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56- Escola/Igreja construída pela IBC na comunidade Barra do Bento

1.4 Análise dos dados

Para a análise dos dados buscou-se apoio na Geografia Humanística, por meio de seus representantes, como Yi-Fu Tuan, Edward Relph, Dardel, Lowenthal, Buttimer et al, que destacam a importância dos lugares, do mundo vivido, da descrição do mundo cotidiano, dos significados para o homem e suas representações (HOLZER, 1994). Assim, o estudo da relação entre fenômenos físicos e humanos busca compreender sua relevância nas relações sociais e impactos culturais, partindo da construção de conceitos de espaço, desenvolvida pela Geografia Humanística, por meio de estudos fenomenológicos.

Para Tuan (1980), a “Geografia possui orientação Humanística” quando faz uma nova leitura dos temas geográficos, trabalhando conhecimentos científicos de modo a apreender sensações do indivíduo, numa avaliação, também, dos fenômenos humanos. Corroborando, Buttimer (1985) afirma que a Geografia Humanística é a “exploração da experiência humana”, de suas vivências do dia a dia, visando apreender a sua subjetividade (BUTTIMER, 1985:190). Assim, no transcorrer da pesquisa foram identificadas, em várias expressões, elementos que atuaram na organização do espaço.

Conhecer a dinâmica social e espacial da comunidade de Barra do Bento levou ao entendimento dos valores e atitudes de seus moradores, bem como das suas percepções em relação às ações da IBC na construção de seu espaço e na promoção do desenvolvimento local. Todo esse trabalho de pesquisa proporcionou momentos de descoberta e de conhecimento sobre a ciência geográfica, o pensamento dos atores sobre as mudanças ocorridas na comunidade, as alterações estruturais em seus valores sociais, econômicos e religiosos.

Ao final, cumpridas todas as etapas, as respostas foram discutidas e analisadas de acordo com sua categoria, buscando compreender a interpretação

dos atores envolvidos.

Salienta-se, aqui, que a postura adotada nessa investigação não teve a pretensão de pesquisar de forma aprofundada a subjetividade dos entrevistados, mas, tão somente, captar a vivência, o entendimento e a experiência da comunidade da Barra do Bento, numa posição de leitor da realidade de uma comunidade que passou por interferências que culminaram na modificação de seu espaço vivido.

Ressalta-se que coube à pesquisadora esclarecer aos participantes do que se tratava a pesquisa e qual seu interesse no assunto. Interessante mostrar que toda a pesquisa de campo foi feita sob o olhar curioso das crianças da Barra do Bento (FIG 1).

FIGURA 1 - O olhar curioso da criança da Barra do Bento

CAPÍTULO 2 -

Estrada de Canindé -

Luiz Gonzaga / Humberto Teixeira

Ai, ai, que bom

Que bom que bom que é Uma estrada e a lua branca Uma gente andando a pé.

Ai, ai, que bom

Que bom que bom que é Uma estrada e a lua branca No sertão de Canindé.

Automóvel lá nem se sabe Se é homi ou se é mulé Quem é rico anda em burrico Quem é pobre anda a pé.

Mas o pobre vê nas estradas O orvalho beijando a flor Vê de perto o galo campina Que quando canta muda de cor.

Vai molhando os pés no riacho Que água fresca Nosso Senhor Vai olhando coisa a grané Coisa que prá mode ver O cristão tem que andar a pé.

Ai, ai, que bom

Que bom que bom que é Uma estrada e a lua branca E uma gente andando a pé.

O Sertão do Nordeste, com seu povo castigado e sofrido, é muito cantado em verso e prosa, sendo que “As paisagens naturais e culturais representam uma fonte de inspiração para os escritores e poetas que as convertem em expressões verbais de acordo com seu próprio olhar, sua imaginação, sua cosmologia e seus sentimentos” (SEEMANN, 2007).

2- CARACTERIZAÇÃO SOCIOESPACIAL: CANINDÉ(CE) E COMUNIDADE BARRA DO BENTO

A localidade estudada, comunidade Barra do Bento/Canindé, é um espaço coletivo carregado de memórias de processos materiais e culturais vividos, misturados à nova paisagem construída pelos processos acontecidos através do projeto da Igreja Batista Central – IBC e do Poder Público.

Segundo Ab’Saber (2003: 9), a paisagem é uma “herança de processos fisiográficos e biológicos, e patrimônio coletivo [...] como território de atuação de suas comunidades”. Portanto, para se entender a atual paisagem da Barra do Bento, é necessário que se conheça toda a caracterização geoespacial e socioeconômica da região de Canindé, onde está inserida esta comunidade.

Neste capítulo, embora de forma sucinta, faz-se necessário apresentar o ambiente geográfico da região do Canindé e Comunidade Barra do Bento - sua fisiografia, o clima do semiárido, espécies florísticas e faunísticas endêmicas, bem como seus aspectos socioeconômicos, ressaltando que a paisagem da comunidade Barra do Bento passou por um forte processo de mudanças mediante interferências do Projeto Barra do Bento.

De acordo com Souza (1996), a vegetação de cada região é determinada por seu clima e pelos fatores geoambientais, o que produz o seu aspecto natural, portanto, justificando o material físico-biológico da comunidade de Barra do Bento. O Nordeste brasileiro, o semiárido, onde se encontra Barra do Bento, é uma região muito discutida, porém, uma das menos conhecidas do País (ANDRADE, 2005).

A paisagem estudada insere-se no município de Canindé, encontrando-se este localizado na Mesorregião Sertão Central, pertencente à Região Administrativa 7 e à Microrregião de Canindé, no estado do Ceará (Portal do Governo do Estado do Ceará, 2011).

A região se apresenta como um espaço vasto, onde está inserido o espaço social de um grupo, possuindo particularidades e uma estrutura própria. Assim, os lugares do cotidiano e os espaços sociais da familiaridade são mais conhecidos e percebidos do que a região (FRÉMONT, 1980).