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Análise de uma fobia em um menino de cinco anos (1909) O caso Hans

1 Apresentação e Análise dos Textos

1.1 Análise de uma fobia em um menino de cinco anos (1909) O caso Hans

Embora neste texto, Freud relacione os ‘dados’ do caso clínico com a teoria da angústia, o que poderia nos interessar, sabe-se que nele não fará nenhuma modificação teórica importante, apresentando o conceito de angústia tal como o concebia anteriormente. Entretanto, esse caso tem uma importância fundamental na reelaboração que Freud faz do conceito de angústia em 1925, quando reinterpreta seus dados.

Portanto, a apresentação e análise desse caso clínico de Freud tem aqui um objetivo muito preciso: esclarecer e fundamentar a leitura posterior, quando do desenvolvimento que faz Freud do conceito de angústia, sua segunda teoria.

Será, pois, feita uma apresentação do caso a partir de recortes

da síntese que Freud realiza dele, os quais irão fundamentar a leitura posterior, quando da segunda teoria da angústia (no terceiro desenvolvimento).

Freud alerta que somente após concluída a análise (psicanálise), foi possível realizar a síntese do caso, que toma como base as experiências de Hans até a época do nascimento de sua irmã, a consideração de sua constituição mental e seu controle sobre seus desejos sexuais (FREUD, 1987d, p.109). Sabemos portanto, que esse conhecimento só é possível ao final de um processo de análise.

I - O complexo edípico - a organização genital da libido, a atitude em relação à mãe e ao pai:

Ø Um ‘histórico’ da vida sexual de Hans - sua situação psicológica anterior à

formação do sintoma fóbico

De acordo com Freud, o primeiro traço de Hans encarado como fazendo parte de sua vida sexual é seu grande interesse pelo seu ‘pipi’, o que lhe despertou o espírito de inquérito. Descobriu que a presença ou ausência de um pipi diferencia objetos animados e inanimados e presumiu que todos os objetos animados eram iguais a ele – possuíam esse importante órgão corporal. Não foi dissuadido dessa hipótese pela evidência da carência desse órgão na irmã recém- nascida, pois seria um grande golpe à sua ‘visão de mundo’. Renunciar à presença desse órgão na irmã – um ser semelhante a ele teria sido como se tivesse arrancado dele (FREUD, [1987]e, p.114).

Além disso, na constituição sexual de Hans, a zona genital era a zona erógena que lhe ofereceu um dos seus maiores prazeres, semelhante a outro, o prazer excretório. Durante o período em que era tratado como um bebê, esses atos – urinar, evacuar, limpar – tinham sido fonte de sensações de prazer nele, com a ajuda de sua mãe; além da possibilidade de ele que tenha proporcionado esse prazer auto-eroticamente.

Nas palavras de Freud:

Assim, na constituição sexual do pequeno Hans a zona genital foi, desde o começo aquela dentre as suas zonas erógenas que lhe proporcionou o mais intenso prazer. O único outro prazer semelhante do qual ele deu sinal foi o prazer excretório, o prazer ligado aos orifícios através dos quais a micção e a evacuação dos intestinos são efetuados.

[...]Ele tinha obtido esse prazer das suas zonas erógenas com ajuda da pessoa que cuidava dele – sua mãe, na realidade; e assim o prazer já apontava o caminho para escolha objetal (FREUD, [1987]e, p.115).

a) A atitude em relação à mãe

Um novo prazer que descobriu posteriormente – já determinado pela escolha objetal – foi dormir com a mãe, prazer proveniente do contato cutâneo. Hans demonstra afeição desejando dormir também com suas companheiras meninas.

Todavia, a afeição pelo seu órgão masculino estava relacionada, dirigida, tanto com meninas quanto com meninos, pois ele só sabia da existência do órgão sexual masculino.

Conforme escreve Freud:

E na sua infância [referindo-se ao homossexual], já que nesse período esse determinante é considerado como um fato de aplicação universal, ele é capaz de se comportar como o pequeno Hans que mostrou sua afeição por menininhos e menininhas indiscriminadamente, e uma vez descreveu seu amigo Fritzl como ‘a menina de quem ele gostava mais’. Hans era um homossexual (como todas as crianças podem muito bem ser), devido ao fato, que precisa ser sempre mantido em mente, de que ele só estava

informado quanto a um tipo de órgão genital – um órgão genital como o seu

(FREUD, [1987]e, p.117).

Em nota de rodapé, Freud escreve que mais tarde, em 1923, considera que esse período de desenvolvimento sexual é caracterizado universalmente pelo conhecimento de apenas uma espécie de órgão genital – o masculino. Ou seja, é um período marcado pela primazia do falo, tanto para meninas quanto para meninos.

Retornando à Hans, na sua relação à mãe, ele quer seduzi-la, por exemplo, pedindo que tocasse no seu ‘faz pipi’, porque é divertido e elogiando seu próprio pênis. A mãe recusa seus avanços.

À questão de Hans se ela também tem um ‘faz pipi’ responde que sim, o que intensifica sua curiosidade.

A masturbação noturna, canal para a gratificação de sua excitação sexual aumentada, é repreendida pela mãe.

[...] sua afeição pela mãe deve ter-se tornado fortemente intensa, na sua condição era este o fenômeno fundamental. Em apoio a essa teoria, podemos recordar suas duas tentativas de seduzir sua mãe, datando a primeira delas do verão, ao passo que a segunda (um simples elogio feito ao seu próprio pênis) ocorreu no momento imediato que precedeu a irrupção de sua ansiedade na rua (FREUD, [1987]e, p. 35).

b) A atitude em relação ao pai

Hans nota que as condições de sua intimidade com a mãe, que ele desejava tanto, dependia da ausência do pai, idéia essa que tinha originado da presença e ausência alternada de seu pai durante um período de férias – portanto,

uma experiência da ‘história particular’ de Hans. Com isso, nutre desejos de manter o pai ‘fora do caminho’ e, posteriormente, esse desejo toma a forma de que o pai estivesse permanentemente longe – morto. Posteriormente, na fobia – o medo de ser mordido por um cavalo branco liga-se diretamente a essa forma de desejo.

Todos esses elementos tomam forma em sua fobia a cavalos. Todavia, não iremos discutir detalhadamente a formação do sintoma, apenas dar algumas indicações que se relacionam com a angústia de Hans.

Cabe indicar ainda que, apesar da hostilidade, Hans amava profundamente seu pai, com quem brincava constantemente, principalmente de cavalo.

Conforme diz Freud:

Na sua atitude em relação ao seu pai e sua mãe Hans confirma da maneira mais concreta e sem compromisso o que eu tinha dito na minha A

interpretação dos Sonhos com respeito às relações sexuais de uma criança

com seus pais. Hans era realmente um pequeno Édipo que queria ter seu pai ‘fora do caminho’, queria livrar-se dele, para que pudesse ficar sozinho com sua linda mãe e dormir com ela. Esse desejo tinha-se originado durante as férias de verão, quando a presença e a ausência alternativa de seu pai tinha atraído a atenção de Hans para a condição da qual dependia sua intimidade com sua mãe, que ele desejava tanto. Nessa época a forma tomada pelo seu desejo tinha sido simplesmente que seu pai devia ‘ir embora’; num estádio posterior tornou-se possível para seu medo de ser mordido por um cavalo branco ligar-se diretamente a essa forma do desejo[...] Mas, subseqüentemente (provavelmente depois que eles se tinham mudado para Viena, onde não devia contar mais com as ausências do seu pai), o desejo tomou a forma de que seu pai devia ficar

permanentemente longe – que ele devia estar ‘morto’(FREUD, [1987]e, p.

118).

Ø A angústia e a fobia

O início da angústia de Hans se dá em um sonho, do qual desperta em lágrimas e cujo conteúdo era a perda de sua mãe - que sua mamãe tinha ido embora e ficava sem ela para fazer carinho (“mimarmos juntos”, diz).

O fenômeno fundamental, diz Freud, é que sua afeição tinha se tornado fortemente intensa.

Com efeito, no verão precedente, o estado de espírito de Hans era de anseio e apreensão. No anseio, se expressa a excitação sexual intensificada, com o pedido de ser levado para dormir ; a apreensão se manifestava com a idéia comunicada de que tinha medo que sua mãe fosse embora.

Além disso, Hans tinha sensações no seu pênis, como sensações de comichão na glande e de ‘mordida’ e coceira.

Desse primeiro ataque de angústia, segue um outro, quando está na rua passeando com a babá e que se expressa do mesmo modo – que sentia falta de sua mãe. Entretanto, ficar com a mãe, não mais possibilitava a diminuição do anseio. A angústia já havia se ‘instalado’, a princípio indefinida – só sabia que sentia falta de sua mãe - e posteriormente vai tomando a forma da fobia (sintoma), também essa, à princípio, ‘vaga’, mas não mais indefinida: o medo de cavalos.

Freud deixa claro, então, que na primeira reação, era ainda angústia (indefinida) e não medo, pois não sabia dizer do que tinha medo, somente que sentia falta de sua mãe e não queria ficar longe dela. A introdução do cavalo de angústia (de medo) é o sintoma.

Conforme expõe Freud:

Aqui temos o começo da ansiedade de Hans, bem como o início da sua fobia. Vemos, pois, que existe uma boa razão para manter as duas separadas uma da outra. Ademais, o material parece ser amplamente suficiente para fornecer-nos os suportes de que necessitamos; e nenhum momento é tão favorável para a compreensão de um caso quanto seu estádio inicial, tal qual deparamos aqui [...]. O distúrbio teve início com pensamentos ao mesmo tempo apreensivos e ternos, seguindo-se então um sonho de ansiedade cujo conteúdo era a perda de sua mãe e, com isso, não poder mais ‘mimar’ junto com ela. Por conseguinte, sua afeição pela mãe deve ter-se tornado fortemente intensa. Na sua condição era este o fenômeno fundamental.

[...] A ansiedade de Hans, que assim correspondia a uma ânsia erótica reprimida, como toda ansiedade infantil, não tinha um objeto com que dar saída: ainda era ansiedade, e não medo (FREUD,[1987]e, p. 35-36).

[...] Um dia, quando Hans estava na rua, foi acomedido de um ataque de ansiedade. Não podia, contudo, dizer do que é que tinha medo [...] queria ficar com sua mãe e acariciá-la[...]. Logo ficou evidente que sua ansiedade não era mais reconhecível em anseio; ele tinha medo até mesmo quando sua mãe ia com ele (FREUD, [1987]e, p.121).

Posteriormente, com o desenvolvimento da análise, o enunciado do medo aparece: o medo de ser mordido por um cavalo. Esse é o primeiro conteúdo que atribui ao seu medo, tendo, posteriormente, mediante a interpretação do complexo inconsciente no qual ancorava sua doença, modificado os conteúdos para medo de que o cavalo caísse e medo de carroças de mudanças e carroças de ônibus, cuja qualidade comum é estarem pesadamente cheios. Todos eles, faziam parte do complexo materno-paterno e fálico, todavia, o último enunciado do temor,

produzido através da análise era o conteúdo real da fobia, que tinha ligação com as questões de Hans sobre as relações sexuais em que se fundava o complexo reprimido, o que se verá adiante.

A histeria de angústia, diz Freud – neuroses de infância por excelência, condição em que a criança sofre de angústia – transformou-se, em Hans, em uma fobia até ele livrar-se da angústia ao preço de sujeitar-se a inibições e restrições (não sair de casa, por exemplo).

II - A síntese do caso realizada por Freud após a psicanálise

Conforme coloca Freud, a chegada da irmã legou perdas e trouxe novos elementos a Hans (FREUD, [1987]e, p.138) :

1. teve que submeter-se à privação – separação temporária da mãe e, depois, à diminuição permanente dos cuidados que recebia antes;

2. experimentou a reanimação dos prazeres que havia tido com a mãe quando cuidava dele, ao ver a mãe cuidar do bebê;

3. o nascimento estimulou-o a um esforço de pensamento (elemento simbólico) impossível de conduzir a uma conclusão e envolveu-o em conflitos.

O resultado dos dois primeiros é a intensificação das necessidades eróticas e ao mesmo tempo, sua satisfação insuficiente.

A saída para sua afeição são as brincadeiras com as outras crianças, no lugar onde passa férias (Gmundem) e fantasias de que a irmã tinha filhos seus.

De volta a Viena, de novo, sozinho, colocou todas as suas esperanças novamente na mãe; e, exilado do quarto dos pais, se entrega a atividades eróticas regulares – a masturbação dos genitais. Não encontrando o corpo da mãe, encontra uma experiência de satisfação no próprio corpo.

O terceiro elemento apontado por Freud parece o mais importante, por razões que serão colocadas na seqüência da exposição da explicação que ele dá.

Tal como Freud explica esse elemento:

[...] o nascimento de sua irmã estimulou-o a um esforço de pensamento que, de um lado, era impossível conduzir a uma conclusão e que, de outro lado, envolveu-o em conflitos emocionais. Ele deparou o grande enigma do de

onde (sic) é que os bebês vêm, que é, talvez, o primeiro problema a ocupar os poderes mentais de uma criança, e do qual o enigma da Esfinge tebana provavelmente não é mais do que uma versão distorcida. Ele rejeitou a solução oferecida de que a cegonha havia trazido Hanna. Pois ele tinha notado que, meses antes do nascimento do bebê, o corpo de sua mãe tinha crescido, que depois ela tinha ido para a cama, que tinha gemido enquanto o nascimento estava ocorrendo e que, quando se levantou estava magra de novo. Ele então deduziu que Hanna estava dentro do corpo da mãe , e que depois tinha vindo para fora como um ‘lumf’ [cocô] [...] Não havia nada em tudo isso que pudesse tê-lo levado a dúvidas ou conflito.

Mas havia algo mais, que não podia deixar de torná-lo inquieto. Seu pai tinha que ter algo a ver com o nascimento de pequena Hanna, pois ele tinha declarado que Hanna e o próprio Hans eram filhos dele. No entanto, certamente não era seu pai quem os tinha trazido para o mundo, mas sua mãe (FREUD, [1987]e, p.139).

Esse parece ser o mais importante dos elementos – o fator psíquico ou simbólico da sexualidade: um enigma acerca da sexualidade (compreender o que significa, o que diz do sujeito) que se põe pela presença do pai. Se não fosse assim, a masturbação daria conta da satisfação sexual, de ‘pôr a termo’ ou encontrar compensação satisfatória da excitabilidade aumentada em Hans, fato esse que não ocorreu; ao contrário, Hans começou a recusá-la.

Além da questão sobre a função (papel, diz Freud) do pai na ‘produção de bebês’, se Hans aprendeu por experiência que poderia ficar à vontade com sua mãe na ausência de seu pai, era justificável querer se livrar dele, criar hostilidade a ele (que entendemos como o desejo de afastar-se não só da ‘pessoa’, mas das representações que ela traz).

Freud considera que a mentira da cegonha pode ter sido o reforço da hostilidade ao pai, mas, com isso, também deixa implícita a causa simbólica da angústia e formação de sintomas em Hans - não seria, assim, apenas um reforço da hostilidade, mas a causa nuclear do conflito.

Sobre a resposta do pai à questão implícita de Hans a respeito de sua função no nascimento de bebês, Freud aponta:

Seu pai lhe contou a mentira da cegonha e, desse modo, tornou impossível para ele pedir esclarecimento a respeito dessa coisas [sua função no nascimento de bebês, a diferença dos órgãos sexuais]. Ele não só impediu que Hans ficasse na cama com sua mãe, mas também manteve afastado dele o conhecimento de que ele estava sedento (FREUD, [1987]e, p.140).

Com isso, diz Freud, “estava colocando Hans em desvantagem nas duas direções e estava obviamente agindo assim em seu próprio benefício” (p.140).

A resposta do pai de que a cegonha traz o bebê significa, pois, “ que ele excluiu-se, deixou-se de fora” – como se ele dissesse: ‘eu não tenho nada a ver com isso’. A pergunta de Hans, que mal pode ser formulada explicitamente – sobre a copulação (o ato sexual), sobre o desejo, deixa Hans em desamparo simbólico, termo que, conforme veremos, Freud utiliza posteriormente, em 1926, para se referir à ‘causa última’ da angústia.

Freud não deixa claro por que considera que o pai ‘age em seu próprio benefício’, mas uma análise retrospectiva do processo analítico de Hans, possibilita que façamos a seguinte leitura: o pai quer manter o amor de Hans (em certo ponto Freud diz, respeito), quer ser amado. Quando do encontro de Hans e seu pai com Freud, ainda no tempo em que o cavalo era interpretado como a afeição por sua mãe, Hans esbarra em seu pai e diz que foi o pai que bateu nele. O pai não admite, mas os fatos tiveram que ‘convencê-lo’ de que havia uma hostilidade de Hans contra ele.

Falar sobre as necessidades sexuais parece significar ‘arranhar’, ‘cindir’ ou mesmo excluir o amor idealizado (narcísico).

[...]revelei-lhe então que ele tinha medo de seu pai, exatamente porque gostava muito de sua mãe. Disse-lhe da possibilidade de ele achar que seu pai estava aborrecido com ele por esse motivo; contudo, isso não era verdade, seu pai gostava dele apesar de tudo, e ele podia falar abertamente com ele, sobre qualquer coisa, sem sentir medo. [...]. ‘Mas por que você acha que estou aborrecido com você?’, nesse momento seu pai me interrompeu; ‘alguma vez eu ralhei, ou bati em você?’ Hans o corrigiu: ‘Ah, sim! Você me bateu.’ ‘Não é verdade. Então quando foi que aconteceu?’ ‘Hoje de manhã’, respondeu o menino; aí seu pai recordou que Hans, inesperadamente, dera uma cabeçada em seu estômago, e que ele, num reflexo instintivo, o afastara com um tapa da mão. Era surpreendente que ele não tivesse correlacionado esse detalhe com a neurose [...] (FREUD, [1987]e, p. 52).

[...] Mas o que seu pai possa ter perdido no respeito do menino [com o processo de análise], ganhou, de volta, na sua confiança (FREUD, [1987]e, p.150).

Diante do que foi dito, conclui-se que o conflito é um complexo, a partir do qual a angústia e o sintoma foram gerados.

Freud o retoma da seguinte maneira:

O difícil problema da geração de crianças e a tentativa de descobrir o que é que tinha que ser feito com sua mãe para que ela pudesse ter filhos trouxe uma questão para Hans. Seu pai sabia de onde vinha as crianças e as fez. Hans só ‘adivinhava’ isso obscuramente. O pipi tem algo a ver com isso,

pois o seu próprio fica excitado toda vez que pensou nessas coisas, mas tem que ser um pipi grande, maior que o de Hans.

[...] de modo que esse elemento da neurose [complexos e desejos inconscientes] torna-se ligado ao problema de saber se sua mãe gostava de ter filhos ou era obrigada (FREUD, [1987]e, p. 140).

Fica implícito, então, que o nascimento de Hanna em correspondência com a separação da mãe e a ‘presença do pai’ (real e simbólica), trouxe, além da intensificação da excitação e da produção da hostilidade, um sério problema para Hans: Hans queria saber do sexo – da significação do falo: do seu próprio sexo, do outro sexo e das relações entre eles.

Assim continua Freud:

Se ele atendia a essas sensações premonitórias, só podia supor que era [o ato sexual] uma questão de algum ato de violência executado em sua mãe, de quebrar alguma coisa, de fazer uma abertura em alguma coisa, de forçar um caminho num espaço fechado – tais eram os impulsos que ele sentiu agitando-se dentro dele (FREUD, [1987]e, p. 140).

Essa interpretação de Freud é em referência a duas fantasias de Hans expressas mais ao final da análise, a partir do desvendamento do complexo mais nuclear – do parto da mãe, a que a representação da carroça carregada correspondia.

As sensações em seu pênis, conforme Freud diz ainda, colocaram- no no caminho de pressupor uma vagina.

Hans não podia resolver o problema ainda, esclarece Freud, pois em sua experiência não existia tal coisa como seu pipi exigia.

Com tudo isso, parece esclarecido, que Hans estava buscando uma resposta – saber do sexo - e realizando uma tentativa de encontrá-la a partir da experiência que tinha anteriormente – os impulsos sádicos-ternos em relação à sua mãe e a hostilidade em relação a seu pai.

Entende-se que a resposta insatisfatória dada por seu pai sobre o nascimento de bebês (a cegonha traz), acrescida da premissa da primazia universal do falo, principalmente com relação à sua mãe – tinha convicção de que ela tinha um pênis, confirmado por ela própria (tendo assim, também dado uma resposta insatisfatória) – se pôs no caminho da resposta que buscava.

E ainda, que o saber que tinha anteriormente era narcísico: amar - ser amado. Hans não tinha a significação dos genitais femininos e da cópula. Sendo assim, há uma quebra nas suas premissas anteriores e com isso a introdução de