• Nenhum resultado encontrado

ADMINISTRATIVO – UFRJ – ISENÇÃO DE VESTIBULAR PARA MATRÍCULA EM OUTRO CURSO A PORTADOR DE GRADUAÇÃO EM NÍVEL SUPERIOR – VINCULAÇÃO AO INSTRUMENTO CONVO-

No documento Revista SÍNTESE Direito Administrativo (páginas 96-102)

Tribunal Regional Federal da 2ª Região

ADMINISTRATIVO – UFRJ – ISENÇÃO DE VESTIBULAR PARA MATRÍCULA EM OUTRO CURSO A PORTADOR DE GRADUAÇÃO EM NÍVEL SUPERIOR – VINCULAÇÃO AO INSTRUMENTO CONVO-

CATÓRIO – NÃO APRESENTAÇÃO DOS DOCUMENTOS NECESSÁRIOS

1. O edital é ato vinculante tanto para a Administração Pública quan- to para os candidatos que se inscrevem no concurso e, por isso, pas- sam a ter que observar as regras estabelecidas no ato convocatório do certame. O edital tem caráter geral e, uma vez publicado e iniciado o concurso, não é possível disposição em contrário relativamente às regras previamente estabelecidas.

2. Ao cuidar do direito à educação, a Constituição da República esta- beleceu, em seu art. 206, os princípios fundamentais do ensino, entre os quais o da liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber, e o da igualdade de condições para o acesso e permanência na escola.

3. No caso, o Impetrante não colacionou aos autos documento capaz de comprovar que já cursara 70% das disciplinas do curso pretendi- do, conforme previsão do artigo 7º do Edital nº 92 da UFRJ.

4. Autorizar a matrícula pretendida pelo Apelante no Curso de Ar- quitetura e Urbanismo da UFRJ significaria permitir-lhe o acesso à instituição de ensino em condições diversas daquelas estabelecidas para seus concorrentes, que também desejam uma vaga no referido curso, mas que, para tanto, têm que se submeter às normas previstas no Edital, isto é, seria conferir-lhe um tratamento privilegiado e, em última análise, anti-isonômico.

5. Apelação desprovida. Sentença confirmada.

acÓrdão

Vistos e relatados os presentes autos em que são partes as acima indi- cadas, decide a Quinta Turma Especializada do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, por unanimidade, negar provimento ao recurso, na forma do Relatório e do Voto, que ficam fazendo parte do presente julgado.

Rio de Janeiro, 8 de abril de 2014 (data do Julgamento). Marcus Abraham

Desembargador Federal Relator

relatÓrio

Trata-se de apelação cível interposta por Carlos Alberto dos Anjos, inconformado com a sentença proferida pelo Juízo da 27ª Vara Federal do Rio de Janeiro, no Mandado de Segurança impetrado em face do Diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, objetivando ordem para compelir a autoridade impetrada a promover, no prazo de 10 (dez) dias, a matrícula do Impetrante “[...] no curso de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ, por violação ao art. 2º e art. 150 da Lei nº 9.784/1999”.

Na exordial, alegou o Impetrante que: 1. participou do processo se- letivo para transferência externa, mudança de curso e isenção de vestibular – 2010-1, regido pelo Edital nº 92, de 16.12.2009 (fls. 14/21), pleiteando a sua matrícula com isenção de vestibular, em razão de já ter se graduado no curso de Direito pela Sociedade Unificada de Ensino Superior Augusto Motta (diploma às fls. 13/13v.), conforme o protocolo de inscrição acostado à fl. 12; 2. teve sua inscrição indeferida, sendo informado verbalmente, por funcionário da UFRJ, que a razão para o indeferimento seria “[...] o não preenchimento do que preceitua o item ‘a’ do art. 7º do Edital nº 92, de 16.12.2009,” (sic, fl. 03), sendo-lhe declarado pelo referido funcionário, que “[...] não revelaria esse fundamento por escrito e nem através de outro qualquer documento relativo ao citado processo...” (sic, fl. 03); 3. somente após vários dias é que foi exarado despacho administrativo, pela Autoridade Impetrada, confirmando que os motivos do indeferimento de sua inscrição já haviam sido informados verbalmente (fl. 31); 4. uma vez não tendo trazi-

do em seu histórico escolar os 70% (setenta por cento) de disciplinas com- patíveis com o Curso desejado, não seria isso o bastante para qualificá-lo como inapto para efetuar o exame seletivo, onde certamente comprovaria estar apto para matrícula.

A sentença proferida pelo Juízo da 27ª Vara Federal do Rio de Janei- ro, às fls. 51/56, julgou improcedente o pedido, com fulcro no art. 269, I, do CPC, sem condenação em honorários advocatícios (Súmula nº 512 do STF e 105 do STJ). Fundamentou que os requisitos necessários à obtenção de matrícula por isenção de vestibular, conforme o art. 7º do Edital nº 92, são: “Art. 7º Para isenção de vestibular: (a) será deferida a inscrição para o

processo seletivo de ingresso por isenção de vestibular quando o requerente for graduado e tiver cursado com aprovação, em equivalência, pelo menos 70% dos créditos das disciplinas isentas de pré-requisitos do currículo do curso pleiteado, obedecidas também as respectivas Normas complementa- res, quando couber.”

Assim, o Impetrante comprovou, tão somente o cumprimento do pri- meiro requisito exigido para deferimento de inscrição – qual seja a gradua- ção (fls. 13/13v.) –, tendo, no entanto, deixado de acostar aos autos, sequer, o seu histórico escolar, documento essencial à comprovação do atendimen- to ao segundo requisito exigido.

Inconformado, o Impetrante apelou, às fls. 64/72, aduzindo que o fato de não ter juntado aos autos o seu histórico escolar não seria o bastante para qualificá-lo como inapto para efetuar o exame seletivo.

Contrarrazões às fls. 77/79.

O Ministério Público Federal, às fls. 85/86, opinou pelo desprovimen- to da apelação.

É o relatório. Peço dia para julgamento. Marcus Abraham

Desembargador Federal Relator

voto

Conforme relatado, trata-se de apelação cível interposta por Carlos Alberto dos Anjos, inconformado com a sentença proferida pelo Juízo da 27ª Vara Federal do Rio de Janeiro, no Mandado de Segurança impetrado em face do Diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universi-

dade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, objetivando ordem para compelir a autoridade impetrada a promover, no prazo de 10 (dez) dias, a matrícula do Impetrante “... no curso de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ, por violação ao art. 2º e art. 150 da Lei nº 9.784/1999”.

Na exordial, alegou o Impetrante que: 1. participou do processo se- letivo para transferência externa, mudança de curso e isenção de vestibular – 2010-1, regido pelo Edital nº 92, de 16.12.2009 (fls. 14/21), pleiteando a sua matrícula com isenção de vestibular, em razão de já ter se graduado no curso de Direito pela Sociedade Unificada de Ensino Superior Augusto Motta (diploma às fls. 13/13v.), conforme o protocolo de inscrição acosta- do à fl. 12; 2. teve sua inscrição indeferida, sendo informado verbalmente, por funcionário da UFRJ, que a razão para o indeferimento seria “... o não preenchimento do que preceitua o item ‘a’ do art. 7º do Edital nº 92, de 16.12.2009,” (sic, fl. 03), sendo-lhe declarado pelo referido funcionário, que “... não revelaria esse fundamento por escrito e nem através de outro qualquer documento relativo ao citado processo...” (sic, fl. 03); 3. somente após vários dias é que foi exarado despacho administrativo, pela Autoridade Impetrada, confirmando que os motivos do indeferimento de sua inscrição já haviam sido informados verbalmente (fl. 31); 4. uma vez não tendo trazi- do em seu histórico escolar os 70% (setenta por cento) de disciplinas com- patíveis com o Curso desejado, não seria isso o bastante para qualificá-lo como inapto para efetuar o exame seletivo, onde certamente comprovaria estar apto para matricula.

Conheço do recurso, eis que presentes os seus pressupostos de ad- missibilidade.

A autonomia universitária, evidentemente entendida de maneira har- mônica com outros princípios constitucionais, por mais tímida que possa ser interpretada, deve refletir a garantia fundamental, esculpida no art. 207 da Constituição Federal, destinada a preservar o planejamento didático- -pedagógico e a previsão orçamentária, em relação aos quais mostra-se in- conciliável o acesso à universidade, de forma indiscriminada, aleatória, em qualquer época do ano e sem processo seletivo.

De fato, a admissão de candidatos em número superior à capacidade de absorção da universidade destrói qualquer planejamento orçamentário e pedagógico no tocante ao acolhimento de estudantes universitários, com a consequente deterioração do ensino superior.

O ensino universitário depende de estruturas dispendiosas, em termos de laboratórios, recursos de informática, biblioteca, disponibilidade docen-

te para o ensino e orientação de pesquisas e quantitativo de funcionários. Daí ser indispensável o respeito ao número de vagas disponíveis pela Insti- tuição de Ensino Superior.

Na presente hipótese, o Apelante não logrou demonstrar a existência de direito líquido e certo a ser amparado, já que não colacionou aos autos documento capaz de comprovar que já cursara 70% das disciplinas do cur- so pretendido, conforme previsão do art. 7º do Edital nº 92: “Art. 7º Para

isenção de vestibular: (a) será deferida a inscrição para o processo seletivo de ingresso por isenção de vestibular quando o requerente for graduado e tiver cursado com aprovação, em equivalência, pelo menos 70% dos cré- ditos das disciplinas isentas de pré-requisitos do currículo do curso pleitea- do, obedecidas também as respectivas Normas complementares, quando couber.”

E ainda que não fosse essa a causa para não obter a isenção do ves- tibular, não assistiria razão ao Impetrante, visto que seu pedido liminar foi no sentido de garantir a sua matrícula no curso de Arquitetura e Urbanismo, independentemente de ter participado no processo seletivo, violando assim o Princípio da Isonomia.

Sobre a questão, esta Corte já se manifestou, como se infere do se- guinte julgado:

ADMINISTRATIVO – UFES – PROCESSO SELETIVO DE 2010 – RESERVA DE VAGA – VINCULAÇÃO AO INSTRUMENTO CONVOCATÓRIO – NÃO APRESENTAÇÃO DOS DOCUMENTOS NECESSÁRIOS NO PRAZO PRE- VISTO

1. Na presente ação, a autora insurge-se contra o indeferimento do seu re- querimento administrativo que objetiva sua inclusão no Programa “Reserva de Vagas” no Processo Seletivo de 2010 da UFES, objetivando seja determi- nada a sua inclusão no aludido programa, com a consequente correção da prova realizada na 2ª etapa do certame.

2. Sobreleva-se notar, à luz do princípio da vinculação ao instrumento con- vocatório, que em matéria de concurso público o edital faz lei entre as par- tes. Assim, não assiste razão à apelante, encontrando-se a decisão objurgada em consonância com o entendimento jurisprudencial quanto à vinculação dos candidatos às normas editalícias (STF, STA 106, DJ 20.03.2007). 3. Analisando a relação descrita no referido item 3.1, a narrativa exposta na inicial, os esclarecimentos prestados pela Secretaria de Inclusão Social (SIS) da UFES (fls. 36/37) e o processo administrativo juntado aos autos às fls. 64/69, verifica-se que a Autora não apresentou, no prazo previsto para tanto, todos os documentos necessários ao deferimento da sua inscrição

como cotista no Processo Seletivo 2010 da UFES. Neste contexto, a deci- são tomada pela Ré de indeferir o requerimento da Autora não apresenta qualquer arbitrariedade, estando ancorada em norma editalícia que rege o concurso em destaque e no tratamento isonômico que deve ser dispensado a todos os estudantes interessados em se inscreverem como cotistas. (g.n.) 4. Apelação desprovida.

(TRF 2ª R., AC 201050010030609, 8ª T.Esp., Des. Fed. Poul Erik Dyrlund, 03.05.2011)

Diante do exposto, nego provimento ao recurso, mantendo a senten- ça em todos os seus termos.

É como voto. Marcus Abraham Desembargador Federal Relator

6497

No documento Revista SÍNTESE Direito Administrativo (páginas 96-102)