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1- Ficha de leitura e análise desenvolvida para a pesquisa

3.1 A COMUNICAÇÃO COMO ARTICULADORA DE MOVIMENTOS SOCIAIS

Todo processo de mobilização ocorre entre pessoas capazes de definir e adotar medidas que defendam seus interesses. Nesse sentido, concordamos com Luiz Martins da Silva (2016) que entende a mobilização social como uma aceleradora dos processos sociais, uma “tecnologia social”. A comunicação é parte fundamental, em processos de mobilização social, na medida em que é também um caminho que pode proporcionar a interação entre cada uma das pessoas interessadas em defender seus interesses individuais ou coletivos que são o público alvo do objetivo foco da mobilização.

Sentido que se completa ao tomarmos a definição estabelecida por Rodriguez e Toro (2001). Para os autores a mobilização social “é entendida como a convocação de vontades para atuar na busca de um propósito comum sob uma interpretação e sentido compartilhados.” (RODRIGUEZ e TORO, 2001, p.18).

O compartilhamento das informações e ideias é uma das chaves para descobrir os caminhos possíveis para construção de imaginários coletivos. As informações nesse universo de troca entre as pessoas precisam fluir. Um movimento em que cada um dos envolvidos contribui para a formação de um coletivo físico (na sua concepção inicial do espaço público) ou ainda nos coletivos identificados em ambientes virtuais (facilitados pela tecnologia). É

necessário que se estabeleça diálogo entre os idealizadores de uma campanha que busca atingir um imaginário, o público das emissões televisivas e ainda as pessoas presentes em ambientes digitais e, na medida em que este diálogo se torna mais elaborado e complexo, cada um desses atores precisa se deslocar e assumir também os papéis dos outros se reconhecendo enquanto público amadurecendo e dando visibilidade ao processo de mobilização social.

A efetivação de certo agrupamento como um público dependerá ainda da sua operação sob condições de publicidade, ou seja, da sua capacidade de expressar publicamente os seus interesses. Isso não significa simplesmente que os membros do público tenham capacidade e oportunidade de dar a ver suas opiniões individuais sobre a questão na qual se sentem envolvidos. Mais do que isso, tende a procurar também meios de expressar-se coletivamente, reforçar as suas capacidades e conquistar novas oportunidades para essa expressão e, além disso, tentar obter a adesão de outros públicos para a causa. É dessa forma que o grupo passa a ser reconhecido, de fato, como um público. (HENRIQUES, 2012 p.9)

Exatamente por essa razão é que entendemos que não só caminho percorrido pela informação, em quaisquer que sejam os meios, mas também as potencialidades de narrativas audiovisuais comunicadas podem assumir papel bastante relevante na análise de um processo de mobilização social.

A partir da criação de campanhas de mobilização, como a que agora estudamos (“Frente em Defesa da EBC e da Comunicação Pública”) buscamos evidenciar neste trabalho os mecanismos de atuação daqueles que participam deste processo na busca mudar a realidade. O que pretendemos é observar como as pessoas que assistiram e compartilharam os vídeos, as pessoas que comentaram e falaram sobre as publicações audiovisuais e, claro, as que gravaram os vídeos percebem as promessas de gênero do que seja uma TV Pública e como essas mesmas pessoas que assistem televisão entendem a importância dessas promessas na sua rotina, na formação e efetivação da própria cidadania. Uma vez cientes da necessidade de acesso à informação e tendo essa possibilidade ameaçada, buscamos ainda entender o caminho de busca de cidadãos por mobilizar, no espaço de uma mídia social digital, um volume de gente capaz de alterar o caminho de crise, para a retomada de uma comunicação que retome aquelas características anunciadas nas promessas e que despertaram o imaginário da sociedade, por uma sociedade democrática.

É importante pontuar que cada um dos telespectadores das emissoras públicas é um potencial cidadão a se vincular aos movimentos de mobilização social. A televisão, em função da centralidade que assumiu ao longo das últimas décadas na rotina de boa parte dos habitantes do Brasil por si só já é capaz de disparar alguns dos dispositivos de um processo mobilizatório.

Um dos pontos fortes da televisão é que ela pode penetrar no campo das ações públicas contemporâneas e imediatas – e, em alguns casos, no das ações privadas – de uma forma mais plena e poderosa do que qualquer outra tecnologia. (WILLIANS, 2016, p.83)

Ao tratarmos de um movimento que busca a efetivação das políticas de Comunicação Pública no Brasil e da formação de uma sociedade crítica no que se refere aos conteúdos televisivos que assistem não podemos nos distanciar também das relações entre mídia e cidadania.

Tal relação é descrita por Ana Carolina Temer e Simone Tuzzo como sendo dinâmica e de percepções mutantes a partir dos meios em que estão inseridas. Elas concordam que cidadania é também acesso à informação que por sua vez é caminho para formação de senso crítico e da opinião pública. Para as autoras a leitura crítica da mídia passa por analisar “aspectos humanos, como questões relativas à educação, à ética, à ideologia e também às relações de poder além dos aspectos ligados às normatizações” (TEMER & TUZZO, 2016, p.166).

As pesquisadoras apontam que a relação entre comunicação e cidadania não pode ser observada sem atenção ao contexto que a determinou. É uma relação de interdependência e complexidade. Concordamos com o pensamento das autoras uma vez que parte significativa da formação de um cidadão se dá pelo acesso àinformação, pelo diálogo com outras pessoas e principalmente pelas relações estabelecidas no interior da sociedade e nas formas de interação vivenciadas. O contato com as narrativas, inclusive as audiovisuais, inevitavelmente leva informações, provoca interpretações daquilo que se espera de um cidadão inserido e participativo.

Lara Bezzon (2004) caminha na mesma direção ao defender que grande parte da formação cidadã se dá pelo acesso à informação. A autora aponta para a necessidade de transparência e fidedignidade dos meios de comunicação na hora de veicular e proporcionar tal acesso. Essas são condições fundamentais para a formação democrática da opinião pública. Retomando a contribuição de Luiz Martins da Silva, concordamos com o pesquisador quando ele aponta ainda que numa sociedade democrática, em que se verificam estágios de conquista em função do desenvolvimento e de padrões de mudança elevados, as mobilizações e transformações só são possíveis mediante a informação.

A informação, especialmente a informação jornalística, sendo socialmente produzida é um bem a um serviço de todos, ganhando, portanto, a dimensão comunicativa, adquire o alcance de ser uma práxis, ou seja, uma ação transformadora. A informação socialmente partilhada passa a ser o insumo da conscientização e o fermento das advocacias sociais e das mobilizações sociais a serviço de novos horizontes éticos. (SILVA, 2016, p.50)

À luz desse entendimento do autor podemos apontar que o trabalho dos idealizadores da campanha “Frente em defesa da EBC e da Comunicação Pública” ao disponibilizar informação, principalmente por meio dos vídeos, e fazê-las circular permite a articulação entre indivíduos. Serve ainda na identificação de cada um desses indivíduos enquanto cidadãos e na criação de vínculos entre cada um deles a partir de interesses convergentes. A vontade de transformação da sociedade de cada um dos cidadãos, dependendo da predisposição e da afetação individual, pode ganhar forma e assumir novas posições a partir do contato com outros cidadãos. Num grupo de pessoas que buscam, em determinado momento e sobre determinado foco, atingir os mesmos objetivos, o compartilhamento desse desejo fortalece o grupo e essa força é que pode se efetivar em ações concretas na tentativa de transformar a realidade.