: com a prevalência dos «princípios da intervenção

mínima e, correlativamente, da protecção indispensável dos bens jurídicos» sobre

qualquer objectivo de tratamento de delinquentes (que, diz, «claramente o nosso

ordenamento não consagra)

587

; com os riscos de arbítrio relacionados com a

«atribuição ao juiz do poder de avaliar o estado mental a partir do comportamento

anti-social» e com o «reforço da triagem, de acordo com os paradigmas

dominantes, entre os vários tipos de criminalidade»

588

. Na verdade, esta orientação

583 Cf. Almeida, C. P., 2000, p. 97. 584 Cf. Almeida, C. P., 2000, p. 98. 585 Cf. Almeida, C. P., 2000, p. 100. 586 Cf. Almeida, C. P., 2000, p. 100. 587 Cf. Almeida, C. P., 2000, p. 100.

588 Desenvolvendo: «Poderá argumentar-se que a insensibilidade às peãs constitui um indício

de perturbação mental. Mas isso seria ignorar o larguíssimo número de pluri-reincidentes plenamente imputáveis, admitir que as penas têm capacidade de influenciar os delinquentes a elas sujeitos e negar a evidência de que a carreira criminosa é, para certos indivíduos, uma estratégia de vida, e mais: a única que conhecem e, por vezes, a única que alguma vez conheceram. A aceitar-se tal indício, abria-se a porta a toda a sorte de arbítrios, inaceitáveis num Estado de direito. A atribuição ao juiz do poder de avaliar o estado mental a partir do comportamento anti-social tem tradições lamentáveis na história recente e não poderá estar, certamente, no nosso horizonte jurídico – tanto mais que, como se sabe, a primeira consequência desta possibilidade é o reforço da triagem, de acordo com os paradigmas dominantes, entre os vários tipos de criminalidade. Veja-se, a título ilustrativo, a notória diferença de tratamento que é dado, na prática, à pequena e média criminalidade contra a propriedade e aos chamados white collar crimes» (Almeida, C. P., 2000, p. 98).

150

crítica é reflexo da rejeição, por Pizarro de Almeida, da referida ideia de Eduardo

Correia de uma «inimputabilidade baseada na insusceptibilidade de se reinserir

socialmente»

589

. Com efeito, afirma a Autora, ou o n.º 3 do art. 20.º assenta numa

de duas perspectivas: ou na «convicção ingénua de que um indivíduo que reincide

no crime, depois de ter sido punido, o faz porque padece de doença que o

impossibilita de optar livremente», hipótese «demasiado simplista e

constantemente desmentida pela realidade fáctica, além de traduzir uma

concepção axiológica fundamentalista»; ou na abstracção do elemento

biopsicológico – o que é, na nossa óptica, incompatível com a letra do art. 20.º, n.º

2, e, por remissão, do n.º 3 – em favor de uma decisão baseada na

(in)corrigibilidade do delinquente, solução «meramente funcional», desligada da

culpa, isto é, realizada através de um «percurso inverso», em que se a aplicação de

medidas de segurança a um indivíduo não se decide por ele ser inimputável, mas,

antes, se declara a inimputabilidade por se constatar que as medidas de segurança

são a reacção adequada, dada a inutilidade da pena» para efeitos de defesa social

590

e, consequentemente, reconduzível a uma declaração artificiosa de

inimputabilidade, cuja legitimidade é contestável, dada a instrumentalização do

agente às «necessidades de protecção e estabilidade sociais», incompatível com a

sua dignidade

591

. Em última análise, estará em causa uma asserção da

inimputabilidade reportada à personalidade anti-social do agente, fortemente

contestada por Carlota Pizarro de Almeida, acérrima defensora, como vimos, de

um modelo restrito de inimputabilidade

592

. Partindo deste modelo, acaba por

associar a delinquência contemplada no art. 20.º, n.º 3, do CP à maior parte dos

fenómenos de pluri-reincidência, solução que critica por ignorar o carácter

criminógeno das penas privativas da liberdade: se a distinção assenta na

idoneidade da pena ou da medida de segurança para ressocializar o agente, então

todo o agente deverá ser declarado inimputável, uma vez que é «hoje

589 Cf. Almeida, C. P., 2000, p. 99. 590 Cf. Almeida, C. P., 2000, p. 101. 591 Cf. Almeida, C. P., 2000, p. 102.

592 Assim: «Em caso algum, uma personalidade anti-social deverá ser considerada indício de

doença mental, ou sujeita a medidas de “tratamento”. Muitos criminosos (e não só…) têm personalidades anti-sociais, sem que isso seja motivo de internamento» (Almeida, C. P., 2000, p. 102).

151

indesmentível o fracasso da pena privativa de liberdade, enquanto instrumento de

reabilitação», manifestando, em contrário, um frequente «efeito criminógeno»

593

.

No entanto, esta crítica assenta na acepção da Autora, para nós questionável,

de que aquela norma conduz à ideia de que todos os pluri-reincidentes «serão, só

por esse facto, suspeitos de anomalia psíquica, como se o comportamento

conforme à lei fosse o único correspondente a uma mente saudável, sendo a

atitude do delinquente, mormente se persistente, sintoma de anomalia mental», o

que, naturalmente, reflectiria uma «esta visão redutora das opções individuais face

aos comportamentos definidos pelo direito», uma vez que desconsideraria os casos

em que a delinquência é uma «estratégia de vida» (com base numa opção lógica e

com sentido)

594

. Se adoptarmos um critério que diferencie as perturbações

sofridas por delinquentes reincidentes em razão de «anomalia psíquica grave, não

acidental e cujos efeitos não domina, sem que por isso possa ser censurado, tiver,

no momento da prática do facto, a capacidade para avaliar a ilicitude deste ou para

se determinar de acordo com essa avaliação sensivelmente diminuída» (art. 20.º

n.º 2) da reincidência de agentes que não sofrem de qualquer perturbação (ou de

uma perturbação que integre o âmbito de anomalia psíquica), cai por terra a

argumentação da Autora.

Maria João Antunes segue uma orientação mais moderada, assinalando a

incongruência desta norma, mas enquadrando ainda enquadrando o disposto no

n.º 3 do art. 20.º como um critério adicional de decisão sobre a inimputabilidade,

relacionado com a «natureza e o fim da pena», alheio (ou, nas palavras da Autora,

incompatível) à essência da inimputabilidade tal como definida no n.º 1 do art.

20.º, isto é, assente na ligação à prática de «um ilícito típico concreto e ao momento

em que foi praticado». Ainda assim, explica esta solução recordando como

«subjacente ao pensamento de Eduardo Correia está a crença na corrigibilidade

dos delinquentes aos quais é aplicada uma pena, o que não significa, contudo, que

593 Assim: «É por demais evidente que a pena de prisão não ressocializa e, quantas vezes,

“dessocializa”. Disso são sinais os esforços e experiências feitos no sentido de alterar o regime da pena privativa de liberdade, a demonstrar a consciência dos seus efeitos nocivos, mas sem que se obtenham resultados satisfatórios.

«Por outro lado, a prisão tem frequentemente um efeito criminógeno, que é, aliás, reconhecido pelo legislador: assim se explica a preocupação em poupar à experiência prisional os criminosos primários ou os muito jovens, e até, em parte, a preferência pela pena não privativa da liberdade consagrada no artigo 70.º do Código Penal» (Almeida, C. P., 2000, p. 105).

152

seja aplicada uma pena a todos os delinquentes imputáveis, mas sim que se aplica

uma pena somente aos imputáveis corrigíveis»

595

, reconhecendo, também o

benefício assente na melhor adequação da medida de segurança às exigências

preventivas

596

, como já referimos.

Em suma, o n.º 3 do art. 20.º parece contemplar uma solução especificamente

pensada para as hipóteses de agentes reincidentes incorrigíveis, face aos quais a

aplicação de uma pena não cumprirá as exigências de prevenção especiais

prementes, sendo a declaração de inimputabilidade e eventual aplicação de uma

medida de segurança o caminho possível.

Apesar de esta incapacidade de compreensão da pena não estar, nalgumas

perspectivas, condicionada pelo elemento biopsicológico da inimputabilidade

597

, é,

em nossa opinião, ainda nele que se sustenta a possibilidade conferida ao julgador

de se decidir pela aplicação do regime da inimputabilidade, por oposição à de uma

pena, em regra agravada pela reincidência do agente, uma vez que, estes casos, a

reincidência e incorrigibilidade surgem associadas ao sofrimento de uma anomalia

595 Assim: «Esta disposição é de estranhar, no contexto de uma lei como a portuguesa que

não ligou o efeito normativo da anomalia psíquica à incapacidade de o delinquente sofrer a pena, à idoneidade da personalidade para ser influenciada pela pena, como defenderam, entre outros, v. Lizst e Engish. E esta afirmação vale se recordarmos aqui que do art. 20.º, n.º 1, decorre a exigência de ligarmos a imputabilidade a um ilícito típico concreto e ao momento em que este foi praticado, exigência incompatível com um critério que veja a essência da inimputabilidade com a natureza e o fim da pena-

«No entanto, é inegável que a nossa lei sofre uma influência deste critério, enquanto pressupõe que o delinquente possa ser influenciado pela pena, pena esta que é uma consequência jurídica aplicada ao agente da prática de um crime, considerado imputável a partir de outros pressupostos.

«E esta conclusão não é de estranhar, tanto mais quanto subjacente ao pensamento de Eduardo Correia está a crença na corrigibilidade dos delinquentes aos quais é aplicada uma pena, o que não significa, contudo, que seja aplicada uma pena a todos os delinquentes imputáveis, mas sim que se aplica uma pena somente aos imputáveis corrigíveis. Conclusão a retirar das próprias palavras de Eduardo Correia, quando ao delimitar o âmbito de aplicação do art. 18.º do Projecto de 63, artigo correspondente ao art. 20.º, n.º 2, do CP de 1982, integra aí os casos denominados de imputabilidade diminuída criminalmente perigosa e os delinquentes habituais que se considerem

incorrigíveis, no sentido de não serem influenciáveis pela censura e pela pena, delinquentes

considerados então inimputáveis e aos quais é aplicada uma medida de segurança, se criminalmente perigosos» (Antunes, M. J., 1993, p. 73).

596 Ressalvando como a solução «é compreensível se atentarmos nas justificações de índole

preventiva, subjacentes a esta opção legislativa (…). Esta protecção de bens jurídicos, a depender da influência da pena na pessoa do delinquente, não se realizaria quando em causa estivessem delinquentes incorrigíveis, aqueles que já não são influenciáveis pela pena, pelo que as exigências preventivas impõem, neste caso, a equiparação destes delinquentes aos inimputáveis, para dessa forma lhes poder ser aplicada uma medida de segurança, mecanismo mais adequado às mencionadas exigências preventivas» (Antunes, M. J., 1993, pp. 74-75).

597 Neste sentido, a «solução do art. 20.º, n.º 3, constitui assim um caso em que o juízo no sentido da

incapacidade de compreensão da pena não está condicionado pelo elemento biopsicológico» (Antunes, M. J., 1993, p. 74).

153

psíquica grave, não acidental e cujos efeitos não domina, sem que por isso possa

ser censurado, que lhe diminua sensivelmente a capacidade para avaliar a ilicitude

deste e/ou para se determinar de acordo com essa avaliação. Na verdade, será a

anomalia psíquica que impede o «delinquente de sentir a pena como um mal –

impede-o de viver esta sanção nessa qualidade –, bem podendo fazer-se aqui apelo

à ideia de que a anomalia psíquica ergue um obstáculo entre a personalidade ético-

juridicamente censurável do delinquente e a pena que a esta personalidade é

dirigida, enquanto resposta à culpa jurídico-penal»

598

.