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1 DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO

4.2 AGRAVO PARA FINS DE REFORMA DAS DECISÕES

4.2.2 Agravo de Instrumento

O agravo de instrumento, como meio excepcional, é viabilizado pelo texto legal em três hipóteses distintas: (i) quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação; (ii) em casos de inadmissão de apelação; e (iii) em decisão relativa aos efeitos que a apelação é recebida.

Para melhor definir as hipóteses de cabimento do recurso de agravo de instrumento Marinoni e Arenhart dissertam que “Quando o agravo em sua forma retida for incompatível com a necessidade de impugnação do ato judicial, faltará interesse recursal em seu uso, de modo que a única via que se divisa será a via por instrumento.”216

Assim, por exemplo, decisões que – conquanto não acarretem dano grave e de difícil reparação – imponham tumulto processual ou determinem modificação substancial do

216 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Processo Civil: Processo de conhecimento. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 535.

procedimento a ser seguido, por conta de sua repercussão para o trâmite processual, deverão comportar agravo por instrumento, já que nenhuma utilidade haverá em sua discussão apenas após a sentença.217

Seguindo esta linha Teresa Arruda Alvim Wambier assevera que “O legislador deveria ter dito claramente que os agravos serão de instrumento também no processo de execução, já que não se trata de processo vocacionado a gerar sentença, de que se venha a interpor apelação. O mesmo se deve dizer quanto à fase de liquidação de sentença, de cuja decisão hoje cabe agravo.”218

O trecho da lei que fala em “lesão grave e de difícil reparação” traz ao mundo jurídico um conceito indeterminado, que deve ser estabelecido em conformidade com o caso concreto. A definição conceitual deste termo envolve a ideia abordada pela teoria das tutelas de urgência (tutela cautelar e tutela antecipada). Nas palavras de Humberto Theodoro Jr219.:

Não é diferente o periculum in mora no terreno do agravo, já que o propósito do legislador, ao regular o agravo de instrumento é distingui-lo do agravo retido, não foi outro senão o de reservar aquele apenas para as situações em que não pudesse o processo afastar o perigo de dano grave a não ser por via célere e dotado de possibilidades expeditas aptas a propiciar uma tutela efetiva ao direito ou interesse da parte. (...) Diante desse quadro, pode-se afirmar que ocorre o perigo de dano grave e de difícil reparação quando a parte prejudicada pela decisão interlocutória não pode aguardar a oportunidade da futura apelação para encontrar a tutela buscada sem sofrer perda ou redução significativa em sua situação jurídica. Para tanto, é preciso que da decisão interlocutória decorram efeitos imediatos a atuar sobre o bem da vida ou o interesse jurídico de que a parte se afirma titular.

217 Id. Ibidem.

218 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. O agravo: visão crítica de um apanhado nas ultimas alterações. Revista do Instituto dos Advogados de São Paulo. Volume 20. p. 233. Jul/2007. DTR\2007\497.

219 THEODORO, Humberto Jr. Curso de Direito Processual Civil. Teoria geral do Direito Processual Civil e processo de conhecimento. Volume I. Rio de Janeiro: Forense, 2012. p. 641.

Ernani Fidélis dos Santos220 afirma, ainda, que deve ser dado um caráter processual a tal termo:

Lesão grave ou de difícil reparação, na verdade, tem sentido processual, se bem possa ter referência com o próprio direito material, sendo considerada como tal, quando a não realização do ato ou sua prática puderem trazer prejuízos concretos ao processo ou ao exercício do direito material da parte.

Em conclusão ao raciocínio, Cassio Scarpinella Bueno221 afirma existir uma flexibilidade implícita na norma, como maneira de garantir o modelo constitucional de processo.

[...] não obstante a largueza da expressão utilizada pelo legislador mais recente para os casos em que o agravo pode (melhor: deve) ser interposto na forma “por instrumento”, haverá situações que a realidade do foro terá condições de demonstrar que em outros casos não previstos pelo legislador (casuisticamente, ou não; expressamente, ou não) a revisão

imediata da interlocutória é a única forma de evitar atrito ao

modelo constitucional de processo.

Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery222, bem esclarecem as demais hipóteses legais de cabimento de agravo de instrumento:

O agravo será por instrumento quando interposto contra a decisão do juiz que não recebeu a apelação. Não poderá ser retido porquanto não há como ser reiterado, já que não existe apelação como medida condutora do agravo retido ao exame do tribunal. Essa providência já constava da parte final do revogado CPC 523, §4º. Haveria, portanto, impossibilidade lógica e material de interpor-se o agravo na forma retida. (...)

220 SANTOS, Ernani Fidélis dos. Manual de Direito Processual Civil. Processo de conhecimento. Volume I. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 665.

221 BUENO, Cassio Scarpinella. A nova etapa da reforma do Código de Processo Civil. Comentários sistemáticos às Leis n. 11.187, de 19-10-2005, e 11.232, de 22-12-2005. Volume 1.São Paulo: Saraiva, 2006. p. 259-260.

222 NERY, Nelson Jr.; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de Processo Civil Comentado.

O juiz deve, obrigatoriamente, dizer em que efeitos está recebendo o recurso, mesmo que haja previsão expressa na lei a respeito da hipótese concreta. Como se trata de questão urgente, porque pode permitir ou impedir a execução provisória da sentença (CPC 475-O), o recurso que tem como objetivo o reexame da decisão do juiz sobre efeitos em que foi recebida a apelação tem que ser julgado imediatamente. Por essa razão o agravo tem que ser interposto por instrumento e não pela forma retida.

Em conformidade com a própria denominação, o agravo de instrumento depende da formação do instrumento pelo recorrente, que deve apresentar as suas razões223, no prazo de 10 (dez) dias contados da intimação da decisão que lhe gerar prejuízos, ao próprio tribunal competente.

O artigo 525, do Código de Processo Civil, arrola as peças que são obrigatórias e essenciais à formação do instrumento recursal. São elas: cópia da decisão agravada; certidão da respectiva intimação; procurações outorgadas aos advogados do agravante e agravado; comprovante de preparo das custas (quando devido); e, ainda, outras peças que sejam necessárias e convenientes à compreensão do recurso.

Uma condição específica de admissibilidade recursal do agravo de instrumento encontra-se arrolada no artigo 526, do Código de Processo Civil: “O agravante, no prazo de 3 (três) dias, requererá juntada, aos autos do processo de cópia da petição do agravo de instrumento e do comprovante de sua interposição, assim como a relação dos documentos que instruíram o recurso.” Essa condição permite ao juízo a quo o exercício do juízo de retratação.

A inadmissibilidade recursal baseada nesta condição, no entanto, exige a necessária provocação do agravado que, em não a realizando, impede o não conhecimento do recurso pelo órgão ad quem.224

223 O artigo 524, do Código de Processo Civil, apresenta requisitos à petição de agravo de

instrumento: Art. 524. O agravo de instrumento será dirigido diretamente ao tribunal competente, através de petição com os seguintes requisitos: I - a exposição do fato e do direito; II - as razões do pedido de reforma da decisão; III - o nome e o endereço completo dos advogados, constantes do processo.

224 Nesse sentido: STJ, Resp 114.647-0. Monocrática. Relator Og Fernandes. Julgado em

A negativa de seguimento ao agravo por falta de formalidade do art. 526 depende, pois, de alegação do agravado, a quem se atribui irrestritamente o ônus da prova, que só pode ser certidão formalizada da ausência de juntada, com a arguição feita na resposta ao recurso, caso em que nem necessária se torna audiência do agravante, posto não ter este atendido à exigência no prazo determinado.225

Distribuído o recurso de agravo, o artigo 527, do Código de Processo Civil atribui ao relator algumas competências específicas. Dentre estas é possível classificar aquelas relativas, tão somente, ao impulso referente ao próprio procedimento recursal ou, ainda, aquelas relativas à admissibilidade ou mérito do recurso.

As questões relativas ao procedimento recursal estão relacionadas nos incisos, IV, V e VI, do referido artigo. Poderá o relator requisitar informações ao juiz da causa, se entender necessário; deverá estabelecer o contraditório, para cumprimento das garantias processuais constitucionais; bem como deverá ouvir o Ministério Público, se for o caso.

Ultimada as providências procedimentais, o relator poderá, por competência atribuída pelo texto da lei, decidir questões relativas à admissibilidade recursal e, também, meritórias. Nesse sentido, dissertam os incisos I, II e III, do artigo 527, do Código de Processo Civil226.

Guimarães da Costa. Julgado em 02/08/2012. Publicado em 22/08/2012; e TJ/MS, AI 12223. 4ª Turma Cível. Relator Elpídio Helvécio Chaves Martins. Julgado em 13/12/2005. Publicado em 11/01/2006.

225 SANTOS, Ernani Fidélis dos. Manual de Direito Processual Civil. Processo de conhecimento. Volume I. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 668.

226 Art. 527. Recebido o agravo de instrumento no tribunal, e distribuído incontinenti, o relator:

I - negar-lhe-á seguimento, liminarmente, nos casos do art. 557;

II - converterá o agravo de instrumento em agravo retido, salvo quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida, mandando remeter os autos ao juiz da causa;

III - poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso (art. 558), ou deferir, em antecipação de tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao juiz sua decisão;

5 DAS DECISÕES DO RELATOR NO RECURSO DE AGRAVO