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1 DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO

4.2 AGRAVO PARA FINS DE REFORMA DAS DECISÕES

4.2.1 Agravo Retido

O agravo retido, tendo em vista sua interposição no próprio bojo dos autos dispensa a formação de instrumento. “O agravante fundamentará seu

204 SANTOS, Ernani Fidélis dos. Manual de Direito Processual Civil. Processo de conhecimento. Volume I. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 665.

205 BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de Direito Processual Civil. Recursos. Processos e incidentes nos tribunais. Sucedâneos recursais: técnicas de controle das decisões judiciais. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 174.

recurso indicando apenas onde se acha a decisão impugnada e se reportando às peças dos autos úteis ao esclarecimento de sua argumentação.”206

O seu conhecimento fica vinculado à inexistência de retratação imediata do juízo, na forma do artigo 523, do Código de Processo Civil, ou ainda, se expressamente requerida pela parte nas razões ou contrarrazões do recurso de apelação (CPC, §1º, do art. 523).

O presente agravo independe de preparo (CPC, parágrafo único, do art. 522).

O contraditório poderá ser estabelecido no momento da interposição do recurso, em inexistindo retratação, ou, ainda, no momento do julgamento efetivo do recurso, que se dará com o requerimento, em sede de razões ou contrarrazões de apelação.

Como regra geral, este recurso será interposto na forma escrita, como as demais peças recursais. No entanto, o §3º, do artigo 523, traz consigo uma hipótese em que o recurso deverá ser interposto imediatamente e na forma oral.

Das decisões proferidas em audiência de instrução e julgamento caberá agravo retido, na forma oral.

Como justificativa a esta previsão, Fredie Didier Júnior e Leonardo Carneiro da Cunha 207 expõe:

A exigência de o agravo retido ser oral põe em relevo o princípio da oralidade, do qual decorrem os princípios da concentração e da imediação (ou imediatidade). Desse modo, coma relevância dada ao princípio da oralidade, há a prevalência das manifestações verbais sobre as escritas, sobressaindo a proximidade imediata do juiz com as questões e incidentes surgidos no processo, permitindo-se que a colheita de provas, a discussão e o julgamento da causa opera-se em audiência única, com o afastamento da possibilidade de

206 THEODORO, Humberto Jr. Curso de Direito Processual Civil. Teoria geral do Direito Processual Civil e processo de conhecimento. Volume I. Rio de Janeiro: Forense, 2012. p. 638. 207 DIDIER, Fredie Jr., CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. Meios de impugnação às decisões judiciais e processos nos tribunais. Volume III. Salvador: JusPodium, 2011, p. 140.

recursos serem interpostos diretamente ao tribunal, suspendendo o feito ou estorvando a marcha processual.

Esse mesmo autor defende que tal disposição deve, ainda, ser aplicada a audiência preliminar, prevista no artigo 331, do Código de Processo Civil. “Embora a lei não mencione, parece que esse regime também é aplicável no caso em que a decisão interlocutória é proferida em audiência preliminar (art. 331 do CPC), já que a ratio legis é a mesma: prestigiar a oralidade e celeridade.”208

Athos Gusmão Carneiro209 se opõe a esta conclusão:

Já nas audiências preliminares, regidas pelo artigo 331 do CPC, podem ser equacionadas questões outras, relativas ao saneamento processual e, portanto, da maior relevância para o deslinde das causas, para as quais uma solução breve, mediante o emprego do agravo de instrumento, torna-se aconselhável, mais do que isso apresenta-se necessária. Assim, v.g., a legitimação para o processo ou para a causa, a ordenação de provas com vista a uma cognição adequada, a admissão ou exclusão de partes ou de terceiros, e várias outras questões que por sua natureza devem ser definidas desde logo.

Ambos os doutrinadores, acompanhados de Teresa Arruda Alvim Wambier e José Miguel Garcia Medina, no entanto, concordam que em determinadas hipóteses, até mesmo as decisões proferidas em audiência de instrução e julgamento podem e devem ser atacadas por meio de agravo de instrumento. Estando presente o requisito de lesão grave e de difícil reparação, faz-se presente os pressupostos para apresentação do recurso de agravo de instrumento.210

208 DIDIER, Fredie Jr., CUNHA, Leonardo Carneiro da. Op. Cit. p.139.

209 CARNEIRO, Athos Gusmão. Recurso especial, agravos e agravo interno. Rio de Janeiro:

Forense, 2009. p. 197.

210 CARNEIRO, Athos Gusmão. Recurso especial, agravos e agravo interno. Rio de Janeiro:

O agravo interposto das decisões proferidas em audiência deve ser retido e oral, de acordo com a nova lei. Embora a regra seja a da interposição oral de agravo retido quanto às decisões proferidas em audiência, também não se deve, por exemplo, esquecer de que nesta fase ou momento processual, o juiz também pode proferir decisões que geram urgência. Pode negar ou conceder uma liminar! Aquele que a pleiteou, obviamente, tem urgência em sua concessão. E, ademais, não é ocioso lembrar, que, sendo a liminar absolutamente descabida, em relação àquele que pretende revoga-la, existe uma espécie de urgência presumida sempre!211

Há, ainda, que se tratar da impossibilidade de interposição do recurso de agravo retido para fins de combate à decisão cujo conteúdo consiste em matéria de ordem pública. Tais razões, não se submetem ao instituto de preclusão, faltando evidente interesse recursal à parte para propositura desta espécie de recurso, cujo objetivo primordial é impedir a preclusão da matéria decidida.212

Generalizando a questão Cassio Scarpinella Bueno afirma que, independentemente das previsões expressas do texto da lei, “o haver ou não “urgência” é que deveria ser considerado como parâmetro de utilização de uma ou outra forma de interposição do recurso de agravo.”213

Por fim, ponto relevante a se discorrer sobre o agravo retido, consiste na possibilidade de interposição, desta espécie recursal, por terceiros interessados.

Nelson Nery Jr. expõe:

DIDIER, Fredie Jr., CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. Meios de impugnação às decisões judiciais e processos nos tribunais. Volume III. Salvador: JusPodium, 2011, p. 143; e

MEDINA, José Miguel Garcia; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Recursos e ações autônomas de impugnação. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. p. 167.

211 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. O agravo: visão crítica de um apanhado nas ultimas alterações. Revista do Instituto dos Advogados de São Paulo. Volume 20. p. 233. Jul/2007. DTR\2007\497.

212 MEDINA, José Miguel Garcia; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Recursos e ações autônomas de impugnação. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. p. 166.

213 BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de Direito Processual Civil. Recursos. Processos e incidentes nos tribunais. Sucedâneos recursais: técnicas de controle das decisões judiciais. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 175.

Pelo mesmo raciocínio entendemos que o terceiro prejudicado em sentido amplo, não poderá interpor agravo na forma retida, visto que, ou a decisão trará dano irreparável e seria inócua a retenção do agravo, ou não será parte no processo não podendo reiterá-lo em apelação. Não colhe aqui, o óbice a essa conclusão dizendo-se que ele poderá “comprometer-se” a apelar, e, portanto, reiterar ele mesmo o pedido de julgamento do agravo. Isto é impossível, pois o interesse ao recurso da apelação só nascerá com a existência de sentença. Ainda assim subsiste a objeção de que só a parte poderá reiterar o pedido de julgamento do gravo retido em sede de apelação (razões ou contra-razões), e o terceiro prejudicado parte não é.214

Em sentido contrário se posiciona Fredie Didier Jr. e Leonard Carneiro da Cunha215:

Não se pode pré-excluir a possibilidade de recurso retido por terceiro. O interesse recursal avalia-se in concreto, e não abstratamente. É possível que o terceiro tenha o interesse de recorrer de uma decisão interlocutória que não cause prejuízo imediato à parte, e que portanto somente por agravo retido poderia ser impugnada. E a questão ganha ainda mais importância prática com a leitura do inciso II do art. 527 do CPC, que prevê a possibilidade de o relator do agravo de instrumento convertê-lo em retido, uma vez não tendo verificado a urgência na apreciação do pedido recursal. Como ficará a situação do terceiro que, se tendo valido do agravo de instrumento, o vir convertido, pelo relator, em agravo retido? Perderia, ipso facto, o interesse recursal? Obviamente que não. Se a decisão interlocutória não puder causar prejuízo imediato, o recurso cabível será o agravo retido, e não se pode negar a possibilidade de seu manejo por terceiro.

A possibilidade dada ao terceiro de recorrer de determinada decisão judicial decorre da busca pela economia processual. Diante desta afirmativa, não se justifica afastar do terceiro o direito a recorrer da decisão, ainda que por meio de recurso de agravo retido.

214 NERY, Nelson Jr., O terceiro prejudicado e o agravo retido nos autos. Revista Juditia, São

Paulo, 43(115): 180-185, out/dez. 1981.

215 DIDIER, Fredie Jr., CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. Meios de impugnação às decisões judiciais e processos nos tribunais. Volume III. Salvador: JusPodium, 2011. p. 144.

Não se pode ignorar que o artigo 523, §1º, do Código de Processo Civil, realmente trata da necessidade da parte requerer expressamente a apreciação deste recurso pelo Tribunal em suas razões de apelação ou contrarrazões. Todavia, uma disposição legal não pode ser interpretada em isolamento. Deve-se levar em consideração a harmonia do próprio sistema. O

caput, do mesmo dispositivo legal, limita-se a falar em agravante,

generalizando, de alguma forma, a intenção do legislador.

A melhor interpretação, portanto, seria a possibilidade de interposição de recurso de agravo retido por terceiro interessado, desde que sobrevenha interesse recursal em apelar.