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PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

3. A Escola como Organização

A escola sofreu ao longo dos tempos grandes transformações das suas dimensões e estruturas, adaptando-se às mudanças ocorridas na sociedade em que se insere, transformando-se numa organização com especificidade própria.

Nas definições de organização, referenciadas por Sá (1997, p. 114), encontramos que instituições como a escola, a família, as empresas e até partidos políticos são comparadas, em sentido mais amplo, a organizações. Definir organizações como sistemas sociais é definir um leque diferente de problemas e focar diferentes aspectos da organização.

Actualmente, e de acordo com Delors (2003, pp. 45-59), as diferentes maneiras de socialização estão sujeitas a duas provas, em sociedades ameaçadas pela desorganização e ruptura dos laços sociais. Deste modo, os sistemas educativos encontram-se no centro de muitas pressões, ao respeitar a diversidade dos indivíduos e dos grupos, mantendo, contudo, o princípio de homogeneidade que implica a necessidade de observar regras comuns.

É da incumbência dos sistemas educativos darem resposta aos múltiplos e complexos reptos das sociedades da informação, na perspectiva dum enriquecimento contínuo dos saberes e do exercício duma cidadania virada às exigências do nosso tempo. Contudo, não nos podemos esquecer que os sistemas educativos fazem parte integrante dessa sociedade que exige mas que, de igual modo, deve dar o exemplo de cidadania e colocar e disponibilizar recursos materiais e humanos, para que as escolas possam exercer o papel que a sociedade lhes confere.

Assim, a escola é uma organização complexa e específica, porque é constituída, essencialmente, por indivíduos, todos diferentes quer a nível emocional, quer a nível das suas vivências económicas, socioculturais e ainda com ritmos de aprendizagem diferentes.

Esta especificidade que é a organização escolar traduz-se numa realidade complexa viva, num espaço físico e social alargado onde se conjugam todas as

simultâneo, com finalidades próprias e específicas que todos os elementos dos vários níveis de intervenção pretendemconcretizar com sucesso.

Todavia, a organização escolar só ultimamente tem desabrochado do seu “estado embrionário” relativamente ao estudo de si própria. Por exemplo, Sá (1997, p. 112) refere que “A escassez de estudos neste domínio contrasta com a diversidade de definições, de perspectivas teóricas e de ponto de vista sobre o conceito de organização”. Mais à frente, faz mesmo a seguinte comparação: “Não surpreende (…) que o estudo das organizações seja comparado a uma torre de Babel, em que os discursos organizacionais se assemelham a uma cacofonia, onde a propósito do mesmo conceito se fala de coisas diferentes de modos diferentes” (Ibidem).

Na tentativa de melhor definir a Escola como Organização Específica, Alves (2003, pp. 11-16) realça diferentes definições sobre este conceito, através de vários autores, entre outros, destacamos: Lima (1997, 1992), Weinert (1987), Formosinho (1986), Bush (1986), Paisey (1981) e Mateu (1979).

Face ao elevado número de investigadores que se dedicaram ao estudo deste conceito, Alves (2003, p. 12) considera que a Escola poderá ser encarada uma organização, em sentido genérico, pelo facto, de ser possível compará-la a uma “unidade social”, a um “sistema social complexo, multivariado e interdependente”. No entanto, todos os conceitos genéricos de organização têm em comum os seguintes factores:

(…) existência de indivíduos e grupos inter-relacionados; orientação para consecussão de objectivos; diferenciação de funções; coordenação racional intencionada; continuidade ao longo do tempo (Ibidem).

Referindo-se às escolas públicas, “correntemente consideradas unidades burocráticas”, este autor questiona o tipo da sua especificidade bem como a compreensão das linhas orientadoras que compõem o seu funcionamento, sabendo-se que este tipo de escolas são introduzidas, definidas e reguladas por um sistema centralizado e burocrático (Idem, p. 13). Nesta linha de pensamento, o autor caracteriza a escola como “racionalidades burocráticas” do seguinte modo:

(…) a escola é uma organização formal caracterizada pela divisão do trabalho, pela fragmentação das tarefas, pela hierarquia da autoridade, pela existência de numerosas regras e regulamentos que aspiram a todo o custo prever e responder, pela centralização da decisão, pela impessoalidade das relações, pelo predomínio dos documentos escritos, pela uniformidade de procedimentos organizacionais e pedagógicos (Idem, pp. 14-15).

Assim, o todo destas características representa um sistema caracterizado por diferentes processos: o poder da autoridade, da racionalidade, da superioridade técnica e a existência de objectivos homogéneos e claros que dirigem o funcionamento das actividades dos indivíduos e da organização (Ibidem).

Sarmento & Formosinho (1999, pp. 73-78) salientam-nos que na escola, como organização específica que é, também se verificam alterações no seu interior constituindo “áreas” de debate e diversidade de opiniões, permitindo, deste modo, o aparecimento de diversas conceptualizações de escola. Assim, através dos vários conceitos de escola procedentes do debate da Reforma Educativa sobre o novo modelo de administração e gestão das escolas portuguesas, ficou definida uma “concepção jurídico-administrativa da escola-comunidade educativa”. Os autores apontam algumas desvantagens deste modelo, como é o facto da dependência escolar em relação à orientação e regulamentação normativa de uma administração estatal fortemente centralizada e burocrática, o estabelecimento de limites rígidos com o seu contexto e por ser uma área, internamente, de domínio do poder académico dos docentes, possuindo, métodos de ensino e avaliações tradicionais. De um modo geral, e na opinião dos autores, este modelo de escola não atende às múltiplas e admiráveis experiências e tentativas de construção de uma outra noção de escola. Assim, esta nova concepção de escola, apresentada pelos autores, apresenta algumas alterações ao referido modelo, tais como: o alargamento das suas fronteiras, a incorporação de novos actores (integração comunitária); a flexibilização das estruturas pedagógicas, atendendo a uma intervenção diferente dos docentes (novos saberes e novos processos da sua transmissão, privilegiando os processos de ensino em equipa, de interacção em grupo e da promoção de uma crescente e actual tecnologia, correspondente às novas formas de organização do trabalho…); o estímulo nos processos participativos de tomada de decisão, a todos os níveis da organização, no sentido de uma forte individualização do ensino e a interligação da autonomia da escola com organismos sociais de avaliação interna/externa e na prestação de contas.

Não nos esqueçamos que a escola teve inerente a si própria e à sua função, objectivos muito específicos, sendo o aluno o objecto de todo a sua actuação, pensando- o como revelador da sua prática considerando que, quando há êxito, toda a escola na base da sua formação é uma escola de sucesso.

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