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A relação entre o Museu e a Web é complexa mas a convergência é inevitável para que o Museu se aproxime do público e se integre numa sociedade cada vez mais digital. A conceção do Museu no digital altera a dinâmica do fluxo de informação criando os alicerces para uma cultura cada vez mais participativa e para o surgimento de uma inteligência coletiva. Os novos desafios do Museu não são meramente tecnológicos, são antes de mentalidade onde o Museu se torna um organismo vivo e dinâmico.

O repto da adaptação da instituição museológica às novas formas de comunicação assentes nas novas tecnologias e na Web está cada vez mais a ser explorado e é pensado de forma consciente. Desde a emergência dos websites, até a utilização de social media, diversos museus têm realizado experiências, utilizando as ferramentas da segunda geração da Web para concretizar e potenciar um envolvimento cada vez maior de públicos diversos e heterogéneos. As possibilidades à disposição dos museus são imensas e devem ser exploradas. As plataformas digitais permitem ao utilizador criar a sua própria experiência no Museu sem estar obrigado a um caminho pré-definido ou às escolhas designadas por outros (Proctor, 2010). Sugere-se que os especialistas museológicos se tornem mais flexíveis dando acesso ao acervo sem grandes definições ou escolhas (Russo, Watkins, Kelly, & Chan, 2008), visto que se perspetiva a transformação do utilizador num visitante sobre o lema “do it yourself” dando preferência a uma navegação própria do que guiada, recorrendo aos conhecimento especializado quando sentir necessidade.

Os museus caminham um trilho de transformação de uma instituição fechada nas suas paredes para um Museu visto como uma instituição flexível, aberta e colaborativa onde a intervenção do seu público é tida em conta e considerada. A atenção que o Museu presta ao seu público reflete-se no diálogo continuamente criado com a audiência que permite a abertura a novas visões e perspetivas (Ellis & Kelly, 2007). Esta infraestrutura de participação promove a mudança de paradigma comunicacional do Museu, evoluindo este de uma instituição rígida onde os conteúdos são somente providenciados pelos museólogos para um novo estado museológico onde é dado ao

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utilizador um papel ativo e colaborativo (Harrison & Barthel, 2009) na construção do conhecimento providenciado pelos objetos museológicos.

Segundo Marchall McLuhan o meio é a mensagem (McLuhan & Lapham, 1994), isto é, o media está intimamente ligado com a informação que transmite, modelando a forma como as pessoas pensam e procuram informação. Neste caso, a Internet e as ferramentas da Web 2.0 que permitem uma aproximação do indivíduo com o conteúdo fazem com que o indivíduo adeqúe a sua forma de pensar perante o meio e sobretudo perante o conteúdo. Hoje em dia existe uma sobrecarga de informação vinda das mais diversas fontes de informação sem barreiras temporais ou espaciais fazendo com que a informação ubíqua e universalmente disponível.

O core museológico assenta sobretudo na seleção, aquisição, preservação e exposição de informação cultural e museológica. A curadoria está intimamente ligada ao trabalho de especialidade conseguido através de investigação e trabalho científico. A cibercultura e a participação levantam o problema de consistência e validade da informação a que temos acesso. Se por um lado a participação cria novas visões e perspetivas por outro apresentam opiniões não especializadas. Segundo esta linha de pensamento levanta-se a seguinte questão, até que ponto é que é valorizado em demasia a opinião do público que não é especializado na área?

A verdade é que o papel da curadoria está a alterar-se de uma forma muito visível. Verifica-se uma democratização do cargo, sendo o resultado o equilíbrio entre o conhecimento especializado e a opinião da comunidade. Todos podem ser potenciais curadores, está nas mãos das instituições museológicas a forma como a curadoria utiliza as opiniões dos visitantes. O espectro de possibilidades é enorme, desde a recolha simples de formulários respondidos pelos utilizadores que ajudam a curadoria a perceber interesses e preferências dos utilizadores mas não os envolve nas decisões essenciais ao desenvolvimento da sua atividade como o Museu da Ciência e da Industria de Chicago36 (a resposta ao questionário serve não só para o Museu compreender os interesses do utilizador bem como definir uma visita personalizada) até à intervenção direta no papel do curador na aquisição de objetos museológicos como foi o caso do Rohsska Museum37 da Suécia que decidiu deixar a decisão de aquisição de um objeto controverso ao cargo de um grupo de 1500 indivíduos ligados à instituição através de uma rede social.

Assim, a curadoria deve por um lado se reajustar a esta realidade proporcionando ao utilizador a possibilidade de interagir com o acervo ou exposição de uma forma livre potenciando desta forma a criação de novas perspetivas e opiniões. Que não haja enganos, a curadoria tem um papel de extrema importância no desenrolar das atividades do Museu e não é de todo dispensável, tem é que se ajustar ao novo visitante permitindo a criação de novas visões. Os museus devem evoluir

36 http://www.msichicago.org/ - consultado em 01 de Agosto de 2012 37 http://www.designmuseum.se/ - consultado em 01 de Agosto de 2012

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do papel de “fornecedores” de informação cultural para uma instituição que providencia informação, conhecimento e as ferramentas para os visitantes explorarem o acervo pelo seu caminho particular de forma a chegarem às suas próprias ideias e conclusões (Bradburne, 1998). Autores como Freedman defendem que o Museu deve evoluir para um papel de mediador de informação e conhecimento, ficando a cargo do visitante o acesso que se fará nos termos, espaços e tempos que este pretenda (Freedman, 2000). Investigação na área indica que o foco da atenção deve ser centrado no utilizador visto que as audiências procuram cada vez mais experiências interativas (Kelly, Cook, & Gordon, 2006)

Em suma, e segundo Hooper-Greenhill, os museus sofreram alterações profundas, resultado da interligação de diversos fatores: o aumento da competitividade do mercado nos sectores do lazer e do turismo, novas práticas educativas e pedagógicas e, principalmente devido à democratização da informação e acesso ao conhecimento (Hooper-Greenhill, 2002). A reflexão sobre o conceito de Museu e objeto museológico com a influência das TIC e da Web modifica o papel e comportamento dos intervenientes no Museu, No entanto, os benefícios da Web pressupõe aceitar e entender a mudança de paradigma que exige ao Museu a partilha de autoridade cultural e mudem de postura em relação ao seu papel mudando de autoridade disseminadora de conhecimento para entidade de diálogo e de colaboração.

Algumas particulares da Web, como a virtualidade ou a não-linearidade, elevam a potencialidade do Museu no digital como gerador de experiências dinâmicas e interativas que podem cativar cada vez mais público providenciando uma maior audiência quer para o Museu no digital como para o Museu físico.

A grande vantagem na utilização da Web como veículo de comunicação é o contacto privilegiado com o seu público, mas, além do contacto com o público, a Web, proporcionou a criação de laços com outras instituições e especialistas, permitindo troca de know-how e a colaboração interinstitucional.

Em resumo, as Tecnologias de Informação e Comunicação, em especial a Internet vieram oferecer a oportunidade às instituições museológicas de criar e desenvolver comunidades heterogéneas onde é possível partilhar conhecimento e desenvolver experiências que se podem refletir quer no digital quer no físico. O espaço virtual do Museu pode-se desenvolver baseado das mais variadas formas e com o apoio de diferentes ferramentas. Podemos participar num blogue, comentar os objetos, deixar a nossa opinião numa exposição virtual, ouvir um podcast sobre o acervo do Museu, publicar fotos e vídeos sobre uma visita, conviver com outros visitantes através das redes sociais, opinar sobre exposições futuras, interagir virtualmente com objetos, visitar o Museu de forma personalizada, consultar hiperligações com informações relacionadas, etc. estas e outras possibilidades, mais ou menos complexas, estão ao alcance dos museus, permitindo uma maior

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interação com o seu publico. Mais do que a interação o utilizador passa a ter um papel ativo na construção do percurso e conhecimento museológico privilegiando uma relação dinâmica com o Museu (S. Smith, 2008). A inexistência de fronteiras e de horários permite ao visitante uma experiência museológica a qualquer hora do dia em qualquer parte do globo (Hemminger et al., 2004) permitindo uma democratização cultural bem como um incentivo à participação. A Web dirige-se para um nível superior de participação desenvolvendo-se para lá dos fluxos de informação entre atores digitais, caminhando para a potenciação de novas formas de comunicação e de concepção de conhecimento. A este facto não estão alheias as instituições culturais, e embora com alguma resistência numa fase inicial, os museus começam a dar passos significativos para construção e desenvolvimento de representações deles mesmos online que permita um contacto imensamente próximo do acervo com o público facilitando o acesso e abrindo-se a novas audiências. Esta flexibilização do Museu facilita também o cumprimento do seu papel social como instituição de disseminação cultural. A inclusão de elementos considerados de cultura de massas para divulgação de informação científica e museológica nem sempre foi pacífica, mas o aumento da adesão do público aos museus, tem vindo a mostrar que a relação entre o pensamento científico e a cultura de massas permite a concepção de novas formas de ver e compreender o Museu.

As ferramentas Web em consonância com a construção do Museu no digital emergem com o surgimento da cibercultura que promove transformação das relações entre os indivíduos, a tecnologia e a cultura. De uma forma substancial, os indivíduos têm neste momento a possibilidade de troca de experiências e colaboração potenciando o desenvolvimento de uma inteligência coletiva baseada na cultura participativa. O trabalho colaborativo online está na natureza do processo social envolvendo os fluxos de informação (Bennett & Dziekan, 2005).