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Em termos geológicos, o Pontal do Paranapanema se situa na Bacia Sedimentar do Paraná, na qual predominam rochas sedimentares do período Mesozóico (aproximadamente 65 milhões de anos atrás), bem como coberturas mais recentes, que remontam ao período Cenozóico (15 milhões de anos). Nestas circunstâncias, esta formação geológica é composta, sobretudo, de Arenito - Caiuá, que origina solos de textura arenosa. Estes últimos retêm pouca água e nutrientes, sendo muito susceptíveis à erosão, principalmente quando desprovidos de sua cobertura vegetal. Estado crítico dos processos erosivos, as voçorocas são muito comuns na região6. Sua gravidade não é maior em razão do Pontal do Paranapanema se situar nas terras planas do Planalto Ocidental Paulista, cuja unidade de relevo é aquela dos Planaltos e Chapadas da Bacia do Paraná. A região encontra-se localizada na bacia hidrográfica do Paraná, que alimenta um dos maiores reservatórios de água do mundo, o Aqüífero Guarani. Segundo o Mapa de Fertilidade dos Solos dos Assentamentos Rurais do Estado de São Paulo, os solos da região apresentam teores baixos a muito baixos de nutrientes, assim como alta acidez e baixa V%7 (BUENO et al., 2007).

Situado entre a confluência dos rios Paraná (ao norte) e Paranapanema (ao sul) (Figura 2), o Pontal se inscreve nos domínios do bioma Mata Atlântica, segundo

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Convém aqui realçar que, ainda que a região esteja situada em zona climática tropical, o clima apresenta características de transitoriedade entre o tropical (predominante na maior parte do Planalto Ocidental Paulista) e o subtropical (típico do interior da região sul), com temperaturas média máxima de 34° C e média mínima de 9,6º C. A precipitação pluviométrica, com média de 1.354 mm/ano - mensurada em estação metereológica localizada em Mirante do Paranapanema, no sub-distrito de Cuiabá Paulista - se concentra nos meses de verão, quando as chuvas são intensas. Nestas circunstâncias, os processos erosivos ganham intensidade.

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Este parâmetro (V%) descreve a percentagem de saturação de bases da CTC (Capacidade de Troca de Cations) a pH 7,0, sendo utilizado, em combinação com outros indicadores, para separar solos considerados férteis (V% >50) de solos de menor fertilidade (V%<50).

a Lei da Mata Atlântica n° 11.428 de 22 de dezembro de 2006 (BRASIL, 2006), que dispõe sobre uso e proteção de sua vegetação nativa. Assim, a cobertura vegetal original dessa região é classificada como Floresta Estacional Semidecidual (VELOSO; GÓES FILHO, 1982). Esta vegetação foi praticamente devastada nas últimas décadas em razão da ocupação fundiária do Pontal do Paranapanema, restando apenas 1,85% de sua cobertura original (BEDUSCHI FILHO; CORDEIRO, 2000; UEZU et al., 2006).

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Figura 2 – Localização do Pontal do Paranapanema no Estado de São Paulo Fonte: IWASA,1999

Na década de 40, foram criadas três reservas florestais, decretadas pelo governo de Fernando Costa para a proteção da flora e da fauna: a Grande Reserva do Pontal, com área de 246.840 hectares; a Reserva da Lagoa São Paulo, com área de 23.343 hectares e a Reserva do Morro do Diabo, com área de 37.156 hectares. Em 1945, 97% da Grande Reserva era composta por uma matriz florestal. Já em 1962, somente 60% de sua área estava coberta pela mata (UEZU, 2006).

A partir dessa data, principalmente no período do governo de Adhemar de Barros, o desmatamento intensificou-se, levando ao desaparecimento de grande parte da reserva. Estima-se que, em 1978, somente 27% da cobertura vegetal original ainda permanecia em pé. Dentre as ações que contribuíram para a degradação ambiental da área cabe mencionar a aplicação aérea do herbicida Tributon-2,4 D (agente laranja), em 1973 (UEZU, 2006).

Assim, a voracidade de grileiros conseguiu destruir totalmente duas das três reservas mencionadas, permanecendo somente aquela do Morro do Diabo. Esta sofreu perda de parte de sua área (2.000 hectares) quando da construção do reservatório da usina de Rosana, na década de 1980. Em 1986, a reserva foi re- categorizada, transformando-se no Parque Estadual do Morro do Diabo, com uma área de 33.845,33 hectares (FERNANDES; RAMALHO, 2001). Desta forma restou, da Grande Reserva do Pontal (mais de 270.000 hectares), apenas fragmentos florestais, cuja extensão varia entre 2 e 2.000 hectares. A paisagem é composta por uma matriz onde predominam as pastagens e as plantações de cana-de-açúcar. O Parque Estadual do Morro do Diabo constitui-se, no estado de São Paulo, como o último remanescente de larga escala da floresta de Mata Atlântica de interior (UEZU, 2005).

A ação antrópica, caracterizada pela ocupação e utilização da terra para diversos fins (agricultura, exploração de madeira, especulação imobiliária), tem causado a perda de muitos ecossistemas naturais. Em São Paulo, resta apenas cerca de 7,64% da cobertura florestal, sendo que 5,99% desta área encontra-se no litoral e 1,65% no interior paulista (FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA; INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS - INPE, 2002). A região do Pontal do Paranapanema abriga 84% das florestas do interior do Planalto Ocidental. Boa parte da vegetação existente, atualmente, está fragmentada (UEZU, 2006).

A destruição pelos desmatamentos iniciou-se desde a chegada da Companhia Sorocabana de Estrada de Ferro, já na década de 1920. A chegada da empresa imprimiu a essa região um padrão de ocupação territorial que tinha, como um de seus objetivos, a liberação de grandes áreas para a lavoura de café e, posteriormente, para a lavoura de algodão. A história desta ocupação encontra-se associada a um processo conflituoso de apropriação de terras de domínio público: grandes fraudes na titularidade dominial (grilagem), posturas violentas, adoção de práticas agrícolas sem preocupação com a conservação dos recursos naturais e desobediência à legislação ambiental. Até a década de 1990, as terras da região encontravam-se, em sua maioria, sob domínio de grandes latifundiários. Desde então, em razão das ocupações massivas de terras realizadas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a paisagem agrária do Pontal começa a mudar (SILVA; FERNANDES; VALENCIANO, 2006).