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2. Apreciação do mérito do recurso:

2.2. A impugnação da matéria de facto:

2.2.1. Pedido de aditamento de facto 21 da sentença do processo nº800/16.0T8BRG ao facto provado em 2:

A sentença recorrida julgou provado o facto 2 (teor da decisão proferida no processo nº800/16.0T8BRG, em que transcreveu os factos 16 e 17 aí

provados), com a seguinte fundamentação: «As matérias dos factos provados números 1 e 2, resultam provadas pelos documentos autênticos neles

aludidos, juntos aos autos.».

A recorrente pediu que se aditasse ao facto provado em 2 o facto 21 dessa sentença julgada provada (com o teor: «Previamente à conclusão do negócio referido em 18), o réu P. M. deslocou-se ao local físico do prédio que constituía o objeto desse negócio com um representante da imobiliária ... (Fafe), ambos tendo visionado quais as confrontações indicadas pelo Banco X/X”»), tendo em conta que no despacho saneador já se tinha julgado provado o teor da

sentença proferida no processo nº800/16.0T8BRG (conclusão IX, em referência a alegações prévias)

O recorrido não se pronunciou sobre esta matéria em concreto.

Impõe-se apreciar a impugnação.

Numa primeira análise, verifica-se que este facto que a recorrente pretendeu que se aditasse ao facto 2 já se encontra no essencial provado no facto 15 da matéria de facto provada, como facto provado neste processo.

Numa segunda análise, todavia, verifica-se que nada obsta a que, no facto 2 da sentença, se encontre também transcrito o facto provado em 21 da sentença do processo nº800/16.0T8BRG, aí já julgada provada e com transcrição

parcial. A transcrição desse facto, constava da alegação do art.36º da petição inicial (que referiu a prolação da sentença do processo nº800/16.0T8BRG e transcreveu os factos aí julgados provados, nomeadamente o facto 21), em

referência ao documento junto a fls.39/verso e seguintes da mesma petição, facto e documento não impugnados (tendo o Banco X até, na sua contestação, declarado expressamente aceitar todos os factos alegados e julgados provados na sentença do processo nº800/16.0T8BRG), sendo que esta sentença já tinha sido julgada previamente provada no despacho saneador (em que foi

declarado «Têm-se como assentes, nos termos previstos pelo artigo 574º, n.º2 do CPC: (…) ii. teor da sentença, transitada em julgado, proferida nos autos de acção de processo comum nº800/16.0T8BRG da 2ª Vara Mista de Guimarães (cfr. certidão junta como documento número 21 da p.i.- fls.60 ss dos autos)»).

Assim, admite-se que se adite ao texto do facto provado em 2), após o

conteúdo nele inserto, onde se transcreveram os factos 16 e 17 da sentença, a transcrição do facto 21 da referida sentença, com o seguinte teor «21.

Previamente à conclusão do negócio referido em 18), o réu P. M. deslocou-se ao local físico do prédio que constituía o objeto desse negócio com um

representante da imobiliária ... (Fafe), ambos tendo visionado quais as confrontações indicadas pelo Banco X/X”».

2.2.2. A alteração do facto não provado em 2 para facto provado:

A sentença recorrida julgou não provado o facto 2 («O Autor sabia, na ocasião da celebração do negócio descrito no facto provado número 1 que a área real do prédio rústico mencionado no facto provado número 1 com o pavilhão, era de 9.479 m2 (artigos 46º a 48º da contestação do 1º Réu»), com base na seguinte fundamentação: «A visita ao local, reportada no facto provado número 15, resultou quer das declarações de parte do Autor, quer do

testemunho de A. J.. Embora ambos tenham dito que na ocasião da visita, o Autor já tinha sido informado pelos Réus que os limites do prédio eram dados pela vedação, não se demonstrou que o Autor soubesse que a área real

definida por tais limites era de 9.479 m2, já que apresentava vegetação

espontânea que dificultava uma clara percepção da área, para além de que só depois da compra o Autor solicitou a realização de um levantamento

topográfico (facto não provado número 2).»

A recorrente pediu que o facto não provado em 2 fosse julgado provado («O Autor sabia, na ocasião da celebração do negócio descrito no facto provado número 1 que a área real do prédio rústico mencionado no facto provado número 1 com o pavilhão, era de 9.479 m2 (artigos 46º a 48º da contestação do 1º Réu»), por entender: que a falta de prova implica uma contradição com o teor da sentença proferida no processo nº800/16.0T8BRG julgada provada no despacho saneador, uma vez que nesta consta provado o facto 21 (referido em III- 2.2.1. supra, sendo que se esse facto ocorreu o autor sabia a área do

prédio alegada nos arts.46º a 48º da petição inicial) e consta a menção do mesmo conhecimento na fundamentação (que P. M. «sabia que o prédio onde

andou a efectuar as obras e trabalhos tinha uma área correspondente a mais do triplo daquela que declarou comprar aquando do contrato de compra e venda»); que a prova produzida permite julgar provado o facto- as declarações do autor (que reconhecera que antes da aquisição do prédio este se

encontrava delimitado, tal como a respetiva área) e os depoimentos das

testemunhas M. C. e A. J. (dos quais resultaria, também, no seu entender, que antes da aquisição do prédio o visitara e que este e a sua área estavam

delimitados).

O recorrido defendeu que o facto não se encontra provado, face à análise da prova, uma vez que a medição do terreno só foi feita posteriormente à

escritura.

Impõe-se apreciar a impugnação, ainda que se considere, de acordo com as soluções plausíveis das questões de direito, que este facto, ainda que provado, tem uma relevância insuficiente para os efeitos pretendidos pelo recorrente de imputar ao recorrido culpa na realização das obras, conforme se referirá em III- 2.3.2. infra.

Por um lado, examinando a fundamentação da sentença para julgar o facto 2 não provado e os argumentos da recorrente perante a prova produzida,

verifica-se que o recorrente não discutiu as razões que determinaram a que o Tribunal a quo julgasse não provado o facto, ónus que deveria observar para contestar a decisão.

Por outro lado, examinando a prova produzida e os argumentos do recorrente, verifica-se que não lhe assiste razão.

Numa primeira análise, verifica-se não existem as contradições enunciadas:

não existe contradição entre o facto provado em 15 (a que a refere, no essencial, ao facto provado no facto 21 da sentença provada em 2, invocada pelo recorrente) e o facto não provado em 2, uma vez que a confirmação das confrontações de um prédio rústico não significa a realização da sua medição e o conhecimento da sua área, que pode exigir uma atividade mais complexa e não ser apreendida pela simples confirmação de confrontações; não existe qualquer contradição entre o facto não provado e o comentário lateral realizado na sentença do processo nº800/16.0T8BRG sobre o conhecimento que o comprador teria quando fez as obras que o prédio tinha o triplo da área comprada, ainda que esta sentença pudesse constituir um meio de prova para este efeito, uma vez que esta referência refere-se a um período de tempo posterior àquele a que se reporta o facto 2 não provado, referido à data da celebração da escritura e não em relação à data da realização das obras.

Numa segunda análise, verifica-se que a referida prova produzida (quer as declarações do autor, quer os depoimentos das testemunhas), apesar de

poderem permitir admitir que o autor presumia que o prédio tinha uma área superior a 4 160 m2 constantes da matriz das Finanças e do Registo Predial (com documentos juntos a fls.15/v e a fls.16 ss), não permite considerar que o autor tivesse conhecimento da área total do prédio integrada entre as

confrontações, nem que esta área medisse exatamente 9 479 m2.

De facto: o autor referiu que a mediação do prédio apenas foi realizada quando fez o levantamento topográfico, após a celebração da escritura do contrato de compra e venda e para efeitos de instruir a informação prévia à Câmara, que se presume ter ocorrido no âmbito das pretensões de legalização do pavilhão, sem que este depoimento tenha sofrido qualquer contraprova por documentos ou por testemunhas; o autor e a testemunha A. J. da mediadora, que fizeram a visita ao local provada no facto 15), declararam ter-se

interessado sobretudo em confirmar as delimitações indicadas pelo Banco X (que referira que o prédio estava vedado) e pela integração do pavilhão entre as mesmas, referindo ambos que a vegetação e o mato dificultavam o acesso e a melhor compreensão da área, apesar de lhes parecer superior à dos

documentos, depoimentos presenciais estes que não obtiveram contraprova, não são contrários às regras da experiência e foram valorizados pelo Tribunal a quo; o autor e as testemunhas C. F., A. J. centraram os depoimentos

sobretudo no relato do interesse do autor no pavilhão, nos esclarecimentos pedidos ao Banco X (pelo autor e pela mediadora) sobre o mesmo quando não o viram descrito nos documentos predial e matricial, nas informações que lhe foram dadas (que o pavilhão pertencia ao prédio, que estava integrado entre as suas delimitações, que não estava legalizado e que poderia não se

conseguir legalizar), sem que tivessem valorizado a questão da área total do prédio rústico, por não ser o interesse principal do comprador e porque

entenderam normal haver desfasamento entre as áreas dos registos e as áreas reais de prédios rústicos, depoimentos estes que o depoimento da testemunha M. L. confirmou quanto ao interesse no pavilhão e aos pedidos de

esclarecimento e não infirmou pelas demais considerações (de caráter genérico e desresponsabilizante da sua atuação, que descredibilizam o seu depoimento, nomeadamente, ao pretender imputar ao comprador a

responsabilidade de valorizar uma informação administrativa da Câmara de forma superior aos anúncios da venda, às informações do vendedor e aos documentos do registo predial e das finanças).

Pelo exposto, julga-se improcedente a impugnação.