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Capítulo I Partidos e Sistemas Partidários na Europa do pós guerra

2. A formação do Partido Republicano Nacionalista

2.1. A fundação do Partido Republicano Nacionalista

Após o acordo parlamentar as comissões políticas do PRRN e do PRL de Lisboa foram informadas, mais do que consultadas, sobre a fundação do novo partido no dia 4 de Janeiro de 1923288. Os centros políticos liberais e reconstituintes de Lisboa reuniram na segunda metade do mês de Janeiro tendo sido aprovadas, por unanimidade, moções apoiando a fusão dos dois partidos sem prévia discussão de ideias, objectivos e estratégias289. O Directório do PRRN enviou uma circular às comissões políticas locais, assinada por Álvaro de Castro, onde se apresentava a formação do novo partido como um facto praticamente consumado depois do Directório e do Grupo Parlamentar terem votado favoravelmente pela fusão290. O PRL também enviou uma circular aos presidentes dos diversos organismos políticos espalhados pelo país. O Directório do PRL queria “ouvir todas as organizações partidárias, cujo voto é indispensável para à formação definitiva da grande força política em vias de organização”. Nesta circular os correligionários eram informados que o Directório e a Junta Consultiva do PRL já tinham dado “o assentimento unânime”291

à formação do novo partido. Algumas semanas depois, o Directório do PRL informou os correligionários através da

República, em 24 de Janeiro de 1923, que das 271 consultas que expediu sobre a

formação do novo partido, tinha recebido 209 respostas, sendo apenas uma desfavorável292. Em virtude deste facto “julgou-se o Directório habilitado a encerrar o

287 Correio do Minho, 31-1-1923, p. 1. 288 Cf., República, 5-1-1923, p. 2.

289 Veja-se os casos do Centro Republicano Liberal - Ribeiro de Carvalho (República, 20-1-1923, pp.1-2)

e das comissões políticas reconstituintes reunidas no centro da Póvoa do Varzim (A Norma, 15-3-1923, p. 2).

290 Cf., Circular do Directório PRRN assinada pelo líder, Álvaro de Castro (A Norma, 25-1-1923, p. 2). 291

Circular do Partido Republicano Liberal, datado em Lisboa a 20 de Dezembro de 1922, Espólio António Ginestal Machado, Biblioteca Nacional de Portugal, Espólio E55/1437.

292 Veja-se a seguinte carta enviada pelas comissões políticas liberais de Beja ao Directório do PRL:

“Aos digníssimos membros do Directório do Partido Republicano Liberal – Lisboa.

Tendo reunido, conjuntamente as comissões Distrital e Municipal do nosso partido, em sessão assistida por numerosos correligionários, decidiu-se, com todo o entusiasmo, garantir a V. Ex.as o apoio indispensável à boa marcha dos trabalhos conducentes à fusão.

Em absoluta concordância com a doutrina exposta na circular de 20 do p. Findo, estas Comissões confiam no êxito da patriótica missão que V. Ex.as se impuseram, desejando ardentemente todos os nossos correligionários que o nosso partido consolide de vez a Republica e seja um poderoso instrumento de progresso nacional.

Saúde e Fraternidade.

Beja, 14 de Dezembro de 1922

Pela Comissão Distrital do Partido Liberal O Presidente

Francisco da Costa Rosa Pela Comissão Municipal O Presidente

acordo com o Partido Reconstituinte”293

. No entanto, não temos muitas notícias que as organizações regionais do PRL tenham reunido para emitir pareceres, o que nos leva a concluir que apenas foram ouvidos os notáreis locais294. Esta cultura partidária de submissão aos líderes é também notória na entrevista concedida por António Ginestal Machado a um repórter do Diário de Lisboa no dia 26 de Janeiro. O futuro líder do PRN ao explicar o assunto da próxima reunião entre liberais e reconstituintes disse o seguinte: “Discutir-se-á o manifesto ao país que está sendo feito pelo Dr. Júlio Dantas... rectifique: aprovar-se-á, naturalmente sem objecções...”295.

A Comissão Executiva para a organização do partido ficou constituída por Álvaro de Castro, Júlio Dantas e António Ginestal Machado, ficando o primeiro como presidente296. Mesmo aqui tentou-se dar uma certa proporcionalidade e equilíbrio na distribuição de poder dos dois partidos que se iam fundir. O presidente representava a ala reconstituinte, minoritária, Júlio Dantas e António Ginestal Machado a ala liberal, maioritária. No dia 25 de Janeiro de 1923 reuniu a Comissão Executiva do novo partido a fim de marcar uma nova reunião dos directórios liberais e reconstituinte. O primeiro Congresso do novo partido estava projectado para finais de Fevereiro, tendo sido nomeada uma comissão organizadora e outra para elaborar o respectivo programa297.

Nas semanas seguintes houve uma série de reuniões partidárias para ultimar a apresentação do novo partido: iniciou-se a preparação do Congresso partidário, discutiu- se o Manifesto a apresentar ao país e debateu-se o nome a atribuir ao novo partido298. No dia 5 de Fevereiro reuniram no Palácio do Calhariz os directórios do PRL e PRRN, tendo declarado extintos os dois partidos. Não foi ainda possível chegar a um consenso sobre o nome a atribuir ao novo agrupamento político. As denominações de Partido

Republicano Constitucionalista e Partido Republicano das Direitas não receberam os

apoios necessários299. No dia seguinte voltaram a reunir os directórios e os parlamentares dos dois antigos partidos, tendo sido apreciado o manifesto a apresentar ao país elaborado por Júlio Dantas. Este documento político já tinha sido aprovado pelos dois directórios e recebeu desta assembleia o seu aplauso unânime. Trocaram-se ainda impressões sobre a orientação programática do partido e marcou-se a realização do Congresso para 17, 18 e 19 de Março300. Passou-se depois à escolha do título a dar ao novo partido. Depois de longa discussão votou-se a seguinte designação: Partido

Republicano Nacionalista. Porém, o nome escolhido teve uma escassa margem de três

votos. Esta designação poderia transparecer uma certa insatisfação com o regime político constitucional vigente e uma posição conservadora301. A tendência ordeira, mas moderada, do partido era diversas vezes acentuada, no entanto não era “conservador no sentido monárquico da palavra, porque se” tratava “de uma força republicana de

Joaquim Lança”, O Bejense, 14-01-1923, p. 1.

293

República, 24-1-1923, p.1; Cf., A Província, 28-1-1923, p. 3.

294 As comissões políticas do Partido Republicano Liberal e do Partido Republicano de Reconstituição

Nacional de Vila Real reuniram conjuntamente, tendo por unanimidade, dado o seu voto à fusão dos dois partidos e à estratégia dos seus directórios. Logo nessa reunião foi constituída a comissão distrital do novo partido, sem qualquer discussão de ideias e projectos e sem votação. Cf., República, 13-3-1923, p. 1; O Século, 13-01-1923, p. 2.

295 António Ginestal Machado, Diário de Lisboa, 26-1-1923, p. 5. 296 Cf., Diário de Lisboa, 7-2-1923, p. 5. 297 República, 24-1-1922, p.1. 298 Cf., O Século, 8-2-1923, p. 2. 299 Cf., O Século, 6-2-1923, p. 2. 300 Cf., O Século, 9-2-1923, p. 2. 301

Cf., Diário de Lisboa, 17-2-1923, p. 1; Ernesto Castro Leal, Nação e Nacionalismo. A Cruzada D.

governo para contrapor ao partido democrático no poder”302

. Não obstante, a ala esquerdista do partido liderada por Álvaro de Castro defendia publicamente que o novo partido não era “nem poderá ser um «partido conservador». Seria antes “um partido moderado, [...] defensor da Constituição e da ordem e servindo as ideias nacionais por processos moderados”303

.

O nome escolhido recolheu logo críticas, algumas vindas do interior do novo partido. Eduardo Alfredo de Sousa não compreendia, por exemplo, “que um partido que se diz moderado e conservador, se apelide de nacionalista...”304

. Esta opção também recebia reparos pelo facto de os católicos terem tido um partido com essa denominação no final da Monarquia305. A escolha deste nome para o partido provocou também o protesto do grupo de «Acção Nacionalista», liderado por João de Castro Osório, uma vez que consideram que tinha sido cometido um roubo, pois tinham-se apoderado da designação «Nacionalista»306. A designação escolhida também recebeu críticas de outros quadrantes políticos. Raul Proença criticou duramente “o sentido irritantemente chauvinista, patrioteiro e reaccionário que” a palavra nacionalista “tomou no vocabulário político do nosso tempo” e com algum sarcasmo sobre futuro deste novo agrupamento concluiu: “Rezemos um padre-nosso por alma do partido nacionalista português”307

. Custódio de Paiva, deputado democrático e chefe de gabinete de António Maria da Silva, era da opinião que era até bastante “conveniente a formação dum grande partido para a República e para o País” possibilitando a substituição do governo do PRP, “quando ele precisar descansar”308

. O deputado monárquico, Morais de Carvalho, afirmou não poderem haver “partidos republicanos conservadores – e os que têm existido têm servido apenas para fortalecer a corrente democrática”. Salientou ainda algo muito comentado na imprensa da época – “o desacordo dos seus chefes. Ginestal Machado e Barros Queiroz desejam-no conservador. Conservar sem deformar – disse o Sr. Ginestal Machado, para inteligências raras... O Sr. Álvaro de Castro, antigo democrático, pretende que ele seja radical”. Em relação ao nome escolhido achou-o “infelicíssimo (...) e copiado... A palavra nacionalista em si não dá nada. É vaga como tantas outras. Nacionalistas somos nós todos – os que não queremos o Iberismo, por exemplo”309

. O Sr. José de Macedo, secretário do Partido Republicano Radical, numa mesa da Brasileira do Rocio, em entrevista ao Diário de Lisboa disse o que pensava da formação do PRN: “Não dá nada. Não se convencem de que na República liquidam todas as tentativas conservadoras... E os exemplos aí estão: Pimenta de Castro e Sidónio Pais. Faliram esses. Hão-de falir os outros. Porque se está a esboroar o partido democrático? Pela mania de conservantismo que subiu à cabeça dos seus dirigentes”310.

No dia 15 de Fevereiro, às 22 horas, realizou-se a primeira reunião formal do PRN no Palácio do Conde d’Azambuja, também conhecido por Palácio do Calhariz. Perante vasta assistência discursaram alguns dos notáveis do novo partido. Sá Cardoso,

302

Barroz Queiroz, Diário de Lisboa, 1-2-1923, p. 8.

303 Álvaro de Castro, Diário de Lisboa, 27-1-1923, p. 8.

304 Eduardo Alfredo de Sousa, Diário de Lisboa, 8-3-1923, p. 5. 305 Cf., Constancio de Oliveira, República, 11-3-1923, p. 1. 306

“Senhor Director do «Correio da Manhã» - Dolorosamente surpreendido, devo dizê-lo, com a exploração política que procura fazer-se com a ideia já lançada de nacionalismo português, crismando com esse nome um miserável partido eleitoral da república, venho pedir a V. para no seu jornal lavrar o vibrante protesto dos nacionalistas portugueses [...].”, João de Castro Osório, Correio da Manhã, 10-2- 1923, p. 1. Veja-se também os protestos dos dirigentes Acção Nacional Lusitana, Correio da Manhã, 11- 2-1923, p. 1.

307 Raul Proença, “O nacionalismo”, Seara Nova, n.º 21, Fevereiro-Março de 1923, p. 141. 308 Custódio de Paiva, Diário de Lisboa, 16-2-1923, p. 4.

309

Morais de Carvalho, Diário de Lisboa, 16-2-1923, p. 8.

António Ginestal Machado, Álvaro de Castro, Cunha Leal e Júlio Dantas salientaram o carácter conservador, tolerante e moderado do PRN e a sua disponibilidade para assumir a chefia do governo, libertando assim o país da Ditadura do PRP e da sua política radical311.

Finalmente no dia 17 de Fevereiro de 1923 o Partido Republicano Nacionalista foi apresentado a todo o país através de um manifesto publicado em diversos jornais. Este manifesto tinha sido aprovado pelos dois Directórios no dia 7 de Fevereiro e informava o seguinte: “os Directórios do Partido Republicano Liberal e do Partido Republicano de Reconstituição Nacional reunidos em sessão conjunta, tendo ouvido previamente todas as suas comissões e núcleos políticos existentes no país, deliberaram, por unanimidade de votos e em harmonia com os resultados da consulta” dissolver os dois partidos e “promover a formação dum novo organismo partidário, estruturalmente republicano”. O motivo principal que levou a esta fusão foi o facto de “nenhum dos dois partidos que” desapareceram terem conseguido “atingir um estado de organização que lhe permitisse equilibrar as forças do partido democrático, detentor da organização do velho Partido Republicano Português”. “O reconhecimento deste facto determinou, como primeira consequência, a formação do bloco das direitas” no Parlamento em Dezembro de 1922, “que imprimiu unidade à direcção dos dois partidos e coordenação à sua acção parlamentar”. No entanto, esta opção foi apenas uma atitude transitória, dado que o objectivo último era formar uma “organização permanente e definitiva das forças políticas das direitas num partido único, distinto dos seus dois componentes originários”. O novo agrupamento político pretendia alterar o sistema partidário que tinha vigorado durante a República contribuindo para uma situação de equilíbrio, sem a qual “são difíceis, senão impossíveis, as soluções constitucionais que não tendam à conservação do Partido Democrático no Poder”. Este objectivo apenas seria concretizável com a criação de um partido novo e não apenas com a fusão dos dois antigos partidos que teria certamente uma vida curta e instável. Este novo partido permitiria o ingresso dos membros do PRL e do PRRN, mas também de cidadãos republicanos conservadores que estando afastados da política até ai, ingressariam no novo partido, conscientes da possibilidade redentora que se abria à República com a formação deste “sólido partido de governo, representativo das correntes moderadas”. O Partido Republicano Nacionalista pretendia “completar a obra de nacionalização da República” integrando os elementos monárquicos e adversários do regime, dado que a República “não era apenas um regime para os republicanos, mas um regime para todos os portugueses”. A formação do Partido Republicano Nacionalista iria simplificar, sistematizar e equilibrar as forças políticas republicanas portuguesas em dois grandes grupos: à esquerda a opinião radical reunida em torno do PRP e à direita a opinião conservadora agrupada em torno do PRN. Para os críticos do sistema de alternância do poder de dois partidos o PRN utiliza um argumento muito simples e directo: “pode não ser bom que existam apenas dois, mas seria pior se existisse só um”, dado que na hora que esse único partido, fatigado pelo diuturno exercício da função governativa, tivesse de abandonar o governo, não encontraria outro partido apto para lhe suceder”. O programa detalhado do PRN teria de ser submetido ao primeiro Congresso, mas existiam já três características claras que tinham presidido à formação deste partido: o princípio constitucionalista – a sua acção iria pautar-se pela “mais estrita observância do estatuto fundamental do Estado”; o princípio nacionalista - respeitando “as tradições nacionais, alma da própria Pátria”; o princípio da moderação – “dentro daquele espírito de tolerância que hoje, mais do que nunca tem de presidir ao governo dois povos”. Na

sua opinião, a acção radical tinha-se prolongado demasiado em Portugal, demolindo tradições, monumentos e homens e entrando no caminho perigoso da intolerância religiosa e da intransigência política, impeditivas de uma obra duradoura de reconstrução nacional, dada a falta de paz interna. O novo partido quando abraçasse o Poder iria governar sem fraquezas, mas sem violências, tornando “pela moderação dos seus processos, amada e respeitada a República”312

. O desenvolvimento económico e social do país estava dependente da ordem pública, facto já assinalado por outros manifestos nacionalistas, como o da Cruzada Nuno Álvares de 1921 redigido por Henrique Trindade Coelho313.

O Partido Republicano Nacionalista foi apresentado na Câmara dos Deputados no dia 19 de Fevereiro de 1923. Álvaro de Castro fez o discurso inaugural tendo referido que o novo partido “deseja actuar intensamente dentro da Constituição e dentro da ordem”. O novo partido declarava-se “profundamente republicano”, enquadrado “dentro dos princípios que foram fixados pela constituição de 1911” e animado por um espírito de “tolerância e progresso”314

. O PRP pela voz do deputado Paiva Gomes saudou o novo agrupamento político. Carvalho da Silva, em nome da minoria monárquica, declarou que sempre tinha tido uma excelente relação com todos os antigos partidos republicanos conservadores e “sendo assim, não há razão para que essa situação se modifique, pelo simples facto de terem mudado de nome”, tanto mais que “pelas declarações que o Sr. Álvaro de Castro acaba de fazer à Câmara, vê-se que não são alteradas as condições, em que até agora o Parlamento tem vivido”, continuando o novo partido a aguardar “com serenidade o momento em que possa ser útil a sua acção no Governo”315

. Lino Neto em representação do Partido Católico congratulou o PRN pelo facto de dizer ao País que quer respeitar “a tradição religiosa nacional”, dado que “a Igreja e a tradição religiosa devem ser consideradas como um dos elementos do nosso património nacional”316

. O Ministro das Finanças, Vitorino Guimarães, em representação do Governo cumprimentou o novo partido, tendo apreciado a atitude deste para o governo no sentido de realizar uma “fiscalização severa, para o cumprimento da lei e para que a moralidade triunfe”317

.

Ainda nesse dia reuniu pela primeira vez o Directório provisório do PRN composto pelos antigos membros dos Directórios do PRL e PRRN, tendo nomeado uma comissão para elaborar o programa partidário e outra para elaborar a lei orgânica do partido para apresentar no 1.º Congresso do PRN. O Directório analisou a atitude a assumir perante a proposta de empréstimo, contrato de tabacos e vencimentos dos funcionários. Deliberou ainda que os orçamentos deveriam ser discutidos na generalidade, mas em bloco. Por último, convocou os parlamentares nacionalistas para uma reunião a realizar no dia 21 de Fevereiro318.

312 Os Directórios, “Partido Republicano Nacionalista. Manifesto ao País”, República, 17-2-1923, p.1. O

Manifesto foi também publicado n’ O Século (17-2-1923, p. 1), e noutros jornais de província, órgãos oficiais do PRN, como A Beira (Santa Comba Dão, 24-2-1923, p. 1) e A Concórdia, (Arcos de Valdevez, 25-2-1923, p. 1; 4-3-1923, p. 1). O Manifesto foi aprovado pelos directórios do PRRN e do PRL na sala das sessões em 7 de Fevereiro de 1923.

313 Ernesto Castro Leal, Nação e Nacionalismo... op. cit., pp. 156-157. 314 Álvaro de Castro, Diário da Câmara dos Deputados, 19-2-1923, pp. 15-16. 315 Carvalho da Silva, Diário da Câmara dos Deputados, 19-2-1923, pp. 16-17. 316

Lino Neto, Diário da Câmara dos Deputados, 19-2-1923, p. 17.

317 Vitorino Guimarães, Diário da Câmara dos Deputados, 19-2-1923, p. 17.

318 Comissão encarregada de elaborar o programa partidário: José Barbosa; Moura Pinto; Vasconcelos e

Sá; Raul Portela; Júlio Dantas. Comissão nomeada para elaborar a lei orgânica do PRN: Xavier da Silva; Paulo Menano (República, 20-2-1923, p. 2; O Século, 22-2-1923, p. 2).

No dia 20 de Fevereiro de 1923 representantes do Directório do PRN foram recebidos pelo Chefe de Estado a fim de lhe comunicar a formação da nova agremiação partidária. Da delegação faziam parte, Álvaro de Castro (antigo membro do PRRN), Barroz Queirós e Augusto de Vasconcelos (antigos membros do PRL), mantendo-se assim a proporção habitual que dava maioria à corrente liberal frente à reconstituinte319. Nesse dia fez-se também a apresentação do novo partido no Senado. Augusto de Vasconcelos referiu-se, no seu discurso, ao facto de as dificuldades políticas do país provirem “da falta de partidos solidamente organizados”, à excepção do PRP. Embora este partido tivesse “prestado ao país e ao regime altos serviços”, não havia regimes desenvolvidos que vivessem com um só Partido. Os democráticos tinham inclusive dificultado a constituição de outros partidos, pensando (erradamente) que estavam a prestar um serviço ao regime. O novo partido republicano conservador teria de aprender com os erros do Partido Republicano Liberal, que embora sólido não conseguiu “resistir aos embates dos jacobinos e dos extremistas e às suas empresas revolucionárias”. Chegava “assim a República à sua maioridade, com as forças políticas devidamente organizadas”, com um partido avançado e um partido conservador. O PRN defendia “ideias amplamente liberais, genuinamente democráticas (...), mas com respeito pelas tradições da nossa raça, pelas suas crenças e pelo seu carácter”320

, facto que levou o representante da minoria católica, Dias de Andrade, a manifestar a sua satisfação pela formação da nova organização partidária que correspondia a “uma necessidade social e política dentro do regime” e estava destinada a ser uma “grande força de Governo”321

. Pereira Osório, representando o Partido Democrático demonstrou confiança no novo partido, dado que era “estruturalmente republicano” e reconheceu que havia falta de um “outro partido, que pelo valor pessoal dos indivíduos que o componham e pelo valor numérico possa estabelecer equilíbrio dentro da República com o Partido Democrático”322

. Tomás de Vilhena, em representação do grupo monárquico, manifestou simpatia pelas individualidades que compõem o novo partido conservador, mas confessou “não confiar muito no seu esforço” de engrandecimento da Pátria, dado que existia um “mal de raiz” na República por esta, estar “fora da tradição nacional”323

. Pelos independentes discursou Joaquim Crisóstomo, tendo declarado que o PRN tinha no seu seio alguns “dos mais valiosos [elementos] que existem em Portugal” e que não era justo que o Partido Democrático fosse “o único a arcar indefinidamente com as responsabilidades do Governo”324

. Em nome do Governo, Queiroz Vaz Guedes,

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