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CAPÍTULO 1 – CRESCIMENTO URBANO

1.3 A gestão de recursos hídricos na RMSP

1.3.3 Análise e Diagnóstico de Enfrentamento

A Região Metropolitana de São Paulo, sendo um dos maiores aglomerados humanos do planeta, comparável a Tóquio, com 26,4 milhões de habitantes, Nova Iorque com 18,9 milhões de habitantes e Cidade do México, com 18,1 milhões de habitantes, vive um momento dramático em relação à disponibilidade de água, pois segundo especialistas a atual estiagem é a mais intensa dos últimos 20 anos.

Ela é abastecida pelos seguintes Sistemas Produtores: Alto e Baixo Cotia, Alto Tietê, Guarapiranga, Rio Claro, Rio Grande, Ribeirão da Estiva, Embú-Guaçú e Cantareira.

Mapa 3 – Localização dos grandes produtores de água para abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo

São necessários oito sistemas produtores de água para abastecer os quase 20 milhões de habitantes metropolitanos interligados através de um Sistema Integrado operado pela SABESP. A capacidade nominal de uma Estação de Tratamento de Água (ETA) refere-se à capacidade de tratamento/produção anual máxima, exceto durante a

manutenção quando o sistema é paralisado. A produção média anual refere-se à quantidade de água tratada distribuída para a população.

Capacidade nominal e produção média das Estações de Tratamento de Água referente ao ano de 2010:

Tabela 4 - Capacidade nominal e produção média das Estações de Tratamento de Água – ano de 2006

Sistema produtor ETA População

(hab.) Capacidade nominal da ETA 2010 (m3/s) Produção média anual da ETA 2010 (m3/s)

Cantareira Guaraú 8,1 milhões 33,0 32,72

Guarapiranga ABV 3,7 milhões 14,0 13,04

Alto Tietê Taiaçupeba 3,3 milhões 10,0 10,87

Rio Claro Casa Grande 1,5 milhão 4,0 3,88

Rio Grande Rio Grande 1,2 milhão 5,0 4,76

Alto Cotia Alto Cotia 409 mil 1,2 1,11

Baixo Cotia Baixo Cotia 361 mil 0,9 0,85

Ribeirão Estiva Ribeirão Estiva 38 mil 0,1 0,09

TOTAL - 18,9 milhões 68,2 67,32

Fonte: FABHAT (2013); SABESP

O Sistema Cantareira, para citarmos um deles, está à beira de um colapso. E isso não é uma novidade, pois desde 2004 ele é visto como insuficiente. Através da Portaria DAEE nº 1213/04, o Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE) concedeu outorga à Sabesp autorizando o uso dos recursos hídricos deste Sistema para o abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo, com prazo de dez anos. A

outorga também limita a defluência para jusante, para atendimento das regiões de Campinas e Piracicaba, igualmente em função do mês e do estado do Sistema Equivalente, entre 3 e 5 m³/s.

No período do ano hidrológico (outubro/13 a fevereiro/14) ocorreram 444 mm de chuvas na região do Cantareira, quando a média é de 995 mm (-55 %). A precipitação média espacial, acumulada no último mês, até 03 de junho de 2015, baseada nas redes pluviométricas cobrindo as sub-bacias de captação do Sistema Cantareira (6 pluviômetros do DAEE e 30 pluviômetros do CEMADEN), foi de 22,6 mm (9,9¹ mm), 38,6% (16,9%¹) da média climatológica do mês de 58,51¹mm.12

A SABESP divulgou em seu site que em 07/06/15, o reservatório opera abaixo da capacidade técnica, com volume negativo de -9,2%.13. À exceção do que ocorreu no ano de 2004, o Sistema opera bem abaixo de sua média histórica.

No mesmo dia 07/06/15, o Sistema Alto Tietê operava com 21,7% de sua capacidade, Guarapiranga 78,9%, Alto Cotia 68,8%, Rio Grande 92% e Rio Claro 55,6%.

A SABESP divulgou, no mês de abril de 2015, em seu site, um relatório com as medidas que adotou para enfrentamento da crise: (a) Gestão de Consumo dos Clientes (programa de bônus aprovado pela agência reguladora ARSESP, através da Deliberação nº 469/2014, estabelecendo que, para todos os clientes, dentro das áreas de abrangência do programa, haverá como meta reduzir em 20% o consumo de água em relação à média do consumo dos meses de fevereiro/2013 e janeiro/2014. O cliente que atingir sua meta terá bonificação de 30% nos valores cobrados de água e esgoto; (b) Transferência de água tratada de outros Sistemas Produtores; (c) Intensificação do Programa de Combate às Perdas; (d) Utilização de Reservas Técnicas; (e) Campanhas institucionais.

Consta daquele documento que na RMSP houve redução na produção de água conforme indicado na tabela abaixo:

12

www.cemaden.gov.br/cantareira/relatório-sistema-cantareira 13

Tabela 5 - Demonstrativo de redução de água na RMSP

SISTEMA FEV/14 MAR/15 DIF

Cantareira 31,77 14,04 -17,73

Guarapiranga 13,77 14,65 +0,88

Alto Tietê 14,97 11,91 -3,06

Rio Grande 4,94 4,94 0

Fonte: Sabesp (2014-2015)

Os moradores da Região Metropolitana de São Paulo aprenderam a conviver com a possibilidade da falta de água durante todo o ano de 2014. Com a diminuição constante dos níveis de seus principais reservatórios e a frequente questão sobre possíveis rodízios e racionamentos, todos tiveram que se acostumar a ver a água como um recurso finito.

Esta situação de estresse hídrico com as dimensões institucional, de governança e seus desdobramentos no plano socioambiental e da segurança alimentar demandam medidas que atendam a todos os municípios afetados.

Se, por um lado, existe consenso quanto à necessidade de cooperação dos entes federados, por outro, ainda há uma enorme lacuna em sua operacionalização.

Os Municípios integrantes da Região Metropolitana de São Paulo tiveram atuação tímida desde que a crise foi instalada. Servidos ou não por água distribuída pela SABESP, não protagonizaram ações efetivas visando articular iniciativas para minimizar os efeitos da falta d´água, assim como também não cobraram do Governo Estadual que assumisse verdadeiramente seu papel de coordenador. A “pressão” que fizeram deu ensejo apenas à edição do Decreto Estadual nº 61.111/15, que instituiu um Comitê da Crise Hídrica.

Se é fato que a natureza vem contribuindo para o agravamento da crise, é certo também que outros fatores como falta de planejamento, pouco investimento, além de decisões equivocadas (como, por exemplo, investir mais recursos na captação que no controle de vazamentos), também contribuíram para o grave momento por que passa a Região Metropolitana de São Paulo.

Em entrevista ao Jornal Folha de São Paulo, o professor do Departamento de Recursos Hídricos da Unicamp, Antonio Carlos Zuffo, declarou que: de cada dez litros de água que são captados, tratados e colocados na rede que abastece a região, quatro são perdidos. “Foi uma decisão econômica tomada em uma situação de normalidade, mas que hoje se mostra extremamente equivocada, trágica e mais cara porque estamos pagando por isso". (MARANHÃO, 2014, p. on line).

A possibilidade de faltar água afetará indistintamente todos os Municípios da RMSP, independentemente do tamanho de seu território, do número de habitantes ou da condição econômica. A tomada de decisões, consequentemente, deverá levar em conta as aspirações de todos os envolvidos.