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CAPÍTULO 3 - PERCURSO METODOLÓGICO

3.1. A pesquisa qualitativa em Educação

Para a obtenção das informações e dados necessários para a construção do referencial teórico utilizaremos a pesquisa bibliográfica e como procedimento para a coleta de dados, a análise documental com enfoque qualitativo.

Para Chizzotti (2006), as pesquisas designadas como qualitativas são aquelas em que é necessário encontrar fundamentos para uma análise e para a interpretação dos fatos que revele o significado atribuído à esses fatos ou às pessoas que partilham dele.

Essa forma de interpretação surge como oposição à busca da neutralidade do pesquisador, da padronização de processos e da quantificação dos resultados oriunda do paradigma positivista nas ciências humanas e sociais.

Os pesquisadores qualitativos contestam a neutralidade científica do discurso positivista e afirmam a vinculação da investigação com os problemas ético-políticos e sociais, declaram-se comprometidos com a prática, com a emancipação humana e a transformação social, adensam-se as críticas aos postulados e exigências das pesquisas unicamente mensurativas (CICOUREL, 1964 apud CHIZZOTTI, 2006, p. 53).

No entanto, para Triviños (1987), a questão não se trata de negar a pesquisa quantitativa ou qualitativa, pois o enfoque que conduzirá a pesquisa corresponde à visão ontológica e gnosiológica do pesquisador. Desta forma, uma pesquisa guiada à luz do marxismo, por exemplo, pode até recorrer à quantificação, mas tende a ter um enfoque qualitativo na interpretação dos dados em busca de conhecer a realidade social para transformá-la.

A visão de mundo do pesquisador é determinante para a condução da pesquisa, pois sendo o pesquisador um sujeito histórico, naturalmente traz consigo toda uma bagagem que subsidiará sua interpretação de mundo, não sendo possível, então, a neutralidade desejada pelos positivistas.

A abordagem qualitativa parte do fundamento de que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o sujeito e o objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito. O conhecimento não se reduz a um rol de dados isolados, conectados por uma teoria explicativa; o sujeito-observador é parte integrante do processo de conhecimento e interpreta os fenômenos, atribuindo-lhes um significado. O objeto não é um dado inerte e neutro; está possuído de significados e relações que sujeitos concretos criam em suas ações (CHIZZOTTI, 2000, p. 79).

Desta forma, entendemos a necessidade de superar a simples quantificação dos dados empíricos e buscar a interpretação daquelas informações que não se mostram espontaneamente ao pesquisador, especialmente nas pesquisas em Educação que nos conduz aos fenômenos sociais influenciados pela subjetividade humana.

Logo, a pesquisa em Educação não pode negar a relação dialética existente entre objetividade e subjetividade, entre sujeito e mundo e entre o pensar e o fazer, o que nos remete ao pensamento freireano considerando que a pesquisa também deve ser uma manifestação da práxis transformadora.

Nesse sentido, concordamos com Lüdke e André quando as autoras defendem que [...]

[...] Para se realizar uma pesquisa é preciso promover o confronto entre os dados, as evidências, as informações coletadas sobre determinado assunto e conhecimento teórico acumulado a respeito dele. Em geral isso se faz a partir do estudo de um

problema, que ao mesmo tempo desperta o interesse do pesquisador e limita sua atividade de pesquisa a uma determinada porção do saber, a qual ele se compromete a construir naquele momento. Trata-se, assim, de uma ocasião privilegiada, reunindo o pensamento e a ação de uma pessoa, ou de um grupo, no esforço de elaborar o conhecimento de aspectos da realidade que deverão servir para a composição de soluções propostas aos seus problemas. Esse conhecimento é, portanto, fruto da curiosidade, da inquietação, da inteligência e da atividade investigativa dos indivíduos, a partir e em continuação do que já foi elaborado e sistematizado pelos que trabalharam o assunto anteriormente. Tanto pode ser confirmado como negado pela pesquisa o que se acumulou a respeito desse assunto, mas o que não pode é ser ignorado (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 1-2).

Desta forma, os estudos realizados no campo educacional devem investigar a realidade onde as escolas estão inseridas, as comunidades que a compõe, os profissionais que nela atuam e as políticas públicas que regem todo esse cenário, com o intuito de colaborar no desvelamento das contradições que se apresentam como situações-limite (FREIRE, 1987) a serem superadas.

Essa compreensão a respeito da abordagem qualitativa na pesquisa em Educação conflui junto à fundamentação marxista presente na proposta da Pedagogia Crítico-Libertadora de Paulo Freire ao defender que a práxis autêntica (transformadora) se dá no diálogo entre a subjetividade do ser e a objetividade da realidade.

Não se pode pensar em objetividade sem subjetividade. Não há uma sem a outra, que não podem ser dicotomizadas.

A objetividade dicotomizada da subjetividade, a negação desta na análise da realidade ou na ação sobre ela, é objetivismo. Da mesma forma, a negação da objetividade, na análise como na ação, conduzindo ao subjetivismo que se alonga em posições solipsistas, nega a ação mesma, por negar a realidade objetiva, desde que esta passa a ser criação da consciência. Nem objetivismo, nem subjetivismo ou psicologismo, mas subjetividade e objetividade em permanente dialeticidade [...] Em Marx, como em nenhum pensador crítico, realista, jamais se encontrará esta dicotomia (FREIRE, 1987, p. 24).

Assim, ao compreender os pesquisadores como sujeitos e ao considerar a complexidade das relações humanas, os estudos de abordagem qualitativa aproximam as produções científico-acadêmicas da realidade social (LÜDKE; ANDRÉ, 1986).

É esse movimento que buscamos no presente estudo que, para tanto, recorre à pesquisa bibliográfica como forma de compreender a Educação Física, suas respectivas propostas curriculares e suas respectivas identidades constituídas como produtos históricos e à análise documental como forma de investigar se a BNCC, como base para um currículo, em alguma medida, favorece a constituição de uma identidade docente em Educação Física e em qual perspectiva.