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Esquema 4 Esquema referente ao discurso epistemológico

1.4 A organização da tessitura dissertativa da pesquisa

A escritura desta pesquisa, em função da sua perspectiva epistemológica, foi organizada em quatro capítulos, sendo este o primeiro de natureza introdutória, começando com um breve texto evocativo ao tema deste estudo. Comenta brevemente, acerca da

17 Estes livros didáticos evidênciam a existência dos textos visuais aqui apresentados como exemplos de

enunciados não verbais. Neste sentido, todo conjunto de imagens que compõe estes livros didáticos, pode alternadamente ocupar os lugares indicados para este tipo de materialidade, dispensando assim, a obrigatoriedade do estabelecimento de critérios para o seu aparecimento neste texto dissertativo.

aproximação dos campos do discurso visual e da educação, considerando o estudo do texto visual em LD de língua portuguesa na EJA, buscando pensá-lo discursivamente na condição de mediador do conhecimento sistematizado e organizado para esta modalidade de ensino. Segue apresentando a convergência e as razões que delinearam, conformaram e deram sentido e existência a esta pesquisa.

A seção seguinte trata do tema desta pesquisa frente ao debate acadêmico local e nacional e avança para a próxima seção, trazendo as formulações do objeto, do problema, da hipótese e dos objetivos pretendidos. Apresenta, na sequência, o referencial teórico, fazendo uma breve reflexão sobre a filiação teórica deste estudo e segue apresentando os procedimentos metodológicos percorridos visando ao alcance dos objetivos analíticos definidos. E, finalizando, apresenta a tessitura dissertativa que desvela os entremeios percorridos com vistas à realização deste estudo.

O capítulo dois lança luz sobre os enunciados que circulam sobre as teorias que delineiam e constituem a AD de filiação francesa e, segue puxando os fios da AD e do discurso visual estendendo-se em direção às discussões contemporâneas. A segunda seção confere visibilidade ao par signo-imagem e traz alguns enunciados que circulam por meio das teorias da semiótica e da semiologia. E, adentrando nas particularidades destas duas disciplinas, foi possível demarcar enunciados cujas formulações estão em nível tanto teórico quanto analítico e metodológico, acerca do modo de existência dos signos em geral e dos visuais em particular. Na sequência, a próxima seção, coloca em relevo enunciados que escandem a imagem à luz da Análise Arqueológica do Discurso, entrevendo as possibilidades de análise do texto visual a partir desta teoria.

O capítulo três inicia destacando brevemente estudos realizados sobre o livro e adentra no tema do LD, evidencia-o como um artefato socioeconômico, político-ideológico e histórico-cultural, heterogêneo e complexo, cujas marcas e especificidades orientam suas interfaces no seio da sociedade que o produz e o utiliza em suas instituições escolares. No conjunto de enunciados postos, emergem e são examinados, sobretudo, aqueles que tratam do LD considerando o seu modo particular de existência, distinto dos outros livros que circulam no contexto do ensino em geral. A primeira seção trata do LD da disciplina de Língua Portuguesa da EJA e merecem relevância aqueles enunciados que mostram a trama discursiva que o envolve ao acessar as leis e regulamentações que orientam, regulam e controlam este material, fazendo deste recurso escolar um material, assim como é a modalidade de ensino à qual se destina, também específico.

Seguindo nesta trama, o olhar analítico recai sobre os enunciados que circulam, constitui e constrói o universo discursivo do LD de língua portuguesa da EJA, pondo em relevo o seu lócus didático-pedagógico. Neste momento, a construção enunciativa ganha visibilidade em função da especificidade desta modalidade de ensino, que emerge regulada por programas e propostas curriculares. Assim, a seção que se segue contempla duplamente esta discussão, trazendo à cena enunciados que circulam sobre o papel do livro didático da disciplina de Língua Portuguesa como língua materna no contexto da EJA e mostra as suas relações enunciativas com os processos de letramento.

O capítulo quatro apresenta o percurso trilhado nesta pesquisa e discute os achados da trama enunciativa que o gesto analítico arqueológico permitiu ser mapeado, deixando ver o sistema de funcionamento do discurso visual em LD de língua portuguesa na EJA. Assim, chega-se ao arquivo do discurso em tela e apresenta-se o seu acervo da seguinte forma: analisa o mapeamento das séries enunciativas encontradas, nas quais foi identificada a existência de três discursos: o jurídico, o didático-pedagógico e o epistemológico. As seções seguintes apresentam as análises de cada ordem discursiva, descrevendo e discutindo as regularidades, heterogeneidades e dispersões que configuram o modo como os discursos jurídico, didático-pedagógico e epistemológico se constituem e operam para construírem uma ordem discursiva que orienta a existência do texto visual em LD de língua portuguesa da EJA na contemporaneidade.

As considerações finais apresentam as conclusões acerca do percurso arqueológico que propiciou esta análise percorrer os seus objetivos, acessar as suas fontes documentais e, assim, mapear e descrever os enunciados encontrados. Nesta escritura, é dado relevo ao percurso metodológico, mostrando que as delimitações da fonte enunciativa tomada nos limites das suas dimensões próprias não são um a priori da investigação. Isto implica que a clareza da organização da trilogia discursiva jurídica, didático-pedagógica e epistemológica, é um resultado posterior ao projeto inicialmente posto, constituindo-se em um resultado encontrado no decorrer do processo arqueológico, o que possibilitou o entendimento da configuração do discurso visual em LD de língua portuguesa da EJA. E, ao retomar as questões norteadoras desta pesquisa foi possível avaliar os seus alcances, vistos à luz dos resultados obtidos.

IMAGEM E DISCURSO: UM JOGO DE

ESPELHOS, HISTÓRIA E MEMÓRIA

Imagem 2 – Contos das gentes brasileiras

2 IMAGEM E DISCURSO: UM JOGO DE ESPELHOS, HISTÓRIA E MEMÓRIA

[...] a semiologia não está num papel de substituição com relação a nenhuma disciplina; [...] mas, pelo contrário, que ela as ajudasse a todas, que tivesse por sede uma espécie de cadeira móvel, curinga do saber de hoje, como o próprio signo o é de todo discurso (BARTHES, 2007, p. 38).

Os enormes outdoors luminosos que se fazem estonteantes, expostos sempre à frente do transeunte, onde imagens em movimento prendem a atenção de todos, é apenas uma versão mais moderna das artes rupestres que são expostas intencionalmente à visita nos sítios arqueológicos, a exemplo da pedra do Ingá, situada na cidade de Ingá, no estado da Paraíba, ao nordeste do Brasil e das grutas de Lascaux, situadas na comuna de Montignac, no departamento de Dordogne, ao centro-este da França, entre tantas outras espalhadas pelo mundo. Tomadas como prova, estas imagens traçadas em rochas, servem como documentos visuais, junto a tantas outras dispersas no mundo, formam acervos que são verdadeiros construtos feitos pelas mãos humanas. Assim, o homem historicamente, imprime a sua presença no mundo, utilizando-se de diferentes formas, cores, dimensões, relevos e valores atribuídos às coisas que representam. São feitos que possibilitam contar a sua história, simbolizando seu mundo cultural sob o conteúdo e a forma de diversos seres e objetos, revelando uma realidade da qual faz parte. Como exemplos, os painéis aqui expostos parecem sintetizar este modo original em que o homem, em tempo e lugar distintos, utilizou as imagens.

Imagem 3 - Pedra do Ingá - Brasil

Fonte: Acervo particular da autora, 2013.

Imagem 4 - Grutas de Lascaux - França

Com função especialmente de representação e mediação, destinada à produção, circulação e reprodução, em determinada sociedade, a imagem está sempre em cena delimitando, especificando, identificando, e não raro definindo as mais diversas culturas que o homem constrói no seu percurso histórico. Dos petróglifos e pictogramas às fantásticas e contemporâneas imagens de síntese produzidas por meio das novas tecnologias, assim como no passado, na contemporaneidade faz-se quase tudo para registrar visualmente a história humana através da imagem. Assim, de uma forma ou de outra, o homem continua preservando complexos sistemas tais como a linguagem, a arte, os mitos, ou mesmo a economia, e a política, cujo caráter de representação faz do termo imagem um lugar polissêmico.

Com vínculos em todas as áreas da vida humana, a imagem, vem sendo envolvida em muitas perguntas que vão sendo ao seu tempo e, dependendo da sua complexidade, gradativamente desveladas. Como objeto de estudos das mais diversas áreas do conhecimento, verifica-se que a discussão sobre a sua natureza se arrasta ao longo do tempo. Nos mais remotos registros, desde Platão18, durante as suas prolongadas reflexões em busca do entendimento entre suas relações com o mundo exterior, constata-se que o homem falou sobre imagem e espelho, muitas vezes, como coisas análogas. Desse modo, pensando-as como representação das coisas do mundo, chega-se na contemporaneidade e não obstante, continuam, para além dos questionamentos platônicos, outros, da mesma natureza, acrescentam-se na ordem dos estudos e pesquisas. Ressaltam-se perguntas como as formuladas por Barthes (2005) por ocasião da “[...] 1ª Conferência Internacional sobre a informação visual” em Milão:

Vivemos cercados, impregnados de imagens, e no entanto ainda não sabemos quase nada da imagem. O que é? Como age? O que comunica? Quais são seus efeitos prováveis – e seus efeitos inimagináveis? A imagem toca o homem puro, o homem antropológico, ou, ao contrário, o homem socializado, o homem já marcado por sua classe, seu país, sua cultura? Em suma, a imagem é da alçada da psicofisiologia ou da sociologia? E, se for das duas, segundo que dialética? (BARTHES, 2005, p. 70).

De fato, não é uma tarefa simples indagar, nem tampouco responder às questões que são postas sobre a imagem. Para este debate, entra em cena a natureza divina das imagens, lembrando a “[...] querela das imagens [...]” entre “[...] iconófilos e iconoclastas [...]” numa discussão que “[...] abalou o Ocidente do século IV ao VII [...]”. Sabe-se que a imagem

18 Encontra-se em Platão (2012) na obra A República, livro VII, uma prolongada discussão sobre a imagem

como representação, na qual o filósofo grego faz analogias entre imagens e sombras, reflexos, espelhos, transparências e a respeito de tudo que possa ser a essência de outra coisa. Assim o que o citado filósofo chama de imagem é aquilo que emprega o processo predominante de representar.

participou do fenômeno da morte, onde na antiguidade romana foi assemelhada à “[...] alma do morto [...]” (JOLY, 2012, p. 18), como máscara mortuária, para alguns povos, era usada nos eventos funerais, para evocar as divindades religiosas. Culturalmente, a imagem fazia parte dos ritos e mitos que envolviam a relação do homem com a sua morte e a dos seus pares. E no fenômeno da vida? Neste caso, a imagem serve para representar, comunicar, mediar, imitar, relacionar, enganar, refletir, orientar, evocar, simbolizar, diagnosticar, dissimular, criar, ornar, e, entre outras acepções, vincula-se ao ato de educar.

Merecem destaque as reflexões de Carlos (2006) sobre a relação entre a imagem e o conhecimento sistemático produzido pela escola e mediado através do conjunto das disciplinas escolares. Ao abordar a questão interdisciplinar, vista pelo viés da visualidade, a concepção da imagem posta em livros didáticos situa-se através das funções de mediar/representar, cujo potencial, historicamente, de uma forma ou de outra, configura-se um acontecimento pedagógico relevante, situado nas práticas de ensinar e aprender. As potenciais interfaces que a imagem apresenta para o estudo da física, da matemática, da biologia, da geografia, da história, da informática, da química, da língua e das linguagens, uma vez que é ela mesma, uma, entre as linguagens presentes no contexto escolar, comprovam a sua relevância no contexto da educação. Ressaltando a imagem posta em livros didáticos de língua portuguesa na condição de texto visual, percebe-se que, uma vez solicitada, a mesma pode assumir um papel mediador no processo de ensino desta disciplina.

Isto porque ela se configura, ao mesmo tempo como um texto, diferente, é claro, do escrito, e, como tal, como codificando um conjunto de mensagem acerca de algum aspecto da realidade natural, cotidiana e histórica. Ora, precisamente aí se encontra o seu valor disciplinar. A imagem, assim entendida, pode se constituir em objeto de reflexão, portanto, de conhecimento do educando (CARLOS, 2006, p. 98, grifos nossos).

Como linguagem, a imagem se encontra não raro, entre outras, a exemplo daquelas que estão postas nos livros didáticos, em conjunto, num jogo de vigências que permite serem lidas, analisadas e recompostas pelos educandos. Desta forma, a imagem pode reafirmar ou mesmo contradizer, através das suas composições e recomposições, outra possibilidade discursiva, e emergir ao modo do discurso presente nas formulações discursivas foucaultianas.

[...] os discursos que estão na origem de certo número de atos novos de fala que os retornam, os transformam ou falam deles, ou seja, dos discursos que, indefinidamente, para além de sua formulação, são ditos, permanecem ditos e estão ainda por dizer (FOUCAULT, 1996, p. 22, grifos do autor).

No jogo de linguagens onde se encontram as discursividades visuais, os seus enunciados são colocados em entremeios nem sempre firmes, deixando nas mãos do professor ou analista a tarefa de acionar o terreno da sensibilidade para apanhá-los. Neste sentido, a seção seguinte visa percorrer distintos e amplos lugares e tempos, buscando o entendimento do discurso visual, demarcando os seus percursos, encontrados toujours ailleurs.

2.1 A análise do discurso e o discurso visual entrecruzados por teorias e discursos