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A temática Arte e a sua relação com o património material

4. Allgarve: A resposta para o turismo de cultura no Algarve?

4.2. A temática Arte e a sua relação com o património material

A conquista feita pela Arte tem sido gradual e vai revelando frutos mas consta na área que menos interesse desperta nas autarquias. Tem vindo a assistir ao aumento do número de eventos todos os anos e cada vez consegue chegar a uma área geográfica

mais vasta, tendo em conta que são cada vez mais as autarquias a aceitar receber exposições de arte contemporânea. As exposições têm temas diversos e os artistas cujos trabalhos são expostos têm nacionalidade portuguesa ou estrangeira. O local que acolhe cada exposição também varia pois pode ser um museu, um centro cultural ou um monumento histórico nacional. Este é talvez (sem descurar o artista e a obra) um dos aspectos mais interessantes da temática Arte, do ponto de vista turístico. Para além da qualidade que possa ter o projecto exposto, a realização de exposições em sítios que estão fortemente ligados à História da região é uma boa forma de dar a conhecer a cultura do povo que recebe o turista. Esta é uma das medidas aconselhadas na reformulação do PENT em 2011, onde é feita referência à necessidade de se criar uma oferta que seja marcante e que tire “partido do conjunto de recursos únicos disponíveis” (p. 23). Deste modo o turista não só visita uma exposição de arte contemporânea como também passa a conhecer um edifício emblemático da História de Portugal e, consequentemente, do Algarve.

Os monumentos aliam duas características muito importantes enquanto atracções turísticas: são representativos da cultura local e são edifícios únicos e específicos de uma determinada região. É necessário ter em conta a importância do factor exclusividade na indústria turística, motivo pelo qual os monumentos históricos e os museus são quase sempre local de passagem obrigatória para os visitantes. Deste modo é possível concluir que os monumentos contribuem de forma significativa para o turismo de cultura. Esta contribuição não é, no entanto, independente de outros interesses da indústria turística. Enquanto pólo de atracção turística, o património cultural é encarado como um recurso económico que gera lucro (SANTOS, 2010). As potencialidades do património cultural, que é um recurso primário do sector turístico, levam a que seja considerado enquanto mercadoria ou produto com vista a ser comercializado. O interesse pelo património histórico e natural de uma localidade é um dos motivos que influencia a escolha do destino de férias na hora de tomar decisões, uma vez que um destino dotado de património e monumentos históricos está associado à ideia de turismo de qualidade. Por outro lado este tipo de turismo não tem épocas altas ou baixas e pode ser desenvolvido durante todo o ano, sendo que é considerado uma boa fonte de riqueza, mais rentável do que o turismo de praia (PRIETO, 2000). O turista que prefere viajar no Verão para usufruir das praias situadas no litoral tem tendência a gastar menos no local de férias porque utiliza bens que são gratuitos, ao contrário do visitante que prefere ocupar o tempo livre com visitas a monumentos e museus. Este último,

considerado o turista cultural, acaba por consumir mais serviços e fazer mais despesa contribuindo para a economia local. Carlos Martínez salienta a importância de rentabilizar o património cultural no ramo turístico por se tratar de uma “clara alternativa de desenvolvimento económico” (PRIETO, 2000, p. 106)7

sobretudo em locais que apresentem uma grande riqueza em termos patrimoniais. Assim sendo, o investimento que se faz para preservar os monumentos históricos tem em vista um posterior retorno financeiro, ao garantir a acessibilidade e o bom estado das atracções turísticas.

A realização de eventos Allgarve nos monumentos históricos da região pode contribuir para a valorização turística do património. A utilização de património histórico e arquitectónico para acolher as exposições é uma forma de contribuir para divulgar e também preservar a cultura material de uma comunidade. Como já foi referido atrás (ver capítulo 3.5.4) a exposição realizada na Fortaleza de Sagres foi a que registou maior número de entradas em 2010. No entanto este número está também relacionado com o número de entradas na Fortaleza e não há uma contagem em separado entre quem visita a Fortaleza ou quem se interessa pela exposição. Deste modo não é possível concluir se o facto das exposições se realizarem nos monumentos nacionais constitui ou não um atractivo. Em resposta aos questionários realizados a Câmara Municipal de Silves respondeu que em 2009 a realização de duas exposições Allgarve resultou no triplo das visitas à Igreja da Misericórdia e à Casa da Cultura Islâmica. No entanto, e apesar dos resultados muito positivos para a autarquia, em 2010 o concelho optou por receber apenas uma exposição, num dos locais que já tinha aderido à iniciativa no ano anterior. Uma outra opinião é partilhada pelo Centro Cultural de Lagos (CCL), um dos locais que respondeu ao inquérito, e cuja direcção considera, depois de analisar o número de visitas a cada exposição, que o tema, o autor ou o tipo de exposição são mais importantes do que a própria promoção do Allgarve. O programa de exposições do Centro Cultural de Lagos é sempre definido pelo professor Alexandre Barata e é posteriormente integrado e apoiado pelo programa Allgarve. A variação verificada no número de visitantes ao longo das quatro edições (que oscila entre os 1300 e os nove mil) demonstra que outros factores como o tema ou o autor da exposição são mais importantes na hora de garantir público, do que o facto de ser um evento com o selo do Allgarve. Esta conclusão da direcção do CCL, e que se reflecte em todas as

outras exposições Allgarve uma vez que a audiência varia muito consoante o tipo e o local da exposição, pode estar relacionada com o público que habitualmente visita o espaço e cujo gosto e interesse já está pré-definido, não se deixando influenciar por outros motivos exteriores à própria exposição.

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