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CAPÍTULO 3: O CONHECIMENTO CIENTÍFICO CONTEMPORÂNEO:

3.1 A Sociedade Informacional Contemporânea: Contexto Amplo

A sociedade informacional se caracteriza pelas complexas redes de produção, tratamento, controle e uso estratégico de ativos informacionais. A sua ordem social traz inscrita em si os códigos da geração de novas informações, novos conhecimentos e novas tecnologias, que movem a dinâmica do sistema produtivo e do mercado de bens de capital. Na sociedade informacional, aqueles processos informacionais são considerados primários no processo de produção, mas esses ativos estão além do insumo produtivo na medida em que agregam valor aos centros de poder, transformando-se essencialmente em importantes instrumentos de competitividade, controle, submissão e exclusão, em um processo ininterrupto de produção e acumulação.

Pelo menos, três aspectos concorrem, de acordo com Castells (2000), para a composição do cenário da sociedade contemporânea: a reestruturação do modo de produção capitalista, a emergência do informacionalismo como novo modo de desenvolvimento da sociedade e a intensificação da globalização da economia. Todos esses aspectos têm, em maior ou menor grau, como base a doutrina neoliberal cujas políticas e ideologias se sustentam na plataforma clássica do laissez-faire dos meios de produção. Esse conjunto se constitui na base política e material dos processos sociais contemporâneos, sendo deles produtos e processos, em um círculo vicioso que só contribui para a solidificação dos mercados hegemônicos e monopolistas e para a derrocada dos mercados pobres e emergentes.

Cada modo de desenvolvimento é definido em função do elemento essencial à promoção da produtividade no processo produtivo. Nesse sentido, os três modos de desenvolvimento já experimentados pela sociedade, isto é, o agrário, o industrial e o informacional, têm, respectivamente, como elementos essenciais a mão de obra e os recursos naturais; as novas fontes de energia e a descentralização da energia ao longo do processo produtivo; e as tecnologias de processamento da informação, de comunicação de símbolos e de geração de conhecimento (CASTELLS, 2000). Com efeito, a informação e o conhecimento estiveram presentes em todos os modos de desenvolvimento, na medida em que os processos produtivos se baseiam, em maior ou menor grau, no processamento da informação e na construção de conhecimento. Contudo, no modo informacional, estes constituem um círculo virtuoso segundo o qual existe uma ação do conhecimento sobre os próprios conhecimentos como fonte principal de produtividade.

Além do elemento essencial ao sistema de produção, cada modo de desenvolvimento é também composto por um princípio de desempenho estruturalmente determinado. Enquanto o industrialismo tinha como meta o crescimento da economia ou a maximização de lucros, o informacionalismo visa ao desenvolvimento tecnológico, à acumulação de conhecimentos e a maiores níveis de complexidade de processamento da informação. Como o modo de desenvolvimento modela toda a esfera de comportamento da sociedade, a emergência de um novo resulta necessariamente em novas formas históricas de interação, controle e transformação social (CASTELLS, 2000).

Segundo Castells (2000), a nova topologia social estruturada em redes de produção, poder e experiência, para além de novas práticas sociais, resulta na redefinição das noções de espaço e tempo. A rigor, o espaço assume a maleabilidade dos fluxos e o tempo, a virtualidade. Encontra-se na base dessas transformações a Revolução da Tecnologia da Informação, que, malgrado os primeiros indícios surgirem na primeira metade do século XX, tem como marco o desenvolvimento da microeletrônica, já na sua segunda metade, quando essas tecnologias foram amplamente produzidas e difundidas, principalmente, com a convergência da microeletrônica, dos computadores e das telecomunicações nas últimas décadas.

A nova topologia social apresenta, segundo Castells (2000), cinco características centrais, que correspondem à sua base material. A primeira diz respeito à adoção da informação como matéria-prima principal dos processos produtivos. Na relação recíproca com a tecnologia, a informação ganha novo status na produção e comunicação de conhecimento, na medida em que essa relação possibilita um círculo virtuoso em que a informação age sobre a tecnologia e, principalmente, esta age sobre aquela, em um processo contínuo. A segunda corresponde ao alto poder de penetrabilidade dos efeitos das novas tecnologias nos diversos setores da sociedade. Esses efeitos têm como ponto de acesso a informação, que está presente nas diversas atividades humanas. A terceira concerne à lógica de redes presente em qualquer organização social com a utilização das novas tecnologias. Essa nova estrutura tem grande relevância, já que possibilita organização integrada e complexa dos diversos sistemas sociais. Ao mesmo tempo em que ela se torna fundamental para organizar o não organizado, é essencial na manutenção de certa flexibilidade para promover inovação. A quarta se refere à flexibilidade nas instituições e organizações promovida pelas TIC. No mundo tecnológico, que é regido pela mudança e pela fluidez, a capacidade de reconfiguração assume valor capital. Dessa forma, os processos são considerados reversíveis e a organização passível de ser bastante alterada sem, no entanto, significar sua efetiva destruição. A quinta concerne à

crescente convergência tecnológica específica para um sistema profundamente integrado, que vai desde a criação de tecnologias à constituição de redes de cooperação entre empresas em diversos setores de produção. Essa característica resulta na potencialidade sinérgica que parece corresponder à matriz da sociedade informacional.

Os estudos de Castells (1999, 2000, 2003) demonstram que o desenvolvimento da sociedade informacional está diretamente relacionado à capacidade sinérgica que determinadas regiões ou países apresentam como base em informação e conhecimento. Com efeito, a Revolução da Tecnologia da Informação se caracteriza justamente pela concentração espacial em centros de pesquisa, instituições de ensino superior, fornecedores e financiadores dos projetos a ela relacionados. O espaço privilegiado da emergência e da difusão das TIC está circunscrito em centros metropolitanos, notadamente, dos EUA e da Europa. O que caracteriza a sociedade informacional, portanto, é sua capacidade de centralizar conhecimentos técnicos e científicos, mão de obra qualificada, instituições e empresas investidoras e consumidoras dos produtos e serviços, em um processo cada vez mais dinâmico.

Embora pareça contraditória, a construção de redes e a consequente dinâmica de fluxos, longe de se constituir em descentralização de informação, conhecimento, produção e poder, são produto e processo do alto poder de centralidade potencializado pelas TIC. Essa rede de funcionamento é que permite a integração e a dinâmica desses fluxos de poder que sustentam a organização social, política e econômica vigente. É fundamental compreender, a partir de Castells (2000), que essa centralização não representa fechamento, mas abertura em um processo de crescente expansão de suas redes de acesso e domínios múltiplos.

O fato é que a nova ordem social contemporânea vem se revelando como um espaço constituído por instrumentos, ao mesmo tempo, de inclusão e exclusão, nos vários setores da sociedade. Uma de suas principais características se encontra na forma de interação entre os indivíduos e as sociedades, redimensionada pela estrutura das TIC que possibilitaram, por um lado, a manutenção de seu modo de produção capitalista, mas exigiram a emergência de um novo modelo de desenvolvimento.

A informação por si só não garante competitividade e, muito menos, gera riqueza e controle de produtividade. É necessário um conjunto de condições que possibilitem todos aqueles processos informacionais que, na maioria das vezes, encontram-se nas grandes infraestruturas dos países ricos ou, quando muito, em países em desenvolvimento, nos espaços das corporações multinacionais. Isso quer dizer que, embora dispostas geopoliticamente descentralizadas, trata-se de efetiva centralização econômica. As grandes corporações,

naturalmente, sobressaem na medida em que dispõem de um grande aparato tecnológico que possibilita a produção, o armazenamento, o tratamento, a disponibilização e a aplicação estratégica segundo as suas necessidades específicas e as condições e exigências dos mercados.

Assim, “o que caracteriza a atual revolução tecnológica não é a centralidade de conhecimentos e informação, mas a aplicação desses conhecimentos e dessa informação para a geração de conhecimentos e de dispositivos de processamento/comunicação da informação, em um ciclo de realimentação cumulativo entre a inovação e o uso” (CASTELLS, 2000, p. 50-51). Acontece que as TIC não se apresentam como meros instrumentos a serem aplicados, mas como processos complexos a serem desenvolvidos, em que as funções de produtores e consumidores podem ser assumidas concomitantemente pelos atores sociais. Há uma relação direta entre os processos sociais de criação e manipulação de símbolos culturais e a produção e a capacidade de produção e distribuição de bens e serviços em toda a sociedade.

Outra questão que merece destaque na atual revolução tecnológica diz respeito à extensão com que se avançou em todos os cantos do mundo em período de tempo muito limitado. As revoluções anteriores apresentavam caráter bastante seletivo, embora chegassem a outros lugares com o passar dos anos. Foi assim que ocorreu com as novas tecnologias industriais no processo da Revolução Industrial, no século XIX. Diversos setores da própria Inglaterra, berço desse processo, até meados daquele século, ainda não tinham sido afetados diretamente por aquele desenvolvimento tecnológico. A Revolução Tecnológica dos séculos XX e XXI também vem promovendo seletividade e exclusão, uma vez que diversas regiões e segmentos da população se encontram desconectados (CASTELLS, 2000).

O comportamento dos diversos países diante das reformas exigidas pelo processo de reestruturação capitalista e as implicações dele decorrentes concernem a outras questões que merecem ser discutidas. É certo que, decorrente das especificidades política, econômica, social e cultural, cada país se comporta de forma diferente e, portanto, tem também implicações diversas porque essas reformas representam alterações nas relações historicamente estabelecidas entre Estado, sociedade e mercado. É também certo que “[...] todas as sociedade são afetadas pelo capitalismo e informacionalismo, e muitas delas (certamente todas as sociedade importantes) já são informacionais, embora de tipos diferentes, em diferentes cenários e com expressões culturais/institucionais específicas” (CASTELLS, 2000, p. 38).

O Estado foi e continua sendo em muitos países o principal ator no processo de inovação tecnológica. A habilidade ou a contrária inabilidade em promover condições para

inovação tecnológica na mesma cultura pode induzir trajetórias tecnológicas muito diferentes, dependendo da forma de relacionamento entre Estado e sociedade. A história tem mostrado que a dependência exclusiva do Estado é contraproducente, implicando em atraso no desenvolvimento da sociedade (CASTELLS, 2000).

A mesma lógica presente nos fluxos do mercado e da mão de obra está presente nos processos de produção, organização, acumulação e distribuição de informação e conhecimento. Ademais, a formalização dos fluxos interfere sobremaneira na organização interna e externa desse conjunto. A não evolução adequada entre pontos estratégicos se constitui, ao mesmo tempo, em obstáculos à dinâmica dos fluxos e das bases de onde eles partem e aonde eles chegam.

Na sua base, encontra-se a convergência da indústria da informação e das altas tecnologias de informação e comunicação, que, em última análise, movem-se conforme as necessidades e os comandos dos fluxos de poder e de capital. Essa convergência exerce constante força modelizadora nas diversas atividades sóciocognitivas, principalmente, por intermédio dos órgãos e agências de investimento com abrangência internacional. Nesse rol, pode-se destacar o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, com suas políticas de apoio técnico e financeiro aos países pobres e em desenvolvimento.

As TIC são impostas como base infraestrutural dessas mudanças porque ampliam a capacidade humana de produzir, acumular, transferir, aplicar, monitorar e controlar o volume de informação e de conhecimento que está sendo movimentado no mundo. Essas tecnologias correspondem ao elemento mais imediato de controle e manipulação dos regimes de conhecimento. A sua finalidade diz respeito ao controle produtivo realizado a partir de um conjunto de informação e conhecimento que tem a função gestora e controladora dos processos de produção e distribuição de bens de capitais. A informação e o conhecimento, aliados às suas tecnologias, agem não somente na produtividade, mas, sobretudo, na competitividade e na lucratividade dos agentes econômicos que compõem o sistema produtivo vigente.

Nesse sentido, Castells (2000) entende que, apesar da vigilância perante a tendência ao determinismo tecnológico, no processo de compreensão da nova estrutura socioeconômica, as TIC devem ser levadas a sério. Isso porque essa nova estrutura potencializa o surgimento de movimentos complexos de integração e diferenciação que está na base das inter-relações estabelecidas em diversos domínios socioculturais. De forma mais precisa, não existe uma relação direta entre a tecnologia e o aumento da produtividade. A história dessa relação demonstra que existe o que os estudiosos, notadamente, os cientistas econômicos denominam

de defasagem de tempo entre inovação tecnológica e produtividade econômica. Com efeito, além do desenvolvimento da estrutura tecnológica, o aumento da produtividade exige a absorção desta pelo sistema produtivo e requer alterações efetivas nas instituições sociais como um todo.

Para Castells (2003), as mudanças que vêm ocorrendo no cenário político e econômico em escala mundial e, por conseguinte regional e nacional, afetam diretamente o mercado de trabalho em seus diversos seguimentos e aspectos de surgimento, ampliação e exclusão de postos de trabalhos, principalmente em função dos processos de automatização e informatização da produção, e as relações entre empregados e empregadores, notadamente, os contornos das políticas salariais. Na base dessa dinâmica, encontram-se as exigências do mercado global internacional de um lado e a capacidade do trabalhador de se adequar àquelas, de outro, que se caracteriza essencialmente pela competência e capacidade de atualização.

Acontece que se faz necessário uma postura crítica diante desse processo crescente de globalização, porque ele cria uma situação de interdependência entre as economias que dificulta o desenvolvimento de políticas nacionais. Isso implica dizer que, ao entrar nesse campo, as economias nacionais se encontram em um movimento complexo de cooperação e concorrência com as diversas economias que participam desse sistema econômico. A rigor, faz-se necessário observar que as políticas estão ao mesmo tempo vinculadas às demandas do mercado global e, principalmente, às necessidades específicas da economia nacional.

Esse contexto levou diversos países a realizar transformações e ajustes nas suas economias com base na doutrina neoliberal, centrados basicamente na desregulamentação do mercado e na privatização das empresas estatais. Ao mesmo tempo em que diversos países abriram seus mercados à concorrência global, tiveram a necessidade de desenvolver uma série de estratégias políticas e econômicas como forma de autoproteção no cenário global altamente competitivo. Dentre esse conjunto de estratégias, pode-se destacar a criação de blocos econômicos ou zonas de livre comércio, como a União Europeia (UE) e o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), respectivamente, na Europa e na América do Sul.

Não se pode afirmar que não haja regras, mas as regras são criadas e mudadas em um processo contínuo de ações deliberadas e interações exclusivas. O paradigma da tecnologia da informação não evolui para o seu fechamento como sistema, mas rumo à abertura como rede de acessos múltipos. É forte e impositivo em sua materialidade, mas adaptável e aberto em seu desenvolvimento histórico.

Abrangência, complexidade e disposição em forma de rede são seus principais atributos (CASTELLS, 2000, p. 81, grifo nosso).

Os processos e as atividades contemporâneos, nos mais diversos espaços sociais, políticos, econômicos, científicos e culturais, desenvolvidos sob a égide do regime global e

das doutrinas neoliberais apresentam necessariamente a propositura de abertura e livre concorrência, que, em última análise, significa estabelecer uma competição desigual sem a intervenção e a proteção do estado de bem-estar social, característico do Estado Social Democrático de Direito, construído a partir de lutas sociais, notadamente, de trabalhadores, e que é ou deveria ser o responsável pela regulação e proteção das relações privadas. Na doutrina neoliberal, o Estado se constitui em um organismo mínimo reduzido o seu poder- dever de planejar, organizar e coordenar as políticas que possibilitam o equilíbrio e a ordem democrática nos diversos setores da sociedade. A saída ou o recuo do Estado significa, por um lado, a ampliação do processo de desregulamentação fundamentado na ideologia neoliberal e, por outro, impõe a submissão dos diversos setores da sociedade às regras do mercado global em uma relação de longe assimétrica.

A prática científica contemporânea não se exclui desses processos amplos de produção e comercialização de bens de capitais nas suas diversas manifestações materiais e simbólicas. Ela assume em seus fundamentos e procedimentos científicos os elementos que compõem os regimes de verdade da sociedade contemporânea: a desregulamentação ou a livre concorrência, a igualdade de padrões de consumo, diferentes condições de produção, que se traduzem no campo científico em pluralismo teórico-metodológico e anarquismo metodológico. Em regra, os organismos internacionais, os países, as empresas, os setores produtivos, os institutos de pesquisa, as áreas de conhecimento, os profissionais e os pesquisadores que souberam planejar e agir conforme o novo regime global, que vêm se intensificando a cada momento desde a segunda metade do século passado, conseguiram agregar valor à sua produção, apresentando atualmente os melhores índices de desenvolvimento.

Acontece que, à margem do cenário global, ficam os demais organismos, países, empresas, setores produtivos, áreas de conhecimento, profissionais e pesquisadores que não se encaixam nas exigências do mercado informacional global. Ingressar nesse universo significa assumir as cláusulas contratuais, mesmo conhecendo o descompasso entre seus direitos e obrigações. O fato é que muitas pessoas desconhecem esses direitos e acreditam na falácia da integração de mercados e da homogeneização do poder aquisitivo e do consumo. Resta, portanto, refletir sobre como agir dentro e fora desse círculo de desmandos do mercado internacional. Enquanto isso não acontece, cresce o processo de exclusão, o subemprego, o informalismo e, consequentemente, a quantidade de movimentos contra o processo de globalização da economia, que se manifestam de diversas formas, seja pacífica ou terroristamente. A rigor, ao mesmo tempo, o processo de globalização conecta os pontos

nodais de poder e desconecta, marginaliza e exclui desses espaços grande parcela da sociedade.

Isso implica, em última instância, que, para além de organizações institucionais e contextos econômicos em que essas se encontram inseridas, o posicionamento na ordem econômica informacional e global tem como vetor as políticas governamentais de cada país e de suas instituições e empresas, em particular. Há países como a China e o Japão que, com base em políticas orientadas à manutenção de seus interesses nacionais, mantêm suas economias bastante protegidas da livre concorrência do mercado global. Esse entendimento político, com caráter fortemente ideológico, promove o surgimento de repulsa ao processo de globalização que desencadeia em uma série de movimentos opositores em diversos setores da sociedade. Podem-se incluir aqui os movimentos ambientalistas e feministas, entre outros.

No regime de produção de conhecimento contemporâneo, há a busca de integração dos saberes em suas diversas modalidades e manifestações, tais como teórico, prático, operacional, expresso, tácito, como forma de aprimorar o sistema produtivo. Esse sistema recorre a todas as formas e fontes de informação e conhecimento não somente como matéria- prima de primeira ordem dos processos produtivos, mas, essencialmente, como forma de monitorar e controlar os fluxos de produção e distribuição de informação e conhecimento, bem como dos produtos deles resultantes, e dos seus respectivos mercados produtores e consumidores. Esse contexto leva ao seguinte entendimento:

Cada formação política, em sua situação histórica, teria um mapa próprio de espaços de produção cognitiva e comunicacional, desenhado pelas posições relativas dos agentes coletivos que o definem e o disputam com suas estratégias de poder, e conforme a natureza e o grau de apropriação, por esses agentes, das disponibilidades materiais, técnicas e informacionais de espaço (GONZÁLEZ DE GOMÉZ, 1987, p, 158).

A globalização, nesse sentido, longe de constituir em um processo de homogeneização, irradia nas construções sociopolíticas recorrentes movimentos de diferenciação a partir da recuperação de identidades primárias. De acordo com Castells (2000, p. 39), “os primeiros passos históricos das sociedades informacionais parecem caracterizá-las pela preeminência da identidade como seu princípio organizacional”. A identidade para o autor corresponde a um conjunto de atributos culturais por intermédio do qual um ator social se identifica e se reconhece a partir da construção de significados. Acrescenta ainda que a definição de uma identidade não representa necessariamente a incapacidade de se relacionar com outras identidades ou, por outro lado, a possibilidade de abarcar toda a sociedade sob essa identidade. As relações sociais são, porém, definidas umas em face de outras, com base

nos atributos que as identificam. Em uma sociedade informacional caracterizada, ao mesmo tempo, pela interligação global, flexibilização, concorrência e fragmentação, o poder da identidade, para usar as palavras de Castells (1999), torna-se, muitas vezes, a maior e, por vezes, a única referência. Essa relação entre globalização e identidades se materializa na