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CAPÍTULO II - A CRÍTICA CINEMATOGRÁFICA NA IMPRENSA POTIGUAR

2.2 A ASSOCIAÇÃO DE CRÍTICOS DE CINEMA DO RIO GRANDE DO NORTE

Diante do que foi exposto no tópico anterior, é possível concluir que a crítica cinematográfica é um gênero jornalístico que possuía um lugar de fala na mídia

4 Entrevista concedida por LOPES, Cinthia. Entrevista II. Entrevistador: Leonardo da Vinci Figueiredo da Cunha, 2021. E-mail.

30 hegemônica do Rio Grande do Norte. Contudo, é surpreendente constatar que, a nível nacional, algumas ações ocorreram de forma tardia.

A Associação Brasileira de Críticos de Cinema (ABRACCINE), por exemplo, só passou a existir em 2011. Todavia, a associação mais antiga do país, a Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ), foi criada em 1982 e oficializada em 1984. De acordo com o site oficial da ACCRJ, ela atualmente é “filiada à Fipresci – Fedération Internationale de la Presse Cinématographique e, como tal, representa a crítica brasileira em festivais e fóruns internacionais”.

No decorrer de nossa pesquisa, consideramos apropriado procurar Sihan Felix, o atual Presidente da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN) e um de seus membros fundadores. Dessa maneira, muitas das informações descritas nesta seção são provenientes de entrevista realizada com ele no dia 05 de março de 2021, a qual foi transcrita na íntegra.

A ACCiRN foi criada no final de 2017 e é constituída por 18 membros atualmente. Destes, cinco possuem formação acadêmica em Jornalismo. Em conformidade com o que é apresentado no site oficial da ACCiRN5, a lista de membros e seus respectivos cargos é a seguinte:

● Sihan Felix - Presidente;

● Nelson Marques - Vice-Presidente; ● Tatiana Lima - Secretária;

● Marcela Freire - Tesouraria;

● Conselho Fiscal: Dan Hetzel, Rômulo Skraff, João Victor Wanderley, Marcos Trindade (Suplente);

● Membros ativos: Arthur Zé, Gianfranco Marchi, Igor Gomes, Laísa Trojaike, Márcia Regina, Nathalie Alves, Newton Ramalho Júnior, Thales Azevedo, Paula Pardillos, Jonathan DeAssis.

Para definir a função de cada membro, a ACCiRN seguiu o modelo do estatuto de outras associações para construir o seu próprio. Por se tratar de um grupo sem fins lucrativos, os membros é que mantêm a ACCiRN ativa. A anuidade equivale a 10% do

31 salário mínimo vigente. Entretanto, durante o período de pandemia da COVID-19, foi decidido por um abatimento de 20% em cima dos 10%. Alguns festivais, como o Curta Caicó e o Seridó Cine, costumam doar uma quantia para que a ACCiRN continue exercendo suas funções.

As reuniões da ACCiRN, quando para todos os membros, costumam acontecer na Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Quando apenas para a Diretoria, as reuniões são em um escritório localizado nas dependências de uma universidade privada de Natal.

Tornar-se membro da ACCiRN não é muito difícil. Quando questionado a respeito desse procedimento, Sihan Felix explicou que a cada seis meses é aberta uma chamada para novas pessoas ingressarem na equipe, e a divulgação ocorre nos grandes blogues do Estado - não há lembrança ou registro de que já tenha sido divulgado em grandes jornais, segundo ele.

Além disso, existe uma regra básica no estatuto da ACCiRN: o membro precisa escrever, em média, 12 críticas por ano, totalizando uma produção por mês. Ainda dentro dessa mesma resposta, Sihan foi mais adiante (informação verbal)6: “O exercício de escrever crítica é fundamental. Esse é um assunto que sempre entra em pauta, principalmente porque não há veículos para publicar. Começamos escrevendo em blog, mas uma hora a gente para. Cansa, não tem retorno. Eu acredito que a maioria para de produzir porque não tem um canal que possa escrever de maneira a atingir mais pessoas, por onde a crítica possa se tornar um trabalho”.

Esse retorno, vindo do Presidente da ACCiRN, é apenas mais uma comprovação de que existe fundamentação para esta pesquisa. Abordaremos isso com detalhes mais adiante.

Ao ser interpelado sobre o objetivo da ACCiRN atualmente e sua relação com festivais de cinema regionais, Sihan mostrou (informação verbal)7 outra perspectiva: “Pensamos muito no cinema local; nosso cinema está em desenvolvimento e acredito que ele irá se desenvolver muito mais quando ele pensar em se aliar à teoria. Quando a prática entrar em diálogo com a teoria, eu acredito que nosso cinema terá muito mais potencial. E nós, que fazemos crítica, temos um conhecimento teórico e técnico. Em 2018

6 Entrevista cedida por FELIX, Sihan. Entrevista III. Entrevistador: Leonardo da Vinci Figueiredo da Cunha, 2021. Arquivo mp4. (40 min).

32 e 2019 começamos a participar de festivais dentro do estado. Entregamos os prêmios, fazemos essa parceria e eles ajudam a divulgar a ACCiRN. É muito proveitoso, principalmente pro festival que não tem gasto nenhum. E é importante para os festivais verem um realizador receber o prêmio da crítica. A partir da minha gestão, começamos a entrar em contato com festivais de fora. Temos tentado entrar em contato com festivais da Paraíba, Pernambuco, e estamos tendo uma aceitação bem legal. O Curta Taquary, de Pernambuco, provavelmente terá críticas. Vai ser a primeira vez que iremos escrever para um festival. Estamos entrando aos poucos dentro desse circuito”.

Partindo de modo mais específico para os objetivos da nossa pesquisa, pedimos a opinião de Sihan acerca do fato da crítica cinematográfica sofrer ou não algum tipo de preconceito. A resposta (informação verbal)8 foi a seguinte: “Eu não sei se é a questão da cultura, mas a crítica tem um estigma bem chato. Pessoas pensam que todo crítico é chato. Só fala mal dos filmes, não gosta dos filmes que a maioria gosta. Por que eu digo que é uma questão cultural: quando eu cheguei em Natal, há quase 11 anos, chegou uma rede de cinema aqui na cidade que o slogan dela era “nossas salas são tão boas que até críticos de cinema vão gostar”. Isso, dentro de um shopping, só reforça que o crítico é um chato. Essa é uma questão que nós temos que tentar contornar, com os realizadores etc. Eu mesmo sou um cara que, dificilmente, não gosto de um filme. Eu gosto de todo tipo de filme. Claro que tem alguns que eu gosto mais, outros que gosto menos, mas isso é normal e a crítica é subjetiva. Nós não temos a verdade absoluta. Porém, viemos de uma época em que muitos posam na internet com verdades absolutas. “Eu sou o certo, quem está contra mim é errado”. Muitas críticas têm feito isso. É um desserviço. Eu acho que a crítica aqui em Natal ainda está sendo muito vista dessa forma. Isso gera afastamento de realizadores e festivais talvez pelo medo de serem criticados. Porque se um filme cai para uma associação de críticos, e a gente acaba não gostando, não iremos tratar a obra com tapinhas nas costas; iremos falar dos pontos negativos também”.

Por fim, perguntamos por qual motivo ele acha que os grandes jornais de Natal não escrevem e publicam críticas de cinema. Sihan confessa (informação verbal)9 que isso é um mistério para ele até hoje e que inclusive se ofereceu para ser um crítico na Tribuna do Norte: “Eu já enviei e-mail, mais de uma vez. Para Tribuna do Norte, por

8 Entrevista cedida por FELIX, Sihan. Entrevista III. Entrevistador: Leonardo da Vinci Figueiredo da Cunha, 2021. Arquivo mp4. (40 min).

33 exemplo. E nunca tive resposta. Mas quando precisaram de mim, eles souberam vir atrás. Eu não sei o porquê disso. Eu lembro que no começo eu me ofereci a fazer críticas gratuitamente, mandei e-mail falando que gostaria de publicar. Eu já tentei pensar, mas eu não encontro justificativa, a não ser essa do crítico ser um chato”.

Com essa última fala de Sihan, nossas indagações aumentam, o que nos estimula a aprimorar o que será visto no terceiro capítulo da nossa pesquisa.

Diante do que foi explicado sobre a ACCiRN, iremos nos aprofundar - no tópico a seguir - nos grupos natalenses que na atualidade escrevem crítica de cinema.

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