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Capítulo IV — Discussão — Estudo 1

4.2 As práticas, ambientes, crenças e a importância do papel dos pais em função das

De acordo com o terceiro objetivo deste estudo, nos propomos a analisar as influências das condições sociodemográficas dos pais nas crenças sobre a aprendizagem da leitura e da escrita, práticas e ambientes de literacia familiar. Partimos da Hipótese Geral II, segundo a qual se afirma um efeito relativo aos estatutos socioculturais distintos. Baker (2013) demonstrou que o envolvimento tanto de pais como de mães, em atividades de literacia familiar, resulta positivamente no desenvolvimento da criança, em

especial na ampliação das suas capacidades de literacia, mas não estabelece diferenças de práticas e crenças realizadas pelos progenitores. Lopes (2015) alcança este contexto, porém não surgiram diferenças significativas entre os géneros, sendo que no envolvimento quanto à literacia ambos colaboram.

De forma mais oportuna — para melhor perceber se o possível efeito do estatuto sociocultural difere entre géneros —, neste estudo inicialmente estabelecemos dois subgrupos segundo o género: «grupo de mães» e «grupo de pais», sendo que logo após compararmos os resultados em cada grupo percebemos diferenças pertinentes, sobretudo em função das habilitações da mãe.

Nas crenças de práticas e hábitos segundo as habilitações dos dois subgrupos, as mães apresentaram diferenças significativas na dimensão tecnicista-prática (criança), devido ao facto de as mães até ao 3o ciclo apresentarem médias superiores por comparação com as mães com outras habilitações. No subgrupo dos pais não foram encontradas diferenças.

Relativamente a importância do papel dos pais na aprendizagem da leitura e escrita, as mães apresentaram diferenças no Papel-Tecnicista, sendo que essas mães de habilitações até o 3o ciclo obtiveram uma média superior relativamente às mães de habilitação de ensino superior e pós-graduada. Também foram identificadas diferenças entre as mães com o ensino secundário e as que possuem formação superior.

No subgrupo dos pais, foram observadas diferenças significativas quanto ao papel-leitura de histórias, verificando-se que os pais com habilitação em pós-graduação tiveram uma média superior aos pais com o 3o ciclo e ensino secundário. É interessante notar que as mães com pós-graduação também valorizam mais este papel dos progenitores do que as que têm habilitações do ensino secundário e superior. Sobressai assim a formação pós-graduada na valorização deste papel dos pais.

Em função do nível socioeconômico da família, estabelecemos comparações relativamente a crenças, sendo que as famílias com o NSE baixo tendem a apresentar crenças da dimensão tecnicista-criança e um papel tecnicista. Os níveis socioeconômico médio/alto mostraram uma dimensão holística, com práticas de treino e valorizaram o papel-leitura de histórias.

Então, a hipótese operacional 6: “Pais que apresentam Nível Socioeconômico (NSE) médio/alto e com habilitações mais elevadas mostram-se com crenças mais

holísticas e menos tecnicistas sobre a aprendizagem da leitura e da escrita do que os pais com estatuto sociocultural baixo” foi confirmada em diversos aspetos com base nas análises estatísticas, segundo as habilitações do grupo das mães (Tabela 19) e também segundo o NSE da família (Tabela 25).

Já a hipótese operacional 7, onde se afirma que: “Pais de NSE baixo e menores habilitações desenvolvem mais práticas do dia-a-dia e de entretenimento do que os de estatuto sociocultural alto”, não foi confirmada, pois as ANOVAs realizadas não revelaram diferenças significativas (Tabelas 18, 21 e 24), verificando-se que a prática mais predominante em todos os grupos socioeconómicos vem a ser a prática de treino, como podemos observar na Tabela 24.

A hipótese operacional 8 onde se diz que: “As práticas de treino são mais desenvolvidas e o papel tecnicista dos pais é mais valorizado por pais de NSE baixo e menores habilitações do que pelos pais de NSE médio/alto e maiores habilitações” foi parcialmente confirmada através da análise de dados apresentados nas Tabelas 20, 24 e 26. Apesar de não haver diferenças nas práticas de treino, há diferenças no papel atribuído aos pais, sendo que o NSE baixo revela uma conceção mais tecnicista, assim como as mães com menores habilitações.

Quanto à hipótese operacional 9, onde tecemos a afirmação: “O ambiente de literacia familiar apresentado pelos pais de NSE médio/alto mostra-se mais diversificado do que o dos pais de NSE baixo”, pelo prisma das análises de conteúdo e estatísticas, percebemos que em todos os níveis socioeconômicos se apresentaram materiais adequados ao desenvolvimento da literacia emergente. Quanto à utilização desses materiais, em sua maioria estão a disposição da criança de forma que esta pode ter a autonomia para buscá-lo e utilizá-lo, porém o computador é muito usado para entretenimento e quase nunca utilizado como instrumento para o desenvolvimento da literacia emergente. Importa acrescentar que não se encontraram diferenças entre os diferentes estatutos de NSE relativamente às práticas desenvolvidas, o que permite dizer que há uma certa homogeneidade. Apenas se registaram algumas diferenças nas conceções e no papel atribuído aos pais.

No último ponto da discussão do Estudo 1, pretendemos identificar em que medida os pais referem as estratégias que permitam fomentar o envolvimento parental na promoção da literacia familiar.

Os pais que participaram desta amostra acreditam que a literacia familiar é importante para a aprendizagem da linguagem escrita e que a literacia amplia as possibilidades de desenvolvimento cognitivo, afetivo e social de seus filhos, sendo que as estratégias conjuntas escola-família são percebidas pelos pais como forma de ampliar as possibilidades de desenvolvimento biopsicossocial da criança. Nas três afirmações relacionadas com os aspetos referidos, as médias de resposta mantiveram-se entre 5 e 6 — ou seja, importante ou muito importante.

Quando os pais foram abordados sobre a promoção da literacia pelas instituições sociais (familiar, escolar e política), a maioria atribuiu uma maior importância às instituições familiar e escolar.