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Jovem de 19 anos, bem arranjada, bonita Não demonstra interesse particular na conversação, limitando-se ao débito rápido e linear da sua experiência de vida como

mulher no "mundo das drogas".

Fez 6 anos de escolaridade, abandonando o percurso escolar no período de maior

envolvimento no consumo de drogas. Nunca teve experiência de trabalho formal;

trabalhou sempre em actividades de prostituição para sustentar os seus consumos e o

dos companheiros e para garantir a sobrevivência quotidiana.

Consumiu "drogas leves" aos 12 anos porque o ambiente de bairro em que vivia o

favoreceu: "estava tudo ali ao meu lado a fumar..."

Iniciou-se no consumo de "drogas duras" aos 14 anos com o namorado, um rapaz mais

velho, experiente em consumos e pequenos delitos, a quem atribui responsabilidades no

seu percurso de vida: "não fui obrigada a nada, mas eu como amava...", e, "no fundo ele

sabia o que eram as drogas e pôs uma miúda de 14 anos ao pé dele a fumar".

Lembra-se da primeira vez que que fumou heroína e cocaína com o namorado e uns amigos num prédio abandonado, antes de irem para a discoteca: "foi bom, muito bom, a primeira vez, foi muito bom mesmo...".

Inicialmente, quando ainda frequentava a escola e vivia em casa dos pais, com o dinheiro que lhe davam para o dia, consumia cocaína. Gostava mais de cocaína: "sente-se o coração acelerado..., parecia que ia às nuvens e vinha". Depois começou a utilizar cada vez mais heroína, porque a acalmava: "não se consegue andar a consumir só cocaína, deixa uma pessoa stressada".

Saiu de casa para viver com o companheiro no "mundo das drogas" e iniciou-se na prostituição: "já ressacava, tinha dores, por isso é que fugi de casa e por isso é que fui dar o corpo para consumir". Garantia, assim, os seus consumos e os do companheiro. A relação entre ambos passou a ser de chulo e prostituta: "eu ganhava, e no fundo era tudo para ele, depois começou a bater-me mesmo e eu sempre a pensar que me amava...".

Decidiu tratar-se por pressão familiar. Logo em seguida recaiu e voltou ao mesmo estilo de vida com o primeiro companheiro. Outras tentativas de tratamento se seguiram.

Numa dessas tentativas conheceu o actual companheiro com quem fez projectos de vida sem droga, mas com quem acabou por retomar e partilhar o último período de consumos em que se envolveu.

Contra a vontade dele, prostituiu-se para garantir os consumos de ambos. Na medida do possível, o companheiro vigiava os clientes, de forma a evitar-lhe maiores danos. Não obstante, foi violada uma vez.

A vivência da droga com o companheiro foi sempre muito ambivalente, pois ambos sempre pensavam em tratar-se. Considera que ele foi muito importante para a decisão de

tratamento: "ajudou-me muito, eu não queria droga mas ao mesmo tempo tinha o bichinho da cocaína a bater na minha cabeça...".

Actualmente faz tratamento em programa de substituição de metadona em conjunto com companheiro: "a força que eu tenho agora é ter o homem que tenho, ter a família que tenho..., querer viver".

Faz questão de realçar o "sem sentido" da sua experiência como mulher toxicodependente, objecto de violência nas relações que manteve com homens.

Dl

Tem 42 anos, está bem vestida e apresenta sinais distintivos de pertença a uma classe economicamente mais favorecida. Distingue-se da imagem comum dos utentes do CAT. O discurso é fluente, mas sem grande esforço reflexivo.

Fez oito anos de escolaridade. Deixou de estudar porque o pai assim o decidiu quando tomou conhecimento que ela usava drogas com os amigos de escola.

É talhante de profissão e actualmente trabalha no negócio do companheiro. Sempre trabalhou e ganhou bem durante o período de dependência, apesar de alguns percalços. Considera-se boa profissional e valorizada por mérito.

Tem duas filhas do primeiro homem com quem esteve casada dez anos que, tal como ela, não consumia. As filhas vivem com avós maternos desde que se separou do marido. Após a separação foi viver com outro companheiro, consumidor, com quem percorreu todo o seu trajecto de "abuso" de drogas.

Vive há cerca de um ano com outro companheiro, não consumidor, com quem trabalha. Durante este período Di absteve-se de consumos.

Experimentou drogas "leves" e estimulantes aos 16/17 anos com um grupo de amigos. Usou regularmente Preludin, por via endovenosa porque gostava, "gostei logo, porque era speed, dava para ter genica...", assim como gostava da "sensação da seringa".

No entanto, não lhe foi difícil a paragem destas experiências, que aconteceu por imposição familiar: "deixei de estudar, deixei de ter as companhias". Considera que os amigos eram a razão dos consumos: "eles drogavam-se eu também me drogava para não me sentir fora".

Voltou a consumir drogas quinze anos depois, quando se separou do primeiro marido e se apaixonou por um homem consumidor. Vivendo com ele, presenciou os seus consumos em casa com os amigos até que desejou experimentar: " fui eu que lhe pedi..., injectado, porque eu tinha a sensação que ia ser melhor".

Manteve a utilização de drogas com o companheiro, vivendo a experiência como uma partilha de sensações de prazer e de "aventura": "a heroína consegue mexer mesmo com a pessoa..., a pessoa sente-se bem...".

Ele era o intermediário face ao "mundo das drogas". Era ele que ia comprar, embora ela o conduzisse sempre e aguardasse no carro.

Di fazia uma gestão cuidada do seu consumo de forma a poder integrá-lo num estilo de vida "responsável". Por um lado, porque conseguia manter a sua imagem dissociada do uso de drogas com a colaboração do companheiro. Por outro lado, porque o facto de trabalhar, tal como o companheiro, permitia-lhe ter regularmente dinheiro disponível para ir sustentando os consumos sem faltas. Contudo, na fase final, considera que era mais a rotina que impunha os consumos, não havendo prazer significativo associado.

Di justifica as suas tentativas falhadas, e o tempo de consumo prolongado, com o facto do companheiro não ser capaz de se abster: "...e depois bastava eu vê-lo...". Di, de facto,

interrompia os consumos sem dificuldade quando ia de férias com a família, sem ele, e