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2 REFLEXÃO TEÓRICA E ESTUDO EMPÍRICO

2.1 Reflexão teórica

2.1.3 As TICs na gestão escolar

A tarefa de educar sempre exigiu do ser humano a busca de meios, formas, técnicas e tecnologias que pudessem de algum modo, facilitar o ensino e a aprendizagem, bem como avaliar se os resultados alcançados eram os esperados, planejados.

Nesse sentido o giz é tecnologia, o quadro negro ou branco é tecnologia, o pincel é tecnologia, os materiais didáticos são tecnologias, ou como afirma Kenski (2012), extrapolando o âmbito educacional,

[...] ―tecnologia‖ diz respeito a muitas outras coisas além de máquinas. O conceito de tecnologia engloba a totalidade das coisas que a engenhosidade do cérebro humano conseguiu criar em todas as épocas, suas formas de uso, suas aplicações. (KENSKI, 2012, p.15).

Para Moran (2003):

[...] quando falamos em tecnologias costumamos pensar imediatamente em computadores, vídeo, softwares e Internet. Sem dúvida são as mais visíveis e que influenciam profundamente os rumos da educação. Vamos falar delas a seguir. Mas antes gostaria de lembrar que o conceito de tecnologia é muito mais abrangente. Tecnologias são os meios, os apoios, as ferramentas que utilizamos para que os alunos aprendam. (MORAN, 2003, p.153).

Embora exista uma vasta gama de tecnologias que podem ser usadas na escola e com variadas abordagens e este trabalho ter como foco principal o uso das TICs como apoio à gestão escolar, dados da pesquisa TIC Educação 2012, revelam que os educadores pouco utilizam recursos de TICs nas suas propostas metodológicas, pouco inovando nessa área:

[...] o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) realiza desde 2010 uma pesquisa que avalia a infraestrutura de TIC disponível nas escolas e a apropriação nos processos educacionais. A edição de 2012 mostrou que os educadores pouco inovam em propostas metodológicas colaborativas com

recursos digitais (29%), apesar de já serem usuários de Internet em suas

próprias residências (92%, índice imensamente superior à média da

população do país que é de 40%). (BRASIL. PESQUISA TIC EDUCAÇÃO, 2013, p.57, grifo nosso).

As iniciativas de utilização de TICs na escola remontam ao Programa Nacional de Informática na Educação (PROINFO) que, de acordo com o site do MEC:

É um programa educacional com o objetivo de promover o uso pedagógico da informática na rede pública de educação básica. O programa leva às escolas computadores, recursos digitais e conteúdos educacionais. Em contrapartida, estados, Distrito Federal e municípios devem garantir a estrutura adequada para receber os laboratórios e capacitar os educadores para uso das máquinas e tecnologias. (BRASIL, 2015).

Esse programa representou o primeiro contato das escolas com as TICs. Era voltado basicamente para a instalação de computadores nos laboratórios das escolas, sem oferecer outras possibilidades além da sua utilização para capacitação em informática básica.

Hoje, conforme divulgado no site do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), há um esforço do governo federal para que esse programa, de fato, auxilie as atividades pedagógicas das escolas:

O ProInfo, inicialmente denominado de Programa Nacional de Informática na Educação, foi criado pelo Ministério da Educação, através da Portaria nº 522 em 09/04/1997, com a finalidade de promover o uso da tecnologia como ferramenta de enriquecimento pedagógico no ensino público fundamental e médio.

A partir de 12 de dezembro de 2007, mediante a criação do Decreto n° 6.300, o ProInfo passou a ser Programa Nacional de Tecnologia Educacional, tendo como principal objetivo promover o uso pedagógico das tecnologias de informação e comunicação nas redes públicas de educação básica. (BRASIL, 2015).

Fato positivo é que a chegada de computadores nas mais longínquas escolas, em alguns lugares os únicos disponíveis, contribuiu para despertar nos utilizadores o grande potencial dos recursos de TICs, provocando uma demanda por tecnologias computacionais voltadas a atender as diversas necessidades das unidades de ensino: organização administrativa e pedagógica, disponibilização de conteúdo, interação com os estudantes e a comunidade, capacitação de docentes e gestores, avaliação de estudantes, docentes e gestores, dentre outras.

Apesar de reconhecer que hoje as escolas utilizam o computador mais para questões de ensino e aprendizagem, Hessel; Abar (2007) avaliam que os gestores desconhecem o potencial tecnológico que pode estar a serviço da sua função administrativa. Já Vieira (2004), afirma que tal potencial tecnológico só pode ser desenvolvido pela mente humana:

A capacidade de transformar informação em conhecimento não pode ser realizada por uma máquina, sem a interferência da mente humana, isso é, tal capacidade é exclusivamente humana. (...) para serem gerados novos conhecimentos faz-se necessário realizar ações sobre as informações disponíveis em um dado momento e contexto. As ações criadoras de conhecimento - comparação entre informações, conexões entre informações e outros conhecimentos, conversação, entre outras são realizadas por seres humanos, individualmente e nas interações que eles estabelecem com os demais. Embora obtenhamos dados a partir de registros e informações, de mensagens, os conhecimentos têm origem em indivíduos. (VIEIRA, 2004, p. 3).

Nesse sentido, como mais uma das tecnologias disponíveis para os gestores escolares, o SIGEAM, teve seu curso de implantação iniciado na esfera administrativa e aos poucos está incluindo funcionalidades para outras áreas da escola, como a pedagógica e a gerencial, trajetória bem comum no processo de utilização das TICs na escola. Conforme Almeida; Rubim:

[...] a princípio, as tecnologias foram introduzidas nas atividades administrativas da escola para agilizar o trabalho da secretaria. Posteriormente, adentraram no ensino e na aprendizagem, sem uma real integração às atividades de sala de aula, apenas como uma atividade adicional e, com certa freqüência, como aula de informática. Em uma perspectiva mais inovadora, isso aconteceu na forma de projetos extra classe, desenvolvidos com a orientação de professores de sala de aula e apoiados por professores encarregados de facilitar e coordenar o uso do laboratório de informática. (ALMEIDA; RUBIM, 2004, p.13).

Apesar da utilização inicial com uma abrangência bem reduzida, o contexto escolar apresenta uma vasta gama de possibilidades de inserção de recursos de TICs, abrangendo muitas das atividades ali desenvolvidas, notadamente as de competências do gestor escolar (ALMEIDA; RUBIM, 2004, p. 2):

[...] as TIC podem ser usadas para oferecer suporte em diferentes ações coordenadas pelo gestor escolar, tais como:

- possibilitar a comunicação entre os educadores da escola, pais, especialistas, membros da comunidade e de outras organizações;

- dar subsídios para a tomada de decisões, a partir da criação de um fluxo de informações e troca de experiências; produzir atividades colaborativas que permitam o enfrentamento de problemas da realidade escolar;

- desenvolver projetos relacionados com a gestão administrativa e pedagógica; criar situações que favoreçam a representação do conhecimento pelos alunos e de sua respectiva aprendizagem.

Embora ainda não atenda todo o escopo das atividades escolares, na perspectiva de contribuição com o gestor escolar, o SIGEAM, possibilita a comunicação entre os educadores da escola, pais, especialistas, membros da comunidade e de outras organizações. Além disso, dá subsídios para a tomada de decisões, a partir da criação de um fluxo de informações, oferecendo suporte em algumas das áreas apontadas por Almeida; Rubim (2004).

Para Almeida (2007):

[...] as informações institucionais dos sistemas de gestão escolar, tais como matrícula, histórico escolar do aluno, controle de materiais, avaliação e outros disponíveis e acessados via internet, permitem que os gestores reconheçam sua escola no sistema de ensino a que pertence, instaurem processos de significação dessas informações no espaço escolar, desenvolvendo processos compartilhados de diagnóstico da situação da escola e de tomada de decisões, objetivando o desenvolvimento da escola e dos sujeitos que nela atuam. (ALMEIDA, 2007, p. 36).

Desse modo o SIGEAM possibilita aos gestores um fluxo constante de informações úteis e significativas, gerando o necessário conhecimento para suportar as decisões dos gestores, momento esse assim delineado por Hessel; Abar (2007):

Hoje, a informação passou a ser um bem precioso e, nas organizações, fala-se em gestão do conhecimento. O processamento eletrônico dos dados ampliou a oferta de informação para o administrador. O dado, um simples registro de um evento, quando organizado e tratado matematicamente, pode transformar-se em informação útil, significativa para a tomada de decisão. (HESSEL; ABAR, 2007, p. 70).

As TICs apresentam-se ao gestor escolar como ferramentas para auxiliá-lo a fazer frente às novas e constantes demandas, proporcionando maior agilidade e acerto nas decisões, fortalecendo a autonomia e a consequente descentralização do processo decisório e segundo Vallin e Rubim (2007) é:

[...] lugar-comum afirmar que as tecnologias cada vez mais fazem parte do nosso dia-a-dia, quer nas situações corriqueiras, quer nas mais elaboradas, no trabalho de pequenas e grandes instituições, nas decisões políticas e econômicas dos países, nas descobertas cientificas, no novo modo de produção, bem como está mais presente na escola. Assim, em vez de ignorá-la, é preciso assumi-la como mais um instrumento que potencializa o ensino, a aprendizagem e o trabalho da gestão escolar. (VALLIN; RUBIM, 2007, p. 86).

Apesar de desejável, o empoderamento e o deslocamento do centro decisório para a escola, por ser o local onde o processo educacional de fato se desenvolve e onde está a maioria dos atores mais relevantes desse processo, é preciso que os gestores escolares sejam hábeis articuladores e liderem a incorporação do uso das TICs no cotidiano da organização. Cientes de que o seu papel ―não é apenas o de prover condições para o uso efetivo das TIC em sala de aula, mas que a gestão das TIC na escola implica gestão pedagógica e administrativa do sistema tecnológico e informacional" (ALMEIDA; RUBIM, 2004, p. 13).

Para Hessel; Abar, o gestor escolar:

[...] deve exercer a função com responsabilidade e comprometimento, a fim de garantir que haja a criação de um ambiente informalizado, com o objetivo de gerenciar dados e informações, para permitir a criação e a melhoria do conhecimento sobre a realidade da escola. (HESSEL; ABAR, 2007, p. 71).

Desse modo as TICs permeiam o conjunto de atividades que ocorrem dentro e fora das escolas, exigindo dos gestores escolares a incorporação e utilização do potencial desses recursos. O gestor que não tem familiaridade e capacitação para utilizar, promover o uso e incorporar esses recursos nas atividades da escola, está em flagrante desalinho com um mundo no qual as TICs são onipresentes. Esse é um fator que compromete mais a gestão, do que fatores como nível de ensino e experiência na gestão (VOSGERAU; OGAWA, 2014).

Não se pode esquecer que, embora as TICs tenham muito potencial para auxiliar a gestão administrativa da escola, o fim último dessa instituição é o pedagógico, conforme relembram Vallin; Rubim (2007):

É importante notar que as propostas de ações e de projetos aparentemente administrativos têm objetivos pedagógicos. Não se trata de usar a tecnologia para registrar, tendo em vista o controle burocrático. Trata-se de registrar os dados da escola, organizar suas informações, avaliar os resultados e tomar atitudes objetivando a melhora do atendimento educacional. (VALLIN; RUBIM, 2007, p. 91).

Nesse sentido, conduziu-se um estudo empírico com gestores escolares (entrevistas semiestruturadas e aplicação de questionários) que, embora tivesse como foco principal a utilização do SIGEAM enquanto recurso de TIC, também buscou auscultar a percepção desses atores, sobre a sua capacitação para utilizar,

promover o uso e incorporar recursos de TICs nas atividades da escola, com foco administrativo e pedagógico.

Sintetizando a reflexão teórica, no Quadros 2, relaciona-se os elementos críticos do estudo de caso do SIGEAM, com os autores pesquisados.

Quadro 2 - Teórico-analítico – Elementos críticos do caso

Elementos Proposições teóricas relacionadas aos elementos críticos do caso

Atualização de dados no sistema Oliveira, V. (2013). Aprimoramento da Administração Pública

Baixa frequência de uso do SIGEAM. Vallin; Rubim (2007). As TICs potencializam o ensino, a aprendizagem e o trabalho da gestão escolar.

Falta de habilidade computacional dos gestores escolares.

Kenski (2012).

Desafios na incorporação das TICs na gestão das escolas.

Falta de regulamentação do sistema e

seu uso. Balbe (2010). Incorporação e uso de TICs no Governo (e-Gov). Insuficiência de relatórios gerenciais.

Almeida; Rubim (2004).

O uso de informações sistematizadas permite que os gestores reconheçam sua escola.

Internet. Brasil (2013). A velocidade de conexão à internet é um importante limitador.

Necessidade de capacitação dos usuários.

Hessel; Abar (2007).

Responsabilidade e comprometimento do gestor para garantir a melhoria do seu conhecimento.

Processos de auditoria do sistema Oliveira, J. (2009). Governança da TIC aliada a novas práticas de Gestão Pública.

Resistência à implantação do SIGEAM. Davenport & Prusak (1998). Gerenciamento da informação Utilização do SIGEAM pelas esferas de

gestão da sede da SEDUC/AM e das Coordenadorias Distritais e Regionais.

Balbe (2010).

As possibilidades e os desafios da tecnologia na gestão pública.

A seguir, na seção 2.2, detalha-se o estudo empírico realizado: da metodologia utilizada aos resultados consolidados.