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O arranjo institucional Mineral-Metalúrgico de Minas Gerais como sistema regional de

2 INOVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

2.4 O arranjo institucional Mineral-Metalúrgico de Minas Gerais como sistema regional de

e pontes junto ao sistema produtivo capazes de promover o aprendizado regional e a competitividade da região frente ao mercado internacional, por meio de seu potencial inovativo, se coloca, então, como uma estratégia chave para os processos de crescimento e desenvolvimento regional.

2.4 O arranjo institucional Mineral-Metalúrgico de Minas Gerais como sistema regional de inovação

Tendo em vista os objetivos do presente trabalho buscar-se-á caracterizar o que se entende por sistema de inovação mineral-metalúrgico de Minas Gerais. Este setor, que constituiu uma das principais áreas de atuação econômica do estado de Minas desde as primeiras tentativas de implantação da fabricação de metais no Brasil, tem história e dinamismo diferenciados em relação a outros setores no que diz respeito à sua atividade tecnológica, sendo esta em grande parte influenciada pela presença de instituições voltadas para a atividade de ensino e pesquisa.

As bases institucionais deste sistema de inovação particular remetem ao século XIX, com a criação da Escola de Minas de Ouro Preto, que deu origem à atual Universidade Federal de Ouro Preto, e seu empenho na formação de uma força de trabalho altamente qualificada para os padrões brasileiros da época. Destaca-se também sua intensa atividade de pesquisa, dado que a Escola de Minas foi o berço da produção científica nas áreas de geologia e mineralogia no país entre as últimas décadas daquele século e as primeiras do século XX. À Escola de Minas de Ouro Preto veio se somar a Escola de Engenharia de Belo Horizonte, criada em 1911, vindo a ser parte da Universidade de Minas Gerais (UMG), posteriormente federalizada como UFMG. A criação dos cursos de Engenharia Metalúrgica e de Minas da Escola de Engenharia da Universidade de Minas Gerais nas décadas de 1940 e 1950 reforçou o aparato institucional deste sistema de inovação. Esta universidade contribuiu intensamente para a formação de pessoal qualificado e para a produção científica no campo mineral-metalúrgico, abrigando uma pós-graduação em engenharia metalúrgica e de minas que se destaca pela interação com o setor produtivo. Na década de 1940 foi criado pelo governo do estado o Instituto de Tecnologia Industrial (ITI), o qual foi vinculado à Escola de Engenharia da UMG. O ITI apresentou em seus

quadros grande participação de pesquisadores egressos da Escola de Minas de Ouro Preto, atuando de forma intensa na produção tecnológica do estado, contudo padeceu com problemas administrativos e burocráticos ao longo de sua existência. Na década de 1970 o ITI foi incorporado ao recém criado Centro Tecnológico de Minas Gerais (CETEC). Àquela época o ITI se encontrava no cume de sua crise administrativa enquanto o CETEC havia sido criado com o objetivo de estimular o setor produtivo do estado por meio do desenvolvimento tecnológico. Nesse sentido, o CETEC se destinou a desenvolver atividades de P&D em variados ramos de atividade, inclusive na metalurgia, num contexto no qual se vislumbrava uma retomada do desenvolvimento da economia mineira. Deste modo, o CETEC atua desde sua fundação prestando serviços tecnológicos para o setor produtivo e estabelecendo uma ponte entre a atividade científica e as empresas.

A esfera produtiva deste sistema começa a se formar no século XIX com a instalação de forjas e altos-fornos com vistas a utilizar o minério de ferro abundante no estado. Mas, a consolidação deste sistema foi impulsionada somente no decorrer do século XX, com a implantação de grandes unidades siderúrgicas a carvão vegetal, a partir da Cia. Belgo- Mineira, criada em 1921, e outras como a ACESITA e a Mannesmann, nas décadas de 1940 e 1950, e, posteriormente, das siderúrgicas a coque, como a USIMINAS e a AÇOMINAS, nas décadas de 1960 e 1980 (DINIZ, 1981). Por meio da instalação destas unidades produtivas foi formado em Minas Gerais um moderno e grandioso parque siderúrgico, responsável pela maior parcela da produção brasileira de aço durante a quase todo o século passado. Além do parque siderúrgico, outras atividades relacionadas à mineração e à metalurgia de outros metais se instalaram no estado. Cabe mencionar a atuação da Cia. Vale do Rio Doce, criada em 1942, e que é a principal mineradora brasileira com importância internacional e grande atuação tecnológica. A metalurgia do alumínio também tem destaque tendo seu impulso inicial em Minas Gerais com a instalação da Eletroquímica Brasileira S. A. – ELQUISA, que iniciou operações em 1945 em Ouro Preto. A produtora de alumínio fundada pelo empreendedor mineiro Américo Gianetti foi posteriormente adquirida pelo grupo canadense Alcan.

Assim, foram criados ao longo daquele século um sistema institucional e um sistema produtivo que juntos fundamentaram um sistema de inovação diferenciado. Este sistema ganhou consistência ao longo dos anos com o estabelecimento de inter-relações entre as instituições de ensino superior e pesquisa e as grandes empresas, a partir de articulações

entre o sistema de pós-graduação e as siderúrgicas presentes em Minas Gerais, por meio de convênios e parcerias entre estas partes deste arranjo institucional (PAULA E SILVA, 2007; SÁ, 1984). Nesse sentido, a presença de instituições de ensino e pesquisa de excelência e sua associação com setor produtivo dedicado a este ramo de atividade têm culminado num vigoroso processo de transferência de conhecimento e criação científica e tecnológica neste estado.

Atualmente, tanto a UFMG quanto a UFOP podem ser consideradas centros de excelência na formação de recursos humanos nesta área. Isto por contarem com cursos de graduação e pós-graduação de reconhecimento nacional e internacional e atuarem na condução de pesquisas alinhadas a uma das especializações econômicas do estado (LEMOS; DINIZ, 1999). Tal condição contribui para que neste setor em Minas Gerais se encontre uma das características que Florida (1995) aponta como fundamentais para a manutenção de competitividade internacional das regiões frente à economia global, a presença de uma infra-estrutura humana. Estas instituições apresentam, ainda, fortes interações envolvendo o setor produtivo em vários aspectos. Cita-se a condução de pesquisas conjuntas com o setor privado ou sob encomenda de empresas e a existência de convênios abarcando atividades de treinamento e qualificação de mão-de-obra ocorrendo em Minas Gerais (RAPINI et al., 2006). Há, portanto, neste sistema de inovação outra das características chave para a evolução do processo inovativo, a cooperação entre os agentes que atua de forma a disseminar o conhecimento internamente gerado propiciando a materialização das externalidades geradas pela presença de tal arranjo institucional. Isso proporciona um ambiente facilitador para a execução das atividades tecnológicas por parte das siderúrgicas mineiras impulsionando seu potencial inovativo.

Influenciadas pela presença destas instituições de pesquisa e de uma força de trabalho altamente qualificada para o setor, as empresas constituintes do parque siderúrgico mineiro se esforçaram em implantar no estado laboratórios de P&D e atuar intensivamente no fomento da produção tecnológica. A participação destas na produção tecnológica do estado teve ao longo dos anos uma posição de destaque em relação às demais atividades econômicas presentes em Minas Gerais. Albuquerque (2007) identifica a considerável participação de empresas relacionadas ao setor mineral-metalúrgico dentre as principais depositantes de patentes do estado, com especial destaque para as siderúrgicas, o que pode ser identificado como um sinal da intensa produção tecnológica deste setor em Minas

Gerais e um reflexo da existência de um ambiente institucional propício ao desenvolvimento inovativo. Para este autor as empresas ligadas à siderurgia detêm um papel relevante na produção tecnológica do estado devendo, assim, incrementar seu potencial para o aproveitamento das “janelas de oportunidade” que se abrem no atual contexto, dado o seu peso para o conjunto da economia mineira.

O estabelecimento desde o século XIX de unidades produtivas associada à implantação de uma estrutura institucional de ensino e pesquisa, iniciada com a Escola de Minas e desenvolvida ao longo do século XX, podem ter contribuído positivamente para o surgimento de uma cultura inovativa na siderurgia de Minas Gerais. Logo, a convivência em um mesmo ambiente regional possibilitou a estas unidades produtivas, aos trabalhadores do ramo e aos pesquisadores o estabelecimento de fluxos de informação e relações de confiança e cooperação.

Logo, frente a um novo paradigma no cenário internacional, o da economia global as empresas que compõem o parque siderúrgico de Minas Gerais encontram-se em uma condição diferenciada. Isso, pois, contam com um aparato institucional apto a dar suporte à sua atividade inovativa. Este aparato institucional pode ser identificado como um sistema regional de inovação específico, delimitado por fatores locais, culturais e sociais. Nesse sentido, justifica-se a importância do entendimento dos determinantes para o sucesso inovativo da atividade siderúrgica mineira e qual é o efeito gerado por este sistema de inovação na atividade tecnológica deste setor industrial.

3 A FORMAÇÃO DO PARQUE SIDERÚRGICO DE MINAS

GERAIS