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O aumento do acesso aos alunos nas redes públicas de ensino na década de 1980 coincide com a democratização do país e a luta da classe popular pelo direito à educação. Nesse contexto, a escola passa a atender um número maior de alunos, a partir dos anos de 1980 e 1990, sem, contudo, estar

preparada para esta nova demanda, pois, com a chegada das classes anteriormente afastadas da escola, esta passou a assumir novas funções como: ações sociais e assistenciais às crianças das classes menos favorecidas, tais como distribuição da merenda e material escolar, creches e fardamento.

Com a ampliação do acesso, segue-se a preocupação com a qualidade educacional, e nesse contexto, o Saeb foi implantado pelo Governo Federal no início dos anos de 1990, passando por várias estruturações, conforme já mencionado. O Saeb foi criado para diagnosticar a realidade educacional brasileira, e tinha como objetivo obter dados que possibilitassem subsidiar políticas públicas. A partir de 2005, o Saeb passou a contar com duas avaliações complementares: ANEB e ANRESC.

Após duas edições da Prova Brasil, foi constatado que o nível de desempenho dos alunos na leitura e compreensão de textos e conhecimentos matemáticos ainda não se apresentava de forma satisfatória, o que resultou, no ano de 2008, na criação da Provinha Brasil, que tinha como finalidade diagnosticar o nível de letramento dos alunos que estavam cursando o 2º ano de escolarização para, então, aplicar intervenções que possibilitassem melhorar a aprendizagem das crianças.

A Provinha Brasil é realizada em dois momentos: no início do ano, como forma de diagnosticar o nível de alfabetização dos alunos para então trabalhar com as dificuldades relacionadas às habilidades de leitura e escrita; e ao final do ano, como forma de verificar se as dificuldades apresentadas foram sanadas durante o processo.

As diferentes modalidades de avaliação em larga escala praticadas no sistema educacional brasileiro, apontadas por Werle, “acompanham um discurso de ênfase na qualidade, políticas de descentralização, avaliação de produto, resultados e um discurso de atendimento à pressão social” (2010, p.34).

Casassus (2009) aponta que um dos perigos dos sistemas de avaliação é a possibilidade da redução dos currículos às áreas e tópicos abrangidos pela avaliação padronizada, pois os professores podem acabar “ensinando para o

exame”, fazendo com que “os professores ocupem o tempo a exercitar os alunos a escolher uma resposta entre as apresentadas” (p. 75).

Levando-se em conta a opinião de Casassus, os simulados elaborados nos moldes das avaliações externas é um dos indícios de que existe mesmo um treinamento, fruto das pressões externas e internas por melhores resultados nessas avaliações, que motiva gestores e professores a ensinar para as provas. Desta forma, o currículo a ser trabalhado é reduzido a simulados que, muitas vezes, é enviado pela própria Secretaria de Educação.

O que as escolas e as secretarias ainda precisam levar em conta, é que, se o currículo a ser trabalhado for realmente cumprido de forma eficaz, não é necessário que se treine para as avaliações, pois o aluno estará apto a realizar qualquer tipo de avaliação.

Vale salientar que a avaliação externa não substitui as avaliações internas. Enquanto as avaliações internas avaliam a aprendizagem do aluno, por meio de instrumentos diversificados como provas abertas, objetivas, observações, portfólios, registros, utilizando a teoria clássica dos testes, a avaliações externa avalia o desempenho dos alunos por meio de testes de proficiência e questionários contextuais, fazendo uso da Teoria de Resposta ao Item (TRI), o que possibilita uma visão geral da educação nos estados e no Brasil.

Nesse sentido, é válido enfatizar que nenhuma avaliação educacional tem por objetivo treinar alunos para que se saiam bem nas avaliações, haja vista o resultado das avaliações externas por si só não significarem o domínio completo do conteúdo, a melhoria nos testes é apenas a consequência de uma melhoria na aprendizagem. Deve-se levar em conta que os objetivos das avaliações externas, conforme já mencionado, é avaliar o desempenho dos alunos enquanto que as avaliações internas avaliam o processo de ensino- aprendizagem.

No entanto, essa prática é incentivada na maioria dos estados brasileiros, inclusive no Amazonas, com as políticas de bonificação, que estabelecem prêmios às escolas que conseguem melhorar seus resultados e alcançar suas metas. No caso do SADEAM, professores e demais funcionários são contemplados com prêmios de décimo terceiro e décimo quarto salários e

as escolas recebem verbas que devem ser utilizadas na melhoria da qualidade da educação. Desta forma, na maioria dos casos, a premiação incentiva gestores e professores a treinarem os alunos para as avaliações.

Na portaria 2005, que normatiza o Saeb, em seu parágrafo 2º, estão explicitados os seguintes objetivos gerais:

a) avaliar a qualidade do ensino ministrado nas escolas, de forma que cada unidade escolar receba o resultado global ;b) contribuir para o desenvolvimento, em todos os níveis educativos, de uma cultura avaliativa que estimule a melhoria dos padrões de qualidade e equidade da educação brasileira e adequados controles sociais de seus resultados; c) concorrer para a melhoria da qualidade de ensino, redução das desigualdades e a democratização da gestão do ensino público nos estabelecimentos oficiais, em consonância com as metas e políticas estabelecidas pelas diretrizes da educação nacional; d) oportunizar informações sistemáticas sobre as unidades escolares. Tais informações serão úteis para a escolha dos gestores da rede a qual pertençam. (BRASIL, 2005).

Além do Saeb, que avalia a Educação Básica no país, surgem outras avaliações externas para avaliar a educação brasileira em suas diversas modalidades. Em 1998, passou a existir o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), com o objetivo de avaliar o desempenho do estudante ao final da educação básica com vistas a melhorar a qualidade do ensino nesse nível de escolaridade. A partir de 2009, esse sistema de avaliação passa a ser utilizado como seleção para ingressar no Ensino Superior e vem apresentando um forte crescimento com relação à participação em todo o Brasil ao longo do tempo.

As avaliações externas não se destinam apenas à educação básica, essa prática também é vivenciada no Ensino Superior, que passa por avaliações para a medição da qualidade dos cursos oferecidos à população. Desta forma, o Exame Nacional de Cursos (ENC), conhecido como Provão, foi aplicado nos anos de 1996 a 2003 e, posteriormente, foi substituído pelo Exame Nacional de Desempenho do Ensino Superior (ENADE), criado pela Lei 9131/95, com o objetivo de avaliar o desempenho dos estudantes e as habilidades e competências em sua formação. Este exame integra o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), criado pela Lei nº

10.861 de 14 de Abril de 2004, tendo como componentes principais a avaliação das instituições, dos cursos e do desempenho dos estudantes.

Com relação ao Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (ENCEJA), que é aplicado desde 2002, seu objetivo é oportunizar aos jovens e adultos que residem no Brasil e no exterior que não conseguiram concluir seus estudos a possibilidade de conclusão.

Portanto, diante de tantas mudanças na área educacional, principalmente em se tratando de avaliações externas, cada estado passa a investir em seus sistemas de educação com políticas públicas capazes de alavancar os índices de desempenho de seus alunos em nível nacional.

Desta forma, os estados brasileiros foram motivados a criar seus próprios sistemas de avaliação, tendo em vista a necessidade de atender a novas demandas por qualidade propostas pelo Governo Federal e pela sociedade civil, pois o baixo desempenho dos alunos nas avaliações externas nacionais era alarmante.

Nesse sentido, para diagnosticar as causas do baixo desempenho escolar dos alunos nessas avaliações, os estados passaram a elaborar seus próprios sistemas de educação. Assim, no ano de 2008, o estado do Amazonas criou o SADEAM, o qual está diretamente ligado ao objeto de estudo desta pesquisa e será melhor detalhado na próxima seção.