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1.2 As Teorias Modernas da Comunicação Social

1.2.4 A Escola de Chicago

A Escola de Chicago desenvolve-se nas décadas de 20 e 30, sendo contemporânea da Escola de Frankfurt, que veremos mais adiante. Nasce com alguns pensadores, como economistas, sociólogos, psicólogos, antropólogos que desenvolvem seus estudos a partir do enfoque microssociológico, tendo a cidade por objeto de observação. No campo comunicacional, defendem a tese de que a

sociedade nasce da comunicação e depende dela. Os estudos desta escola serviram de base para o surgimento da teoria Semiótica, que se preocupa com os processos de formação de significados a partir de uma perspectiva pragmática, e da teoria do interacionismo simbólico, segundo a qual a comunicação é uma produtora de simbologia, e esta é instrumental.

(…) Cooley, Mead, Sapir, Peirce, Park, Blumer & Cia. Desenvolveram de fato a tese de que a sociedade não pode ser estudada fora dos processos de interação entre as pessoas, é constituída simbolicamente pela comunicação. a vida social não se mantém devido a nenhuma dinâmica interna ou requisito sistêmico, mas sim pelo fato dos seres humanos serem capazes de interpretarem seu contexto vital e responderem praticamente aos estímulos de que são destinatários. As pessoas se relacionam através de símbolos; os símbolos estruturam o processo de comunicação.30

A realidade social é construída através dos símbolos. As coisas e seres ganham sentido e importância através da comunicação. Os homens não agem em função das coisas propriamente ditas, mas em função do significado que elas assumem. E o significado das coisas constitui-se através da interação social, que por sua vez é coordenada pela comunicação, instrumento que torna possível a discussão e o consenso de idéias e valores. Rüdiger (2005) destaca que a sociedade apresenta duas tendências fundamentais opostas: coesão e ruptura. É a comunicação que torna possível o equilíbrio entre estas duas forças.

A sociedade se confunde com a cultura e é escandida por duas tendências fundamentais. As tendências à socialização e integração dos indivíduos constituem seu próprio cimento; as tendências à individualização e competição entre seus membros constituem seu fator de renovação. A comunicação é seu denominador comum: tem a função de manter o consenso e o entendimento necessários entre os indivíduos, mas ao mesmo tempo permite que os mesmos modifiquem o comportamento da sociedade.

No primeiro caso, a comunicação encontra-se submetida ao emprego expressivo, deve ser vista como um processo de compartilhamento de uma estrutura de sentido; no segundo, encontra-se

30 RÜDIGER, Francisco. Introdução à Teoria da Comunicação: problemas, correntes e autores. 2ª ed.São Paulo: Edicon, 2005. p. 37.

submetida ao emprego instrumental, devendo ser vista como um processo de influência recíproca dirigido por no mínimo dois sujeitos. 31

A Comunicação é um processo mediado simbolicamente, e ao mesmo tempo é a responsável pela manutenção do aparato simbólico. Desta forma pode-se dizer que a sociedade é um produto da comunicação. Os homens que vivem em sociedade se conduzem em função do significado das coisas e não pelas coisas em si, e é a sociedade que, em última análise determina os significados. As pessoas em sociedade não agem simplesmente em função da relação estímulo-resposta, e sim da expressão, interpretação e resposta32. O uso de símbolos nos permite desenvolver um diálogo interno e interpretar fatos, ações e expressões de nossos semelhantes, bem como formular a expressão de nossas respostas.

Através da manipulação dos símbolos, o homem manter ou modificar a estrutura simbólica da sociedade, através da persuasão. A sociedade humana se mantém baseada em uma espécie de hierarquia simbólica, que pressupõe relações de igualdade e relações de poder. Essas estruturas hierárquicas podem ser modificadas, mas não sem resistência. O poder se rege pelo que Bordieu33 chama de violência simbólica, ou seja, o emprego dos símbolos com o objetivo político de dominar. A manutenção simbólica da hierarquia se dá através da criação de ritos. Ao

31 RÜDIGER, Francisco. Introdução à Teoria da Comunicação: problemas, correntes e autores. 2ª ed.São Paulo: Edicon, 2005. p. 37.

32 Idem, p. 41.

33 O sociólogo francês Pierre Bordieu desenvolveu a Sociologia dos Bens Simbólicos, que investiga as questões relacionadas ao poder. Para ele a comunicação constitui uma disputa simbólica pelas nomeações legítimas. Existe na sociedade humana um mercado de bens simbólicos tão forte e ativo quanto o mercado de bens materiais. Há uma lógica de produção, circulação e consumo de bens simbólicos que precisa ser compreendida. A linguagem é um instrumento de poder. Aquele que fala não quer apenas ser compreendido, mas quer ser reconhecido e obedecido. O autor destaca ainda que a autoridade do discurso depende da legitimidade do locutor, da situação em que é proferido, e da audiência em si. A legitimidade destes elementos é baseada nos valores simbólicos vigentes na sociedade. Mais informações sobre esta teoria encontram-se nas obras O Poder Simbólico e A

afastarem-se destes ritos as pessoas são condenadas à solidão, ao silêncio, à falta de expressão34.

Outro ponto destacado pela Escola de Chicago foi a influência do desenvolvimento tecnológico na comunicação e na sociedade. Ao mesmo tempo em que os meios de comunicação são o principal meio de difusão de conhecimento na sociedade moderna, também são os responsáveis pelo processo de aculturação ao monopolizar os canais de transmissão da cultura, reproduzindo a estrutura simbólica e mantendo as relações de poder.

Os meios de comunicação são responsáveis pela ritualização técnica da comunicação, têm o poder de manipular tecnicamente os simbolismos correntes, de controlar o processo de formação do conhecimento comum, e podem ser usados, tanto sob a perspectiva da comunicação, quanto da dominação política. Esta teoria nos alerta para a importância da manutenção de outros meios de comunicação que não somente os meios de comunicação de massa. A comunicação interpessoal pode ser uma forma de resistência à violência simbólica.