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PARTE 2 – REMUNERAÇÃO DA MÃO DE OBRA

2.1. R EMUNERAÇÃO

2.1.6. Adicional de hora extra

Todo trabalhador é contratado para prestar serviços ao seu empregador mediante o

pagamento de salário correspondente a uma determinada jornada diária. Tem-se assim, uma

adequação do salário à jornada pactuada.

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A jornada de trabalho é limitada no tempo. Os limites são estabelecidos pela Constituição

Federal:

CF/88

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais [...]

XIII – duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho;

Estabelece também a Constituição Federal jornada diária máxima de 6 horas para o

trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento (inciso XIV), que não

comentaremos, por representar hipótese de dificílima ocorrência em contratos de

terceirização.

Desde que previsto em acordo escrito entre empregador e empregado ou em instrumento

coletivo de trabalho, a jornada diária pode ser acrescida de, no máximo, duas horas

extraordinárias (ressalvados os casos excepcionais previstos no art. 61 da CLT), que serão

remuneradas com acréscimo de, no mínimo, 50% do valor das horas normais.

CLT

Art. 59. A duração normal do trabalho poderá ser acrescida de horas suplementares, em número não excedente de 2 (duas), mediante acordo escrito entre empregador e empregado, ou mediante contrato coletivo de trabalho.

CF/88

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais [...]

XVI – remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinquenta por cento à do normal;

O adicional de hora extra corresponde, portanto, a esse acréscimo remuneratório devido

pelos serviços extraordinários prestados além da jornada normal de trabalho.

A Súmula 264 do TST esclarece didaticamente o modo de calcular o adicional de hora

extra.

JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO Súmula 264

A remuneração do serviço suplementar é composto do valor da hora normal, integrado por parcelas de natureza salarial e acrescido do adicional previsto em lei, contrato, acordo, convenção coletiva ou sentença normativa.

Segue exemplo de cálculo do valor de uma hora extra, considerada a jornada semanal de

44 horas:

Hora extra = (hora normal / 220) + 50%

Considerando o salário mensal de R$ 2.000,00 para uma jornada de 44 horas semanais

(220 horas/mês) e a realização de 10 horas extras no mês, temos:

Salário = 2.000,00

Horas trabalhadas no mês = 220

Valor da hora normal = (2.000,00 / 220) = 9,09

Valor da hora extra = 9,09 x 1,5 = 13,63

Valor do adicional de hora extra = (13,63 x 10) = 136,30

A regra é, portanto, que os serviços extraordinários sejam devidamente remunerados,

sendo cada hora extra acrescida de 50% do valor da hora normal.

Não obstante, a CF/88 (art. 7º, XIII) e a CLT admitem a compensação de jornada, vale

dizer, dispensam o pagamento do adicional de hora extra pela realização de serviço

extraordinário em um dia, se for assegurada ao trabalhador a correspondente diminuição da

jornada em outro dia.

CLT Art. 59. [...]

§ 2º Poderá ser dispensado o acréscimo de salário se, por força de acordo ou convenção coletiva de trabalho, o excesso de horas em um dia for compensado pela correspondente diminuição em outro dia, de maneira que não exceda, no período máximo de um ano, à soma das jornadas semanais de trabalho previstas, nem seja ultrapassado o limite máximo de dez horas diárias.

O requisito essencial para que seja admissível a compensação de jornada é a expressa

autorização em acordo individual (compensação na semana) ou em norma coletiva de

trabalho (compensação no ano, ou “banco de horas”).

Há uma série de outros aspectos do adicional de hora extra que não abordaremos neste

Curso. Para aprofundar seus conhecimentos a respeito do assunto, consulte o material indicado

na seção “Leitura Complementar”. Recomendamos, também, o atento exame dos seguintes

enunciados do TST a respeito da matéria:

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- Súmulas TST que tratam de hora extra: 115, 118, 132, 172, 199, 215, 230, 264, 291,

338, 347, 366 e 376.

- Orientações Jurisprudenciais da Seção de Dissídios Individuais 1 do TST (OJ-SDI-1):

47, 97, 233, 242, 355, 394 e 415.

Para os fins do nosso estudo, o que abordamos até aqui é suficiente. Frisamos que o

adicional de hora extra somente será cotado em nossa planilha se os estudos preliminares

sugerirem expressa previsão, no Projeto Básico ou Termo de Referência e no contrato, das

horas suplementares estritamente necessárias para a execução dos serviços.

Consideramos pouco provável (raro, poderíamos dizer) que os contratos administrativos

prevejam a realização sistemática de horas extras, vale dizer, que a Administração exija a

prestação habitual de serviços com extrapolação da jornada máxima prevista na Constituição

Federal.

O Tribunal de Contas da União tem considerado ilegal a previsão de horas extras nas

planilhas orçamentárias para contratos de terceirização:

JURISPRUDÊNCIA DO TCU [VOTO]

52.3. Há previsão injustificada de horas-extras para diversas categorias profissionais, o que, a princípio, é uma decisão gerencial da empresa, não devendo a Administração Pública prever no orçamento-base da licitação a adoção de tal prática pela futura contratada.

[...]

53. Considerando que a Hemobrás não teve oportunidade de se manifestar sobre os

indícios de sobrepreço verificados no orçamento base do edital de licitação, entendo pertinente determinar que a estatal reavalie o orçamento-base da licitação com base nas considerações realizadas acima, por ocasião da publicação de nova licitação para a contratação dos serviços de gerenciamento da implantação da fábrica de hemoderivados. [ACÓRDÃO]

9.3. determinar à Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia, com fundamento no art. 250, inciso II, do Regimento Interno do TCU, que:

9.3.1 reavalie orçamento-base do objeto da referida licitação à luz das considerações feitas no voto condutor que fundamenta a presente deliberação;

(Acórdão 479/2015 - Plenário )

JURISPRUDÊNCIA DO TCU [RELATÓRIO]

63. O pregoeiro afirma, ainda, que após a fase de lances, o valor final da proposta da referida empresa passou a ser de R$ 2.549.524,51 para um período de 12 meses, o que seria inferior ao valor estimado de R$ 3.163.944,00 pela Administração da Eletronorte para o mesmo período, conforme teria constado da requisição de compra.

64. Assim o valor estimado pela Administração da Eletronorte correspondeu a R$ 2.392.061,30 referente ao custo de salários fixados pela Eletronorte, os quais teriam sido somados ao valor de R$ 771.932,70, que corresponderiam ao pagamento de horas extras, que, segundo registrou, somente seriam pagos se fossem autorizados pela Eletronorte. [...]

77. Portanto, não merece prosperar o argumento do pregoeiro da Eletronorte no sentido de que o valor contratado (R$ 2.549.524,51) estaria abaixo do valor estimado pela empresa (R$ 3.163.944,00), porquanto o valor contratado deveria ter como parâmetro a planilha orçamentária elaborada pela empresa contratante específica para o Pregão sob exame (R$ 2.392.061,30).

78. Ora, reitera-se que não se pode admitir que se tenha por base para licitação um valor que compreenda o pagamento de horas extras fixas. O próprio conceito do vernáculo extraordinário denúncia o equívoco na sua fixação para fins de orçamento de licitação, pois significa “não ordinário, fora do comum, excepcional, anormal”.

79. A propósito, verifica-se que o termo de referência do certame já estipulava uma jornada de duzentas e vinte horas para os profissionais contratados, procedimento que afronta o caráter de excepcionalidade e temporariedade do qual o serviço extraordinário deve estar revestido. Ressalte-se que a legislação trabalhista vigente estabelece que a duração normal do trabalho, salvo os casos especiais, será de 8 horas diárias e quarenta e quatro semanais, no máximo, o que representaria uma média mensal de 176 (cento e setenta e seis) horas, podendo, todavia, a jornada diária de trabalho dos empregados maiores ser acrescida de horas suplementares, em número não excedentes a duas, no máximo, para efeito de serviço extraordinário, mediante acordo individual, acordo coletivo, convenção coletiva ou sentença normativa. Excepcionalmente, ocorrendo necessidade imperiosa, poderá ser prorrogada além do limite legalmente permitido. 80. Desse modo, entende-se que a afirmação de que a proposta da empresa Servi-San foi analisada frente à estimativa da Eletronorte para o dispêndio naquele exercício, na qual estava computada parcela significativa de recursos para pagamento de horas extraordinárias não deve ser acolhida, porque se constitui em conduta antieconômica, haja vista ter ultrapassado o orçamento elaborado pela própria Eletronorte.

[ACÓRDÃO]

9.3. dar ciência as Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A – Eletronorte, de que: [...]

9.3.2. a fixação de horas extraordinárias no edital de procedimento licitatório é ilegal, porque afronta seu conceito e o caráter de excepcionalidade e temporariedade do qual o serviço extraordinário deve estar revestido.

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De fato, esse tipo de previsão – horas extras habituais – é um risco para a Administração,

porquanto a habitualidade acarreta a integração da parcela ao salário do trabalhador, para

todos os fins, e a sua supressão gera direito a indenização. É o entendimento do TST:

JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO Súmula 376

I - A limitação legal da jornada suplementar a duas horas diárias não exime o empregador de pagar todas as horas trabalhadas.

II - O valor das horas extras habitualmente prestadas integra o cálculo dos haveres trabalhistas, independentemente da limitação prevista no "caput" do art. 59 da CLT.

JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO Súmula 291

A supressão, pelo empregador, de serviço suplementar prestado com habitualidade, durante pelo menos 1 (um) ano, assegura ao empregado o direito à indenização correspondente ao valor de 1 (um) mês das horas suprimidas, total ou parcialmente, para cada ano ou fração igual ou superior a seis meses de prestação de serviço acima da jornada normal. O cálculo observará a média das horas suplementares efetivamente trabalhadas nos últimos 12 (doze) meses anteriores à mudança, multiplicada pelo valor da hora extra do dia da supressão.

Assim, em face do entendimento jurisprudencial e das ponderações aqui aduzidas,

recomendamos que o adicional de hora extra somente seja previsto, e cotado na

planilha, se for absolutamente imprescindível para a execução dos serviços, com amparo

em justificativas técnicas expressamente consignadas nos estudos técnicos preliminares e nos

autos do processo de contratação.

IN 02/2008

Art. 11. A contratação de serviços continuados deverá adotar unidade de medida que permita a mensuração dos resultados para o pagamento da contratada, e que elimine a possibilidade de remunerar as empresas com base na quantidade de horas de serviço ou por postos de trabalho.

§ 1º Excepcionalmente poderá ser adotado critério de remuneração da contratada por postos de trabalho ou quantidade de horas de serviço quando houver inviabilidade da adoção do critério de aferição dos resultados.

§ 2º Quando da adoção da unidade de medida por postos de trabalho ou horas de serviço, admite-se a flexibilização da execução da atividade ao longo do horário de expediente, vedando-se a realização de horas extras ou pagamento de adicionais não previstos nem estimados originariamente no instrumento convocatório.

Ordinariamente, portanto, o adicional de hora extra não será previsto na planilha de

custos e formação de preços, porquanto não se recomenda a execução dos serviços contratados

com extrapolação da jornada de trabalho máxima permitida.

2.1.7. Outras Parcelas Remuneratórias Previstas no Modelo de Planilha Proposto