• Nenhum resultado encontrado

3.5 Modelos de gestão dos resíduos da suinocultura

3.5.1 Abordagem Integrada da Gestão Sustentável de Resíduos

O modelo de abordagem integrada para gestão sustentável de resíduos sólidos proposto por Shekdar (2009) é sustentado por diversos autores pelo fato de conter uma abordagem ampla, que integra diferentes dimensões da pesquisa social que acabam por serem replicáveis a variados contextos, de acordo com as especificidades dos resíduos, o público envolvido e a região onde são gerados.

Pereira (2017) adaptou o modelo de Shekdar (2009) para um estudo da percepção de gestores sobre a gestão sustentável dos resíduos sólidos urbanos (GRSU). Percebe-se nessa pesquisa que a autora utilizou várias dimensões analíticas (FIG. 3), que podem ser replicadas quando se analisam a percepção de gestores da suinocultura e as multifacetas que integram a gestão desses resíduos.

Figura 3 – Sistema integrado para gestão de resíduos

Fonte: Shekdar, 2009; Pereira, 2017, p.46.

A dimensão da participação pública abordada no estudo da gestão sustentável dos resíduos sólidos urbanos por Pereira (2017), adaptado do modelo de Shekdar (2009) para o contexto dos resíduos da suinocultura, equivale, nesse cenário, à participação privada como fonte geradora de resíduos.

Dessa forma, as organizações individuais da suinocultura, as granjas suinícolas e seus gestores representam a participação privada nos aspectos da geração e responsabilidade do gerenciamento sustentável dos resíduos produzidos, analogamente à participação pública na GSRS (PEREIRA, 2017).

Na dimensão institucional do modelo de Shekdar (2009) se inserem as organizações e suas relações com o Estado, o mercado e a sociedade. Para Pereira (2017), as definições em relação ao termo “arranjo institucional” são abrangentes e se conceituam de acordo com o contexto. Esse arranjo é um agrupamento de regras formais ou informais que moldam a interação humana e estruturam a maneira pela qual as organizações funcionam (NORTH, 1990).

A dimensão institucional incorporada nas relações democráticas entre organizações e gestores, de acordo com Tenório (1998), compreende suas relações dialógicas, gerenciais e decisórias com diferentes setores do mercado e da sociedade. Tais relações, no caso dos suinocultores, ocorrem à montante da cadeia produtora de grãos e a jusante do mercado suíno, influenciando a percepção e motivação dos sujeitos como empreendedores e analisados como geradores de resíduos.

Na dimensão política e legal que rege a gestão sustentável dos resíduos, Shekdar (2009) ressalta a necessidade do enquadramento jurídico com a política nacional e enfatiza a importância de um país ter uma política de gestão integrada e sustentável de resíduos, mas que deve ser implementada a partir dos municípios.

A dimensão operacional, segundo Shekdar (2009), passa preliminarmente pelos processos de avaliação do material pelo qual os resíduos são gerados num sistema. No caso dos dejetos da suinocultura, esse sistema se restringe a uma fonte geradora e sua produção obedece a índices tecnológicos de elevada precisão, o que os difere substancialmente dos resíduos sólidos urbanos (PERDOMO et al., 2003; LIMA et al., 2010; MARTINS et al., 2012; FERREIRA et al., 2014).

Dessa forma, na gestão operacional da suinocultura os inputs consumidos na forma de ração e água guardam correlação mensurável com a produção dos outputs, ou seja: suínos e dejetos (ANGONESE et al., 2006).

O conhecimento desses dados, no que tange às operações da produção animal, fornece indicadores dos volumes e composição dos dejetos e também das demandas das operações de coleta, transporte, processamento e disposição. Essas demandas são previstas na gestão tecnológica desses resíduos e devem ser adaptadas ao cenário e suas peculiaridades (SHEKDAR, 2009). A dimensão tecnológica da gestão dos resíduos, segundo Shekdar, necessita ser concebida de acordo com as características e quantidades dos resíduos e deve ser compatível com as condições de funcionamento prevalecentes.

A gestão financeira dos resíduos da suinocultura, adaptada do modelo de Shekdar (2009), refere-se ao âmbito da iniciativa privada, às organizações suinícolas e a seus gestores, que são responsabilizados pela coleta, processamento e destinação final dos resíduos e do efluente gerado nas operações de criação. Esses atores respondem civil e criminalmente por eventuais impactos ambientais decorrentes da destinação final inadequada.

A dimensão financeira na gestão integrada no que tange aos dejetos da suinocultura exige investimento de capital, área física e despesas recorrentes de manutenção do sistema. Os impactos ambientais devem ser considerados em longo prazo como parte do orçamento, assim como recursos que promovam a sustentabilidade ambiental e garantam meios para melhorar a viabilidade comercial e do custo- benefício das tecnologias para permitir a recuperação dos recursos financeiros investidos, podendo, ainda, gerar recursos adicionais (PALHARES, 2008; SHEKDAR, 2009; DIAS, 2014; BLEY, 2015).

Assim, o modelo de Shekdar (2009) propõe, por meio da interação dessas dimensões, promover melhorias, em médio e longo prazos, nas questões ambientais em conformidade com as peculiaridades do cenário – de acordo com o que preconiza Pereira (2017), sugerindo ações diferenciadas nas dimensões institucional, política e legal que regem as organizações – e das gestões operacional, tecnológica e financeira praticadas pelos gestores.

Este capítulo discorreu sobre os temas que fundamentaram esta investigação, apresentando teorias das ciências agrárias sobre a suinocultura intensiva e seu potencial poluidor, bem como sobre as técnicas de tratamento dos resíduos gerados na criação dos animais. Também, abordou os fundamentos da pesquisa social sobre o avanço do setor no cenário nacional e a consequente expansão das demandas do gerenciamento desses resíduos. Para tanto, expôs o modelo de abordagem integrada dos resíduos de Shekdar (2009), que foi adaptado para a análise dos resultados. O próximo capítulo descreve os procedimentos metodológicos utilizados nesta pesquisa.

Documentos relacionados