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A Estrutura Complexa do Facto Ilícito 1 A Pluralidade de Factos

TEORIA GERAL DO CRIME E DA PENA FDUCP

6. A Estrutura Complexa do Facto Ilícito 1 A Pluralidade de Factos

Factos Sucessivos: resultam da insistência da execução dum crime, por sucessivas

ações dirigidas à produção do evento. A pluralidade de ações repetidas de execução não dá origem a vários crimes. Ex: o agente que querendo matar outrem lhe administra em dias sucessivos doses letais de veneno e só à terceira ou posterior insistência consegue causar a morte planeada, não comete várias tentativas de homicídio e um homicídio, mas sim só um homicídio.

Factos Reiterados: aqueles que, realizando um só crime, cada um dos factos realiza

parcialmente, e não totalmente, a execução e a produção de um evento parcial do crime. Ex: o agente que querendo matar outrem lhe administra em dias sucessivos doses letais de veneno, e após a quinta administração consegue causar a morte planeada  cada uma das doses de veneno administrada não era por si letal, mas no conjunto são adequadas a causar a morte.

Crime Continuado (art. 30º/2): realização plúrima do mesmo tipo de crime ou de vários

tipos de crime, mas a lei unifica essa pluralidade de realização dos tipos criminais em atenção à unidade do bem jurídico protegido, à forma de execução homogénea e à diminuição da culpa. Tratando-se de um só crime, ao agente é aplicável uma só pena por esse facto ou crime continuado (art. 79º).

A Unidade do Evento Jurídico pode determinar a Unidade do Facto, a Pluralidade de Eventos Jurídicos Emergentes de uma só ação pode determinar a pluralidade de crimes. Ex: se com um só tiro o agente matar duas pessoas, comete dois crimes  unidade de ação com uma pluralidade de eventos jurídicos e materiais.

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6.2. Os Crimes Agravados pelo Evento

Crime Agravado pelo Resultado: quando a lei não considera determinado evento material como elemento essencial do tipo, pelo que o rime fica consumado independentemente da verificação desse evento, mas a ocorrência do evento material é considerada pela lei para agravação dos limites da pena aplicável.

 Crime consume-se com a mera atividade e o evento material agrave a pena. Ex: Recusa de Médico – Agravação pelo Resultado (art. 284º e 285º)

 Crime só se consume com a realização de certo evento material, mas a verificação de outro evento material agrave a pena. Ex: roubo – violência depois da subtração – dano – dano qualificado – dano qualificado (art. 210º a 214º).

Nos termos do art. 18º, se a pena aplicável a um facto for agravada em função da produção de um resultado, a agravação é sempre condicionada pela possibilidade de imputação desse resultado ao agente pelo menos a título de negligência.

O Resultado que é considerado pela lei para agravar a pena aplicável ao facto tem de: (1) ter sido consequência desse facto; (2) ser imputável à vontade do agente, pelo menos a título de negligência.

A Vontade do agente pode ter sido diretamente dirigida à produção do resultado ou não, mas tem de ser sempre imputável à sua vontade. Quando o evento faz parte do facto para a sua consumação, no plano subjetivo tem de ser também conhecido e querido, quando se trate de crime doloso, ou previsto e previsível quando resulte de comportamento negligente. Se o evento, fazendo embora parte do tipo como elemento agravante da pena aplicável, não é necessário para a consumação do crime, ainda que o facto seja doloso, a agravação ocorrerá mesmo que o evento não tenha também sido querido pelo agente, bastando que pudesse ter sido previsto como possível consequência daquele facto (evento imputado ao agente a título de negligência).

Em suma: o art. 18º pretende afastar a agravação da pena aplicável quando o evento que ocorre como efeito do facto (1) não foi nem querido nem previsto como consequência possível; ou (2) não era sequer previsível a sua ocorrência.

IV – Elementos Subjetivos Constituintes do Facto Ilícito 1. Elementos Subjetivos como Integrantes do Facto Ilícito

Sendo o Crime um feito do homem, um produto da sua vontade, a vontade relevante para o Direito Penal é o dolo e a negligência.

Art. 13º:

Regra: só o facto directamente querido pelo agente, produto da sua vontade

dirigida à sua prática constitui crime – dolo

 O facto, objectivamente típico mas que não foi directamente querido, desde que produto da falta de cuidado do agente, fruto de uma vontade indirecta

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que não cuidou de proceder com o cuidado necessário para evitar um determinado evento, só é punível nos termos da lei – negligência. Sempre que a lei nada diga sobre a punição do facto, quando praticado por negligência apenas é punível se for doloso – para os factos serem punidos por negligência é necessário que a lei o diga expressamente (art. 13º, 137º, 148º, 152-B/2, 228º).

VONTADE  PODER MORAL DAS PESSOAS (‘’fazer ou não fazer’’)  POSSIBILIDADE DE ESCOLHA  LIBERDADE OU DETERMINAÇÃO (pelos nossos instintos).

Nota: colocar dolo e negligência nos pressupostos da Ilicitude conduz a um maior rigor

dos pressupostos da Legitima Defesa (art. 32º)

Diz-se frequentemente: o facto é involuntário, no sentido de não ter sido directamente querido  para que o facto seja elemento constitutivo de um crime tem de ser sempre atribuível à vontade do seu agente, ainda que de forma indirecta (leia-se falta de cuidado, negligência).

As manifestações exteriores do corpo que o agente não só não quer como não pode evitar não são atribuíveis à sua vontade  factos/eventos involuntários.

Coacção física irreversível: aquele que é obrigado mediante força física

irreversível de outrem a premir o gatilho não atua voluntariamente.

Atuação em Completa Inconsciência: casos de sonambulismo ou hipnose.

Atos reflexos: reação motora (muscular) ou secretória (glandular), que

responde automaticamente a uma excitação sensitiva. Ex: tosse, espirro, rubor. A Vontade do Agente é um elemento essencial do crime – sem dolo ou negligência não existe um facto típico criminoso.

Regra: os crimes são geralmente dolosos (os negligentes só são puníveis nos casos expressamente previstos na lei).

▲ o facto pode ser produto de uma vontade imatura ou perturbada, de uma vontade doente e essa imaturidade ou anomalia podem excluir a punibilidade do facto  não por falta de vontade, mas por falta de censurabilidade dessa vontade (falta de culpa).