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A Revolução Verde e seu pacote tecnológico

INTRODUÇÃO 23 CAPÍTULO 1 QUESTÃO AGRÁRIA, LUTA PELA REFORMA AGRÁRIA E

CAPÍTULO 3. A FORMAÇÃO DA VIA CAMPESINA NO BRASIL E SUAS AÇÕES TERRITORIAIS

1. QUESTÃO AGRÁRIA, LUTA PELA REFORMA AGRÁRIA E MOVIMENTOS SOCIAIS NO CAMPO BRASILEIRO

1.2 O DESAFIO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS DO SÉCULO

1.2.1 A Revolução Verde e seu pacote tecnológico

Neste item trataremos da Revolução Verde, cujo período oriundo da pós- segunda guerra mundial marca um novo período: a mundialização da agricultura (OLIVEIRA, 2012). O principal processo da mundialização da agricultura é a integralização do capital na agricultura em escala internacional que veio a modificar a política e lógica da produção de alimentos. Este tema é relevante para compreendermos os agentes e os desdobramentos das políticas neoliberais que influenciam na produção de alimentos que aumentam a conflitualidade com os camponeses.

Até a década de 1950 a agricultura mundial no campo encontrava-se atrasada tecnologicamente e a baixa produção alimentar fizera com que instituições e organizações tomasse a fome mundial como a principal preocupação33. No Brasil, nos anos 50, a economia brasileira consistia em três segmentos: extensas lavouras para mercado externo (café, cacau, cana-de-açúcar e pecuária bovina); criação extensiva de bovinos (para consumo interno, exportação e charque no Rio Grande do Sul); e a produção dita colonial de consumo interno (feijão, milho, mandioca, batatinha, arroz e entre outros) (MACHADO, MACHADO FILHO, 2014).

A partir da década de 1950 inicia-se o processo de modernização no campo, cujo objetivo consistia em aumentar a produção alimentar por meio da melhoria tecnológica e acabar com a fome no mundo - ou melhor, usando o termo chave lançado nessa época, o ideário era combater a insegurança alimentar - que assolava os países pobres, sobretudo, da África. Portanto, como medida paliativa proporcionaram incentivos ao investimento e a melhoria tecnológica visando aumentar a produção agrícola. Se, por um lado, devemos reconhecer que houve o aumento de produtividade alimentar, por outro, inúmeras consequências negativas ambientais, sociais e de saúde surgiram, tais como a homogeneização e controle da produção de alimentos para

corporações transnacionais. Este é o paradoxo da Revolução verde, no sentido de que, embora, os avanços tecnológicos tenham contribuído para o aumento da produção alimentar, a qualidade dos alimentos sofreu uma perda dos seus nutrientes. Conforme explica Pereira M (2012, p.687)

A introdução em larga escala, a partir da década de 1950, em muitos países do mundo, inclusive no Brasil, de variedades modernas de alta produtividade foi denominada Revolução Verde. Esse ciclo de inovações, cujo objetivo foi intensificar a oferta de alimentos, iniciou-se com os avanços tecnológicos do pós-guerra, com um programa de valorização do aumento da produtividade agrícola por meio de uma tecnologia de controle da natureza de base científico-industrial, a fim de solucionar a fome no mundo, visto que na época se considerava a pobreza, e principalmente a fome, como um problema de produção. Com base nessa lógica, Revolução Verde foi concebida como um pacote tecnológico – insumos químicos, sementes de laboratório, irrigação, mecanização, grandes extensões de terra – conjugado ao difusionismo tecnológico, bem como a uma base ideológica de valorização do progresso. Esse processo vinha sendo gestado desde o século XIX, e, no século XX, passou a se caracterizar como uma ruptura com a história da agricultura.

De acordo com Machado e Machado Filho (2014) e Londres (2011) a Revolução Verde é consequência da conjuntura geopolítica neoliberal. Explicam os autores, que as organizações supranacionais, tais como o Banco Mundial, o FMI e a FAO34, foram criadas para impulsionar e propagandear a Revolução Verde, e por conta deste motivo, compõem o principal empecilho para os movimentos altermundialistas. Vale a pena destacarmos um pouco sobre essas organizações para entendermos a finalidade de cada e de como se propagou a ideia da Revolução Verde.

O Banco Mundial foi criado em 1944 com o apoio dos Estados Unidos e foi acordo de Bretton Woods. Em seu site oficial, o Banco Mundial afirma que seu objetivo é ser uma fonte de assistência financeira e técnica aos países em desenvolvimento ao redor do mundo. “Nós não somos um banco no sentido comum, mas uma parceria única para reduzir a pobreza e apoiar o desenvolvimento” (BANCO MUNDIAL, página única).

34 Diversas organizações ou instituições foram responsáveis por este feito e não podemos deixar

de citar a relevância da Fundação Rockfeller na inclusão da Revolução Verde no México e da Fundação Ford que deu amparo tecnológico em outros países (MACHADO, MACHADO FILHO, 2014).

Ainda em referência a seu site oficial, coloca como meta para o mundo alcançar até 2030 o fim da pobreza extrema e promover a prosperidade com o crescimento da renda do fundo de 40% para todos os países35. Atualmente, o Banco Mundial consiste numa associação de cinco instituções de desenvolvimento, a saber: o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), a Associação Internacional de Desenvolvimento (AIC), a Corporação Internacional de Finanças (IFC), a Agência Multilateral de Garantia (AMG) e do Centro Internacional para a Resolução de Disputas sobre Investimentos (ICSID). Entre estes, Oliveira (2009) destaca que o BIRD é o mais importante por articular ações supranacionais e impor os interesses do capital multinacionaonal e das elites capitalistas.

O FMI, instituição criada oficialmente em 1945, também por meio do acordo de Bretton Woods e dos Estados Unidos, objetiva controlar as economias nacionais e implementar política neoliberal por meio do endividamento externo como instrumento de dependência e pressão política sobre os países pobres e, preferencialmente, os países do Terceiro Mundo como o Brasil. Com o endividamento e a pressão internacional, a organização força os governos nacionais a aumentar as políticas de exportação de seus recursos naturais (OLIVEIRA, 2009). O papel destas duas instituições consistiu em fornecer suporte e facilidade nos empréstimos para financiar e regular o avanço tecnológico internacional (OLIVEIRA, 2012).

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, sigla em inglês) foi criada em 1945 e sua finalidade é atuar como fórum de discussão para acordar propostas, debater políticas e estimular estratégias para concretizar suas propostas. Em seu site oficial36, a FAO insere que seu objetivo é ajudar os países a “[...] aperfeiçoar e modernizar suas atividades agrícolas, florestais e pesqueiras, para assegurar uma boa nutrição a todos e o desenvolvimento agrícola e rural sustentável”

35 No Brasil, o Banco Mundial busca a controlar os conflitos por terra com a política de reforma

agrária de mercado conforme demonstraremos em outra seção (RAMOS FILHO, 2014).

(FAO, não paginado). Possui ao todo 191 países membros, além do grupo da União Europeia. Seu papel na propagação da revolução verde vem dos espaços de discussão como a Cúpula Mundial sobre Alimentação (CMA), cujo espaço foi essencial para debater a questão da fome mundial e impulsionar estratégias e metas para combatê-la. Conforme demonstraremos no capítulo posterior, o espaço da CMA foi responsável por impulsionar a ideia de segurança alimentar37 e da ideia da modernização agrícola como forma de aumentar a produção (DESMARAIS, 2013).

No Brasil, a Revolução Verde ganhou fortes estímulos a partir de 64, sendo veemente defendida pela ditadura militar, cujo governo tornou a modernização no campo como política agrícola oficial (MACHADO; MACHADO FILHO, 2014). Conforme destaca Machado e Machado Filho (2014, p.55-56) o financiamento funcionou da seguinte forma

Em 1964 o Brasil vivia uma inflação de 60% ao ano. Os financiamentos concedidos pelos bancos para os programas da “modernização conservadora”38 eram em capital constante, isto é, sem correção

monetária do salvo devedor. Os juros desses financiamentos variavam de 5% a 12% ao ano, segundo a finalidade do empréstimo e a região do país. Ademais, havia um “período de carência”, variável segundo o objetivo do financiamento, em que o mutuário pagava apenas o juro, sem a amortização do principal. Por exemplo, um financiamento por um milhão de reais (exemplificando com a moeda atual; na época vigia o cruzeiro) para construir benfeitorias, formar pastagens e comprar animais. Os financiamentos deviam prever, obrigatoriamente, “insumos modernos” – agrotóxicos, fertilizantes e sementes certificadas.

Com o total apoio do governo, a modernização no campo se tornou hegemônica na agricultura brasileira. Sua hegemonia acentuou a desigualdade e superioridade entre o modo capitalista de produção e o modo de produção não- capitalista. Entre outros apoios pela modernização da agricultura, devemos destacar a criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em 1973, um

37 Demonstraremos a relevância da CMA na propulsão da segurança alimentar no capítulo 2

quando abordaremos a diferença entre o conceito de segurança alimentar e o conceito de soberania alimentar, pelo qual, é a principal bandeira da Via Campesina.

38 A modernização conservadora trata-se o termo que os autores usam para descrever a

centro de estudos e pesquisa sobre recursos genéticos e biotecnologia (MACHADO, MACHADO FILHO, 2014).

É durante o governo militar que houve o crescimento das multinacionais e do capital financeiro que vieram a concentrar e controlar o mercado da nova agricultura. Machado e Machado Filho (2014, p.54) assim definem e problematizam a conjuntura da revolução verde

A essência da “revolução verde”, hoje gerida explicitamente pelo capital financeiro, que controla o pequeno grupo de multinacionais que detém as patentes das sementes e a produção de fertilizantes e agrotóxicos, é mudar o ambiente e implantar as imensas monoculturas, incorporando grandes contingentes energéticos, via “insumos modernos”, produtos do petróleo, todos produzidos pelas multinacionais que, por sua vez, são controladas pelo capital financeiro que, assim, realiza a reprodução do capital em um novo segmento econômico, o agronegócio, ou agricultura industrial. Os danos ambientais logo apareceram. Com a redução do talo da altura das plantas destinada à produção de mais grãos, se reduz a MO do solo, se incrementa o teor de CO2 na atmosfera, agravando-se a

contaminação ambiental porque, cada grama de MO incorporada ao solo sequestra 3,67g de CO2 ambiente, já que a MO é o principal

reservatório de carbono na superfície terrestre.

Portanto, além da hegemonia financeira das multinacionais que afeta os camponeses na produção alimentar, é grave a consequência ambiental.

Para Pereira M (2012) o processo de modernização no campo provocou tantas transformações que considera este novo processo com uma ruptura no modo de conceber a agricultura. Ainda com a autora, com esta ruptura é possível considerar a Revolução Verde como um novo paradigma39 em relação à Primeira Revolução Agrícola, datada a partir do século XVIII. A autora explica a comparação entre as duas revoluções:

A Primeira Revolução Agrícola ocorreu [...] quando a integração entre atividades agrícolas e pecuárias na agricultura permitiu o plantio de forragens em sistemas de rotação com outras culturas, levando a grande melhoria da fertilidade dos solos, com a integração dos ciclos ecológicos e, sobretudo, a valorização das variedades locais e da autonomia do agricultor. Em meados do século XIX, a formulação de

39A respeito do paradigma da Revolução Verde, explica a autora, que a chave deste é o que

chama de Variedade de alto rendimento, que consistiu na busca por sementes com rendimento superior do que os cultivos tradicionais (PEREIRA, M, 2012).

teorias científicas com base em experimentos levou aos adubos químicos e à seleção de características genéticas nas plantas, como resultado dos trabalhos do químico Justus von Liebeg – que criou o laboratório de química e descobriu que as plantas alimentícias cresciam melhor e tinham maior valor nutritivo quando eram adicionados ao seu cultivo elementos químicos – e dos experimentos com ervilhas feitos por Gregor Mendel com o objetivo de entender as características hereditárias dos seres vivos. Assim, o cultivo da terra pelos agricultores com base na fertilização do solo pela matéria orgânica realizado por milênios foi sendo substituído pela utilização de substâncias químicas, orientada por técnicos e vendedores, levando à adubação química industrial. A seleção de variedades vegetais, realizadas desde o início da agricultura, passou a ser controlada em laboratórios, com a seleção de linhagens vegetais que passaram a ser chamada de variedades “melhoradas”. Também ocorreram transformações da matriz energética de produção, com a introdução do motor de combustão interna, no lugar da tração animal, fonte de energia de base renovável da agricultura tradicional camponesa. Foram modificações radicais e que transformaram a base da agricultura: o conhecimento milenar prático do próprio agricultor foi substituído pelo conhecimento científico; os ciclos ecológicos locais, pautados nos recursos endógenos, foram substituídos por insumos exógenos industriais; o trabalho que era realizado em convivência com a natureza foi fragmentado em partes – agricultura, pecuária, natureza, sociedade –, e cada esfera passou a ser considerada em separado, quebrando-se a unidade existente entre ser humano e natureza (PEREIRA M, 2012, p.687-688).

Os sistemas diversificados rotacionais inclusos na Primeira Revolução Agrária modificaram-se por sistemas especializados em monoculturas. Machado e Machado Filho (2014) afirma que o sistema de monoculturas gera uma modificação geral desequilibrando o agroecossistema que acarreta a destruição da biodiversidade. Os autores chamam esse desequilíbrio como erosão genética, uma vez que, diversas espécies são extintas com o uso da monocultura40.

Outra modificação que Pereira M (2012) inclui no pacote da revolução verde é o uso de insumos industriais como os adubos químicos, agrotóxicos, etc. O agrotóxico é a principal preocupação dos camponeses, ambientalistas e da sociedade quanto a qualidade dos alimentos. Através da lei nº 7.802/1989, regulamentada pelo decreto nº 4.074/2002, traz a definição de agrotóxico como...

40 Segundo informações de Machado e Machado Filho (2014), citando a Lista Vermelha das

Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, sigla em Inglês), em meados do século 20 uma espécie extinguiria a cada 13 anos e atualmente, a extinção acelerou e agora, a cada ano, 5 mil espécies se extinguem.

...produtos e componentes de processos físicos, químicos ou biológicos destinados ao uso nos setores de produção, armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na produção de florestas nativas ou implantadas, e em outros ecossistemas e também ambientes urbanos, hídricos e industriais; cuja finalidade seja alterar a composição da flora e da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos. São considerados, também, como agrotóxicos, substâncias e produtos como desfolhantes, dessecantes, estimulantes e inibidores de crescimento (Brasil, 2002)

A origem do agrotóxico é identificada após a Primeira Guerra Mundial, cujo momento possuía altíssimo estoque de nitrato, que era usado para fabricação de explosivos. Para Machado e Machado Filho (2014) a indústria química pós-Primeira Guerra Mundial transformou o nitrato em pesticida, pelo qual, contribuiu para o desenvolvimento do agrotóxico.

A indústria química os reciclou e introduziu na agricultura, que, assim, foi a “lata de lixo” da indústria da guerra. Como frutos da guerra, os nitratos foram criados para matar o homem e destruir suas plantações e não para beneficiar à humanidade (Gomez, 2012). Os agrotóxicos, igualmente, foram desenvolvidos para a guerra e não para a agricultura! O DDT, criado por Paul Müller, na Suíça em 1939, foi inicialmente usado na guerra: lançado como inseticida para “limpar” as áreas de combate das tropas norte-americanas, primeiro na Itália, onde havia uma epidemia de tifo, e depois na indonésia para combater o impaludismo. O mesmo se deu com o “agente laranja”, empregado pelos norte-americanos nas guerras contra o Japão e o Vietnã. Esse veneno, que tem a dioxina como princípio ativo, foi responsável pela destruição de dezenas de milhares de quilômetros quadrados de florestas e plantações nesses países, além das mortes humanas e das sequelas deixadas nas populações sobreviventes. Mas, à vezes, o “feitiço volta-se contra o feiticeiro”, veteranos norte-americanos da Guerra do Vietnã contraíram o mal de Parkinson, o que lhes deu direito à indenização, por ter sido provocado pelo “agente laranja” que tem em sua composição o agrotóxico 2,4D. A ONU que há 50 anos recomendou a implantação da “revolução verde” para mitigar a fome no mundo, curva-se às evidências e recomenda a avaliação de seus efeitos, para então sanar os males por ela fomentados com a aplicação massiva de agrotóxicos e outros venenos (MACHADO, MACHADO FILHO, 2014, p. 92-93).

No Brasil, o uso do agrotóxico cresce exponencialmente assim como a preocupação de diversos autores, entidades e movimentos sociais, quanto ao demasiado uso e sua relação à saúde, demonstram que sem uma legislação mais rígida para controlar seu uso as consequências serão caóticas (DESMARAIS, 2013;

BOMBARDI, 2011; LONDRES, 2011; RIGOTTO; ROSA, 2012; MACHADO, MACHADO FILHO, 2014)

Em consequência da Revolução Verde, a agricultura no Brasil apresenta as seguintes configurações: a modernização no campo, o crescimento do agronegócio, a concentração da produção de alimentos em poucas empresas, a padronização da produção, monocultura, produção voltada para a exportação.

No Brasil, desde a década de 1960, houve um aumento da população urbana em comparação a população rural, cujo processo é proveniente do êxodo rural e tendo nesse momento um maior grau de desterritorialização dos camponeses. Outra consequência, é que a agricultura tornou-se dependente da ciência e da indústria, assim como, o agricultor passou a ser subordinado por essa lógica e, portanto, a depender do desenvolvimento tecnológico na agricultura. Conforme aponta Pereira M (2012) as sementes geneticamente modificadas somente são produtivas quando utilizadas seu pacote tecnológico completo. Quando não se utiliza os insumos adicionais na semente, o seu desempenho é considerado inferior, portanto, obriga o produtor ao uso completo do pacote (PEREIRA M, 2012).

De acordo com Machado e Machado Filho (2014), a consequência do desenvolvimento tecnológico nas sementes e a dependência da agricultura com a ciência não resolveu o objetivo primordial da Revolução Verde: isto é, acabar com a fome mundial ou insegurança alimentar. Conforme explicam os autores,

Com a “revolução verde”, os monopólios internacionais passaram a controlar o mercado de insumos e máquinas agrícolas; a segunda fase desta “revolução” está em pleno andamento, com a expansão dessas multinacionais no controle da produção e do comércio de sementes, e quem controla as sementes controla todo o sistema alimentar e, consequentemente, o sistema político. O mecanismo de dependência é simples e fácil de entender: as multinacionais controlam a produção e comércio de sementes que são “melhoradas”, visando à uniformidade fenotípica com altas produções. Essas uniformidades eliminam as resistências naturais e aumentam a vulnerabilidade das culturas, criando-se a dependência dos agrotóxicos41. As multinacionais que

41 Um ótimo documentário, que demonstra a dependência dos agricultores com a indústria de

agrotóxicos e sobre as modificações e controle da semente, é o “Mundo segundo a Monsanto” de autoria da Marie-Monique Robin e lançado em 2008.

fabricam agrotóxicos são as mesmas que controlam o “melhoramento”, a produção e a comercialização de sementes. A uniformidade genética leva à perda de variedades e torna as plantas vulneráveis às pragas e doenças. (MACHADO, MACHADO FILHO, 2014, p.59).

Por fim, a Revolução Verde fizera com que houvesse uma invasão cultural e que o alimento tornasse uma mercadoria e sua produção rendesse majoritariamente à apropriação das agroindústrias capitalistas. Ou seja, os camponeses ficaram cada vez mais dependentes das empresas transnacionais, levando a subordinação do território camponês para expansão do capital, materializado no agronegócio.

A Via Campesina tem como principal pauta de discussão o progresso tecnológico da Revolução Verde e seus efeitos na agricultura para a questão da perda de qualidade dos alimentos - do uso de sementes geneticamente modificadas com a biotecnologia e a questão de agrotóxico - e para os camponeses, com a marginalização destes na produção de alimentos e de sua exclusão na sociedade.