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Absorção de água por capilaridade

4. Apresentação e discussão de resultados

4.3. Estado endurecido

4.3.11. Absorção de água por capilaridade

A Figura 4.7 apresenta as curvas de capilaridade das argamassas analisadas no presente estudo. Os coeficientes de capilaridade e a quantidade de água absorvida ao fim de 120 h, à exceção da argamassa T_AP em que é registada ao fim de 3,5 h (Quadro 4.9).

Figura 4.7 - Curvas de absorção por capilaridade das argamassas.

Quadro 4.9 - Coeficientes de capilaridade e quantidade de água absorvida.

Argamassas AC [kg/(m2.s1/2)] Quantidade de água absorvida (kg/m2)

T_E 0,03 ± 0,00 10,9 ± 0,4 T_AP 0,41 ± 0,06 11,5 ± 0,3 T+CL 0,10 ± 0,01 9,3 ± 0,5 C 0,12 ± 0,00 9,1 ± 0,2 G 0,14 ± 0,01 14,4 ± 0,4 C+P 0,12 ± 0,01 9,2 ± 0,2 G+P 0,14 ± 0,01 14,1 ± 0,4

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Observando os resultados obtidos (Figura 4.7) é visível de imediato que a curva referente à argamassa T_AP é muito curta comparativamente às restantes. Isso deve-se ao facto do ensaio desta argamassa ter sido muito curto, durando apenas três horas e meia, uma vez que esta argamassa se mostrou muito sensível à presença de água e ao fim dos 210 minutos os provetes começaram a apresentar perdas de material. É ainda visível de imediato a semelhança de comportamento entre as argamassas T+CL e C.

A argamassa T_E apresenta bom comportamento num primeiro contacto com a água, pois apresenta menor coeficiente de capilaridade. No entanto, esta argamassa nunca atingiu um valor assimptótico, ou seja, no final do ensaio esta argamassa ainda se encontrava a absorver água por capilaridade.

Pelo contrário, a argamassa T_AP apresenta alta absorção capilar na fase inicial, comprovada pelo elevado coeficiente de capilaridade (Quadro 4.9), sendo a que apresenta pior comportamento face ao contacto com a água e bastante sensibilidade, daí ter decorrido muito menos tempo de ensaio. Comportamento semelhante ao mostrado no ensaio de absorção de água sob baixa pressão com tubos de Karsten, no qual, apesar de nenhuma argamassa de terra sem estabilização ter resistido à duração do ensaio, a argamassa T_E mostrou absorver baixas quantidades de água e argamassa T_AP, pelo contrário, mostrou que logo no primeiro contacto absorveu grande quantidade de água.

A argamassa T+CL apresenta menor capacidade de absorção por capilaridade, quando comparada com as argamassas de terra sem estabilização T_E e T_AP. Outros autores (Gomes et al., 2016a) documentaram que a argila apresenta comportamento diferente quando misturada com cal; a adição de cal parece bloquear o comportamento da estrutura da argila, inibindo as suas características e diminuindo a absorção de água.

As argamassas de ligantes convencionais (C e G) apresentam comportamento semelhante no início, comprovado pela inclinação idêntica nos primeiros minutos de ensaio e pelo semelhante coeficiente de capilaridade. A argamassa de gesso apresenta capacidade de absorver grande quantidade de água por capilaridade, sendo a argamassa que absorveu maior quantidade de água. Essa capacidade pode provavelmente atribuir-se à maior finura do material (Santos et al., 2019a), que pode traduzir-se numa estrutura muito capilar.

Resumidamente, deste ensaio pode concluir-se que a argamassa T_AP é a que apresenta pior comportamento face à presença de água, com um coeficiente de capilaridade bastante superior ao das restantes argamassas e que a argamassa T_E apresenta um bom comportamento face à capilaridade, apresentando o coeficiente de capilaridade mais reduzido. Pode ainda concluir-se que a argamassa G é a que absorve maior quantidade de água por capilaridade e a argamassa de C é a que absorve menos quantidade de água, contudo com valor muito próximo da quantidade de água absorvida pela argamassa T+CL. Quanto à absorção de água no primeiro contacto, o comportamento das argamassas T+CL, C e G é bastante semelhante.

Ao comparar as argamassas de cimento e de gesso com e sem aplicação de pintura (Figura 4.8) é possível observar que a pintura pouco altera o comportamento das argamassas, estando a diferença de valores obtidos dentro do desvio-padrão. No caso da argamassa de gesso, a pintura apresenta pequena influência, sendo notória graficamente na fase inicial. Contudo, apresenta o mesmo valor de coeficiente de capilaridade. A quantidade de água absorvida pelo reboco de argamassa de gesso não pintada foi ligeiramente superior à

Apresentação e discussão de resultados

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da argamassa de gesso após pintura. Para o reboco com argamassa de cimento a diferença foi ainda menos notória. Os valores que deram origem aos valores finais encontram-se no Anexo A.2.

Figura 4.8 - Curvas de absorção de água por capilaridade (C+P e G+P).

Comparando os resultados obtidos no ensaio de absorção de água sob baixa pressão (tubos de

Karsten) e no ensaio de absorção de água por capilaridade é possível observar a argamassa T_AP não resistiu

ao contato com a água durante todo o tempo de ensaio, tendo terminado preliminarmente em ambos os casos. Apresenta por isso, o pior comportamento face à presença de água. Por outro lado, a argamassa T_E apenas apresentou mau comportamento quando em contacto com água sob pressão, pois em termos de absorção de água por capilaridade apresenta bom comportamento no contato inicial com a água e resistiu ao contacto com água durante muito tempo, nunca apresentando sinais de deterioração. Em ambos os ensaios, a argamassa T_E absorveu muito menos quantidade de água que a argamassa T_AP. Assim sendo, a argamassa T_E não tem problemas de ascensão de água por capilaridade, sendo, contudo, necessário ter cuidado com o ambiente em que se vai aplicar esta argamassa.

Observa-se ainda que a argamassa de gesso no ensaio de absorção de água por capilaridade foi a que absorveu maior quantidade de água enquanto no ensaio de absorção de água sob baixa pressão foi das que absorveu menos quantidade de água. A argamassa T+CL no ensaio de absorção de água por capilaridade apresenta comportamento muito semelhante à argamassa de C, no ensaio de absorção de água sob baixa pressão é a que apresenta maior absorção de água. A argamassa C apresenta comportamento semelhante à argamassa G em termos de absorção de água sob baixa pressão, contrariamente ao que acontece em termos de absorção de água por capilaridade em que a argamassa G absorve muito mais água que a argamassa C. Enquanto o comportamento das argamassas T+CL, C e G é muito semelhante no início do ensaio de absorção de água por capilaridade, nos primeiros 10 minutos do ensaio de absorção de água sob baixa pressão a argamassa T+CL absorveu mais do dobro da quantidade de água que a argamassa C, que também absorveu mais água que a argamassa G. Por outro lado, no fim do ensaio de capilaridade, a argamassa G absorveu

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muito mais água que a argamassa C. Em termos de absorção de água sob baixa pressão a quantidade de água absorvida no final era praticamente a mesma.

Em campanhas anteriores outros autores já haviam testemunhado que, apesar de não melhorar as características mecânicas das argamassas, a adição de cal melhora a estabilidade das argamassas de terra face à presença de água (Gomes et al., 2018; Santos et al., 2017a).

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