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1- O CASO DE GESTÃO: A ESCOLA X

1.1 A RESOLUÇÃO Nº 07/2010 E A IMPLEMENTAÇÃO DO BLOCO PEDAGÓGICO

Em relação aos governos e suas práticas que determinam as políticas públicas, Howlett, Ramesh e Perl(2009) assim postulam:

Os governos produzem política pública. Por trás dessa simples formulação está um mundo de análise, autoridade e organização que pode parecer um tanto opaco e, portanto assustador, para um observador não treinado e não experiente (...). Examinamos decisões individuais ou padrões gerais e o nível de análise que decidimos começar a considerá-las com vistas em atribuir-lhes algum significado: comportamento individual na tomada de decisão, ação grupal, estruturas institucionais. E de que forma devemos examinar melhor a extensa gama de informações de que muitas vezes dispomos sobre a história de determinada política, sua função e seus impactos de modo que ela mantenha correlações com seu legado e impacto. (Howlett, Ramesh e Perl, 2009, p. 03)

O problema e a complexidade em relação ao processo de alfabetização é parte da agenda de estudos ao longo dessas últimas décadas. Quando pensamos em alfabetização, inevitavelmente, associamos ao processo de aquisição de leitura e escrita pelo aluno. Principalmente depois das políticas de avaliação externas (anos de 1990), as quais constataram o alto número de alunos dos anos iniciais que ficavam retidos por não conseguirem atingir a proficiência em leitura e escrita, um embrulho que precisava ser combatido. No entanto, a continuidade da aprendizagem inicial e o respeito às particularidades de cada aluno com tempos de aprendizagem distintos ainda são questões, porque não dizer, cultural, que necessitam ser repensadas legalmente.

O Ministério de Educação e o Conselho Nacional de Educação (CNE), no ano de 2010, faz publicar as novas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica (DCNGEB), sob forma do Parecer CNE/CEB Nº 7/2010 (BRASIL, 2010a), de 7 de abril as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de Nove Anos (DCNEF) na tentativa de romper com o ciclo vicioso de retenção, defasagem idade/série, reprovação e evasão de alunos ainda nos anos inicias do ensino fundamental.Partindo desses pressupostos, a Resolução Nº. 07/2010 faz recomendação de que os três anos iniciais do ensino fundamental não devam ser passíveis de interrupção por constituir-se em um bloco específico pensado para odesenvolvimento das habilidades e competências relativas à aprendizagem da alfabetização e letramento das crianças. A obrigatoriedade de os sistemas promoverem modificações na maneira de organização do ensino fundamental anos iniciais estabelece o Bloco Pedagógico como sistema de atendimento aos alunos de seis aos oito anos dentro do processo que extingue a repetência desses alunos do primeiro ao terceiro ano do ensino fundamental – anos inicias. Assim, os sistemas devem promover mudanças nas formas de organização de oferta do ensino voltado para essa faixa etária. Conforme prescrito no Art. 30 da Resolução Nº 07/2010, os entes federados deverão levar em conta:

III- a continuidade da aprendizagem, tendo em conta a complexidade do processo de alfabetização e os prejuízos que a repetência pode causar no Ensino Fundamental como um todo e, particularmente, na passagem do primeiro para o segundo ano de escolaridade e deste para o terceiro.

§ 1º Mesmo quando o sistema de ensino ou a escola, no uso de sua autonomia, fizerem opção pelo regime seriado, será necessário considerar os três anos iniciais do Ensino Fundamental como um bloco pedagógico ou um ciclo sequencial não passível de interrupção, voltado para ampliar a todos os alunos as oportunidades de sistematização e aprofundamento das aprendizagens básicas, imprescindíveis para o prosseguimento dos estudos.

Diante dessa política pública estabelecida pela Resolução Nº 07/2010, o Bloco Pedagógico pode ser entendido como uma ação proativa a qual redimensiona o segmento entendido do 1º ao 3º ano do ensino fundamental a partir de um único bloco. Agrupado em um ciclo de três anos/seiscentas horas, o Bloco Pedagógico fundamenta-se na obrigatoriedade de atender às necessidades reais dos alunos e fazer cumprir o direito de que toda criança deve estar apta às linguagens matemática e da língua portuguesa até os oito anos de idade, ou seja, até o final do 3º ano do BP. Entender de fato a expressão conceitual do BP implica no desenvolvimento de um trabalho diferenciado nas escolas para unir os três anos do ensino fundamental - anos iniciais em um continuum de aprendizado, respeitando-se as novas características que ampliam o tempo para a alfabetização, garantia de mais oportunidade para o aprendizado e a consequente permanência dos alunos na escola.

O Bloco Pedagógico passa a ditar a nova concepção de Política Nacional de Educação, conceitualmente disposta para ser desenvolvida e aplicada em todas as escolas públicas, mediada pelas Secretarias de Ensino estaduais e/ou municipais, responsáveis diretas pela regulamentação local deste programa. A inter-relação deve acontecer entre as instâncias locais com o ente federativo de modo que se estabeleçam vínculos diretos entre política nacional e política municipal, ficando a cargo do “fazer” cumprir” ao sistema local do município.

No terceiro parágrafo dessa Resolução é facultado ao aluno “a continuidade da aprendizagem tendo em conta a complexidade do processo de alfabetização e os prejuízos que a repetência pode causar no Ensino Fundamental como um todo (...)”. Enquanto nos parágrafos primeiro e segundo desse mesmo artigo assim instruem:

§ 1º Mesmo quando o sistema de ensino ou a escola, no uso de sua autonomia, fizer opção pelo regime seriado, será necessário considerar os três anos iniciais do Ensino Fundamental como um bloco pedagógico ou um ciclo sequencial não passível de interrupção, voltado para ampliar a todos os alunos as oportunidades de sistematização e aprofundamento das aprendizagens básicas, imprescindíveis para o prosseguimento dos estudos.

§ 2º Considerando as características de desenvolvimento dos alunos, cabe aos professores adotar formas de trabalho que proporcionem maior mobilidade das crianças nas salas de aula e as levem a explorar mais intensamente as diversas linguagens artísticas, a começar pela literatura, a utilizar materiais que ofereçam oportunidades de raciocinar manuseando-os e explorando as suas características e propriedades.

(Artigo 8 – Resolução nº 7 - 14/12/2010)

Os postulados contidos no artigo oito trazem consigo a obrigatoriedade de redimensionamento das ações pedagógicas na promoção do ensino de qualidade que atenda ao Bloco Pedagógico, pois a progressão automática deve promover decisivamente a mudança organizacional; uma reestruturação pedagógica e consequente elevação da qualidade no processo ensino/aprendizagem, sob pena da criação de um gargalo no quarto ano com a chegada de alunos que não atingiram o nível de alfabetização e letramento formalizados nessa Resolução. A perspectiva de um ensino de qualidade deve ser o elemento norteador quando se pensa no bloco, o qual tem como princípio a alfabetização como caráter processual, participativo, formativo, cumulativo.

O BP nasce da proposta do Governo Federal para sanar o alto índice de retenção de alunos nos anos iniciais, ao mesmo tempo em que sublinha a necessidade de ensino de qualidade. Nasce como uma estratégia para estados e município diante do problema sério em relação número elevado de crianças não alfabetizadas na idade certa. O BP se faz como um programa para ser alinhavado em estado permanente, cabendo aos responsáveis diretos pelos alunos dos anos iniciais colocá-lo em prática e, gradativamente, apropriarem-se dele, afastando, definitivamente do cenário nacional o fantasma da reprovação.

O Brasil, nessas últimas décadas, alcançou um número expressivo em relação à universalização do ensino. Resolveu-se o problema quantitativo, enquanto o problema da qualidade do ensino ainda se configura como um inventário aberto cheio de fissuras e lacunas a serem preenchidas. O Bloco Pedagógico conforma uma possibilidade real de aprendizagem nos primeiros anos de escolarização do

aluno e, ouso dizer, que um trabalho exitoso nesse segmento terá reflexos ao longo de toda a trajetória do estudante: a base sólida edificada pelo Bloco Pedagógico abre um campo de expectativas positivas de melhoria para os outros anos que se sucedem no ensino basilar.

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