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4.1 Caracterização de Marília

4.1.1 Aspectos da habitação

O sindicato dos bancários na década de 1950 através do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Bancários (IAPB) atuou na construção de apartamentos financiados para moradores bancários. Nas décadas seguintes, o Sindicato dos Comerciários assumiu posição de destaque entre as instituições sindicais envolvidas na produção habitacional do segmento popular, atuante até hoje de uma maneira mais pontual e produzindo poucas unidades habitacionais como o Residencial Girassóis, em 2009, com 36 unidades habitacionais (Cf. tabela 7, adiante).

Como tantas outras cidades do interior paulista, Marília também confrontou-se com um déficit habitacional acima da capacidade de atendimento do poder público local, somam-se a esse fato, o destaque regional da cidade em uma forte e histórica dinâmica de desenvolvimento do mercado imobiliário, trazendo investidores das cidades vizinhas e das cidades do norte do estado do Paraná, incentivando a especulação imobiliária já praticada pelos detentores de propriedades rurais que, articulados com o poder público, transformam paulatinamente parte das áreas rurais em áreas urbanas liberando-as para o loteamento.

A população de baixa renda instalou-se em grande parte nos loteamentos das extremidades das zonas sul, norte e uma parcela menor na zona oeste da cidade, dentro de uma política habitacional local calcada no financiamento de casas populares ou de lotes urbanizados destinados à autoconstrução, em parceria com a COHAB/Bauru, CDHU e Caixa, criando bairros com grande concentração de população de baixa renda.

Assim, a COHAB E CDHU foram as instituições que mais produziram habitações populares em Marília em parceria com Caixa e Prefeitura, e a região norte e sul foram as que mais receberam habitações de interesse social. No entanto os grupos privados sempre atuantes no setor de habitação envolvendo imobiliárias e construtoras em loteamentos e na produção habitacional, sendo que algumas delas atuaram e ainda atuam de modo sistemático na habitação de interesse social e outras, a maioria delas, impulsionaram fortemente o mercado imobiliário para a população média e alta renda. (PLHIS/Marília-2010).

O problema das favelas ainda não foi enfrentado de forma contundente ao longo dos últimos anos, as estratégias municipais foram praticamente inexistentes, com promessas de remoção das famílias das áreas de risco ou impróprias constantemente renovadas, mas até o momento, não praticadas de forma incisiva.

São 20 favelas com famílias em situação muito precária, como muitos bairros possuem um perímetro pequeno, chegando a bairros com duas quadras, em alguns casos existe um complexo de 3 a 4 favelas na mesma região.

Para compor o diagnóstico da habitação social em Marília, item obrigatório para a elaboração do PLHIS, foi realizado levantamento inédito no município com esforços somados pela Secretaria de Planejamento Urbano, realizadas na divisão de Moradias e Desfavelamento agregando agentes da Secretaria de Saúde para compor os cadastros e atender aos itens diversos necessários a uma identificação mais ampla, caracterizando de modo sistematizado o diagnóstico da habitação no município e a situação das favelas. Segundo o PLHIS com base em levantamentos de 2010, havia 1.505 domicílios distribuídos nas 20 favelas, totalizando 4.136 pessoas morando em habitações precárias, distribuídas pelas Zonas demarcadas no Mapa 3, com identificação das favelas na Tabela 5 representando 1,89% da população de Marília residente em favela.50

Mapa 3 – Mapa das favelas em Marília por região. Legenda Vermelho, de 1 a 20: identificação das favelas. Verde escuro: delimitação sinuosa identificando os itambés e Bosque Municipal.

Azul claro: Zona Sul Laranja: claro: Centro

Laranja médio: Zona Leste

Laranja escuro: Zona Oeste

Verde Médio: Zona Norte.

Fonte: PLHIS Marília – 2010

Tabela 5 – Identificação das favelas, quantidade de domicílios por favela e tipo de ocupação

– Marília/SP.

Fonte: Secretaria Municipal de Planejamento e Divisão de Moradias e Desfavelamento, 2010

A demarcação das favelas no Mapa 3 é complementada pelas informações da Tabela 5, destacando que a Favela Vila Barros (20), considerada a maior e mais violenta, está localizada na zona Norte, tem identificados 320 domicílios, sendo que 290 estão assentados em áreas verdes ou de lazer, 170 em áreas de APP (itambés), totalizando 170 domicílios em áreas de risco e 30 domicílios ocupando irregularmente áreas privadas.51

A conjugação do mapa 3 com a tabela 5 deixa nítido que a ocupação irregular das áreas limítrofes dos itambés, justamente as zonas definidas como non

aedificandi pelo risco de desbarrancamento das bordas dos paredões e precipícios,

são as mais ocupadas pelas habitações subnormais.

Os resultados do levantamento e cadastramento das favelas trás à luz a dimensão não só da carência social das famílias, mas também as questões

urbanísticas e fundiárias, identificando a ocupação por favelas, em sua maioria constituídas de barracos de madeira e alvenaria sem reboco, sobre áreas de mananciais, áreas com presença de linhão, áreas de lazer, áreas próximas aos paredões dos itambés, áreas com declividade superior a 30%, em cinturões verdes, áreas insalubres de brejo com focos de nascentes, algumas passíveis de regularização outras não.

A partir do levantamento a Secretaria do Bem Estar Social passou a sistematizar auxílios às famílias faveladas através das bolsas federais e do município. Entretanto infraestrutura, postos de saúde, escolas, creches demoram a chegar.

O diagnóstico apresenta uma situação de habitação subnormal que certamente é conhecida na maioria das cidades brasileiras, entretanto somente à partir dos levantamentos municipais foi possível alcançar as consequências dos anos de ausência total de políticas sociais, nas esferas habitacional, urbana, de saúde, entre tantas outras, para esta camada da população, e do desalinhamento das políticas municipais vigentes frente ao problema.

Lugares noticiados como palco de muita violência e de algumas ações policiais de combate ao tráfico passam a ser noticiadas como áreas que necessitam de planos ou estratégias de remoção, regularização e serviços básicos. O problema adquire contornos ampliados quando o cadastramento aponta que a identificação dos barracos em levantamento aéreo camufla outro problema que é observado somente nas vistas técnicas: o da coabitação existente nas já precárias habitações.

Com base na metodologia de classificação da Fundação João Pinheiro que define cortiços como “cômodos próprios e cedidos” e como “o domicílio que ocupa um ou mais cômodos”, ao que a Seade amplia a definição considerando cortiço como aquele que se encontra “em edificação coletiva precária, onde vários grupos coabitam em espaço com insuficiência de equipamentos hidráulicos e sanitários, falta de privacidade, ventilação e insolação” (Seade, 2010), o PLHIS Marília-2010 identifica 8 cortiços, distribuídos na Zona Norte e Sul e um cortiço na região central.52

52 A tabela com a descrição das condições dos cortiços, consta no PLHIS de Marília, p. 114.

Parte das preocupações afetas à habitação de interesse social de Marília inclui também a identificação de um núcleo habitacional degradado localizado na extremidade da zona sul onde há um conjunto habitacional do CDHU implantado em 1995, com 887 apartamentos divididos em 40 blocos, que foram parcialmente invadidos e ocupados sem nenhum aparato ligado à organização coletiva para uma população inapta para a vida condominial. A inadimplência é historicamente alta, a rotatividade dos moradores acentua a dificuldade de organização coletiva e grande parte das unidades está tomada por pessoas ligadas ao tráfico de drogas. “Quando tomamos os prédios do CDHU como exemplo de habitação popular, e se considerarmos a ausência de administração condominial, de fato a tendência é rechaçar a moradia social sob a forma de apartamentos.” (ARAUJO, 2007, p. 180)

No entanto são apenas 3 blocos de 3 torres que apresentam problemas relativos à degradação física, “o que totaliza um reflexo direto em 180 unidades habitacionais com severas rachaduras, infiltrações do sistema de água e esgoto, escadarias dos blocos danificadas de modo severo, portarias incendiadas, demais dependências destruídas. A análise dos técnicos do PLHIS alerta que:

Além da presença da destruição completa do centro comunitário, os problemas estruturais habitacionais no conjunto é relativamente pequeno se comparado com o impacto social que esta situação tem sobre os moradores, visto que fatores de vulnerabilidade social são grandes. (PLHIS Marília, 2010, p.205).

As favelas, os cortiços e o núcleo habitacional degradado são claramente apontados pelos técnicos do PLHIS como os maiores problemas habitacionais de Marília.

São duas vertentes claras, a que trata da dimensão habitacional caracterizada pelo tipo de moradia inadequada, coabitada, insuficiente, cara e de política ausente ou excludente e a dimensão urbana que trata da segregação, periferização, mobilidade, expansão, regulação, ordenamento e em ambas as dimensões, as ausências são evidentes e presentes na maioria dos municípios. Marília não é exceção.