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As redes informais

No documento O SECRETÁRIO EXECUTIVO COMO (páginas 91-95)

2.4 CONTRIBUIÇÕES DA LITERATURA SOBRE O GATEKEEPER

2.4.1 As redes informais

Estudos sugerem que pessoas confiam em redes de contato pessoal para ter acesso às informações. Os fatores sociais estão progressivamente sendo levados em conta, tendo em vista a sua extraordinária importância em praticamente toda espécie e tipo de comportamento. Lewin (1952, p. 88-89) ressalta que os padrões sociais do grupo ao qual uma pessoa pertence – ou quer pertencer – influenciam sobremaneira os seus objetivos e expectativas pessoais. O autor lembra que o comportamento dos indivíduos, bem como o dos grupos, depende de sua situação e da sua posição peculiar neles, salientando o que ele chama de mentalidade grupal, e defendendo que um grupo representa mais do que a soma dos indivíduos que o compõem: é algo melhor e mais elevado. Conclui que qualquer todo dinâmico tem características próprias.

Outro interessante conceito discutido por Lewin (1952, p. 90-99) diz respeito à influência da atmosfera no âmbito grupal. O autor exemplifica: “o êxito da profissão de uma professora em sala de aula depende não só de sua aptidão, mas também, em grande parte, da atmosfera que ela cria”. Trata-se, de acordo com o autor, de algo intangível, uma propriedade da situação social como um todo.

Muitos executivos investem recursos consideráveis na reestruturação organizacional e se desapontam com os resultados. Krackhardt e Hanson (1997, p. 37) explicam que isto acontece em virtude do descaso que os mesmos dão à

organização informal, às redes e aos relacionamentos que os funcionários criam e alimentam. Ao afirmar que a organização formal é o esqueleto das organizações e a informal é o sistema nervoso central que dirige o processo de pensamento coletivo, ações e reações dentro de uma organização, os autores destacam que a organização formal lida facilmente com problemas antecipados, ao passo que a informal torna-se apropriada para lidar com problemas inesperados.

Ainda recorrendo a Krackhardt e Hanson (1997, p. 39), é importante ressaltar que estes autores distinguem, nas redes informais, as redes de confiança (trust networks), onde um número restrito de pessoas compartilha informações politicamente delicadas; as redes de consulta (advice networks), que utilizam estruturas informais e possibilitam o contato entre pessoas que possuem informações que facilitem o trabalho; e as redes de comunicação (communication

networks), que compreendem as amizades de escritório e possibilitam a troca de

informações de trabalho com regularidade. Essas últimas ajudam a identificar os

gaps no fluxo de informação, o uso ineficiente de recursos e as falhas na geração de

novas ideias.

Redes informais foram definidas como “grupos de pessoas que desenvolvem e mantém contato para comunicar informalmente, normalmente acerca de algum interesse que partilham” (NEWSTROM e DAVIS, 1977, p. 71, apud MARINHO, 2002)4. Marinho (2002, p. 108) define comunicação em rede como “uma forma de

construirmos conhecimento para nós próprios e influirmos sobre o entendimento e ações daqueles de cuja ajuda precisamos”.

Wasserman e Faust (1994, p. 17) destacam diversos conceitos necessários ao entendimento das redes sociais, iniciando por citar os vínculos entre as entidades sociais e as suas implicações, referindo-se a essas entidades como atores (actors). Tais atores podem ser o indivíduo, as corporações, os departamentos dentro das corporações, as unidades sociais coletivas, dentre outros. A maioria das redes sociais foca na coleção de atores que são todos do mesmo tipo, como os componentes de um grupo de trabalho.

Outro conceito destacado pelos autores é o laço relacional (relational tie), que liga um par de atores: avaliação de uma pessoa por outra (expressões de amizade ou respeito); transferência de recursos materiais (pedir ou pegar

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NEWSTROM e DAVIS. Organizational behavior: a management challenge, 1977, apud MARINHO, 2002, p. 108.

emprestado alguma coisa), associações ou afiliações (atender juntos a um evento social ou pertencer a um mesmo clube social, por exemplo), interação comportamental (envio de mensagens), conexão física, relações formais (autoridade, por exemplo), dentre outros.

A díade (dyad), o mais básico nível de relacionamento, consiste em um par de atores e os possíveis laços entre eles (WASSERMAN e FAUST, 1994, p. 18). Quando o relacionamento abarca três atores, teremos aí a tríade (triad), em caso de um maior número deles, o subgrupo (subgroup), ao qual se segue o grupo (group), representado por um sistema de atores. Os autores conceituam grupo como uma coleção finita de atores. A identificação dos laços de ligação dos atores sociais fundamentou a compreensão do entrelaçamento das dependências dos atores sociais entre si.

O comportamento individual é fortemente dependente das estruturas nas quais se inserem e das relações mantidas com os demais indivíduos (MARTELETO, 2001, p. 72). Uma rede, nessa ótica, não se reduz a uma simples soma de relações: será preciso analisar cada díade com relação ao conjunto das demais. Assim, a posição estrutural será necessariamente considerada, dado o seu efeito na forma, conteúdo e função da rede. Nas suas argumentações sobre a participação em redes sociais, a mencionada autora (p. 73) esclarece que esse fato envolve direitos, responsabilidades e vários níveis de tomada de decisão. As redes nas ciências sociais, afirma, têm a sua dinâmica voltada para a consolidação e o desenvolvimento das atividades dos seus membros, e a sua análise oferece uma rica variedade de conceitos e técnicas de descrever e interpretar o comportamento humano de informação.

Inadequado seria esquecer também que as redes são dinâmicas e os seus sujeitos ou amarrações (nós) e as relações entre os nós (laços) encontram-se em constante movimento. Granovetter (1973, p. 1361; 1983), vem dar um novo olhar para a compreensão das redes sociais, analisando a velocidade da informação, a importância de figuras ou nós centrais e marginais e os laços sociais nelas existentes. Tais laços ele classifica de fortes (strong ties) e fracos (weak ties). A força de uma ligação foi definida por Granovetter como “a combinação, provavelmente linear, de quantidade de tempo, de intensidade emocional, de intimidade (confiança mútua), e de serviços recíprocos que caracterizam os laços” (GRANOVETTER, 1973, p. 1361, tradução nossa). Os laços fracos seriam

fundamentais para criar redes que ampliassem o alcance de algumas informações; seriam os indivíduos que possuem pouca proximidade com os outros elementos das redes e é precisamente daí que retiram a sua força: a força informacional e a capacidade de fazer circular informações, ao agir como elementos de ligação e contato. Existem ainda os laços ausentes (absent ties).

Esse autor considerou as relações entre três indivíduos (A, B e C), tendo como fortes as relações entre A e B e entre A e C. Seria ausente a relação B e C. O significado da ausência pode ser mostrado usando o conceito de ‘ponte’, que, em uma rede, se constituiria em uma linha que fornece o único caminho entre dois pontos. Assim, as pontes (bridges) seriam as ligações que conectam individuos situados em grupamentos distintos e não conectados. O ator que faz a ponte (bridge

agent) é responsável pelos laços entre dois subgrupos de uma rede social.

Para melhor compreensão do que se expõe, no caso de dois indivíduos que têm relações fortes, pode-se considerar a probabilidade de que haja uma superposição em suas relações. Como a rede é relativamente limitada, são as relações fracas que ampliam os seus limites, conectando grupos que não têm ligações entre si. Um exemplo citado refere-se ao fato de, quando um homem muda de emprego ele não apenas se move de uma rede de laços para outra, mas também estabelece uma ligação entre essas. Informações e idéias, assim, fluem mais facilmente, principalmente através de especialidades, dando-lhe algum sentido de comunidade (sense of community), ativado por encontros e convenções. A manutenção de laços fracos pode muito bem ser a mais importante consequência desses encontros (GRANOVETTER, 1973, p. 1373).

A essência de uma comunidade, para Wellman (1988, p. 86) não é a sua estrutura espacial e, sim, a sua estrutura social. Este autor alerta que as mudanças em larga escala na divisão e controle de trabalho e recursos têm transformado a natureza da comunidade. Sua análise vê a comunidade como uma rede de significantes e informais vínculos comunitários definidos do ponto de vista pessoal.

É dentro das perspectivas aqui apresentadas que esta pesquisa adota, assim, o conceito de redes que “privilegia o ponto de vista do agente que produz sentido, e as relações sociais na formação do seu agir” (MARTELETO, 2001, p. 72). Considera-se, obviamente, o contexto organizacional e cada indivíduo será visto como detentor de um papel e de uma dimensão que lhe são próprios.

No documento O SECRETÁRIO EXECUTIVO COMO (páginas 91-95)