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CAPÍTULO II Os Principais Conceitos da Investigação

7. Violência Escolar e Mudança Social

7.4 As Políticas Públicas Europeias no Combate à Violência Escolar

Alguns países europeus, nomeadamente a Bélgica, Reino Unido, França, Holanda, Suécia, têm desenvolvido pesquisas sobre a violência escolar. Por vezes, são solicitadas por organismos oficiais, tendo como objetivo a adoção de medidas de prevenção deste problema social.

Na Bélgica, segundo Blomart (2002) este problema começou a preocupar as autoridades educativas, tendo-se desenvolvido uma pesquisa intítulada “Radioscopie de L’Enseignement” (1992), em escolas primárias e secundárias para se fazer um levantamento das ocorrências de violência escolar. Esta pesquisa serviu, ainda de base a alguns estudos desenvolvidos posteriormente Ganty (1995 cit in Bloomart 2002). Numa das conclusões do estudo refere-se que as queixas dos alunos se devem, maioritariamente ao tratamento inadequado nas relações professor-aluno (op. cit:35). Em 1998, uma Lei Ministerial estabeleceu uma diretiva oficial, relativamente à violência escolar, nomeadamente de uma descriminação positiva. Em 1999, o mesmo Ministério criou uma Unidade de Proteção da Violência que entre outros objetivos

procurou incentivar as escolas, a criarem estruturas democráticas, nomeadamente os Conselhos Escolares, espaços de diálogo com os alunos, pedirem auxílio a outras agências – escolas, polícias, assistentes sociais, bem como criar um Centro de Crises de Emergência para atender às vítimas de violência escolar (op.cit.)

Em Inglaterra, em 1995, foi publicado um relatório da Comissão Nacional sobre crianças e violência, patrocinado pela Fundação Gulbenkian. O relatório salientou, alguns aspetos ligados aos maus-tratos familiares das crianças, ao uso generalizado de castigos físicos e humilhações de crianças. Segundo Hayden & Blaya (2002: 68) os castigos corporais foram abolidos das escolas públicas inglesas em 1986 e nas privadas em 1999. Num inquérito nacional aos pais, cerca de 51% dos pais acreditavam que a reintrodução dos castigos corporais diminuiria a indisciplina nas escolas. No entanto, as associações nacionais de professores e diretores afirmaram não ser possível reintroduzir os castigos corporais nas escolas. Dois terços dos pais afirmaram que a disciplina escolar tinha piorado nos últimos dez anos e quase um quarto deles acreditava que os comportamentos insubordinados e as crianças mal comportadas são os piores problemas enfrentados pelas escolas (Carvell 2000 in op. cit.).

Em França, o problema da violência escolar há algum tempo que preocupa as autoridades. No entanto, as estatísticas sobre este fenómeno social são recentes (1979-1980), sendo realizadas regularmente desde 1993. O poder político tomou consciência do problema tendo-se desenvolvido vários planos (Bayrou, Allègre) para o enfrentar. Por exemplo, em 1995 surgiu um plano do ministro da educação Bayrou contra a violência escolar que deu origem, entre outras coisas ao primeiro inquérito nacional sobre a violência escolar. Tem dezanove medidas, em torno de três temas principais: supervisão dos alunos; os alunos e os seus pais;

os estabelecimentos escolares e o seu ambiente (Lorrain 1999:89-92). No primeiro tema

(supervisão dos alunos) salientam-se as seguintes medidas: o reforço na formação inicial e contínua dos alunos; garantia e proteção dos funcionários da educação nacional; criação de uma célula de auditoria e suporte; nos estabelecimentos onde se manifestam problemas de violência escolar criarem-se empregos; incentivo para favorecer a estabilidade das equipas presentes nos estabelecimentos difíceis; criação de estruturas experimentais de acolhimento dos adolescentes em grande dificuldade. No segundo tema (os alunos e os seus pais) referem- se as seguintes medidas: obrigação de se estudar o regulamento interno das escolas; um dia por ano consagrado ao diálogo nos estabelecimentos; reforço dos laços entre os pais e os

estabelecimentos de ensino; recurso a mediadores e intérpretes com vista a facilitar o diálogo com as famílias; desenvolver experiências em curso sobre os ritmos escolares. No terceiro tema (os estabelecimentos escolares e o seu ambiente) referem-se os seguintes aspetos: fazer um balanço, em todas as escolas de intervenção prioritária (Zones de Education Prioritaire - ZEP); criar uma violação por intrusão nos estabelecimentos de ensino; limitar o tamanho das escolas em zonas difíceis, em colaboração com as coletividades locais; prosseguir com a criação de internatos em zonas urbanas com dez zonas experimentais; reforçar a cooperação entre a educação nacional, a justiça, a polícia e a defesa.

As medidas de política educativa que constam neste plano, para se diminuir a violência escolar em França são importantes, no âmbito do presente estudo, tanto na revisão da literatura, como na análise dos resultados do estudo empírico. Nas escolas do estudo foi possível identificar algumas necessidades dos alunos, professores e famílias que permitem corroborar, algumas das medidas propostas neste plano. No plano Allègre (1997) desenvolveram-se outras medidas complementares, nomeadamente uma aprendizagem de cidadania e da noção de moral, criar uma célula de ajuda imediata e de seguimento às vítimas, a identificação das principais infrações que ocorrem nas escolas e estabelecer uma conduta a seguir e a respetiva qualificação penal. Considera-se este último aspeto, particularmente importante, no domínio da prevenção. Por exemplo, ao se identificar um comportamento de violência verbal dos alunos, pode-se desenvolver várias atitudes ou ações: acompanhar a queixa da vítima, tomar as medidas apropriadas conforme o Regulamento Interno da escola, evitar banalizar este tipo de incidente, fazer uma reflexão em conjunto com os alunos na sala de aula sobre o respeito pela outra pessoa, desenvolver ações de prevenção, de aprendizagem do civismo e fazer um apelo à mediação (op. cit:94).

Em Portugal, nos últimos anos foram adotadas algumas medidas de política educativa para se diminuir o insucesso e a violência escolar. Refere-se, a este respeito, um Relatório da

Comissão de Educação e Ciência da Assembleia da República, de 200827 sobre “A Segurança nas Escolas”. Este documento tem um conjunto de medidas de prevenção dos comportamentos de risco dos jovens em meio escolar e de promoção do sucesso escolar dos alunos. Deste modo considera-se que os dois problemas identificados podem ser objeto de uma intervenção

27 Relatório “A Segurança nas Escolas” Comissão de Educação e Ciência, Outubro 2008, Relatora Deputada

Fernanda Asseiceira. Disponível em :

conjunta. Referem-se algumas medidas sugeridas neste documento, tais como: as Atividades de Enriquecimento Curricular; o alargamento do Programa de Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP); criação de «espaços-escola»; reforço do Programa Escola Segura; reforço dos meios de atuação das Comissões de Proteção de Crianças e Jovens; haver um Responsável pela Segurança em cada Agrupamento; Sistemas de alarme e videovigilância; valorização da Formação Cívica nas escolas com um módulo de Cidadania e Segurança no 5º ano; valorização dos projetos educativos e dos Regulamentos Internos.

No que respeita ao insucesso escolar, este relatório avaliou, positivamente, o Programa

Integrado de Intervenção e Formação (PIEF). Este programa constitui uma proposta de

intervenção no insucesso escolar de grupos de jovens em risco ou em situação de exclusão social. Procura-se, ainda que os jovens adquiram competências escolares, pré-profissionais ou profissionais e sociais. Uma outra intervenção de inclusão social dos jovens consiste no

Programa Escolhas (3ª fase). Tem como principal objetivo promover a inclusão das crianças e

jovens provenientes de contextos socioeconómicos mais desfavoráveis.

As políticas educativas são essenciais para se garantir o crescimento econômico de uma forma sustentável. Neste âmbito, a educação é uma das principais apostas dos governos para se aumentar o crescimento da economia, o rendimento das pessoas, diminuir a pobreza e a desigualdade social. No entanto, atualmente, os países europeus estão confrontados com uma elevada taxa de desemprego dos jovens, sendo muitos deles altamente qualificados. Deste modo constata-se que nem sempre, o aumento de qualificações se traduz numa diminuição da pobreza.

No Relatório da Unesco 2016 “Educação para as Pessoas e o Planeta - Criar Futuros Sustentáveis Para Todos” incluído nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS 4) até 2030, a desigualdade social, a pobreza e a inclusão social na educação assumem destaque. Neste âmbito refere-se que “se os dez membros mais recentes da União Europeia (UE) cumprirem as metas de acabar com o abandono escolar precoce e aumentar a participação na educação terciária até 2020, o número de pessoas sob o risco de pobreza poderia diminuir em 3,7 milhões” (op. cit:16). Recomenda-se que os governos desenvolvam esforços para se expandir a educação de uma forma justa. Deste modo, as políticas de saúde e as políticas sociais redistributivas podem ajudar a reverter a tendência do aumento da desigualdade social

nos países e entre os países. O Estado deve apoiar projetos escolares de inclusão social dos jovens mais carenciados.

A sensibilização dos cidadãos para a violência escolar é feita, também por organizações nacionais, nomeadamente a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) e de ações desenvolvidas em algumas escolas. Neste âmbito pensa-se que os pais, os professores, os alunos e a comunidade escolar estão mais conscientes dos problemas de violência escolar, nomeadamente do bullying.

Sintetizando, alguns estudos e experiências desenvolvidas por vários países europeus, no âmbito da prevenção da violência escolar revelam que as políticas públicas, nomeadamente de colaboração entre vários organismos oficiais e as escolas, são um aspeto essencial na solução destes problemas. Um outro aspeto a reter consiste, em se verificar que uma política educativa deve ter uma conceção holística dos problemas, sendo as medidas direcionadas aos vários contextos sociais em presença, nomeadamente os alunos, famílias, escolas, entidades locais, de segurança, de justiça, entre outros. Uma política, neste domínio deve ter presente que a conceção das medidas tem que ser acompanhada de algumas ações concretas, nos vários contextos sociais que promovam uma mudança nos comportamentos e atitudes das pessoas e nas suas interações sociais.