COMUNICAÇÃO LINGUAGEM DOMINANTES CAPACIDADES DE EXEMPLOS DE GÊNEROS ORAIS E ESCRITOS
1.3 O Ensino de leitura em língua estrangeira
1.3.4 As estratégias de leitura
O ensino de estratégias de leitura foi introduzido no Brasil a partir do final da década de 70 e início da década de 80, através do Projeto Nacional de Ensino de Inglês Instrumental em Universidades Brasileiras. Esse projeto foi liderado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob a orientação da Profa. Dra. Maria Antonieta Alba Celani.
De acordo com uma análise de necessidades realizada entre os alunos das 26 universidades brasileiras envolvidas no Projeto à época, identificou-se a importância da leitura de textos como uma prioridade a ser atendida. Logo, o Projeto foi focalizado para essa habilidade comunicativa através do ensino de estratégias e da leitura de textos autênticos. Ramos (2005: 115) lembra que “nessa década, a
visão de ensino-aprendizagem era construtivista e portanto o ensino-aprendizagem de estratégias tinha seu lugar estabelecido.”
A nosso ver, a abordagem instrumental no Brasil trouxe contribuições significativas ao ensino-aprendizagem de leitura em línguas estrangeiras, pois além de introduzir a importância do uso de estratégias durante a leitura de textos que até então eram desconhecidas, tornou o ensino mais funcional e motivador para professores e alunos.
Estratégias de leitura são importantes ações empreendidas pelo leitor no processamento de um texto. Além disso, são procedimentos usados de forma consciente ou inconsciente pelos alunos para solucionar ‘problemas’ quando a construção de significado é interrompida. Muitos pesquisadores propõem a inclusão de estratégias de leitura no ensino e aprendizagem dessa habilidade. Ramos (1992:153), entre outros, declara que as estratégias “são igualmente de valia para o
ensino de línguas em geral, uma vez que podem fornecer contribuições não só para a prática do ensino da leitura, mas também para o próprio aluno que se defronta com um texto em língua estrangeira.”
No processo sócio-cognitivo de leitura, acreditamos que as estratégias de leitura devem ser ensinadas e tornadas conscientes pelos professores em sala de aula e exploradas pelos materiais didáticos que estão comprometidos com um ensino comunicativo de línguas estrangeiras. Seu ensino explícito torna os leitores
mais proficientes e conscientes do uso dessas estratégias durante a leitura em sala de aula. A nosso ver, essa conscientização promove uma reflexão sobre o ensino comunicativo de leitura, principalmente, em língua inglesa, que possibilita ao aluno compreender a realidade que o cerca tornando-se um leitor estratégico (Grabe e Stoller, 2001, 2002). Segundo esses autores (2001, 2002), os leitores estratégicos são aqueles que apresentam um amplo repertório de estratégias que são aplicadas para monitorarem a compreensão de uma maneira mais eficiente, além de serem competentes para sanarem algum tipo de problema encontrado durante a leitura. Trata-se de uma forma de professores e alunos discutirem sobre a compreensão do texto, de que maneira ele foi compreendido e quais estratégias de leitura os alunos usaram para obter a informação (Grabe e Stoller, 2001, 2002). Assim, os autores (2001: 195) afirmam que:
o objetivo é desenvolver (a) rotinas razoavelmente automáticas que trabalhem para resolver dificuldades de compreensão de leitura mais gerais e (b) um conjunto mais elaborado de estratégias voltadas para a solução de problemas que possam ser usadas quando as estratégias rotineiras não funcionarem bem.
Os autores são favoráveis, então, a um trabalho de forma consciente pelos professores em sala de aula das estratégias de leitura para se formar leitores estratégicos.
Dias (2005: 15) apresenta uma listagem das principais estratégias de leitura (ver quadro 6) que podem ser selecionadas e ensinadas pelo professor, mencionadas e exploradas pelos materiais didáticos, como forma de conduzir o leitor a sanar suas dificuldades no processo de leitura.
Quadro 6 – Estratégias de leitura
Skimming – olhada rápida (um passar de olhos) pelo texto para ter uma idéia geral do assunto tratado.
Scanning - localização rápida de informação no texto.
Identificação do padrão geral de organização (gênero textual). Uso de pistas não-verbais (ilustrações, diagramas, tabelas,
saliências gráficas, etc.)
Uso de títulos, subtítulos, legendas, suporte (ou portador) do texto.
Antecipações do que vem em seguida ao que está sendo lido. Uso do contexto e cognatos.
Uso de pistas textuais (pronomes, conectivos, articuladores, etc.).
Construção dos elos coesivos (lexicais e gramaticais).
Identificação do tipo do texto e das articulações na superfície textual.
Uso de palavras-chave para construir a progressão temática. Construção de inferências.
Transferência de informação do verbal para o não-verbal (resumos do que foi lido na forma de tabelas, esquemas ou mapas conceituais).
Como vemos, a inclusão das estratégias de leitura torna o processo de compreensão mais dinâmico, o que pode tornar nossos alunos mais proficientes. É óbvio que o ensino das estratégias não deve ser tomado de forma isolada e passiva, mas de maneira integrada com os modelos de processamento de leitura e os três tipos de conhecimentos (o de mundo, o lingüístico e o textual). Dessa forma, o processo de leitura pode tornar nossos alunos-leitores mais competentes, conscientes e críticos para a compreensão de textos em língua inglesa. Caso não haja essa conexão entre esses elementos (estratégias + modelos de processamentos + tipos de conhecimentos), a compreensão será afetada e não formaremos leitores proficientes (Koda, 2005).
Em síntese, em nossa exposição sobre a literatura especializada em leitura em língua estrangeira, abordamos sua definição, seus objetivos e características mais evidentes. Nossa intenção não foi apresentar uma visão completa a respeito do processo de leitura (considerando a gama de teorias e abordagens sobre o assunto), mas de tecer alguns comentários suficientes e relevantes para nossa análise e também contribuir para um melhor desenvolvimento dessa habilidade no contexto escolar brasileiro.
A figura 2 resume o que apresentamos nesta seção sobre a natureza complexa e muldimensional de leitura. É fato que o ato de ler envolve simultaneamente cada parte da figura. Por essa razão, o leitor precisa ser conscientizado da existência do processo como um todo na tentativa de melhor refletir sobre sua aprendizagem. Afinal, a leitura é uma construção de significados em que “o texto não é produto acabado, mas é (re)criado a cada nova leitura.” (Dias, 2005:15)
Figura 2: Visão do processo de leitura
(Fundamentado e Adaptado de Dias, 2002: 24)
OBJETIVO (Re)construir o sentido do texto. L E I T U R A MODELOS DE LEITURA • Modelo Bottom-up • Modelo Top-down • Modelo Interativo TIPOS DE CONHECIMENTO • Conhecimento de Mundo • Conhecimento Linguístico (léxico-sistêmico) • Conhecimento Textual ESTRATÉGIAS DE LEITURA • Skimming • Scanning
• Uso do conhecimento prévio • Uso da informação não-
verbal
• Uso do contexto
• Uso de cognatos e de pistas textuais
• Construção de inferências • Uso de títulos, subtítulos,
legendas, suporte (ou portador) do texto • Integração de informação OUTROS RECURSOS • Uso do dicionário bilíngue LEITURA CRÍTICA
Finalizamos esta seção de pressupostos teóricos, apresentando, a seguir, uma breve exposição sobre o livro didático e seu papel no ensino de leitura de textos em língua inglesa.