• Nenhum resultado encontrado

A DOUTRINA DE CHOQUE

No documento O Caminho para a Ruína.pdf (páginas 111-114)

O livro de 2007 de Naomi Klein, A Doutrina do Choque, popularizou uma técnica que as elites usam para promover pautas ocultas. As elites formulam planos para a ordem mundial que elas desejam ver. Elas espe- ram por um choque exógeno, um desastre natural ou uma crise finan- ceira, e usam o medo criado pelo choque para desenvolver a sua visão. A nova política é apresentada para mitigar o medo e é uma forma de seguir com o plano para a ordem mundial. A ideia é simples, mas aplicar a dou- trina do choque envolve décadas de persistente esforço. Os choques vêm de maneira aleatória, mas o plano da elite nunca desaparece.

Klein revelou esse processo sob a perspectiva de alguém de fora. Ainda assim, o principal homem de dentro, o primeiro chefe de gabi- nete do presidente Obama, Rahm Emanuel, reconheceu a doutrina do choque quando disse: “Não se deve desperdiçar uma crise profunda”. Isso foi uma reação ao pânico financeiro de 2008.

O presidente Obama e Emanuel utilizaram a crise de 2008 para impor um “estimulante” pacote de gastos de US$813 bilhões, assina- do em forma de lei em 17 de fevereiro de 2009. Esse foi um exemplo típico da doutrina do choque. O programa não forneceu estímulo; a recuperação desde 2009 é a mais fraca na história dos Estados Uni- dos. O programa de gastos forneceu um pacote de guloseimas para os favorecidos, incluindo professores, sindicatos e funcionários públicos. Esses favorecidos haviam esperado oito anos, a duração da administra- ção Bush, pelas suas doações. Quando se trata da doutrina do choque, a paciência paga.

Outro exemplo altamente importante da doutrina do choque foi a promulgação da USA Patriot Act (Lei Patriota dos EUA, em tradução livre), em 26 de outubro de 2001, na sequência dos ataques de 11 de

setembro. O Patriot Act continha melhorias necessárias no compar- tilhamento de informações entre o FBI, a CIA e grandes júris. Algum afrouxamento no padrão de vigilância era crucial naquela época.

Ainda assim, a Patriot Act foi também a codificação de uma lista de desejos de vigilância estadual que se infiltra na superfície política por algum tempo. As disposições da Patriot Act promovidas pelo Tesouro dos EUA para bloquear fusões bancárias e exigir confiscos de ativos ti- nham menos a ver com a Al-Qaeda e mais a ver com a constante guerra do Tesouro ao dinheiro. Essas provisões foram retiradas da prateleira onde o Tesouro mantém a sua lista de desejos e adicionadas aos pode- res expandidos relativos à Lei. A Patriot Act é, agora, excessivamente ampla e uma ameaça permanente usada para a vigilância estatal de inimigos políticos. Sob a doutrina do choque, tudo o que o Tesouro precisava era de um choque, que o 11 de setembro forneceu.

A nova ordem mundial é feita sob medida para a aplicação da dou- trina do choque. Como com todas as aplicações da doutrina do choque, os elementos finais almejados já existem, esperando para se expandi- rem e se tornarem permanentes em resposta a um novo choque. O FMI é um banco central mundial em tudo, menos no nome. O SDR é dinhei- ro mundial de uma forma não compreensível para os cidadãos comuns. O G20 é, na verdade, um conselho de administração para esse novo sistema. A eliminação e a criminalização do dinheiro, mesmo quando detido pelas partes inocentes, asseguram que não haja alternativas aos pagamentos digitais. A riqueza virtual pode ser rastreada, tributada e desativada com base no comportamento, conforme definido pelas eli- tes globais. O sistema está pronto para qualquer necessidade de utili- zar a doutrina do choque.

A doutrina do choque é uma engrenagem; ela gira em uma direção e, em seguida, trava em um lugar. Ela pode voltar a girar na mesma di- reção, mas nunca pode ser revertida. Políticas promulgadas sob a dou- trina do choque permanecem por muito mais tempo que emergência que as viabilizou. A dinâmica se volta insistentemente para a direção de mais poder estadual, mais impostos e menos liberdade.

A doutrina do choque é a ferramenta ideal para aquilo que o filó- sofo Karl Popper chamou de engenharia fragmentada. George Soros é o principal campeão de Popper nos dias atuais. O principal instrumento de Soros para a engenharia social, a Open Society Foundations (Fundação da Sociedade Aberta, em tradução livre), é nomeado em homenagem ao livro mais conhecido de Popper, A Sociedade Aberta e seus Inimigos.

As elites estão cientes de que suas opiniões não são amplamente aceitas nas sociedades democráticas. As elites sabem que seus programas devem ser implementados em pequenos estágios ao longo de décadas para se evitar um retrocesso. A doutrina do choque é a pontuação para um, caso contrário, sentimento antielite. Quando os choques ocorrem, as elites se movem imediatamente para implementar uma nova etapa do seu programa. A tarefa crítica é agir rapidamente antes que o choque desapareça. A engrenagem garante que ganhos da elite não sejam entre- gues logo. O processo entra em remissão até o próximo choque.

Portanto, a verdadeira tipologia da elite global é: uma estrutura de esferas flutuantes intersetoriais. Cursos de comunicação por meio de conferências e superporta-aviões que canalizam conceitos entre as esferas. O conteúdo vem dos intelectuais públicos. Sua cola é o ideá- rio comum. Sua força é a paciência. Seu método é a engenharia social fragmentada. Seu bisturi é a doutrina do choque. Seu sucesso final é assegurado pela engrenagem. Tudo isso é empregado na obediência à mesma pauta: um dinheiro, um mundo, uma ordem.

CAPÍTULO 3

A CIDADE

No documento O Caminho para a Ruína.pdf (páginas 111-114)