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As eleições legislativas de Janeiro de 1922 e as negociações entre o PRRN e o PRL

Capítulo I Partidos e Sistemas Partidários na Europa do pós guerra

1. A formação de um partido republicano conservador alternativo ao PRP Um longo caminho de dificuldades

1.2. As eleições legislativas de Janeiro de 1922 e as negociações entre o PRRN e o PRL

Após a revolução de 19 de Outubro de 1921 os principais partidos republicanos (PRP; PRL; PRRN) foram forçados a fazer uma «frente única» para conseguir trazer o regime para um quadro de normalidade constitucional, afastando-o do clima revolucionário propiciado pelos «Outubristas». Este pacto foi assinado a 22 de Novembro de 1921207 e materializou-se na aprovação de um «Programa de Realizações Imediatas»208 e na formação de um governo de convergência integrando elementos do PRRN, do PRL, do PRP e independentes, chefiado por Cunha Leal209, que preparou as novas eleições legislativas de Janeiro de 1922 tendo em mente “entregar o Poder aos partidos”210

. O pacto entre as forças republicanas quebrou-se a quando da preparação das listas eleitorais. Os «Outubristas» exigiram 41 deputados, incluindo 2 comunistas, os liberais, os reconstituintes e os democráticos também exigiam um número de deputados desproporcionais, instalando-se uma guerra entre as estruturas centrais e as estruturas locais dos partidos, dado que as primeiras queriam impor às segundas os seus candidatos211. Por outro lado, o presidente do conselho de ministros queria que o novo Parlamento tivesse um novo equilíbrio de forças que propiciasse um conjunto de reformas legislativas e constitucionais que permitisse dar estabilidade à República. Não queria entregar o poder de «mão beijada» novamente aos democráticos e procurou trazer para o Parlamento, novas personalidades, vindas das associações patronais, tentando regenerar a política e o regime, no sentido de formar um novo grupo político que contrabalançasse o poder dos democráticos. Os homens próximos de Cunha Leal, denominados «Governamentais», também tinham caras conhecidas da política nacional, autênticos profissionais da política caciquil, como Nuno Simões. Para ganhar eleições não bastava ter boas ideias e bons candidatos, era necessário jogar o jogo duro da «política dos amigos» e do «patrocinato»212.

A «preparação» antecipada dos resultados eleitorais e da eleição dos deputados foi novamente uma prática generalizada, tendo os principais partidos feito «pactos» em muitos círculos para não terem de ir para a luta eleitoral aberta e incerta. Assim, a prática mais comum foi a «troca de votos». O partido A não ia a votos no círculo 1 «transferindo» os seus votos para o partido B, em troca da integração de um seu

embates dos jacobinos e dos exaltados e às suas empresas revolucionárias”, Augusto de Vasconcelos, O

Figueirense, 25-2-1923, p. 1. Cf., República, 23-12-1923, p. 1

207

Cf., O Mundo, 23-11-1921, p. 1; A Lucta, 23-11-1921, p. 1; “A União dos Partidos Constitucionais”, O

Regionalista, 26-11-1921, p. 1; “O Pacto dos Partidos”, O Regionalista, 4-12-1921, p. 1; João Manuel

Garcia Salazar Gonçalves da Silva, O Partido Reconstituinte: Clientelismo, faccionalismo e a

descredibilização dos partidos políticos durante a Primeira República (1920-1923), tese de mestrado

policopiada, Lisboa, Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, 1996, pp. 296-300.

208 O Mundo, 29-11-1921, p. 1; A Lucta, 29-11-1921, p. 1. Cf., Ernesto Castro Leal, Partidos e

Programas. O campo partidário republicano português (1910-1926), Coimbra, Imprensa da

Universidade de Coimbra, 2008, pp. 83-85.

209

Cunha Leal, As minhas memórias, Vol. II, edição do autor, 1967, pp. 317-321.

210 Cunha Leal, Diário da Câmara dos Deputados, 20-2-1922, p. 12.

211 João Manuel Garcia Salazar Gonçalves da Silva, O Partido Reconstituinte: Clientelismo,

faccionalismo e a descredibilização dos partidos políticos durante a Primeira República (1920-1923),

tese de mestrado policopiada, Lisboa, Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, 1996, pp. 297-299.

212 Cf., Luís Farinha, Francisco Pinto Cunha Leal, intelectual e político: um estudo biográfico (1888-

1970), tese de doutoramento, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas - Universidade Nova de Lisboa,

2003, pp. pp. 229-241. Veja-se a própria confissão de Cunha Leal de ter recorrido à política caciquil nestas eleições (Cunha Leal, As minhas memórias, Vol. II, edição do autor, 1967, pp. 321-323).

elemento na lista do partido B no círculo 2, ou em troca de outro qualquer favor. Havia ainda os independentes, ou falsos independentes, que angariavam apoios variados e por vezes contraditórios antes das eleições e que depois do acto eleitoral se juntavam ao partido vencedor213. Em cada círculo, ou mesmo em cada concelho, o arranjo das listas foi executado através de árduas negociações. O resultado final destas combinações políticas foi muito variado214. O próprio presidente do Governo, Cunha Leal, que estava a organizar uma «Lista Governamental», integrou a Lista patrocinada pelo PRP em Chaves. O PRP, enquanto partido mais poderoso, entrava nas negociações em vantagem, só permitindo integrar elementos de outros partidos ou independentes nas suas listas, em troca de eleições asseguradas noutros círculos.

No Círculo de Castelo Branco estabeleceu-se um pacto entre todos os candidatos, determinando antecipadamente as votações finais. No entanto, em duas assembleias o candidato democrático, Abílio Marçal, apoderou-se de duas actas e não cumpriu integralmente o acordado, pelo que o candidato liberal, Bernardo Ferreira de Matos, sentiu-se burlado, tendo desabafado o seguinte num rascunho pessoal:

“Como de costume a eleição de Domingo fez-se por acordo nas três assembleias do Concelho da Sertã. Ficou assente nesse acordo, que as votações fossem os seguintes em todo o concelho para os candidatos a deputados. Abílio Marçal (democrático) 1205 votos; Dr. Bernardo Ferreira de Matos (liberal) 1105; Dr. Matos Rosa (democrático) 855; Dr. Horta Osório (monárquico) 305. Respeitado o acordo as votações daqueles candidatos em todo o círculo seriam respectivamente, de 3230, 2749, 2715 e 1991. Está averiguado porém, que o Dr. Abílio Marçal para manter os seus créditos ou talvez os seus descréditos e assim arranjar mais um título de recomendação à presidência da Câmara, faltou mais uma vez, miseravelmente aos compromissos tomados, apoderando-se dolosamente, das actas das assembleias de Cernache do Bonjardim e Pedrógão Pequeno para a sua casa e depois de conhecidos os resultados do resto do círculo [...] partilhar o bolo à sua voracidade [...] e não em harmonia com o acordo. [...]. Depois de abertas e examinadas as actas de apuramento, constatamos que o candidato liberal apenas indo pela minoria quando devia vir pela maioria, que em qualquer caso tem a sua eleição ganha, está disposto a castigar tão repugnante abuso protestando e provando com documentos, entre os quais os próprios papéis, ter sido vítima de mais uma burla por parte do Sr. Abílio Marçal. [...] Aquilo do Abílio Marçal é uma doença que nasceu e já agora há-de morrer com ele. Quando não tem porcos, bois, mulas ou qualquer outro alimento de vulto, come votos [...]”215

.

As eleições foram preparadas num quadro de desordem, violência e instabilidade, dada a dificuldade de controlar a Marinha e a própria GNR, que em muitas situações apoiavam os seus camaradas «revolucionários do 19 de Outubro». As eleições foram adiadas 4 vezes, tendo sido marcadas finalmente para o dia 29 de Janeiro de 1922216.

Em Lisboa o crédito dos democráticos levou-os a prescindir da coligação com outras forças republicanas. Como pretexto, invocavam o facto de a lista em preparação

213 Cf., João Manuel Garcia Salazar Gonçalves da Silva, O Partido Reconstituinte: Clientelismo,

faccionalismo... op. cit., pp. 298-303; Luís Farinha, Francisco Pinto Cunha Leal, intelectual e político... op. cit., pp. 229-241; José Adelino Maltez, Tradição e Revolução. Uma biografia... op. cit., pp. 286-293.

214 No concelho de Mogadouro fez-se um acordo eleitoral entre o PRL e o PRRN, dando os liberais cerca

de 400 votos ao candidato a senador reconstituinte. Já no Bombarral o PRL selou um acordo com o PRP através de uma coligação. Cf., República, 31-1-1922, pp. 1-2.

215 Rascunho de Bernardo Ferreira de Matos. Espólio Bernardo Ferreira de Matos - Lisboa (em posse da

família).

ter a inclusão de alguns antigos apoiantes do Sidonismo, pelo que a designavam de Lista «dezembrista». Assim, as outras forças republicanas tiveram de tentar formar uma lista comum, que fosse uma alternativa válida ao PRP. Realizaram-se diversas reuniões políticas preparatórias no sentido de apresentar uma lista de coligação, constituída por todas as forças políticas republicanas adversárias dos democráticos – liberais, presidencialistas, socialistas, reconstituintes, reformistas, «outubristas» e independentes. A entrada dos «outubristas» levantou sérios protestos de alguns liberais217, tendo aqueles sido excluídos da Lista de Conjunção Republicana218. No entanto, as animosidades dentro desta Lista não ficaram resolvidas por aqui. Foi por exemplo difícil em Lisboa, e no resto do país, distribuir harmoniosamente e contentar ao mesmo tempo, os antigos notáveis evolucionistas e unionistas, tendo as suas clientelas criado problemas à Lista que se queria vitoriosa219. No acto eleitoral foi visível que os protegidos de um candidato não votavam no seu colega de lista, cortando o seu nome. Este facto era permitido pela lei eleitoral, mas destruía a mais-valia que a coligação poderia ter, pela possibilidade de somar votos de diferentes correntes republicanas. Esta situação somada ao facto da Lista ser muito heterogénea e de nenhum candidato ter nomeado delegados eleitorais para as mesas de voto, levou ao seu fracasso. A maioria foi ganha pelos democráticos e a minoria pelos monárquicos. Como lista menos votada ficou a lista «Outubrista»220. Como referia a República ficou demonstrado que os trabalhos eleitorais “têm a sua ciência. E quem não conhece essa ciência, não faz deputados ou senadores.”221

. Os republicanos ordeiros, ao contrário de outras ocasiões, dispuseram-se a enfrentar os democráticos disputando as maiorias com uma lista de conjunção. No entanto, tiveram uma dupla derrota, uma vez que as minorias foram para os monárquicos e as maiorias para os democráticos222.

A nível nacional os democráticos voltaram a vencer as eleições, mas sem maioria absoluta (71 deputados – 43,5%). O Partido Republicano Liberal foi a segunda força mais votada, obtendo 33 deputados, seguidos do Partido Republicano de Reconstituição Nacional com 17 deputados e dos «Governamentais» (também conhecidos por Grupo de Independentes223) de Cunha Leal com 13 deputados, os mesmos conseguidos pelos monárquicos. O PRP mesmo sem maioria absoluta, conseguiu formar governo sozinho, liderado por António Maria da Silva, através do apoio inicial do PRL e do PRRN e do amparo dos católicos (5 deputados), dos regionalistas (2 deputados) e do apoio de alguns independentes (5 deputados), que o próprio PRP tinha ajudado nalguns casos a eleger224. Alguns «governamentais» também foram engrossando as hostes dos democráticos, pelo que o grupo de Cunha Leal ficou reduzido a meia dúzia de deputados225.

O governo monocolor do PRP teve o apoio expresso dos dois principais partidos republicanos (PRL226 e PRRN), através dos seus líderes na Câmara dos Deputados. Barros Queiroz (PRL) e o Álvaro de Castro (PRRN) prometeram apoiar o governo após a leitura da declaração ministerial. Álvaro de Castro relembrou o programa mínimo 217 Cf., República, 22 de Janeiro de 1922, p. 1. 218 Cf., República, 24-1-1922, pp. 1-2 219 Cf., República, 25-1-1922, p. 1. 220 Cf., O Rebate, 30-1-1922, p. 1. 221 República, 31-1-1922, p. 1. 222 Cf., O Rebate, 24-1-1922, p. 1; idem, 25-1-1922, p. 2. 223

Cf., Diário da Câmara dos Deputados, 23-2-1922, p. 4.

224 Cf., Oliveira Marques, A Primeira República Portuguesa (alguns aspectos estruturais), Lisboa, Livros

Horizonte, 3.ª edição, p. 128.

225

Cunha Leal, As minhas memórias, Vol. II, edição do autor, 1967, pp. 351-352.

formulado pela «frente única» - PRP, PRL e PRRN - antes das eleições, que em sua opinião devia ser executado227. Carvalho da Silva, do Partido Monárquico, declarou que embora o governo fosse composto apenas por personalidades do PRP, era de facto, “um governo dos três partidos da República, que se unem para cumprir o chamado programa da «frente única»”228.

Após a vitória dos democráticos nas eleições legislativas de 1922 os jornais começaram a lançar a ideia da formação de um grande partido conservador que fizesse frente ao PRP. Os republicanos ordeiros olhando para a história recente constatavam que o PRL embora tivesse obtido a dissolução do parlamento e a possibilidade de preparar as eleições de 1921 no governo, não conseguiu obter uma forte maioria parlamentar, nem conseguiu ter em Lisboa uma forte organização partidária que fizesse frente à onda revolucionária, que era na opinião de muitos portugueses a “única força que gere os destinos da pátria”. Em Janeiro de 1922 com um governo de concentração no poder, os democráticos conseguiram novamente vencer as eleições, voltando as restantes forças à humilhante e degradante situação de sempre: “O PRP reserva para si as vantagens e os frutos do poder. Os outros partidos têm de se contentar em roer o osso totalmente esburgado de uma ou outra pasta governamental. O regresso dos governos de concentração podem lisonjear algum patriota que consegue chegar a ministro, mas são humilhantes para os partidos «muletas» que os democráticos utilizavam para atingir os seus objectivos”229

.

O resultado eleitoral desastroso do Partido Republicano Liberal em 29 de Janeiro de 1922 levou-o a iniciar uma reflexão sobre a sua identidade e sobre os seus objectivos, em simultâneo com uma reformulação das suas estruturas partidárias. Em Lisboa, por exemplo, tentou-se criar comissões políticas em todas as juntas de freguesia230. Como forma de agregar novas tendências e personalidades que reforçassem o PRL, o Dr. Lima Duque lançou a ideia de no congresso do PRL participarem outros políticos republicanos, que embora não pertencendo ao partido, quisessem homenagear o Dr. António Granjo, como por exemplo, Cunha Leal, Agatão Lança, Júlio Martins e Mendes dos Reis. O PRL continuava a ambicionar reunir toda a família republicana conservadora no seu seio231. No entanto outra possibilidade mais ambiciosa começou a ser preparada.

Os principais dirigentes do republicanismo conservador começaram a tomar consciência dos estratagemas do PRP para permanecer no Poder. O Partido Democrático utilizava uma táctica política que levava os outros partidos republicanos, que estão subjugados ao seu predomínio absoluto, a ir salvá-lo. Sempre que o PRP se encontrava à beira de um abismo lançava um grito de alarme: “A República está em perigo! E os outros partidos, com ingenuidade ou com a passividade resignada das suas grandes massas acodem à chamada, caindo no isco. Por outro lado, há sempre dois ou três patriotas que venderiam os seus próprios pais por uma pasta de ministro que se oferecem para fazer parte do governo de concentração que irá aparentemente defender a República. O Partido Democrático regressa, então novamente triunfante ao Terreiro do Paço. A República nunca estivera em perigo, mas sim o Partido Democrático, que os outros partidos teimam em salvar. Depois regressa a bonança e o PRP livra-se daqueles que o ajudaram e que lhe deram a mão no momento de crise”. Para evitar este ciclo vicioso e humilhante para os partidos republicanos da oposição começaram a reunir-se

227

Cf., Diário da Câmara dos Deputados, 24-2-1922, pp. 11-13.

228 Carvalho da Silva, Diário da Câmara dos Deputados, 24-2-1922, p. 14. 229 República, 11-4-1922, p. 1.

230

Cf., República, 31-1-1922, p. 2.

alguns republicanos. Este grupo pretendia que o partido democrático governasse, dado que tinha a maioria parlamentar, e que se mantivesse no poder “enquanto o puder fazer com as suas próprias forças. Quando já não conseguir governar sozinho deverá surgir uma grande força política, patriótica, disciplinada e coesa”, já não para o auxiliar, mas para o substituir. É nesta obra que estão neste momento trabalhando alguns homens com o objectivo “de salvar, não o partido democrático, mas a Pátria e a República. Esperemos por essa obra”232

. Durante o mês de Fevereiro, publicitaram-se diversas reuniões dos principais dirigentes políticos do PRL no jornal República no sentido de estudarem uma possível junção aos reconstituintes e a alguns independentes (os amigos de Cunha Leal). No entanto, esta iniciativa revelou inúmeras barreiras e dificuldades, tendo-se estendido as negociações por todo o ano de 1922 e início do seguinte. Dentro do Partido Republicano Liberal os grupos ligados aos antigos partidos evolucionistas e unionistas permaneciam activos, intricando a unidade partidária e as possibilidades de chegar a consenso com os reconstituintes233.

O Congresso do PRL realizado a 4 de Março de 1922 no Liceu Camões de Lisboa demonstrou precisamente a falta de identidade do partido e uma certa descrença na sua vitalidade, levando um alto dirigente a confessar algumas semanas depois o seguinte: “o último congresso do partido não teve a força que se esperava”234

. Não obstante, conseguiu-se no mês seguinte (14 de Maio) a desejada adesão de Cunha Leal ao PRL. Era mais um sopro de vitalidade que chegava ao partido e era uma forma de pressionar Álvaro de Castro e os seus amigos reconstituintes a ingressar no PRL de forma a criar um partido forte que mudaria a estrutura político partidária portuguesa235. Esta adesão foi longamente preparada, tendo os liberais inaugurado um Centro Político com o seu nome em finais de Abril236. Nos dias seguintes à filiação de Cunha Leal a maioria das estruturas intermédias do PRL manifestaram-se nos jornais efusivamente pela chegada de um herói que tinha defendido António Granjo237.

Todavia, a entrada de mais um republicano prestigiado no PRL, não resolvia de por si, os problemas do partido, e muito menos da República. Era necessário encontrar uma solução para substituir o Partido Democrático no poder, por intermédio de meios constitucionais. O desenlace desta dificuldade passava necessariamente por constituir um partido que fosse uma grande força de governo, com energia para viver sem favores

232

República, 12-4-1922, p. 1. Cf., República, 14-11-1922, p. 1.

233 Luís Farinha, Francisco Pinto Cunha Leal, intelectual e político... op. cit., pp. 243-244. 234 Constâncio de Oliveira, República, 25-3-1922, pp. 1-2.

235

Veja-se a seguinte carta enviada por Alves dos Santos a Bernardo Ferreira de Matos sobre o ingresso de Cunha Leal no PRL: "Esteve aqui o Bacelar, que se não avistou comigo por falta de tempo; mas falou com o Lima Duque, que me transmitiu o assunto da conversa.

A ideia em marcha terá sofrido uma modificação: o Cunha Leal, com os seus amigos políticos ingressa, já, no P.R.L., por intermédio dos amigos do malogrado Granjo, representados pelos parlamentares liberais do círculo de Coimbra, que apresentarão ao Directório do P.R.L. uma carta sua, escrita para a circunstância, e a eles dirigida.

Isolado assim o Álvaro, e de mais a mais empurrado pelo Sá Cardoso e outros certamente não deixará de fundir-se também no P.R.L., que haverá, então, de reunir-se, em Congresso extraordinário, para eleger novo Directório, e seleccionar os seus líderes, para as duas casas do parlamento.

Se isto está certo, e é conforme o seu pensamento eu devo dizer-lhe que concordo, pois tudo me parece acertado e oportuno. [...]

Podem contar, ai, connosco, na próxima 2.ª feira, 8 do corrente, no comboio rápido, para colaborarmos no grande acto político, que com absoluta certeza irá mudar a face da política portuguesa... [...] Universidade de Coimbra, 2-5-1922. Alves dos Santos”. Espólio Bernardo Ferreira de Matos – Lisboa (em posse da família).

236

Luís Farinha, Francisco Pinto Cunha Leal, intelectual e político... op. cit., pp. 246.

de ninguém, dado que em 1922, nem os liberais, nem os reconstituintes, nem os independentes tinham maioria parlamentar para isso238.

Era necessário reunir diversas forças republicanas adversas do democratismo ou pelo menos fazer um pacto no parlamento que permitisse controlar a acção do PRP. As negociações entre o PRL e o PRRN iniciaram-se em Abril de 1922239 e intensificaram- se no mês seguinte. No início de Maio reuniram-se Álvaro de Castro e Tomé de Barros Queirós240. Paralelamente vários dirigentes políticos dos dois partidos publicitaram a sua opinião sobre uma eventual fusão entre os dois partidos. Ribeiro de Carvalho, director do jornal República, lançou nos seus editoriais a ideia da fusão do Partido Republicano Liberal e do Partido Republicano de Reconstituição Nacional, embora fosse crítico de um entendimento parlamentar entre estas duas forças. Em 1922 não era possível a rotatividade de dois partidos no poder devido ao quadro parlamentar. Havia um partido com quase maioria absoluta e depois havia uma grande quantidade de médios e pequenos partidos, sem capacidade a formar um executivo forte e duradouro. A solução passava pela fusão daqueles dois partidos, para assim se arrumarem as forças republicanas em dois grandes partidos. No entanto, havia algumas reticências por parte de alguns reconstituintes que tinham receio de integrar um partido de maior dimensão241. O grupo parlamentar do PRRN deliberou em Maio de 1922 “aceitar em princípio – apenas em princípio – a ideia de um entendimento político com o Partido Liberal”242

. Falava-se ainda unicamente em entendimento. Sá Cardoso esclareceu que “não lhe repugna uma fusão mais tarde, depois de limadas todas as arestas”. Mas preferia nesse momento “a existência de pequenos núcleos políticos, para melhor se poder exercer a fiscalização aos actos dos governantes”, uma vez que na sua opinião tudo se “poderá conseguir [...] com a formação de um bloco parlamentar

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