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A execução fiscal do estado e município nas varas especializadas de

3 ESTÁGIO ATUAL DA COBRANÇA DO CRÉDITO FISCAL NA

3.2 Entraves no âmbito judicial

3.2.2 A execução fiscal do estado e município nas varas especializadas de

Após trazer para análise todos os fatores considerados como entraves a cobrança do crédito fiscal da União, trabalho facilitado pela riqueza de dados fornecidos na pesquisa do IPEA/CNJ sobre o ―Custo unitário do processo de execução fiscal na justiça federal‖, acredita-se ser importante traçar um paralelo com a realidade vivida nas varas de Execução Fiscal de Fortaleza.

Não se trata, contudo, de um estudo de campo como aquele realizado pelo IPEA, com a compilação de dados específicos e um desenho amostral capaz de fornecer um diagnóstico seguro sobre a situação da cobrança judicial dos créditos fiscais no âmbito dessas varas.

Trata-se na verdade, de um esboço de estudo comparativo, que parte dos problemas identificados no âmbito da justiça federal para averiguar se eles também são fatores que dificultam a prestação jurisdicional nos processos de execução fiscal do Estado do Ceará e Município de Fortaleza. Acreditou-se que isso poderia ser importante para a pesquisa, porque uma análise dessa natureza poderia identificar pontos de conexão entre as realidades enfrentadas pelas justiças federal ou estadual.

O universo de pesquisa no âmbito estadual envolve apenas as varas de execução fiscal de Fortaleza. A amostra adotada não tem o condão de fornecer dados precisos e cientificamente capazes de refletir com segurança a realidade dos processos de execução fiscal em tramitação na Justiça Estadual do Ceará.

A escolha das varas de Execução Fiscal de Fortaleza levou em consideração, em primeiro lugar, a especialização. Tratam-se das únicas no estado do Ceará que concentram apenas execuções fiscais e ações correlatas. Além disso, outra peculiaridade determinante na escolha foi o fato de que tais varas passam por um processo virtualização. Assim, acredita-se ser interessante verificar se a implantação desse sistema tem tornado mais céleres e eficientes

os processos de execução. Os dados utilizados são disponibilizados no site do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará (TJ-CE)184, da Secretaria do Tesouro Nacional (STN)185.

A comarca de Fortaleza possui 6 (seis) Varas de Execução Fiscal e Crimes contra Ordem Tributária. Embora o site do Tribunal de Justiça do Ceará não disponibilize dados específicos sobre a quantidade de processos de execução em tramitação no ano de 2011, foi possível realizar esses cálculos com base nos dados fornecidos pela Corregedoria do Tribunal. A Corregedoria do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará disponibiliza, mês a mês, mapas contendo, entre outros dados, a produtividade de cada juiz especificando a vara e principalmente, o estoque pendente, novos ajuizamentos, processos arquivados, sentenças e decisões prolatadas186.

Os cálculos realizados envolveram simples operação aritmética de soma da quantidade de processos pendentes em cada uma das seis varas no mês de dezembro de 2011. Assim, chegou-se à cifra de 100.507 (cem mil, quinhentos e sete) processos em tramitação durante o ano. Esse quantitativo é dividido por basicamente por seis juízes titulares187, os quais muitas vezes respondem por mais de uma das varas de execução.

Em leitura preliminar, os dados colhidos nos mapas da Corregedoria do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará só fazem confirmar aqueles apontados pelo CNJ quanto à Justiça Estadual Brasileira. De fato, as varas de execução em Fortaleza mantém um estoque de mais de cem mil processos, só tendo sido encerrados por arquivamento 2.807 (dois mil oitocentos e sete) feitos no ano de 2011. Ou seja, o quadro de justiça local, pelo menos nestas varas, reflete a realidade nacional: elevado acervo de execuções fiscais que gera as altas taxas de congestionamento.

Segundo levantamento do CNJ, o índice de congestionamento das execuções fiscais na Justiça Estadual de primeiro grau é de 92%, considerados os números de 2010. Estes processos correspondem a 45% do total de casos pendentes em 1ª instância.

Assim, quando o assunto é volume de processos que permanecem pendentes de um ano para outro, a situação enfrentada pelas varas de Execução Fiscal e Crimes contra ordem tributária de Fortaleza é semelhante àquela que existe na Justiça Federal de 1ª

184

CEARÁ (Estado). Tribunal de Justiça do Estado do Ceará. Disponível em: <www.tjce.jus.br>. Acesso em: 5 mar. 2012.

185 BRASIL. Secretaria do Tesouro Nacional. Disponível em: <www.stn.gov.br>. Acesso em: 5 mar. 2012. 186 CEARÁ (Estado). Tribunal de Justiça do Estado do Ceará. Corregedoria Geral da Justiça do Estado do Ceará.

Estatística Forense. Disponível em <http://www.tjce.jus.br/corregedoria/estatistica.asp>. Acesso em 1º mar.

2012.

instância. Também nestas varas estaduais, o alto estoque de processos significa um problema a ser enfrentado na recuperação do crédito fiscal.

No site do Tribunal de Justiça do Estado não há dados suficientes que possibilitem um cálculo preciso sobre o tempo de tramitação de cada execução fiscal como aquele apresentado no estudo do IPEA sobre o ―Custo Unitário do Processo de Execução Fiscal na Justiça Federal‖. Para tanto seria necessária a realização de um estudo da mesma envergadura que levasse em consideração várias peculiaridades da justiça estadual, como a diversidade de estrutura e recursos humanos, materiais e tecnológicos, enfim, uma enorme gama de fatores indispensáveis para o cálculo de tempo e custos.

Com base nos dados colhidos, dessa vez no sítio da Secretaria do Tesouro Nacional, uma outra constatação possível foi a baixa efetividade dessas execuções. Isso porque, o índice de resgate da dívida ativa do estado do Ceará e do Município de Fortaleza é bastante reduzido. Conforme a Tabela 3, os números relativos a execução orçamentária destes entes no ano de 2010 retrata que o estoque de Dívida Ativa e arrecadação foram os seguintes:

Tabela 3 – Estoque de Dívida Ativa x Arrecadação do Estado do Ceará e Município de Fortaleza em 2010

Ente Estoque Arrecadação

Estado do Ceará188 4.594.570.757,00 57.095.951,71

Município de Fortaleza189 971.369.051,51 63.044.520,97

Fonte: Elaboração própria

Portanto, conjugando os dados sobre estoque e arrecadação da Dívida Ativa com aqueles relativos ao estoque de execuções fiscais pendentes, é possível demonstrar que, de maneira semelhante ao que foi constatado em relação à União, a recuperação judicial desses créditos é muito difícil ou praticamente irrisória.

Ainda com base no estoque de execuções fiscais que se acumulou mês a mês nas varas de Execução Fiscal e Crimes contra a ordem tributária de Fortaleza, é possível afirmar que, também nessas varas, referidos processos têm tramitação demorada, o que significa um aumento crescente do volume. E isso não se deve aos ajuizamentos, pois, nos mapas da Corregedoria do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará o número de novos processos significou um incremento de apenas 17.509 (dezessete mil, quinhentos e nove processos)190.

188

SECRETARIA DO TESOURO NACIONAL. Execução Orçamentária dos Estados (1995-2010). Disponível em: <http://www.stn.gov.br/estados_municipios/index.asp>. Acesso em: 1 mar. 2012.

189 SECRETARIA DO TESOURO NACIONAL. Finanças do Brasil. Dados Contábeis dos Municípios 2010.

Disponível em: <http://www.stn.gov.br/estados_municipios/index.asp>. Acesso em: 1 mar. 2012.

190Esse número foi encontrado com a soma de todos os processos cíveis denominados como ―entrados‖ nas seis

Assim, as várias semelhanças entre os problemas apontados como entraves à recuperação judicial dos créditos fiscais da União, do Estado do Ceará e Município de Fortaleza e as altas taxas de congestionamento apresentadas pelos judiciários federal e estadual no ano de 2010, apontam no sentido de que a problemática das execuções fiscais é presente em outras esferas da federação.

Isso talvez constitua uma vantagem na medida em que imprime a necessidade de que as instituições saiam do isolamento e envidem esforços conjuntos para uma ampla discussão, mas também da uma conjugação de forças no sentido de pensar uma solução eficaz para o problema de efetividade da tutela jurisdicional nas execuções fiscais.