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A percentagem de ervas medicinais e suplementos nutricionais no mercado mundial é elevada e aumenta todos os anos. Contudo, alguns fabricantes incluem drogas sintéticas nos seus produtos comercializados como erva medicinal ou suplemento nutricional durante o processo de fabrico, com o objectivo de aumentar e melhorar o efeito terapêutico dos seus produtos (Liang et

al., 2006; Cianchino et al., 2008).

No caso da A. vera, o elevado custo do material no mercado faz com que a adulteração represente uma grande preocupação. Os sumos e géeis de A. vera são geralmente caros, 1l de sumo de aloe vera pode custar cerca de 30 euros (Lachenmeier et al., 2005).

Na produção de sumos e géeis de Aloe vera, alguns produtores empregam frequentemente preservativos artificiais como o ácido benzóico ou o ácido sórbico para estabilizar o extracto da planta e conservar os ingridientes valiosos. A parte desta adição ilegal de preservativos às bebidas de Aloe vera, os produtos adulterados que não contém uma quantidade significativa de ingridientes de Aloe vera também são comercializados. Para além disto, é possível que seja adicionada água ao sumo original de Aloe vera em alguns produtos. Portanto, para um controlo de qualidade completo das bebidas de Aloe vera, as seguintes análises devem ser efeituadas: investigação de autenticidade (identidade, adulteração e diluição), teste para detectar preservativos inadmissíveis e a determinação do contéudo em aloína (Lachenmeier et al., 2005). Na análise efectuada por Lachenmeier et al. (2005), a adição ilegal de preservativos foi verificada em 17 de 24 amostras (71%) de produtos alimentares de Aloe vera correntemente disponíveis. Muitos sumos de Aloe vera são preservados pela adição de ácido sórbico ou ácido benzóico em concentrações superiores a 1000mg/l. Como a preservação de sumos de Aloe vera é proibida na União Europeia (Directiva 95/2/EC), vários produtores adicionam ácido ascórbico aos seus produtos e declaram-nos suplementos alimentares, uma vez que estes podem conter preservativos. Isto é muito importante porque os produtos que não contêm nutrientes concentrados ou outros ingridientes de valor nutricional ou fisiológico, mesmo com a adição de ácido ascórbico não devem ser qualificados de suplementos alimentares. As análises efectuadas às bebidas com Aloe vera levam a conclusão que este produto não levanta questões de higiene mas essencialmente preocupações a nível legal (Lachenmeier et al., 2005). A percentagem considerável de produtos ilegalmente preservados encontrada no estudo realizado por Lachenmeier et al. (2005) mostra que existe a necessidade de maior controlo para se assegurar a qualidade do produto com relação aos preservativos.

30 A substância que é geralmente utilizada para adulterar o pó do gel de A. vera é a maltodextrina. A glucose, a glicerina e o ácido malico também têm sido utilizados (Bozzi et al., 2007). Vários estudos realizados confirmam estes factos. Kim et al. (1998) conduziu uma investigação sobre 21 amostras de pó do gel de A. vera comerciais e descobriu que 33% das amostras examinadas continham elevadas concentrações de maltodextrina não declarada (Bozzi

et al., 2007).

No estudo realizado por Bozzi et al. (2007), nove concentrados em pó de gel de A. vera foram examinados e comparados com o gel fresco de A. vera. Foram utilizados os métodos 1HNMR (ressonância magnética nuclear de protões), perfil de ácidos orgânicos, perfil de ácucares livres e análise de áçucares para avaliar a autenticidade e qualidade dos produtos. Bozzi

et al., 2007 referem que o 1HNMR é uma ferramenta essencial para avaliar a identidade e

qualidade de preparações do gel de A. vera, pois num espectro 1HNMR os grupos acetil característicos do acemannan geram um sinal característico que pode ser considerado como a impressão digital da A. vera. Os compostos essenciais do gel, acenamannan, ácido málico e glucose, foram identificados através de 1HNMR. Verificou-se que a qualidade das amostras analisadas era bastante inconsistente e nalguns casos muito pobres. Entre as nove amostras de pó do gel de A. vera tomados em consideração neste estudo, verificou-se que três continham quantidades muito baixas de acemannan e muitas mostraram um importante grau de degradação (Bozzi et al., 2007). Bozzi et al., 2007 analisaram 18 amostras comerciais de produtos de A. vera e observaram que apenas nove continham quantidades quantificáveis de polissacáridos. Foram detectadas quantidades vestigiais em duas amostras, enquanto 7 amostras não continham polissacáridos sequer. Isso é um dado importante porque uma concentração apropriada de polissacáridos é um requerimento indispensável para um pó concentrado de gel de qualidade aceitável.

O perfil dos ácidos orgânicos forneceu informação sobre a frescura do produto e o tempo entre a colheita e o processamento. O único ácido orgânico contido no gel de A. vera fresco foi o ácido málico. Os pós comerciais do gel de Aloe vera, pelo contrário, continham concentrações importantes de outros ácidos para além do ácido málico. Os mais abundantes foram os ácidos citríco, láctico e succínico (Bozzi et al., 2007). O ácido citríco é largamente utilizado como aditivo na indústria alimentar. É relativamente barato e seguro e é utilizado geralmente para ajustar o pH do sumo do gel de A. vera para 3.0-3.5 antes da concentração e secagem. O ácido láctico e o ácido succínico, como são indicadores de fermentação bacteriana e degradação enzimática, não deveriam existir num concentrado do gel de A. vera de boa qualidade. A

31 presença de ácido acético em algumas amostras, até se em baixas concentrações, indicam que ocorreu alguma degradação química (Bozzi et al., 2007).

No gel de A. vera fresco foram encontrados essencialmente frutose e glucose numa razão 1:2 frutose: glucose. Por outro lado, a concentração destes mesmos dois açúcares em amostras de pó do gel foram muito variáveis e nem sempre consistente (Bozzi et al., 2007).

Muitos métodos têm sido desenvolvidos para detectar a adulteração e estabelecer a autenticidade dos pós do gel da A. vera. O ácido málico e alguns compostos como aloesin, aloína e aloe-emodina, têm sido propostos como marcadores (Bozzi et al., 2007), embora a sua concentração nos pós do gel de Aloe vera possa variar significativamente devido a variabilidade biológica normal e dependa do processo de manufacturação. A análise de carbohidratos também tem sido considerada. Contudo, neste caso apenas a adulteração com açúcares (i.e. glucose, sucrose) ou polissacáridos (i.e. maltodextrina) poderia ser revelada (Bozzi et al., 2007).

O gel de A. vera não deveria conter aloína ou outros derivados de hidroxiantracenos, uma vez que estes estão exclusivamente concentrados na parte exterior das folhas. Contudo, o processo de separação mecânica nem sempre é completo, logo algum látex pode ser encontrado no gel (Bozzi et al., 2007). No entanto, os produtos de Aloe vera só são adequados ao consumo humano se não tiverem aloína. Estes produtos são considerados livres de aloína se não excederem um máximo de 0,1mg/l (Directive 88/388/CE). Apenas um dos produtos (1 em 24 amostras) testados por Lachenmeier et al. (2005) apresentou uma concentração de aloína acima do limite legal. Em estudos anteriores este era um erro frequente, levando a interpretação que os fabricantes melhoraram os seus métodos de produção e/ou sistema de qualidade e segurança alimentar. As bebidas de Aloe vera são controladas pelo método oficial de controlo de alimentos e actualmente muitos destes produtos obedecem ao limite legal de aloína.

A adulteração destes produtos viola regulamentos relevantes e leis da maioria dos países. Adicionalmente, a segurança destes produtos adulterados não foi ainda testada clinicamente e pode causar efeitos imprevisíveis na saúde dos utilizadores (Liang et al., 2006). Quando estes produtos contendo drogas terapêuticas sintéticas como adulterantes são administrados, podem ocorrer interacções farmacocinéticas e/ou farmacodinâmica erva/droga (Cianchino et al., 2008). Tem sido relatada reacções adversas e toxicidade no coração, fígado, sangue, rins, sistema nervoso central e pele e carcinogênese (Cianchino et al., 2008).

É necessário que haja monitorização para assegurar a segurança, eficácia e qualidade das ervas medicinais e as suas preparações. O controlo de qualidade deve consistir na verificação regular da qualidade das ervas medicinais e ser efectuada de acordo com as especificações do produto que detalha as especificações para a identificação, pureza e conteúdo dos compostos

32 característicos (Leśniewicz et al, 2006). De igual forma, o conteúdo em compostos não desejáveis como os herbicidas, pesticidas, metais pesados, aflatoxinas, microorganismos, micotoxinas, insectos e contituintes herbais não declarados, devem ser verificados no material crú da planta medicinal. É muito importante conhecer o nível de macroelementos e microelementos, para estimar o seu papel das ervas medicinais como fonte destes compostos na dieta humana porque a níveis elevados esses metais podem ser perigosos ou tóxicos. Essas precauções são indispensáveis quando são consumidas quantidades elevadas dos produtos, isto é, quando doses recomendadas são seguidas numa terapia a longo prazo (Leśniewicz et al, 2006). Com o objectivo de banir a produção e marketing de produtos adulterados, as autoridades competentes necessitam urgentemente de um método geral e eficaz para rastrear os produtos adulterados de numerosas marcas de ervas medicinais e suplementos nutricionais que surgem no mercado (Liang et al., 2006).

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