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5.4 RESULTADO DAS VARIÁVEIS LABORATORIAIS

5.4.2 Análise Qualitativa das Medidas Laboratoriais

A Tabela 10 fornece a frequência (n) e o percentual (%) das medidas laboratoriais pré e pós-participação no programa de reabilitação cardíaca, e o correspondente nível descritivo (p valor) do teste estatístico. A análise estatística foi realizada pelo teste de Mc Nemar corrigido. O nível de significância foi de 5%.

Observou-se, através da análise qualitativa, queda significativa, em torno de 5%, em relação ao colesterol total (p = 0,0005), triglicérides (p = 0,038) e glicose (p = 0,026). No entanto, não foi observada variação significativa na hemoglobina glicosilada (p = 0,61). A análise estatística das frações HDL e colesterol LDL não foi realizada; 100% dos pacientes apresentavam os valores pré-programa em níveis normais (Tabela 10).

Variável Categoria n (pré) % (pré) N (pós) % (pós) p valorb

Colesterol total > 200 Alterado Normal 18 19 48,6 51,4 4 33 10,8 89,2 0,0005 Triglicerídeos > 150 Alterado Normal 19 18 51,4 48,6 10 27 27,0 73,0 0,038 Glicose > 99 Alterado Normal 17 20 45,9 54,1 9 28 24,3 75,7 0,026 Hemogl. glicosilada > 6,4 Alterado Normal 11 26 29,7 70,3 5 32 13,5 86,5 0,07 b significativo em torno de 5%.

6. DISCUSSÃO

A implantação de programas de reabilitação cardíaca na abordagem de pacientes pós- infarto agudo do miocárdio esta bem estabelecida em vários trabalhos científicos, assim como sua influência positiva sobre a redução da mortalidade.

Efeitos agudos de exercício físico regular e as adaptações crônicas observadas em médio prazo são de grande importância na manutenção da saúde dessa população, contribuindo de forma favorável sobre os fatores de risco, como hipertensão arterial, dislipidemia, diabetes, obesidade, sedentarismo, insegurança e depressão.

Os programas de reabilitação cardíaca representam uma ferramenta fundamental para que mudanças no estilo de vida se concretizem, criando hábitos de vida mais saudáveis e auxiliando na redução de novos eventos cardiovasculares. Os achados do presente estudo demonstraram melhora das variáveis ventilatórias, metabólicas, hemodinâmicas e laboratoriais. Foi demonstrada a eficácia do uso dos limiares ventilatórios de Wassermann obtidos no teste de exercício cardiorrespiratório como determinantes da intensidade de esforço de treinamento no programa de reabilitação cardíaca.

O consumo máximo de oxigênio (V’O2 máximo) é o melhor indicador da capacidade

humana de suportar esforços prolongados107, sendo considerado um marcador independente de mortalidade e prognóstico em pacientes com diagnóstico de insuficiência cardíaca. No entanto, sua medida apresenta algumas dificuldades técnicas, como em indivíduos com baixo condicionamento físico ou naqueles limitados por cardiopatia108; os quais, normalmente, não conseguem atingir o consumo máximo de oxigênio. Por essa razão, admite-se que a medida do maior consumo de oxigênio obtido durante o exercício, denominada consumo de oxigênio de pico (V’O2 pico), seja utilizada como indicador da capacidade funcional e da reserva cardíaca109.

O V’O2 pico é especialmente eficaz na avaliação da capacidade funcional quando

associado à medida do metabolismo anaeróbio110, conceito adotado no presente estudo através dos registros das variáveis ventilatórias108.

Em 2002, Jonathan Myers apresentou um estudo sobre a importância da capacidade funcional como forte preditor de mortalidade, independente de outros fatores de risco, tanto em indivíduos com doença cardiovascular, quanto em indivíduos normais. Nesse mesmo estudo, foi demonstrado que o aumento de 1 MET na capacidade funcional correlacionou-se com uma melhora de 12% na sobrevida111. No presente estudo, foi observada melhora da capacidade funcional (Tabela 2).

O pulso de oxigênio (PuO2 ml.min-1.batimento-1) consiste, teoricamente, no volume de

oxigênio extraído pelo metabolismo periférico. É uma variável metabólica obtida pelo teste de exercício cardiorrespiratório sendo representada pela relação do V’O2 e frequência cardíaca

(V’O2/FC batimentos/minuto). De acordo com equação de Fick, o pulso de oxigênio pode ser

expresso por V’O2/FC = VES x C(a-v)2.

A análise do pulso de oxigênio é definida em termos absolutos e através da característica morfológica de sua curva representada graficamente durante exercício incremental. Neste estudo, observou-se aumento do pulso de oxigênio após o período de seis meses de reabilitação cardíaca, achado que representa melhora da eficiência cardíaca (Tabela 3).

A resposta cronotrópica ao exercício (frequência cardíaca em batimento/minuto-1) é modulada pelo sistema nervoso autônomo, sendo a idade o principal fator modulador da frequência cardíaca (FC) atingida no exercício máximo (FC máxima). A prática regular de exercícios físicos influencia a resposta cronotrópica diminuindo a frequência cardíaca de repouso e diminuindo as frequências submáximas medidas em um exercício incremental;

no qual, para uma mesma carga de esforço, o paciente desenvolve uma frequência cardíaca mais baixa (Gráfico 4). São observados, também, aumentos da frequência cardíaca de pico e da frequência cardíaca no primeiro minuto da recuperação. Tais efeitos também são atribuídos ao sistema nervoso autônomo, sistema simpático-parassimpático.

Em 1999, Christopher Cole118 publicou um estudo correlacionando a queda da frequência cardíaca no primeiro minuto de recuperação como um forte preditor de mortalidade. Foi definido como ponto de corte uma queda da FC inferior a 12 batimentos/minuto. O principal mecanismo fisiopatológico desse achado foi atribuído à disfunção do sistema autonômico, representado pelo atraso na ativação do sistema parassimpático na fase inicial da recuperação. Susan Tiukinhoy119 et al. observaram melhora da resposta parassimpática avaliada pelo aumento da frequência cardíaca no primeiro minuto da fase de recuperação em pacientes submetidos a teste de esforço que participavam de programa de reabilitação com atividades físicas regulares. No presente estudo, também foi observada melhora desse parâmetro hemodinâmico com significância estatística (p = 0,0005) (Gráfico5).

Victor Frolicher et al.27 correlacionaram os défices cronotrópico (não elevação da frequência cardíaca) e inotrópico (não aumento da pressão arterial sistólica) durante exercícios físicos incrementais como marcadores de risco maior de morte independente da idade. No presente estudo, os pacientes tiveram incremento em frequência cardíaca, pressão arterial sistólica e duplo produto no pico do esforço. Victor Frolicher et al.27 correlacionaram os défices cronotrópico (não elevação da frequência cardíaca) e inotrópico (não aumento da pressão arterial sistólica) durante exercícios físicos incrementais como marcadores de risco maior de morte independente da idade. No presente estudo, os pacientes tiveram incremento em frequência cardíaca, pressão arterial sistólica e duplo produto no pico do esforço.

Com a melhora progressiva da condição aeróbia, os pacientes obtiveram maiores taxas de frequência cardíaca de pico, mais próximo à FC máxima prevista.

O exercício físico representa um estímulo importante para o sistema respiratório e o transporte de oxigênio requerendo uma interação destes para suportar o aumento da demanda metabólica e de trocas gasosas. As mudanças morfofuncionais e a melhor capacidade de adaptação às cargas de trabalho, decorrentes das atividades físicas, melhoram todo o sistema respiratório, tornando os indivíduos menos suscetíveis a distúrbios respiratórios. Esses indivíduos apresentam maior reserva respiratória com maior desempenho do sistema. A melhora da ventilação no pico do esforço (V’E máximo) é justificada na literatura como resultado de um melhor ajuste na resposta dos quimiorreceptores e barorreceptores envolvidos no processo da respiração através da prática regular de exercícios. A população do presente estudo apresentou aumento do V’E máximo (p = 0,0002).

Corroborando com os achados da literatura, observou-se, no presente estudo, redução do colesterol total, LDL-colesterol, triglicerídeos e glicose. O HDL-colesterol aumentou, em média, 6,5 mg/dl (18%). Tais achados reforçam a necessidade da prática de atividade física regular, sempre acompanhada de orientação nutricional adequada, na abordagem de pacientes com doença cardíaca isquêmica.

Os níveis plasmáticos de proteína C reativa (PCR-T), marcador inflamatório inespecífico, estão associados ao aumento do risco para doença coronariana46. Vários estudos têm demonstrado redução dos níveis plasmáticos da PCR-T em indivíduos que praticam exercícios físicos com regularidade, sugerindo um efeito anti-inflamatório, cujo mecanismo parece estar relacionado à melhora da função endotelial.

No presente estudo, foi observada diminuição dos níveis plasmáticos da PCR-T, porém sem significância estatística (p = 0,80), provavelmente influenciada por uma amostra pequena.

A prescrição dos exercícios deve ser cercada dos mesmos cuidados que cercam a prescrição de medicamentos112. É necessário que a prescrição contenha a dose eficaz do estímulo sem desencadear efeitos colaterais significativos.

As bases fisiológicas para obtenção dos benefícios propiciados por um programa de exercícios em paciente com diagnóstico de coronariopatia estão relacionadas ao princípio de uma sobrecarga desencadear mecanismos adaptativos sobre os sistemas cardiovascular, muscular e humoral. Sendo assim, espera-se que o esforço físico realizado acima daquele da vida diária determine o desencadeamento de tais modificações.

Existem várias maneiras de se estabelecer a intensidade de exercício durante uma sessão de reabilitação em coronariopatas. A frequência cardíaca tem estreita relação com o volume de oxigênio consumido durante a atividade física e é de fácil aferição no esforço, portanto é a variável mais recomendada para estabelecer a intensidade de exercício. Segundo recomendações do American College of Sports Medicine e do I Consenso Nacional de Reabilitação Cardiovascular, a intensidade do treinamento pode ser dada pela FC que represente 70 a 90% da FC de pico atingida, o que equivale de 60 a 80% do pico de consumo de oxigênio do indivíduo113. Outro método bastante difundido, denominado método de Karvonen, preconiza a frequência cardíaca em repouso114.

A utilização de uma escala de percepção subjetiva do cansaço é também um modo de se prescrever a intensidade de exercício, existindo boas correlações entre a sensação subjetiva e as variáveis fisiológicas como a frequência cardíaca115,116 (Anexo 1).

Durante a realização de exercícios gradativamente crescentes, o metabolismo humano produz energia predominantemente aeróbia até um certo momento, a partir do qual começa a haver aumento do lactato sanguíneo conhecido como limiar anaeróbio. Esse momento pode ser identificado de forma direta através de amostras seriadas de sangue (gasometria arterial) ou

através do TECR (análise dos gases expirados)117, instrumento útil como determinante da intensidade de esforço.

No presente estudo, foi utilizado o equivalente ventilatório de oxigênio (V’E/V’O2),

obtido através do TECR (análise dos gases expirados), para identificar o limiar anaeróbio, representado pelo limiar ventilatório I de Wasserman, o qual mostrou ser um método não invasivo seguro e adequado para identificar a intensidade de esforço adotada no programa de reabilitação.

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