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Capítulo II – O ENSINO DA LEITURA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E

3.1 Acionamento do conhecimento de mundo

De acordo com os PCN (1998), a leitura é uma atividade que implica, necessariamente, compreensão, na qual os sentidos começam a ser construídos antes da leitura propriamente dita. Nessa direção, considerando os textos A menina que falava internetês (Anexo 1 - texto 1), O espelho mágico (Anexo 1 – texto 8) e os procedimentos de leitura sugeridos, apresentamos, nesta seção, estratégias que podem ser adotadas pelo educador de modo a levar os educandos a inferir, antecipar e confirmar informações implícitas e explícitas no texto.

Para iniciarmos uma atividade de leitura e produção de sentidos, devemos ter em mente o fato de que grande parte da compreensão do texto baseia-se no conhecimento prévio do leitor. Nesse sentido, antes da leitura, é importante que se instaure um diálogo para contextualizar o leitor a respeito do que será lido.

Nesse diálogo, o educador deve apresentar o(s) objetivo(s) da leitura, ou seja, explicar o que será lido e porque será realizada a leitura. Além disso, é preciso abordar o conhecimento e as experiências prévias do leitor sobre o assunto do texto por meio de perguntas que o levem a fazer previsões, considerando o título do texto. Em relação ao texto A menina que falava internetês, a seguir, apresentamos uma possível intervenção, que pode ocorrer antes da leitura do texto ser realizada pelo educador:

Bem, hoje vamos ler um texto que aborda um assunto muito presente no dia a dia de todos nós, por isso precisamos refletir um pouco sobre ele. Ao ler o texto, vocês vão descobrir se há diferença quanto à linguagem usada pelos personagens e como isso aparece no texto. O título do texto é A menina que falava internetês. O título é um elemento importante do texto, porque ele nos orienta em relação ao enfoque dado ao tema pelo autor. O que será que esse título quer dizer? Todos vocês sabem o que é internetês? Vocês falam internetês? Que tipo de pessoa que vocês conhecem fala internetês? Em que situação as pessoas falam internetês? Que história girará em torno desse título?

Ao apresentar o objetivo da leitura, o educador estabelece uma interação inicial do leitor com o texto, de modo a constituir a orientação necessária à adequada compreensão do texto. Estabelecendo um diálogo com base no título do

texto, o educador leva o educando a inferir e a prever informações por meio do acionamento de conhecimentos de mundo relacionados com o título, mais precisamente, com o vocabulário. Com a última pergunta, são fornecidas pistas para o leitor perceber que se trata de uma narrativa. A palavra história, por exemplo, remete o leitor à representação textual de uma narrativa.

As perguntas iniciais, que contribuem para o acionamento de conhecimento de mundo do leitor sobre o texto, devem ser planejadas pelo educador com o objetivo de aproximar o leitor das características de linguagem presentes no texto, de modo a levá-lo a antecipar o argumento do texto com base no título.

Depois dessa etapa, o educador retoma o diálogo com os educandos para verificar se as hipóteses levantadas por eles com base no título foram confirmadas ou não no texto, como mostramos a seguir:

As previsões que vocês fizeram sobre o assunto do texto, com base no título, foram confirmadas?

Com esse tipo de questionamento, o educador inicia o debate sobre o conteúdo do texto. Nessa etapa da aula, cabe ao educador desenvolver estratégias que levem o leitor a mobilizar os diversos tipos de conhecimento armazenados na memória, adequados à compreensão do texto. Entre essas estratégias, temos a elaboração de perguntas que levem o leitor a acionar conhecimentos alusivos a experiências pessoais com a linguagem usada na internet para conversar; já que o uso da estenografia (técnica de escrita que utiliza caracteres abreviados especiais) aparece no texto A menina que falava internetês e contribui para a construção de sentido.

O acionamento de conhecimento de mundo pode ocorrer durante uma leitura colaborativa, sugerida pelo educador, em que ele lance indagações baseado em cada unidade significativa do texto, com o objetivo de apoiar o leitor na construção de suas interpretações, como apresentamos a seguir:

Bem, vamos pensar um pouco sobre as informações do texto. A primeira coisa que vamos fazer é descobrir algumas ideias sugeridas no texto. A mãe era moderna? O que a mãe entende por modernidade? A mãe obteve sucesso em seu intento? Qual é o assunto abordado no texto? Qual foi a intenção do autor com este texto?

Vale lembrar que essas perguntas não exigem respostas prontas dos alunos; elas objetivam orientar o leitor na construção de inferências, que partem de relações contextuais e coesivas do texto. Desse modo, o educador toma o trabalho de compreensão como uma atividade cooperativa e inferencial, em que o sentido do texto não é um produto do autor, manifestado no texto e reproduzido pelo leitor, por meio de perguntas e repostas, e sim o resultado da interação entre texto e leitor. Esse tipo de perguntas inferenciais é o ponto-chave para ajudar o leitor a prestar mais atenção a determinadas informações que podem ativar o conhecimento prévio adequado à compreensão, ou seja, à reformulação de hipóteses.

Ainda em relação ao acionamento do conhecimento de mundo, considerando o texto O espelho mágico (Anexo 1 - texto 8), uma possível intervenção a ser realizada pelo educador, antes da leitura do texto, pode ser a seguinte:

Bem, hoje vamos ler um texto que nos remete para o universo encantado muito presente nos contos de fada. Ao ler o texto, vocês vão discutir sobre as ideias abordadas no texto. O título do texto é O espelho mágico. Que ideias a palavra espelho sugere? Que ideias a palavra mágico sugere? Que assunto pode ser abordado em um texto com esse título?

Com essas perguntas, o educador permite ao educando acionar conhecimentos adquiridos ao longo de sua vida e isto influencia decisivamente no processo de compreensão do texto a ser lido, uma vez que “para haver compreensão é preciso que o mundo textual do emissor e do receptor tenha um certo grau de similaridade” (KOCH & TRAVAGLIA, 2011, p.62). Daí a importância do educador desenvolver estratégias de acionamento de conhecimento de mundo do leitor relacionado com o texto.