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2.2 REGULAÇÃO DA TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA NO BRASIL

2.2.2 A Regulação da Receita de Transmissão no Brasil

Sob o atual modelo de concessão do serviço público de transmissão de energia elétrica, sob o regime de revenue cap, instaurou-se o processo de revisão tarifária, um dos instrumentos pelo qual se assegura que os ganhos de eficiência empresarial resultem em modicidade tarifária. Até o ano de 2006, os Contratos de

Concessão celebrados não continham cláusula de revisão periódica sobre a receita ofertada em leilão. A regulação que determinou estes contratos considerava que a proposta vencedora já transferia aos consumidores, no momento da realização do certame, parte dos ganhos de eficiência empresarial que seria atribuída à modicidade tarifária.

Vários mecanismos de revisão tarifária foram formados. A ANEEL incluiu nos novos Contratos de Concessão, a partir de 2007, cláusula que define o procedimento de revisão periódica da RAP, pelo recálculo do custo de capital de terceiros, e sua periodicidade a cada 5 anos. Adicionalmente, manteve-se a previsão de reversão, para a modicidade tarifária, das receitas obtidas com as outras atividades empresariais, assim como da captura de ganho de eficiência empresarial, decorrente de redução do custo da prestação dos serviços.

A regulação da receita de transmissão, uma aplicação de Revenue Cap, dentro do escopo da regulação por price cap, é apresentada pela ANEEL (2012) a partir da noção de equilíbrio financeiro do contrato.

Conforme a ANEEL (2012), a receita permitida pode ser desagregada em seus diversos componentes, para os quais o regulador estabelece parâmetros no momento da revisão periódica. A revisão periódica tem então como resultado o reposicionamento tarifário que consiste em calcular a Receita Anual da concessionária compatível com a cobertura de custos operacionais eficientes e com um retorno adequado sobre o capital investido.

Para a determinação da revisão tarifária, a Receita Anual Permitida é calculada pelo método do Fluxo de Caixa Descontado, sendo obtida pelo valor capaz de zerar o Valor Presente Líquido (VPL) do Fluxo de Caixa do Projeto (FCP) com uma taxa de desconto (rWACC), dada pelo método do Custo Médio Ponderado de Capital (Weighted Average Cost of Capital – WACC), padrão definido pelo órgão regulador.

Os desembolsos de capital (INV) são realizados nos anos t1,...,tn após a assinatura do contrato (t0), sendo distribuídos linearmente durante o período de construção. A partir do período seguinte ao término da construção (tn+1) os fluxos de caixa líquidos passam a incorporar as receitas relativas às respectivas RAPs. A Equação 2.3 apresenta o fluxo de caixa a valor presente do projeto.

(

1 WACC1

) (

1 WACC2

)

2

(

1 rWACC30

)

30 valor presente da fase de implantação, dos desembolsos de capital (dado por INVt), entre os períodos 1 e n, e de operação e recebimento de receita, entre os períodos n e 30. encontrado quando o valor presente negativo, decorrente da realização os investimentos necessários à construção do objeto licitado e disponibilização das instalações para operação comercial, é igualado pelo fluxo de caixa, a valor presente, resultante do período de operação da concessão, em que a empresa recebe a receita determinada em leilão.

{

INV r n

}

VPL

{

FPC r n

}

VPL n; WACC; = n;WACC;30− (2.5)

O objetivo desta dedução não é determinar o valor da RAP a ser oferecida para a concessionária. Sob o modelo de tarifação por revenue cap, a receita é definida em leilão de ampla concorrência, em que as condições do concedente são:

(i) as especificações técnicas de instalação, operação e manutenção dos ativos, ou seja, os padrões de qualidade do serviço concedido; (ii) a receita máxima do leilão, acima da qual o serviço não será concedido, e a partir da qual as concorrentes do leilão usualmente dão deságio, resultando em uma RAP inferior ao definido para o leilão; (iii) as regras de variação da receita inicialmente definida, que incluem vários fatores, como índices de atualização da inflação, para manutenção do rendimento real, e cláusulas de repasse direto de impostos e encargos setoriais, e as condições para a Revisão Tarifária Periódica.

A Revisão Tarifária Periódica tem como principal objetivo analisar, após um

período previamente definido no contrato de concessão, o equilíbrio econômico-financeiro da concessão de transmissão. Para tanto, verifica as variações nas condições das premissas de igualdade dos fluxos de caixa. Dentre elas, algumas merecem destaques, visto que não são diretamente calculadas, e possuem grande relevo no processo de revisão tarifária: (i) as condições do custo de capital, ou seja, a remuneração necessária para a aplicação de capital realizada inicialmente pela empresa concessora; (ii) os padrões de custo operacional do mercado.

Quanto ao WACC, a sua definição parte do princípio que existe uma estrutura de capital ótima para a aplicação no setor de transmissão, e a remuneração requerida – adequada, nas palavras no regulador (ANEEL, 2009) – para a aplicação deste capital no setor depende desta estrutura. O Custo de Capital de terceiros é o custo da dívida das empresas, definida nos contratos de empréstimos e financiamento das empresas. O Custo de Capital Próprio é um conceito mais complexo, por não ser diretamente verificável. Teoricamente, é a taxa de retorno requerida pelos acionistas de uma empresa, ou o prêmio que os acionistas requerem para suportar o risco dos fluxos de caixa da empresa.

Uma vez que o nível deste custo de capital não é diretamente verificável, mas é um nível implícito de retorno que norteia a decisão dos investidores, existem duas abordagens para a sua estimação, conforme Chen, Chen e Wei (2009). A abordagem mais difundida estima custo de capital próprio pela verificação ex post, ou seja, pela análise dos retornos realizados, pelo modelo de Capital Asset Pricing Model (CAPM). A lógica desta abordagem é a relação teórica entre risco e retorno dos investimentos. Deste modo, o custo de capital seria uma função da variabilidade do retorno dos ativos, que tem como proxy a variação do preço das ações das empresas. A abordagem apresenta alguns problemas, como: problemas de especificação da modelagem, definição do nível de risco de mercado e dependência dos dados históricos, que ignoram mudanças recentes de percepção de risco dos investidores. A abordagem mais recente considera o custo de capital ex ante: o custo do capital é dado pela taxa de desconto implícita que iguala as previsões de retorno de uma empresa e o valor corrente das suas ações. Esta abordagem garante o controle explícito da percepção dos investidores quanto aos potenciais de geração de fluxo de caixa e crescimento da empresa, que se traduz em uma medida mais apurada do retorno esperado dos investidores no momento da tomada de decisão de investimento. Na regulação brasileira, o método utilizado é o tradicional CAPM,

conforme ANEEL (2009).

O outro componente relevante da revisão tarifária envolve a apropriação de ganhos de eficiência empresarial, com foco nos custos operacionais, que são parte integrante da RAP acordada no Contrato de Concessão, resultante do Leilão desta Concessão. O órgão regulador se utiliza, como parâmetro, do conhecimento disponível a respeito dos parâmetros médios de mercado. Segundo ANEEL (2012) existem duas principais fontes de ganhos de eficiência na operação: os ganhos de escala e os ganhos de eficiência técnica. Por suposição teórica, o agente regulador considera que, dado que o objeto licitado para as transmissoras não se altera ao longo do tempo, não há possibilidade para ganhos de escala. Caso haja necessidade de reforços na rede de transmissão posteriormente, estas obras possuirão RAP específica, estando esta receita sujeita à revisão. Deste modo, o único componente de produtividade passível de ser repassado aos consumidores para ativos concedidos mediante leilão é a evolução técnica, uma vez que a mesma possui uma natureza de imprevisibilidade, ou seja, as transmissoras não podem basear seu lance no momento do leilão nos ganhos esperados durante o período da concessão. Finalmente, além dos fatores que afetam a receita de transmissão nos ciclos periódicos de revisão, existe o processo normal de ajustes anuais e mensais da mesma, que é composto pelos seguintes fatores:

Atualização monetária, de caráter anual, por índice de inflação acumulado no ciclo. Inicialmente, com o estabelecimento da receita das transmissoras pelo modelo de revenue cap, a partir de 1999, o índice de atualização adotado nos contratos de concessão foi o IGP-M. A partir de 2006, o indexador foi alterado para o IPCA nos novos contratos de concessão;

Parcela Variável e Adicional à RAP, que constitui o mecanismo de punição e premiação pela qualidade do serviço. As concessionárias de transmissão de energia elétrica têm a qualidade do serviço aferida por meio de indicadores associados à disponibilidade do sistema de transmissão, conforme ANEEL (2007). A Parcela Variável é uma dedução à RAP, decorrente de indisponibilidade de equipamentos da rede de transmissão. Por outro lado, o adicional é um incremento na RAP em decorrência de índices de disponibilidade acima das metas estabelecidas;

Repasse de variações nos impostos e encargos setoriais: são considerados itens não gerenciáveis pela empresa concessora do serviço público, e o repasse de variações é direta (pass-through).