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A proposta de formação do Setor de Comunicação da CNBB

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) foi criada no ano de 1952. Desde sua criação até o ano de 1962, a comunicação da CNBB foi coordenada pelo Secretariado Nacional de Ação Social. A partir de 1962, surgiu a Comissão Episcopal de Opinião Pública, que depois foi transformada em Secretariado Nacional de Opinião Pública (SNOP) e que passou a ser responsável pela comunicação da entidade.

Em 1971, aconteceu uma reforma dos estatutos da CNBB, o que fez com que a SNOP passasse a chamar de Setor de Comunicação Social, ligado a linha seis da Comissão Episcopal Pastoral, ao lado da Educação e Pastoral Social. O Setor de Comunicação Social sempre teve como principal objetivo “[...] animar e articular a comunicação na Igreja do Brasil, com os meios e os processos de comunicação, tendo presente a cultura e as linguagens geradas pela revolução das novas tecnologias”20.

Atualmente denomina-se como Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação e “[...] possui um caráter referencial e de centralidade para planejar, organizar e coordenar programas e projetos de comunicação da Igreja”21.

Dentre os muitos trabalhos realizados pelo Setor de Comunicação Social da CNBB, interessa-nos aqui especificamente o trabalho realizado a partir da década de 1990 no sentido de contribuir com a educação para a comunicação dos futuros

20 http://www.cnbb.org.br/quem-somos-10. Acessado em 08 de maio de 2014

21 http://www.cnbb.org.br/imprensa/60-anos-da-cnbb/11022-a-comunicacao-nos-60-anos-da-cnbb.

Último acesso em 08 de maio de 2014.

presbíteros. Como bem lembra Dom Décio Zandonade na apresentação do documento, “A disciplina de Comunicação nos seminários não deve reduzir-se ao ensino do uso dos instrumentos, a um adestramento ou, até mesmo, a trabalhar uma performance” (CNBB/SEPAC, 2001, p.5).

Após um longo caminho, contando também com a colaboração dos professores de Comunicação em Institutos de Filosofia e Teologia, foi apresentada uma proposta de educação para a comunicação, com um projeto a ser desenvolvido nas casas de formação para o sacerdócio ministerial. Iniciando já no Propedêutico22 e Juniorato23, estendendo-se depois aos cursos de filosofia e teologia, ocupando o currículo normal, ou seja, não sendo uma atividade facultativa e nem mesmo secundária.

O documento reconhece que a formação para a comunicação é um desafio atual da Igreja diante das muitas mudanças que se constatam numa sociedade cada vez mais midiática. Estas mudanças desafiam para uma nova compreensão acerca da comunicação e sua influência na sociedade atual. Por isso é preciso investir em uma educação para a comunicação no processo de formação presbiteral. Almeja-se uma educação que possa levar em conta o ser humano por inteiro, como o primeiro meio de comunicação.

Ao mesmo tempo em que, se reconhece a necessidade de um espaço e um lugar maior nas etapas de formação, compreende que a comunicação não deve ser entendida simplesmente como mais uma disciplina a integrar o currículo; a acadêmica, da vida de oração, da vida comunitária e fraterna e do amadurecimento humano-afetivo para a entrada definitiva no Seminário Maior, contemplando os cursos de Filosofia e de Teologia.

Etapa de formação presente não processo de formação de carisma diocesano e também em algumas Congregações Religiosas.

23 O Juniorato assemelha-se ao Propedêutico, porém presente no processo de formação de muitas Congregações Religiosas. É também a última etapa da formação inicial e o período dos votos temporários que pode durar de cinco a nove anos.

É preciso vencer a tentação de reduzir a compreensão da comunicação a tecnologias e ao domínio das mesmas, o que seria uma postura funcionalista, lembra o documento. Importa um conceito de comunicação que seja global, que envolva o ser humano por inteiro, capaz de inserir-se na nova cultura, que é midiática. A fim de responder a esta compreensão, a formação e educação para a comunicação deve contemplar as várias dimensões: antropológica, científica, técnica, litúrgica e espiritual. Antropológica, antes de tudo, porque o ser humano é sujeito da comunicação; um ser social, relacional, dialogante, que constrói significados e produz cultura.

Nos diferentes estágios a formação compreenderia vários elementos:

comunicação e relações interpessoais; história da evolução da comunicação, as novas tecnologias na comunicação pessoal; uma leitura crítica e participativa da comunicação; a elaboração de materiais de comunicação; o estudo das principais teorias e correntes da comunicação; o estudo de conceitos como comunicação de massa, indústria cultural, era da informação; a ética na comunicação; Semiótica e Semiologia; a comunicação nos documentos da Igreja; políticas de comunicação;

novas tecnologias; oratória; os fundamentos bíblico-teológicos da comunicação;

pastoral da comunicação; homilética; comunicação litúrgica; a informática e o aproveitamento pastoral de seus recursos; a organização comunicacional da Igreja.

Além disto, propõe um programa de especialização para responder às necessidades do tempo atual.

Durante a Filosofia, os currículos deveriam propor uma formação mais crítica/analítica, procurando entender o fenômeno da comunicação e o processo de evolução da própria comunicação ao longo dos períodos históricos a fim de compreender as transformações presentes na sociedade e suas particularidades.

Durante os estudos de teologia estaria a possibilidade de trabalhar uma compreensão de comunicação mais voltada ao contexto eclesial, um conteúdo teórico/prático.

Esta proposta foi longamente discutida antes de sua aprovação final e foi publicada em 200124. Embora apresente uma proposta concreta e inovadora de formação, o documento nunca fora citado e nem mesmo as propostas foram

24Quanto ao silêncio dos documentos posteriores, vale uma pertinente observação: seria esta uma atitude de descaso ou uma atitude motivada pela amplidão do que foi desejado na proposta, constituindo-se quase como um curso específico de comunicação?

contempladas pelas diretrizes da Formação Presbiteral no Brasil e demais documentos publicados posteriormente.