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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

2.2 A frente pioneira no oeste do estado de São Paulo

Analisada, compreendida e minuciosamente descrita por Pierre Monbeig em sua obra “Pioneiros e fazendeiros de São Paulo” (1984) a frente pioneira foi o processo que encenou a marcha do capitalismo rumo ao oeste do estado de São Paulo na incorporação de novos espaços e sujeitos na lógica sociometabólica do capitalismo (MESZAROS, 2002. Impulsionado pelas necessidades de expansão e ambições do modo capitalista de produção, o processo alavancou a ocupação e as forças produtivas rumo ao Oeste do estado de São Paulo, extraindo e produzindo uma quantidade significativa de matéria- prima que o tornou motor de uma nova dinâmica na economia brasileira.

Monbeig (1984)4, apresenta que a franja, frente, marcha ou vaga pioneira aconteceu em três etapas. A primeira etapa abarca o período de 1900-1905 e o autor discorre sobre a conjuntura da produção do café5, a vinda, alocação e localização dos imigrantes, a construção e utilização das estradas de ferro no estado de São Paulo e a formação de uma nova paisagem devido ao avanço da frente pioneira e às relações criadas. A segunda etapa durou até 1929, com especial destaque para este ano, visto ser um marco devido à mudança de conjuntura no cenário econômico, sobretudo pela crise do café como consequência da crise mundial, em que o autor evidencia a situação recessiva do café no estado de São Paulo e a queda dos rendimentos, as migrações internas e a vinda dos imigrantes, a evolução das estradas de ferro, das rodovias e dos caminhões que se tornavam cada vez mais presentes nas zonas pioneiras. Na terceira etapa, Monbeig analisa o processo pós década de 20 até a década de 40 ressaltando os planos de colonização, o processo de desbravamento das florestas, o avanço e desenvolvimento das diferentes culturas na frente pioneira, problemas sanitários enfrentados pelos colonizadores e o surgimento de cidades e patrimônios como expressão da consolidação da frente pioneira no oeste do estado de São Paulo.

De fato, esse processo incessante e intenso que avançou oeste à dentro foi um divisor de águas na história e, sobremaneira, na economia do estado de São Paulo, não somente por inflá-la, movimentá-la e enriquecê-la, mas também por incorporar novos espaços e sujeitos na máquina produtiva. Deste modo, no transcorrer da sua

4 A obra de Monbeig refere-se ao Oeste do estado de São Paulo e Norte/Noroeste do estado do Paraná, no entanto focamos a análise do Estado de São Paulo por ser o principal objetivo deste trabalho.

5 O café foi inserido no país no começo do século XVIII. Décadas depois, o café começou a se expandir no Rio de Janeiro, capital do país naquele período, e alcançou uma porção muito significativa de terras, sobretudo no Estado de São Paulo chegando a ser o produto responsável pela maior parte das exportações assim como a borracha, algodão, açúcar e cacau. (FURTADO, 2000; PRADO JR., 1970).

José Sobreiro Filho consolidação, muitos outros processos se somaram e incorporaram a intensa marcha do capitalismo rumo ao oeste de São Paulo.

Como expressão destas revelações conformava-se uma nova dinâmica de ocupação e produção que em determinados momentos era mais acelerada e em outros momentos um pouco mais morosa, sendo até custosa pela lentidão, no estado de São Paulo:

Desde que tomou pé nos planaltos ocidentais, prosseguiu a vaga pioneira em sua marcha infatigável, sacudida pelas crises econômicas, acelerada às vezes pelo jogo das circunstancias políticas mundiais. Incessantemente engrossada por elementos novos, a multidão dos plantadores e dos pioneiros não cessou de progredir, mais ou menos depressa, mas sem fatigar-se. Testemunhavam avanços sucessivos as cidades, que se sucedem contas de um rosário, ao longo das ferrovias. Por toda parte, traz a paisagem a marca dessa ofensiva contínua, nos restos de florestas que subsistem, sobre os solos talados por essa cultura devastadora. Cada fase acarretou algo de novo, que não desapareceu com a progressão. História bem curta, mas que cumpre conhecer, seguindo os episódios da marcha pioneira, para compreender como elaborou o seu mundo, tal como hoje se nos apresenta. (MONBEIG, 1984, p. 125)

Logo no início, o estado de São Paulo, centro da economia do país, passava por momentos de aumento de demanda de matéria-prima (MONBEIG, 1984, p. 21) tanto para consumo interno quanto para exportação, visto que o Brasil ganhava projeção internacional na exportação do café e objetivava alcançar patamares ainda mais elevados. Para tanto, fazia-se necessário a incorporação de novas áreas e sujeitos para movimentar o processo produtivo. A abertura de frentes pioneiras ou frentes agrícolas6 foi a solução adotada para suprir a demanda de produção e consumo do mercado mundial, “fortalecer” a economia nacional e satisfazer, em partes, as necessidades do capitalismo. Além disso, os custos do processo não eram elevados, pois a terra sempre foi elemento abundante no país e, logo que planejada e iniciada a expansão cafeeira, o problema da mão de obra foi superado com a migração subsidiada pelo governo brasileiro (FURTADO, 2000, p. 130). Neste sentido, segundo Prado Jr. (1970) a administração do estado de São Paulo investiu significativamente e centrou suas forças na imigração para suprir a demanda das fazendas de café e criar condições extremamente favoráveis para a expansão cafeicultora, fazendo dele “um sistema que pode se considerar perfeito e completo” (p. 226).

6Foi utilizada como sinônimo de frentes pioneiras em determinados momentos, mas em outros destacando o caráter produtivo e não somente de ocupação e domínio territorial.

José Sobreiro Filho Assim, a conjuntura era propícia para o desenvolvimento da frente pioneira no estado de São Paulo, com abundancia de terras no oeste e mão de obra para suprir a produção (PRADO JR., 1970, p. 226-7). Tais circunstâncias se davam visto a importância da frente pioneira para a economia do estado de São Paulo e a intensidade de sua influência. Neste sentido, Monbeig é enfático ao exprimir “recebe, da existência das zonas novas, seu impulso mais forte” (1984, p. 21). De fato, as novas zonas tornaram-se o combustível que alimentava a expansão e o crescimento do estado de São Paulo e a Marcha para o oeste verteu-se em um processo essencial para tal.

Esse processo aos poucos se expandia pelo estado tomando grandes proporções e feições benéficas para o estado nacional, estadual e a conjuntura capitalista, a tal grau que, apesar de ser o cerne do processo, não se restringia ao estado de São Paulo. De acordo com Monbeig “a “marcha para o Oeste” é essencialmente paulista e continua a sê-lo, mesmo ao penetrar territórios de outros Estados...” (1984, p. 23) visto que esse processo estava intrinsecamente atrelado à centralidade econômica exercida por São Paulo e à circulação/transporte oferecido pelo Porto de Santos, além do que, de acordo como o autor, a maioria dos homens que promoveram o processo foi oriundos do próprio estado de São Paulo. No mesmo sentido, a contribuição de Armando Pereira Antonio (1984) também reforça a concepção de que as frentes pioneiras ou a Marcha para o Oeste e das novas áreas integradas serem parte do avanço do modo capitalista de produção que passou a incorporar espaços ainda não utilizados para plantio, sobretudo, de café:

A ocupação efetiva do extremo sudoeste paulista, está intimamente relacionada com a expansão da estrutura capitalista do momento – 1ª. E 2ª décadas do século XX, - ou seja, preocupada em aumentar e dominar “novas áreas” que passam a ser revalorizadas com o plantio do café. (ANTONIO, 1984, p. 46)

Assim, a frente pioneira frigia o “novo espaço” sob a perspectiva da integração às relações capitalistas de produção e, naquele contexto, o café foi a cultura de maior expressão no país. A cultura do café se espacializava/territorializava estado de São Paulo à dentro e, para tanto, era fundamental dotar de infraestrutura e povoar as novas áreas tanto para possibilitar as vias de circulação e mão de obra, quanto criar novos mercados de consumo e assegurar a soberania territorial anteriormente ameaçada pela invasão paraguaia. Em termos mais claros, esse processo se vertia e ganhava concretude aos olhos ou na vida cotidiana a cada empreitada iniciada para abertura das fazendas, nas corriqueiras e “pressagiosas” propagandas das companhias de colonização, na

José Sobreiro Filho migração sentido ao oeste, a cada quilômetro que as estradas de ferro avançavam, a cada atraque de navio com colonos imigrantes que trabalhariam nas culturas de café ou tentariam realizar o sonho de ter sua propriedade, nos milhares de hectares de florestas desmatados para transformação de pastos e plantações de café, etc.

Enfim, o processo de abertura de novas áreas e integração ao mercado estava apinhado de desdobramentos com expressões socioespaciais muito claras e vívidas. Monbeig (1984), em uma descrição muitíssimo rica em detalhes sobre uma viagem rumo ao oeste paulista, se atenta aos aspectos conjunturais importantes e que caracterizavam o processo de ocupação do Oeste do estado de São Paulo e de abertura de novas áreas, ou seja, a frente pioneira e evidencia alguns elementos que compunham o quadro circunstancial cotidiano:

Mesmo que fechasse os olhos à paisagem, o viajante não escaparia à impressão de nova zona: seus companheiros se comprazem em citar cifras prestigiosas, que testemunham o surto das cidades atravessadas, a evocar o heroico nascimento delas, ou a narrar os bons negócios que nelas se fizeram, os golpes de especulação bem sucedidos. Noutros vagões, outros viajantes, em andrajos, carregando pobre trouxas e arrastando crianças de olhos fundos, contemplam, atemorizados, essas paisagens estranhas; vêm da Bahia, de Pernambuco, ou do Ceará, atraídos pela lendária fama da região pioneira paulista. Ouvia-se falar português, mas com zetacismo do japonês ou o sotaque do alemão. (MONBEIG, 1984, p. 22)

Estabelecia e se fortalecia, aos poucos, um processo de ocupação que rumava para o oeste do estado de São Paulo. Era um processo moroso, que aos poucos vencia as barreiras e integrava mais terras ao oeste. A posse e qualidade da terra eram atrativos naquela conjuntura de expansão da agricultura. Mas as dificuldades de acesso e circulação também eram grandes. Foi justamente neste sentido que a frente pioneira rumou, para tomar conhecimentos das terras, desbravando-as, apropriando-as a preços baixos ou sem custo algum e integrando-as ao sistema produtivo capitalista, que se expandia, ainda com mais voracidade.

As potencialidades do oeste de São Paulo atraíam os olhos dos governantes, investidores e fazendeiros, que ao tomar conhecimento das características da região, despertavam interesse em desbravar o sertão ocidental:

O governo da Província do Paraná cuidara de implantar uma estrada em direção dos rios Paranapanema e Paraná, para atrair o comercio de Mato Grosso. Os ingleses tinham pensado e construir uma ferrovia na mesma direção, e um dos engenheiros, Bigg Withers, deixou interessante descrição da região; em 1874, lá não encontrou senão caboclos completamente perdidos, tão à margem do movimento de

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colonização de Curitiba, quanto seus irmãos paulistas de Campos Novos e Rio Preto o podiam estar do povoamento econômico de Limeira e São Carlos.

Assim, em 1870, os planaltos e as florestas do oeste de São Paulo e do norte do Paraná constituíam vasto sertão, região mal conhecida, habitada sobretudo por índios, na qual se perdiam alguns sertanistas audazes. O sertão ocidental escapava completamente à economia da Província. No entanto, os fazendeiros não o ignoravam inteiramente. Começavam eles a ter contato com esses domínios um pouco misteriosos, que envolviam narrativas legendárias dos bandeirantes. (MONBEIG, 1984, p. 22)

Dentre uma ampla diversidade de interesses quanto às terras do oeste do estado de São Paulo o que se destacava era, por incentivos do capital monopolista, a posse da terra, subordinada à lógica de produção capitalista, e a incorporação destas novas áreas à produção, cuja finalidade era o consumo interno e a exportação (TEIXEIRA, 1979, p. 130), ou seja, esta aconteceu de fato por interesse do capital. Afinal, seria a própria marcha, incorporando novos espaços em sua lógica sociometabólica7, que revitalizaria a conjuntura econômica de crise, ou seja, seria uma possível resolução do problema.

Assim, visto que a frente pioneira se comportou conforme os interesses do capitalismo, sua lógica de expansão não seria guiada de maneira diferente das experiências até então conhecidas. Foi realizada, em vários momentos, fazendo uso das mais perversas e vorazes estratégias para garantir a sua permanência e expansão e tendo desdobramentos problemáticos por seus custos, sobretudo, culturais, sociais e ambientais8. Monbeig, fazendo alusão a uma guerra, descreve como se dava a agressividade do processo:

É tentando ampliar as comparações militares: os pioneiros são como exércitos que partem para o assalto e as derrubadas são campos de batalha. Uma zona pioneira, como uma zona de guerra, conhece problemas de abastecimento, tem seus serviços de intendência e sua retaguarda e, nesse combate supõe uma estratégia e estrategistas que, providos de mapas, possam localizar as posições ocupadas pelas tropas, acompanhar sua marcha e modifica-la, se necessário. (MONBEIG, 1984, p. 165)

Todavia, naquele período, tinha-se uma noção diferenciada do processo. Alguns daqueles que o compunham como agentes sociais tinham uma concepção romântica e heroica de que “Perpetua uma tradição aquele que “abre” uma fazenda e sua ação direta suscita vocações” (MONBEIG, 1984, p. 122) e um sentimento de contribuição

7 Sobre o metabolismo sociometabólico ver Meszaros (2002)

8 Tais como o intenso processo de desmatamento e exaurimento do solo (MONBEIG, 1984, p. 75) e o extermínio dos indígenas, como demonstraremos mais adiante.

José Sobreiro Filho para país “Mas também a sensação de criar, o sentimento de manter uma tradição e o contribuir para engrandecer o seu país” (MONBEIG, 1984, p. 122). Criou-se nesse período uma concepção de grandiosidade e fascínio no ato de abrir fazendas e se incorporar às zonas pioneiras (MONBEIG, 1984, p. 122). Contudo, neste processo, uma das suas faces mais perversas foi a devastação ambiental. As florestas foram rapidamente dizimadas, restando apenas algumas pequenas porções que resistiram com muito custo e o solo, em muitos casos, foi rapidamente esgotado devido ao uso intenso e sem cuidados ambientais. Com o solo fatigado, tão logo, os pioneiros partiam para outras terras a fim de abrir novas fazendas e o preço das terras fatigadas caía muito. (MONBEIG, 1984, p. 122).

Para alguns, a frente pioneira significava um mundo de oportunidades. No entanto, os frutos eram incertos, mas ainda assim haviam muitas chances e muitos se arriscavam:

Lançar-se na abertura de uma fazenda nova, equivalia a arriscar a sorte, liquidar um negócio proveitoso, porém obscuro, para empreender outro novo. Contando com o valor da terra e com as probabilidades do mercado, correspondia a uma audaz especulação. Muitos o experimentaram; esqueciam-se os que se malograram, pensando-se só nos sucessos de que toda a gente falava: o modelo invejado era o do “bandeirante de hoje”, o grande homem de tal ou qual zona, celebrado pela pequena imprensa local e que conquistou fortuna e prestígio político. Por que não nos ocorreriam esses golpes de sorte? (MONBEIG, 1984, p. 123)

No entanto, a frente pioneira não pode ser entendida somente pela abertura das fazendas. De acordo com Monbeig (1984, p. 166), a frente pioneira deve ser compreendida através do tripé: aspecto da produção, da mão de obra9 e transportes. Vale destacar que cada um destes elementos que formam o tripé devem ser considerados conjuntamente e não como parte única e dissociada das demais. Desta forma fica a compreensão de que um serviu de base/suporte para o outro. Assim, o quadro relacional destes três aspectos para se entender a frente pioneira, a grosso modo, seguia a seguinte lógica: a produção demandava mão de obra e transporte; a mão de obra, para alcançar a frente pioneira e trabalhar na produção, demandava transporte e só para lá migrava se houvesse postos de trabalho criados pela produção; e o transporte, em sua maioria, foi criado para facilitar o acesso à frente pioneira, a circulação da produção e viabilizar o alcance da mão de obra às áreas de produção. Nesta tríade fica

9 É importante relevar a grande contribuição da mão de obra imigrante, visto que em média a população era de 10% a 15% da população de cada município. (ANTONIO, 1984, p.70)

José Sobreiro Filho clara a inter-relação dos aspectos e indissociabilidade dos mesmos para se compreender a frente pioneira.

Mas, efetivamente, podemos vislumbrar a contribuição da leitura de Monbeig (1984) ao observamos o transcorrer do desenvolvimento da frente pioneira e, sobretudo, o desenvolvimento da agropecuária. O exemplo mais ilustrativo do processo foi a espacialização da cultura do café rumo ao oeste paulista, sobretudo. Conforme vemos em Teixeira (1979) a chegada do café no oeste foi responsável por criar uma nova dinâmica de ocupação, colonização e estabeleciam a produção:

O café valorizou e povoou as terras “descobertas” pelos povoadores mineiros. Esta segunda colonização foi feita de modo original, pois além dos proprietários das zonas cafeeiras mais antigas, que abriam novas fazendas aproveitando a boa situação do café, veio o negociante de terras para adquirir glebas com as quais pudesse especular com os que chegassem depois. Ambos utilizaram recursos legítimos e ilegítimos para obter terras e daí os “grilos”. (TEIXEIRA, 1979, p. 61)

Além do aumento da comercialização da posse da terra, do impulso na colonização, da produção e da demanda de mão de obra que o café alavancou, desenvolveram-se também as vias de transporte, sobretudo a ferrovia visto que havia uma significativa debilidade muito grande no acesso e transporte para a porção oeste do estado. O transporte era visto como parte fundamental do processo de ocupação e incorporação das novas áreas, pois possibilitava, além do acesso, a integração com as demais regiões produtoras e o escoamento tanto da matéria-prima extraída através do desmatamento quanto da produção da região e demais próximas. Afinal, de nada valia haver produção sem poder escoa-la. Como consequência do desenvolvimento dos transportes, outros desdobramentos foram loteamentos, núcleos urbanos, rodovias, ferrovias, etc., como parte de uma nova dinâmica alavancada pelo processo.

Antonio (1984) apresenta, com base em Petrone (1956), uma síntese do processo que ocorria no oeste paulista. Nesta destaca-se o movimento pioneiro como causador da ocupação do oeste paulista e criador de uma nova dinâmica na região, tendo como elementos basilares a produção, mão de obra e transporte:

PETRONE (1956:60), sintetiza muito bem o processo e o movimento do pioneirismo responsável pela efetiva ocupação do Oeste Paulista: “(...) a marcha do povoamento do Estado e São Paulo fez-se em direção do Oeste, quase sempre possibilitada pela cultura cafeeira, frequentemente orientada pelas ferrovias e completada pela imigração. São as frentes pioneiras, com suas cidades cogumelos, com as pontas de trilhos e as bocas de sertão, com suas derrubadas, serrarias e cafezais, com seu rápido desenvolvimento econômico, com seus grilos

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de terras, suas fortunas e sua instabilidade”. (ANTONIO, 1984, p.64, Grifo nosso)

Segundo Prado Jr. (1970. P. 227), as condições do Oeste de São Paulo atraiu para a região os maiores esforços e recursos do país para a produção de café e, portanto, fez dela grande produtora e exportadora:

Em suma, a concorrência das terras virgens do oeste de São Paulo, com seus magníficos solos, sua topografia regular que proporciona boas facilidades para o transporte, e com seu clima a que o trabalhador europeu se adaptou fácil e admiravelmente, desviou para ela os melhores esforços e recursos do país; e lá se concentrou a maior e melhor parcela da lavoura cafeeira do Brasil; mais da metade do número total de seus cafeeiros, com uma produção que ultrapassa 60% da produção global do país. É sobretudo com esta considerável parcela paulista que o Brasil contará para colocar-se tão esplendidamente, como vimos acima, no comércio internacional do café. (PRADO JR., 1970, p. 227)

Ainda sobre a expansão da cafeicultura, mesmo que Furtado (2000) esteja focando na produção e comercialização, vemos o tripé produção/mão de obra/transporte de maneira muito clara em sua leitura ao referenciar a vanguarda que trabalhava planejando, organizando e arquitetando os avanços da cafeicultura:

A economia cafeeira formou-se em condições distintas. Desde o começo, sua vanguarda esteve formada por homens com experiência comercial. Em toda a etapa de gestação aos interesses da produção e do comércio estiveram entrelaçados. A nova classe dirigente formou- se numa luta que se estende em uma frente ampla: aquisição de terras, recrutamento de mão de obra, organização e direção da produção, transporte interno, comercialização nos portos, contatos oficiais, interferência n política financeira e econômica. A proximidade da capital do país constituía, evidentemente, uma grande vantagem para os dirigentes da economia cafeeira. Desde cedo eles compreenderam a enorme importância que podia ter o governo como instrumento de ação econômica. (FURTADO, 2000, p. 120)

Além da incorporação das terras, da migração e imigração, do impacto econômico, da dotação de infraestrutura viária, etc. surgiram muitos outros desdobramentos. Dentre os vários, destacam-se o loteamento como um sistema de vendas mais dinâmico de comercialização das terras, e o surgimento de núcleos urbanos. Os loteamentos eram realizados em sua grande maioria por companhias de colonização de toda ordem, conforme detalharemos na região do Paranapanema. A comercialização das terras, predominantemente pequenas propriedades, realizadas a prazo e quase sempre os compradores oriundos das zonas velhas e imigrantes