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4. Metodologia da Pesquisa

5.2 Estratégias de Ensino

5.2.1 A disciplina de História da Matemática

Nesse momento iremos analisar as estratégias de ensino que os professores entrevistados realizaram ou dizem realizar ao ministrarem a disciplina de História da Matemática ou mesmo utilizaram em outras disciplinas do curso de licenciatura em Matemática.

Após as exposições dos relatos dos professores conseguimos ter uma visão geral de suas concepções quanto ao uso da História da Matemática no ensino e suas respectivas experiências ao lidar com a história em algumas disciplinas.

Nesse contexto Souto (1997) defende o uso da História da Matemática, como elemento que proporciona uma noção da totalidade do conhecimento matemático, ao propiciar uma visão mais clara do desenvolvimento da Matemática, favorece o aprimoramento da prática docente.

D’Ambrosio (1996) considera que é importante o professor compartilhar o que sabe sobre história da Matemática com seus alunos, até mesmo uma mera curiosidade e para fazer isso não precisa ser um especialista.

Com relação às razões pelas quais alguns dos professores ensinaram a disciplina de História da Matemática, constatamos que isso ocorreu em situações bastante particulares. Alguns relatos revelam que só ministraram a disciplina de História da Matemática, porque foram obrigados, eles não a requisitaram e ministraram quase sempre em cursos de interiorização. Vemos isso na fala de Quiron:

[...] deveria inclusive ser ensinada por professores que tiveram uma formação mais completa na área de História da Matemática. Eu digo isso porque uma vez me jogaram pra eu dar aula disso, me senti incompetente, mas não tinha outro professor pra isso, mas eu procurei de uma certa forma tornar essa aula a mais dinâmica possível. Foi até em Breves que eu dei o curso. Eu levei o material, eles escolheram os temas que eles acharam interessante, e depois a gente preparou um tipo de seminário. (Entrevista Quiron, 2005).

A minha experiência com a história da Matemática foi ministrar o curso Evolução da Matemática, foi uma disciplina que eu ministrei no município de Castanhal dentro do projeto de interiorização. [...] As outras foram ministradas pelos próprios estudantes através de seminários. (Entrevista Minos, 2006).

[...] durante o tempo que eu trabalhei com a história da Matemática nas graduações eu sempre trabalhei com seminários, nós dávamos temas para os alunos e eles iriam trabalhar sobre esses temas. (Entrevista Ajáx, 2006)

Constatamos por meio dos relatos dos professores, que não há muita diversidade no que diz respeito à metodologia e avaliação adotadas, sendo praticamente unânime o destaque de aulas expositivas e através de seminários.

Refletindo nas falas de Quiron, Minos e Ájax, percebemos que uma das grandes questões em discussão é como utilizar a história da Matemática em sala de aula. Fauvel (2000, p. 5) a esse respeito argumenta que:

[...] há a necessidade de se incluir na formação do professor; na área de Educação Matemática, tanto a História da Matemática quanto uma prática para o seu uso em sala de aula, pois apenas o estudo da disciplina não fornece ao professor condições para introduzi-la em suas aulas como ferramenta de ensino.

Nessa abordagem Baroni e Nobre (1999), dizem que “O estudo do papel da História da Matemática no desenvolvimento do ensino-aprendizagem da Matemática

tem crescido nos últimos anos, mas ainda não possui fundamentações sólidas que possam se constituir em parâmetros claros de atuação”.

O professor Creonte argumenta que a maioria dos professores ao ministrarem a disciplina de História da Matemática, usam o livro-texto de História da Matemática, divide em capítulos com os alunos e realizam seminários.

[...] eu percebo é que o trabalho que todos fazem é pegar o livro de história da Matemática divide em capítulos com os alunos e faz um seminário, primeiro aquela história está muito bem explicada, arrumada, uma coisa bem linear. [...] quando você pega o livro de história da Matemática trata a coisa como se fosse a coisa mais simplória do mundo. Quando eu trabalhei dentro desse modelo linear, eu percebi que não adianta, a história não é assim tão linear como aparece nos livros. (Entrevista Creonte, 2006).

A percepção da não-linearidade da história da Matemática para fins metodológicos da disciplina não é algo comum entre os entrevistados. O que fica bem marcado quanto às estratégias de ensino dessa disciplina nos cursos de licenciatura é o modelo de seminário, mas uma vez podemos destacar:

[...] Eu ministrei esse (curso) de “Evolução da Matemática”, então foram tiradas cópias para cada um desse livro (Boyer), me lembro que eu dei primeira aula sobre a história da Matemática e nessa primeira aula eu abordei os temas do primeiro capítulo do livro, bem essa foi a primeira aula. As outras aulas foram ministradas pelos próprios estudantes (seminários), foi uma experiência interessante. Outra experiência que eu tive, com o mesmo molde, cada um pegou a história de um Matemático e estudou a obra dele. (Entrevista Minos, 2006).

Um outro fato comum é uso do livro-texto de história da Matemática do autor Boyer. O questionamento que levantamos não é sobre o uso do livro em si, mas a exclusividade desse material como único recurso para ensino de História da Matemática. A introdução de um livro-texto como recurso pedagógico no ensino tem como objetivo facilitar o processo ensino aprendizagem e não tornar esse processo dependente apenas desse recurso.

A história da Matemática presente nos livros que se destinam a facilitar a aprendizagem já é algo de longa data. Uma das mais antigas aparições desta forma de apresentar determinados conteúdos matemáticos data do século XVIII, mais exatamente de 1741 com a publicação da obra de Aléxis-Claude Clairaut e no início do século XX com a professora Emma Castelnuovo, ambos os autores objetivaram uma nova metodologia para o ensino de Geometria, uma metodologia baseada na história. (MIGUEL E MIORIM, 2004).

De acordo com Vianna (1995), reapareceram em nossos livros para o ensino, a presença explícita da história da Matemática, afirmando que:

Infelizmente não podemos afirmar que juntamente com esse crescente interesse pela História da Matemática, tenha havido uma sensível melhora na forma de apresentação dos conteúdos matemáticos nos livros ou que os alunos tenham passado a mostrar uma melhor compreensão da Matemática.

Um dos objetivos de Vianna é mostrar as falhas existentes nas tentativas do uso da história da Matemática e esboçar sugestões quanto à contribuição que tal uso poderia dar ao processo ensino aprendizagem da Matemática. Vianna afirma que a forma que a História da Matemática tem aparecido nos livros didáticos, quase sempre não tem relação direta com o conteúdo que deve ser ensinado ou mesmo ser descartado.